Capítulo 3 / Rain

Não existe nenhum motivo pelo qual eu não possa me divertir com esse cara. 

Certo?

Eu estou a mais de 1600 milhas da minha antiga casa e a mais de 1700 milhas do novo lugar que eu vou chamar de lar. Eu nunca mais vou ver ele novamente. Uma foda de uma noite tudo que eu preciso agora para me sentir sexy, confiante e desejada de novo. 

-Primeiro fato… -ele apoiou os cotovelos sobre a mesa e colocou o maxilar quadrado sobre o queixo, me dando a sua total atenção. 

-Ok Will, primeiro fato. -repito o movimento dele e apoio o rosto no punho. - Eu tenho 16 tatuagens no total. 

Seus olhos passeiam pelo meu corpo tentando descobrir alguma pista a seu favor. 

-Segundo… O vermelho conversível lá fora -aponto com a cabeça em direção a uma janela aberta - é meu. 

Ele vira de costas e observa o carro pela janela. 

-Terceiro… eu já levei um tiro. - ele pareceu bem surpreso com essa afirmação. -Quarto… a calcinha que eu estou usando é vermelha exatamente da mesma cor que a sua gravata…- ele ficou tão vermelho quanto a sua gravata. 

-Você é muito direta. 

-Apenas quando eu tenho certeza do que eu quero. Pronto para me dizer o que é mentira?

-Posso fazer as minhas considerações antes de dar a sentença? - eu não consegui conter a risada alta. 

-Então o engravatado é advogado? Faz sentido. Você parece um peixe fora d'água aqui dentro. - Olho ao redor para o mar de botas e chapéus.

-Achei que o objetivo da brincadeira era eu descobrir coisas sobre você, não o contrário. 

-Douché, sr. Advogado. Pode fazer as considerações. 

-Eu acredito nas 16 tatuagens, apesar de estar um tanto curioso sobre onde elas se escondem. Eu consegui ver apenas 3. 

-Você está certo, eu realmente tenho todas essas tatuagens. 

-O carro eu tenho certeza. Todos os homens dentro desse bar, e provavelmente os da cidade toda, perceberam o momento que você chegou. -assinto com a cabeça e ele prossegue. -E eu gosto de imaginar que o destino foi bom o suficiente comigo para a hipótese da calcinha ser verdade. Então eu vou na menos provável, o tiro. 

-Você é muito bom. -Um sorriso vitorioso surge em seus lábios.- Mas está errado.

Cético, ele me encara com um ar desconfiado. 

Retiro a mão que apoiava o meu queixo e desço lentamente pela minha clavícula até encontrar o primeiro botão do meu vestido. Abro vagarosamente os quatro primeiros botões do estúpido vestido, de forma que o decote vá até abaixo do meu sutiã de renda vermelho. Sinto minha pele queimar com a intensidade do seu olhar sob a curva dos meus seios cobertos. Com a mão eu o puxo um pouco mais para baixo, mostrando a cicatriz entre as minhas costelas esquerdas. 

-Eu levei um tiro, 5 meses atrás. -ele mantinha o olhar fixo no pequeno machucado. 

-Como isso aconteceu? -ergueu os olhos até encontrar os meus. 

-Tinha esse cara… - comecei a fechar os botões enquanto explicava. -Ele gostava de mim desde a sexta série, e eu sempre soube, até porque ele nunca fez questão de esconder. Ele me mandava cartas lindas, mixtapes com as músicas que ele me ouvia cantando com a banda. Eu sempre tive esse jeito… decidida? livre? - franzo o cenho sabendo que a palavra que sempre usaram para me definir era vadia. - Enfim, mesmo sabendo que ele não fazia o meu tipo, acho que acabei por incentivá-lo, aceitando os seus presentes e sendo sempre gentil com ele. 

-Você não tem culpa. -ele se adianta.

-Calma advogado, não estamos na corte, você não precisa me defender ainda. 

Ele gargalha, o que ajuda a quebrar a tensão do momento e me incentiva a continuar.

-Quando o meu avô morreu, eu entrei em um abismo muito profundo. Em uma noite, encontrei com ele quando estava muito bêbada em um bar, uma coisa levou a outra e acabamos transando. Foi aí que a admiração se transformou em algo possessivo e apavorante. Cortando várias partes do meio da história e indo direto para o final… o sentimento de posse ficou tão grande que ele atirou em mim porque preferia me ver morta do que vivendo sem ele. 

-Nossa. Essa é uma história e tanto. Eu gostaria de escutar o meio da história. Mas continuo achando que a culpa não é sua. 

-Você é um dos únicos. 

-Então você canta? -ele muda de assunto de forma repentina.

-Como? 

-Você disse: “me ouvia cantando com a banda”... -ele me encara. - Então você é boa? 

-Eu faço muitas coisas. -suspiro. - Minha mãe nunca foi a minha maior fã, então ela me mantinha afastada fazendo aula de tudo que você possa imaginar. Eu jogo tênis como uma profissional, toco guitarra, bateria e piano, canto, danço ballet, escrevo e ainda nado como um peixe. Isso só das aulas que deram certo, tirando todas as outras que eu fui uma tragédia. Quanto à música, eu só não gostava muito de cantar em público. -ele me encara ainda mais curioso. - Sabe porque eu te contei tudo isso?

-Porque? 

-Porque depois de hoje eu não vou te ver novamente. E é bom desabafar com alguém, mesmo que superficialmente, sem ser julgada. 

-Estou te julgando um pouco… -olho para ele intrigada. - Fiquei bem decepcionado com a história da calcinha. 

-Sabe porque é impossível que a minha calcinha seja vermelha como a sua gravata? 

Me levanto antes que ele pense em responder e troco de lugar, ocupando a cadeira do lado dele, que tensiona o corpo com a proximidade do meu, aproximo meus lábios da sua orelha e falo com a voz mais sexy que consigo fazer.

-Porque eu não estou usando nenhuma. 

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