Capítulo 2 / Willian

Eu sei perfeitamente o que o tio Jack está tentando fazer e isso não vai funcionar. Ele sempre foi contra o meu namoro com a Giny, porque ela vem de uma família de políticos como a nossa e que ele considera “amaldiçoados”. E é por isso que ele e o meu pai não se falam há quase 20 anos. Mas sempre que eu preciso de alguém para conversar é a ele que eu procuro. Giny terminou comigo nessa semana porque segundo ela eu não “valorizo a relação o suficiente” e estou “enrolando para dar o próximo passo”. No fundo eu sei que ela está certa e que já passou da hora de assumir o compromisso definitivo. Eu tenho 32 anos e estou namorando com ela a 10. Mas casamento me parece tão definitivo, e por mais que ela seja doce, bonita,  inteligente e de uma família importante, eu não consegui criar coragem (e vontade) de fazer o pedido. 

E então aqui estou eu, em um bar de beira de estrada pedindo conselhos para a ovelha negra da família, que com 50 anos se veste de Cowboy, mesmo tendo nascido e crescido no Oregon, para enganar turistas. 

-Você está a uns 10 minutos encarando as próprias mãos de uma forma tão  severa que eu acho que elas podem cair.- sou tirado dos meus devaneios por uma voz melódica e suave. 

Olho para cima e encontro os grandes olhos azuis esverdeados me encarando com curiosidade e os lábios abertos em um sorriso de quem sabia exatamente o efeito que eles causavam. 

Eu notei o exato momento em que ela entrou no bar, acho que todos os homens notaram. Mesmo com os cachos bagunçados que desciam até a sua cintura e vestido rosa de menina, ela parecia confiante e sexy. 

-Desculpe, minha cabeça está um pouco agitada hoje. 

-Se você quiser eu posso me sentar em outro lugar Will. - ela soava desafiadora.

Me remexi no assento, visivelmente desconfortável com o quanto ela parecia intimidadora. Cruzei os braços e apoiei sob a mesa e ela me encarou ainda mais firme.

-Não é necessário, tenho certeza de que você é uma ótima companhia. -sorri educadamente. 

-Você não faz nem ideia. -ela piscou pra mim. 

Deus, eu poderia me afogar naqueles olhos. Preciso mudar de assunto.

-Você me disse o seu nome? 

-Não. - ela se recostou na cadeira. 

-E vai me dizer? 

-Não. - sorri vitoriosa. 

-Posso saber o porquê? -insisto. 

-É um nome estupido, você provavelmente riria se eu te contasse. E além do mais, eu acabei de te conhecer, como vou saber se você não vai me sequestrar, me matar e vender os meus órgãos? -ela tentou se manter séria mas acabou sorrindo de novo. 

-Tenho certeza de que pagariam muito por esses olhos. -só percebo o que pretendia falar quando as palavras já saíam da minha boca. 

-Uau. Essa vai amaciar o meu ego por muitos dias. 

-O que você faz em um bar de beira de estrada à noite e sozinha? -mudo o assunto novamente. 

-O mesmo que a maioria faz aqui. Descansando no meio do caminho. 

-E para onde você está indo? 

-Agora você parece ainda mais um assassino/sequestrador/ladrão de órgãos. -coloca a mão no peito fingindo surpresa.

-Douché. 

Ela parecia não querer tocar no assunto. Respeitei, porque certamente não me dizia respeito. Seguimos em uma conversa leve, principalmente focando nas singularidades do bar do meu tio e dos seus frequentadores, rindo como velhos conhecidos. Tenho certeza que já se passaram mais de duas horas desde que começamos a conversar. A cada pergunta pareciamos mais descontraídos e eu não podia evitar olhar cada pedaço do seu corpo que estava visível. 

-E essa frase no seu braço? -apontei para a tatuagem com letra fina no antebraço. 

-“Stay Strong”, continue forte, é algo que o meu avô costumava me dizer. - por um momento seus olhos pareciam tristes ao olhar para a própria pele, antes de recuperarem o brilho natural .

Quando ela se virou e colocou o cabelo atrás da orelha eu pude ver algo que parecia ser outra tatuagem no pescoço.

-Sim engravatado, eu tenho outras tatuagens. - inclinou-se sobre a mesa e falou baixo o suficiente de forma que apenas eu conseguiria ouvir. - Nos mais diversos lugares… 

Minha garganta secou e a respiração falhou. Ela se divertiu com a minha surpresa. 

-Ok. Tenho uma proposta para você… - cada palavra que ela falava a fazia parecer mais sedutora. 

-É muito cedo para dizer que aceito? 

Não acho que seria capaz de dizer não para aquela mulher. 

-Eu vou te contar 4 coisas sobre mim, 3 verdades e 1 mentira. Se você acertar qual é a mentira eu te conto o meu nome. Fechado? - estende a mão sobre a mesa.

-Fechado. - pego a mão dela como se estivéssemos fechando um acordo seríssimo. 

No momento em que as nossas peles se encostam sinto a minha pele se arrepiar e vejo que ela teve a mesma sensação. 

Droga. Esse não pode ser um bom sinal.

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