Um furacão em forma de mulher
Um furacão em forma de mulher
Por: Le Belmonte
Capítulo 1 / Rain

São quase sete horas da tarde, o sol já está se pondo no horizonte, estou a mais de 15 horas na estrada e ainda não estou nem perto da metade do caminho até Roseburg. Ninguém conseguiu entender o motivo de eu sair de Miami e aceitar esse emprego na prefeitura de uma cidade com menos de 25 mil habitantes, as vezes nem eu mesma tinha certeza dessa escolha. Eu apenas precisava fugir daquele lugar, da forma que as pessoas me olhavam e de tudo que tinha acontecido. 

A essa altura eu já estava concordando com todos que achavam uma loucura eu atravessar o estado de carro, devia ter ido de avião e conseguido outro carro lá. Mas eu tenho um apego emocional com o meu Mustang 69 GT vermelho sangue. O meu avô me deu esse carro, e ele foi a única pessoa nesse mundo que parece ter me amado de verdade. Assim como eu amei ele, parece que tudo na minha vida começou a desandar depois que ele morreu. Foi aí que todos os problemas aconteceram. 

Sempre fomos só nós dois, e às vezes a maluca da minha mãe, mas quem me criou foi ele. Na verdade, se o meu avô não tivesse me mostrado um vídeo do meu nascimento e várias fotos minhas bebê com o cabelo tão escuro quanto ele é agora, eu duvidaria inclusive que eu sou sua filha. Minha mãe é loira, tem mais de 1,80, magra como uma supermodelo e olhos cor de mel. Eu sou o exato oposto, meus cabelos parecem pintados com carvão de tão escuros, tenho 1,68 e olhos azuis esverdeados, características que eu acredito ter herdado do meu pai que eu nunca conheci. Minha mãe o conheceu em uma viagem a Santorini, ele era grego e pelos relatos da minha mãe eu sou a versão feminina dele. Ele a desprezou quando descobriu que ela estava grávida, então ela canalizou esse ódio e desprezo em mim. 

Balanço a cabeça e afasto esses pensamentos, é o momento de começar uma nova vida e me dar uma nova chance. 

Meu cabelo está uma bagunça, o que é culpa da capota abaixada, provando mais uma vez que eu só tomo decisões ruins. O estúpido vestido rosa com botões até a cintura e saia rodada, que foi a única coisa que eu encontrei para vestir em meio ao caos da mudança e não combina nada comigo, está todo amarrotado. O meu estômago conversava alto comigo quando entrei na cidade de Clarendon, no Texas. 

Parei no primeiro bar de beira de estrada que encontrei, o lugar todo gritava TEXAS, toda a decoração em madeira rústica, a música country que tocava não tão baixo ao fundo, e atendentes usando botas e chapéu de cowboy. Toda a cena, não vou negar, era tão curiosa quanto divertida. 

Sentei no primeiro banco disponível no balcão e sorri para o bartender que havia grudado os olhos em mim desde que atravessei a porta.

Parece que essa pode ser uma noite bem divertida.

-Uma cerveja por favor. -pedi tentando manter a postura mesmo com a minha aparência ridícula. 

-Mas é claro doçura… -respondeu forçando um sotaque capaz de quebrar qualquer clima.

-Ok, talvez esse lugar seja texano demais pra mim -sorrio.

-Desculpe, os turistas costumam adorar. Eu sou o Ian. -falou estendendo a cerveja na minha direção.

-Eu sou a Rain e não sou uma turista, só estou de passagem.

-E para onde vai? -ele me encara curioso, mas sem citar o fato do meu nome ser estranho.

-Roseburg. 

-Nunca ouvi falar. O que tem lá? 

-A oportunidade de começar uma nova vida.-faço uma pausa encarando as mãos dele.-Um brinde a isso - levanto a garrafa como se fosse fazer um brinde e ele concorda com a cabeça. 

Ele assente com a cabeça e vai atender a um cliente que o chamava. 

Eis um fato curioso sobre mim: Eu gosto de homens com mãos grandes. Sempre gostei. Da forma como elas traçam caminhos pelo meu corpo, apertando em todos os lugares certos.

Infelizmente esse não era o caso do Bartender, ele tinha mãos quase femininas, o que era uma pena porque eu estava pronta para voltar a ser eu mesma. Estou a quase 5 meses sem fazer sexo, o que é o período mais longo desde que eu perdi a virgindade aos 14 anos, e preciso urgentemente de diversão. 

Pedi um cheeseburger e batatas fritas, que por sinal estavam divinos, e melhoraram muito o meu humor. 

E-ntão, você pode me indicar um lugar para alugar um quarto por uma noite? - pergunto chamando a atenção de Ian novamente. - Estou muito cansada para pegar a estrada novamente. 

-O dono do bar, Jack, possui uma pousada aqui do lado. Ele está ali - indica com o chapéu em direção a uma mesa - Conversando com o engravatado de terno cinza. 

Agradeço e passo a mão pelo vestido e pelos meu cabelos, tentando controlar o máximo possível os cachos bagunçados pela viagem, enquanto me aproximo da mesa onde o dono estava.

-Jack? O Ian me disse para falar com você. Preciso tanto de um quarto… - suspiro profundamente para que ele perceba o meu cansaço e sorrio abertamente. 

-Mas é claro, vou pedir para a minha senhora preparar um pra você agora mesmo. -ele devolve o sorriso simpático. 

Me viro ao homem de terno que estava sentado à mesa com ele, braços fortes, maxilar bem definido, cabelos e olhos muito escuros e mesmo sentado consigo perceber o quanto é alto, mas as mãos estão sobre o colo embaixo da mesa. Não consigo vê-las. Percebo que ele também me examina de uma forma nada discreta, mas para assim que vê que estou olhando para ele. 

-Me desculpe a intromissão, não quis atrapalhar a conversa de vocês. 

-Imagina, eu já estava de saída. Preciso cuidar dos negócios. -Jack se adianta e levanta antes que ele pudesse me responder. - Seu quarto deve ficar pronto em uma hora, aproveite o bar. O Will pode te fazer companhia -ele se levanta e abaixa o chapéu em uma forma de cumprimento. 

-Obrigada Jack - agradeço.

Olho novamente para o cara sentado à mesa. Ele parece contrariado. 

-Você quer se sentar? -pergunta com uma voz rouca e intensa que me causa um arrepio. 

Então retira a mão de baixo da mesa e a estende em direção a cadeira a sua frente. Não consigo conter um sorriso satisfeito. 

Jackpot. 

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