Perola Campbell
A terça-feira não foi diferente da segunda.
A manhã tinha começado como um trem desgovernado, saindo dos trilhos e pronto para derrubar tudo, principalmente aqueles que não saíssem de sua frente. Era quase hora do almoço, mas eu ainda precisava de café.
Deus amado, como eu precisava de café.
Corri para cozinha do meu andar e peguei um copo descartável grande, usar a xícara minúscula do local só iria me irritar. Enchi até em cima com o liquido puro e fervente.
Equilibro o copo, segurando-o pelas bordas, já que estava muito quente e acelero meus passos de volta. No meio do caminho ouvi meu celular corporativo e o telefone de mesa tocar. Várias maldiçoes saíram dos meus lábios e depois de colocar o copo na mesa me sentei apressada.
Atendi o celular, já que era a secretária do Alfa que eu aguardava o retorno, para agendar uma nova reunião, meu chefe está empenhando em comprar essa empresa. Fiz algumas anotações enquanto a ouvia e assim que desligou, fui atender o telefone.
— Senhorita Campbell
A voz dele me assustou, não tinha percebido sua presença. Acabei batendo a mão no copo de café e, em menos de um segundo, todo aquele líquido quente que tanto desejei despejou sobre mim. Gritei aflita com o susto quando o liquido queimou minha barriga e escorreu para minha coxa.
— Puta que pariu! — Apolo exclama.
Uma onda de xingamentos passou pela minha mente, mas não me ousei falar nenhum em voz alta, mas a ardência da queimadura faz tremer até a minha alma.
— Caramba, se queimou! — meu chefe reclama — Venha comigo.
Penso em protestar e xingá-lo por me assustar. Afinal, ele não morreria por fazer um maldito barulho, ao contrário de mim que morreria de susto e com a pele queimada.
Mas, ao invés disso aceito sua mão, não querendo parecer infantil, e me deixo ser guiada para sua sala. Me conduz rapidamente para o seu banheiro.
— Tire seu vestido — ordena sério.
— Como assim?
— Tire seu vestido, precisa lavar a pele e passar uma pomada — explica tranquilo como se não fosse nada demais eu ficar quase pelada em sua presença.
Ele caminha para um canto do banheiro e abre uma porta que percebo ser um closet, está explicado porque o homem está sempre cheiroso e limpo. Pega uma camisa branca e me olhou franzindo a testa.
— Porque não tirou ainda? — questiona mostrando uma certa impaciência.
— Só pode estar brincando comigo senhor.
— Não estou brincando senhorita, precisa se tirar esse vestido para cuidar da pele que queimou, não vai conseguir fazer isso vestida.
— Não chegaria a isto se não me assustasse, senhor— reclamo sem pensar e quando percebo o que tinha acabado de falar — Desculpe.
— Tudo bem — entrega a camisa — Me perdoe senhorita Campbell, não foi minha intenção assustá-la e muito menos lhe machucar.
— Tudo bem — falo respirando fundo.
— Vista minha camisa enquanto eu procuro alguém que encontre outro vestido para você. — Murmura. — Vou procurar também pelo kit de primeiros socorros do andar, deve ter algo para queimadura lá.
Acenei incapaz de formar palavras coerentes, ele sai rapidamente. Suspiro soltando o ar devagar. Abro o zíper lateral do meu vestido e o puxo.
— Ah, caramba.
O tecido roça na pele machucada e é terrivelmente doloroso. Deixo o vestido no chão e pego uma toalha no armário, molho e passo na pele. Precisava limpar o café e esfriar. Doí a cada vez que encosto e eu imploro forças aos céus, peço também para que não seja nada além de irritação.
Pulo de susto quando a porta se abre novamente e meu chefe entra.
— Eu não achei nada de primeiros socorros — Ele se cala quando me vê
Poderia cair um meteoro bem agora e exterminar toda a vida na terra que eu não iria me importar, estou apenas de lingerie e saltos altos na frente do meu chefe. Nenhum homem nunca me viu sem roupa, me sinto envergonhada.
Não poderia piorar, poderia?
Vejo um músculo saltar em sua mandíbula e me apresso para vestir a camisa que tinha me dado. Agradeço pelos botões não estarem nas casas ou seria muito difícil consigo vestir sem me constranger ainda mais.
— Desculpe! — Apolo diz engolindo em seco.
— Tudo bem — falo baixo
— Não consegui falar com alguém do almoxarifado para lhe arrumar outro vestido — informa tenso. — Inferno, sua pele está bem vermelha.
— Esqueça isso — peço mortificada.
— Pelo menos consegui uma pomada para queimaduras. — Mostra o pequeno frasco na mão. — E descobri que tem uma bela tatuagem — brinca.
— Agradeço pela pomada, mas vou ter que vesti meus jeans e jaqueta para continuar o trabalho — decido ignorar seu comentário sobre a minha tatuagem.
— Me dê as chaves do seu armário que busco suas roupas, mais uma vez sinto muito pelo incidente — diz me entregando a pomada.
— A chave está na segunda gaveta da mesa.
Uma batida na porta me deixa tensa.
— Apolo?
A voz de Filipo ecoa, e antes que eu possa me esconder a porta é aberta.
— Uau! — exclama ao me ver usando uma camisa de meu chefe — Você é rápido — brinca com o amigo.
— Não é nada disso que você e sua mente poluída está pensando Filipo — Apolo fala firme — Abrir portas sem autorização geralmente é considerado falta de educação, ainda mais a porta de um banheiro — diz em tom de repreensão.
Minhas bochechas aqueceram tanto que pensei estar com febre, febre de vergonha e humilhação!
— Desculpe, não quis interromper. — dá de ombros.
— Não interrompeu nada. — Apolo diz com raiva — Acabei derrubando um copo de café quente na senhorita Campbell e estava tentando ajudá-la.
— Ah, se queimou? — pergunta entrando no banheiro.
— Hm, um pouco — respondo sem graça.
— E não encontrei outro uniforme para ela — minha chefe completa — Por isso emprestei a minha camisa.
— Queimou muito? — pergunta franzindo a testa.
— Sim, eu estava naqueles dias que só café ajuda. — suspiro — Peguei um grande copo e seu amigo me assustou.
— Posso ver?
— Claro que não Filipo — Apolo responde antes de mim.
— Calma grandão, só queria ajudar — responde ofendido — Vou pedir pessoalmente buscar um vestido parta você — ele fala e sai rapidamente.
— Ignora ele — Apolo pede e eu sorrio.
Assim que termino de passar a pomada na minha barriga ouço batidas na porta e meu chefe entra segurando um vestido rosa soltinho,
Fico agradecida e uso sem reclamar. Por sorte meus sapatos escaparam das manchas de café.
Saio do banheiro e encontro Apolo sentado atrás de sua mesa e Filipo no sofá de couro no canto da sala. O olhar do meu chefe se ergue e me olha com uma intensidade que faz meu estômago dar varias cambalhotas.
— Está se sentindo melhor, senhorita Campbell? — pergunta interessado.
— Sim, obrigada — falo olhando para os dois.
— Qual é seu nome mesmo, senhorita Campbell? — Filipo questiona.
— Pérola.
— Lindo nome, igual a dona — ele graceja, fico vermelha e Apolo respira fundo.
— Filipo, você pode voltar ao trabalho — ordena ao amigo.
— Estou bem aqui — Filipo responde esticando as pernas e recebe um olhar raivoso, essa é a minha deixa.
— Com licença — falo e saio apressada daquela sala, preciso respirar e pensar nos últimos acontecimentos enquanto enfio a cara no trabalho.
Apolo BeaumontEncaro a porta fechada assim que minha secretária sai, e respiro fundo antes de virar para Filipo que já me encara com um ar de deboche.— O que foi Filipo? — pergunto sem paciência.— Você ficou com ciúmes da secretária gostosa — fala me avaliando.— Cara, respeita a senhorita Campbell — peço.— Pérola — ele fala o nome dela bem devagar para me irritar — Eu falei sério, o nome faz jus a beleza dela.— Você é tão depravado — acuso — Ela é só uma garota Filipo, não faz o seu tipo.— O meu tipo é mulher bonita — fala dando de ombros — E a Pérola é uma mulher — enfatiza a palavra mulher — Muito bonita.— Fica longe — ordeno — Não vai brincar com a minha secretária.— Eu sabia! — fala divertido — Você está interessado nela.— Não estou, pelo amor de Deus, olha o que você está insinuando — o encaro com raiva — Ela é minha funcionária e é apenas uma garota — o lembro mais uma vez.— Vamos fazer assim? — questiona e apenas reviro os olhos esperando que ele conclua — Você finge
Perola Campbell O bom humor e a leveza do almoço com a senhora Olivia passou rapidamente, assim que avistei o tanto que trabalho acumulado sobre a minha mesa, é difícil encontrar uma parte que não esteja com papel. A mesa do meu chefe, Senhor Bonitão Beaumont também está cheia de papeis e pastas empilhadas esperando por alguns minutos do seu precioso tempo, mas ele saiu apressado por algum motivo que não quis compartilhar. Eu não julgo, sou apenas uma secretária, não preciso saber do seu paradeiro caso algum cliente importante ligue a sua procura. Respiro fundo e tomo coragem para finalmente mergulhar naquelas pilhas de papeis, não é esse o mergulho que eu queria agora, mas é o que temos para hoje. Ser uma assalariada que quase não vê a cor do próprio dinheiro é uma vida difícil, Eu tento me apegar aquela típica frase “Os humilhados serão exaltados”, porém tem momentos que eu acho que os humilhados já foram exaltados e esqueceram de mim. Paro de enrolar e analiso por qual papel eu
Perola CampbellAcordo com o som estridente do meu despertador, gritando no meu ouvido que o dia já amanheceu e preciso levantar, afinal alguém tem que trabalhar nessa casa, esse alguém é obvio que sou eu.Escuto batidas fortes na minha porta, que sempre está trancada, impedindo que aquele velho entre enquanto estou dormindo, algo nele me dá calafrios.— Está atrasada — berra do outro lado da porta.Gemo frustrada e olho para o relógio, não estou atrasado, esse velho quer apenas me atormentar só pode.— Vamos Perola, se perder esse emprego vai se ver comigo — ameaça.Suspiro e enfio a cabeça embaixo do travesseiro, talvez se eu o ignorar ele se cansa e desiste de me perturbar.— Não se esqueça do que conversamos ontem a noite garota — ele insiste — Nada de garotos para você, só estou cuidando da minha netinha.Será possível que ele não vai me deixar em paz?Sento na cama já cem por cento desperta e impaciente, não aguento mais essa vida de cativa e escrava, preciso fugir!Mas até cons
Apolo BeaumontEnquanto encaro a senhorita Campbell vejo o exato momento em que ela ergue o olhar e me encara, nesse exato momento percebo que passei um pouco dos limites. Nunca conseguir decifrar suas emoções apenas ao olha-la, mas agora, vejo raiva e tristeza.— Senhor Beaumont — diz em um rosnado — Fiz algo que lhe incomodou? Não fiz meu trabalho corretamente e com o empenho necessário?Não acredito que ela rosnou pra mim!Tenho plena consciência de que passei um pouco dos limites, não deveria ter sido grosso com ela, mas nesse momento ela me encara e parece está decidindo qual a melhor forma de me fazer sobre.— Não para todas as perguntas.— Sinto muito senhor, mas alguma coisa eu fiz! — afirma furiosa.— Já disse que não fez nada senhorita — digo calmo.— Então, por favor, me explica porque está me tratando com tanta grosseria? — exige ainda furiosa.Eu só posso está ficando doido, porque a raiva em seu rosto a deixa ainda mais atraente, e a tristeza em seu olhar me faz ter vont
Perola CampbellEu sou uma completa covarde!É um pouco difícil admitir, vergonhoso eu diria também, porém eu tenho os meus motivos para esse medo todo. Obviamente eu ignorei o meu chefe pelo resto da semana.Assim que meu despertador toca, suspiro aliviada pela sexta feira, apenas mais um dia para ignorar aquele homem lindo de quase dois metros de puro músculo.Eu deveria fazer terapia, as vezes eu acho que não sou muito normal, afinal eu odeio ficar em casa e correr o risco de encontrar aquele velho, mas nos últimos tempos ele quase não fica em casa, ou chega muito tarde e não me perturba.Reúno toda coragem que ainda possuo depois que a lembrança daquele beijo me atormenta constantemente.Meu primeiro beijo foi com o meu chefe!A forma como ele me pegou, me colocou em cima da mesa, foi tão depravado, mas ao mesmo tempo tão bom!Balanço cabeça tentando afastar esses pensamentos assim que sento atrás da minha mesa.Minha paz não dura nem um minuto, pois o elevador apita e o Apolo sai
Perola Campbell— Para onde você pensa que vai? — meu avô pergunta entrando no meu quarto, posso sentir um frio atravessar a minha espinha.— Em um jantar.— Você não vai em um encontro! — fala alto me cortando.— É um jantar de negócios, com o pessoal do trabalho — não é uma completa mentira, eu realmente vou almoçar com o rapaz do trabalho.— Se eu souber que anda mentindo para mim, não sei o que faço com você!— Não estou mentindo — tento ser firme.Ajeito o penteado simples e passo a mão pelo vestido rosa que estou usando tirando rugas imaginarias.— Ok, Perola! — ele rosna — Esse emprego é muito importante, vá no jantar e passe uma boa impressão, não podemos perder esse dinheiro.Tudo sempre é sobre dinheiro, ele tira até a ultima moeda de mim, quase não consigo comprar o mínimo para minha própria higiene.Pego minha bolsa rapidamente e dou a volta nele, antes que perceba que estou tremula, esse velho me assusta!Tento lembrar porque eu aceitei esse jantar mesmo, já que estou gas
Perola CampbellTento controlar minha respiração e as reações do meu corpo, ele não pode me querer, na verdade, eu não posso querer ele, tenho que afastar qualquer possível envolvimento, mas ao invés disso, acabo dando esperança para que ele machuque o meu coração.— Não precisa se preocupar, então.— Por que?— Ele nunca teve uma chance, só foi um jantar — balancei a cabeça ao pensar no encontro — E foi um completo desastre.Estaciona o carro na porta da minha casa e se vira para me olhar.— Conte-me mais — pede com um sorriso de canto.E eu esqueço que estamos na frente da minha casa, o velho pode estar nos espionando.— Eu não quis que me levasse embora.— Apesar de gostar, acho arriscado ficar esperando um táxi a essa hora — estreita os olhos — Ele fez algo sem sua permissão?— Claro que não — respondo rindo — Se ele fizesse isto ia levar um soco.— Gosto de como soa — sorri — Então, por que foi embora sozinha?— Você é muito curioso.— De família — fala dando de ombros.— O cara
Apolo BeaumontIrei precisar da ajuda do Filipo para lidar com as multas que, com certeza, estou tomando ao voltar para casa. O motor ruge sob o capô do carro, meu pé pressionando com força o pedal do acelerador, uma expressão de frustração e raiva estampada em meu rosto.Cada semáforo vermelho, cada sinal de trânsito parece ser um lembrete do meu estado de espírito. Estou com pressa, impaciente e com raiva, raiva por não ter tido a oportunidade de beijar a minha doce secretária Perola, não poder tocar na sua pele, sentir o seu corpo colado no meu e ver seus pelos de arrepiarem com o meu toque.Hoje não é o meu dia, solto um rosnado quando vejo o carro do Filipo estacionado na porta da minha casa, parece uma praga, só fiz pensar no bastardo e ele apareceu, agora não seria uma boa hora para encontrar o meu amigo, já que estou com raiva, frustrado e não quero que ele saiba o motivo.Desço do carro e passo a mão pelos cabelos em um gesto de frustração, tentando controlar minhas emoções a