CAPITULO 6

Perola Campbell

O bom humor e a leveza do almoço com a senhora Olivia passou rapidamente, assim que avistei o tanto que trabalho acumulado sobre a minha mesa, é difícil encontrar uma parte que não esteja com papel. A mesa do meu chefe, Senhor Bonitão Beaumont também está cheia de papeis e pastas empilhadas esperando por alguns minutos do seu precioso tempo, mas ele saiu apressado por algum motivo que não quis compartilhar.

Eu não julgo, sou apenas uma secretária, não preciso saber do seu paradeiro caso algum cliente importante ligue a sua procura.

Respiro fundo e tomo coragem para finalmente mergulhar naquelas pilhas de papeis, não é esse o mergulho que eu queria agora, mas é o que temos para hoje. Ser uma assalariada que quase não vê a cor do próprio dinheiro é uma vida difícil,

Eu tento me apegar aquela típica frase “Os humilhados serão exaltados”, porém tem momentos que eu acho que os humilhados já foram exaltados e esqueceram de mim.

Paro de enrolar e analiso por qual papel eu começo, o ruim de ter muito trabalho é que as horas passam muito rápido, odeio ter que voltar para casa, odeio ter que ver aquele velho babão, odeio não ter coragem para fugir, odeio que as horas passem tão depressa.

Algumas pessoas torcem para que o dia passe rápido para não ter que trabalhar mais do que o essencial, mas não eu, eu torço para ficar mais no trabalho, se eu pudesse moraria aqui, dormiria no sofá confortável da sala do meu chefe, que tenho certeza que é melhor que a minha cama, uma pena que não seria muito ético.

— Ei, Pérola.

Ergui meu olhar e encontro Breno caminhando em minha direção, ele é o estagiário do setor de Marketing, é um garoto legal, mas as vezes tenho a impressão que ele gosta de mim, não seria nada mal, o garoto é um gatinho, porém não posso me arriscar ninguém, não com a vida que tenho morando com aquele velho. Quem sabe um dia, eu possa conhecer uma pessoa legal e viver um amor tranquilo.

— Como vai, Breno? — pergunto de maneira educada.

— Melhor agora — ele pisca um olho para mim — Vim deixar esses documentos para o Senhor Beaumont — peguei a pasta que ele oferece.

— Não precisa ter se incomodado em vim até aqui. Poderia ter mandado alguém trazer — digo conferindo os arquivos.

— Até poderia, mas queria vê-la — diz tranquilo — Nem parece mais aquela garota de jeans e jaqueta que entra nesse prédio dos os dias pela manhã.

— Sou a mesma garota, Breno — ergui o olhar novamente e me surpreendo ao ver Apolo bem atrás do Breno com os braços cruzados.

— Está muito bonita, como sempre — Elogiou sem perceber o nosso chefe em suas costas.

— Já viu minha secretária e a elogiou o suficiente? — Apolo perguntou em um tom duro que eu nunca tinha ouvido antes.

Até mesmo em suas reuniões mais estressantes ele mantinha a calma na voz, talvez ele não goste desses tipos de interações no ambiente de trabalho, eu sei que o Breno estava flertando comigo, mas eu nunca retribuo suas investidas.

Breno pula assustado e se vira rapidamente.

— Senhor Beaumont — O cumprimentou constrangido.

— Acredito que já passou tempo demais longe do seu setor — Apolo diz em tom de acusação e o encara firmemente.

Breno apenas balança a cabeça concordando, acena uma despedida para mim e sai quase correndo, intimidado, dá até para sentir pena, se um dia o senhor Beaumont falar dessa forma dura comigo eu choro. Brincadeira, choro nada, preciso desse emprego.

Tento entender o motivo no qual o meu chefe agiu dessa maneira dura, se por disciplina, por não querer seus funcionários tendo alguma relação no trabalho ou por outro motivo que não consigo identificar agora. Será que alguém o irritou?

Nunca irei saber, e o instinto da curiosidade que habita em mim vai se revirar em desespero ansiando pela resposta que nunca virá.

Quando viro e o encaro quase corro também, seu rosto está bem vermelho e as veias do seu pescoço estão sobressaltadas.

— Senhor Beaumont? — o chamo achando mais prudente seguir com as formalidades.

Ele somente me encara como se estivesse se segurando para não me matar e beber meu sangue, como aquele vampiro gato de Crepúsculo se controlando para não beber todo o sangue da inocente Bela.

— Senhor Beaumont? — insisto mais uma vez e não tenho resposta — Apolo?

— Fale, senhoria Campbell! — ele não fala, ele rosna entre dentes e agora não o acho como o Vampiro e sim o lobo mau, pronto para devorar a chapeuzinho vermelho, que no caso sou seu.

— Que olhos grandes você tem...

— Como é? — ele rosna incrédulo e percebo que pensei alto demais.

— O senhor está bem? Quer um pouco de água? Um suco? — questiono me levantando.

— Estou ótimo, senhorita — fala quase sem vontade e passa por mim igual um furacão, abre a porta da sua sala furioso e depois a b**e com força, estremeço.

Suspiro sem saber o que fazer, volto a sentar e tento trabalhar mais um pouco, seja lá o que fizeram com ela, o tirou do sério de verdade.

Não o vejo pelo resto do dia, foi melhor assim mesmo, dado ao estado emocional do homem. Porém, desejei vê-lo, talvez até tentar acalmá-lo, meio contraditória eu sei, fazer o que, tenho bipolaridade as vezes.

No final do expediente arrumo minhas coisas, confesso que faço tudo bem devagar, quanto mais tempo que passar longe daquela casa é melhor, qualquer segundo que seja.

Procuro mais uma vez tentar entender o que poderia tê-lo deixado tão fora de si, e como esperado, não obtenho nenhuma resposta.

...

Abro a porta de casa bem devagar, eu estou um pouco exausta, só que me jogar na minha cama, dormir e não olhar na cara daquele velho.

Porém quando coloco o resto do corpo para dentro a luz da sala é acesa e encaro o meu carcereiro, digo, meu avô, não por escolha, claro.

— Com quem você estava? — a pergunta direta fiz meus ombros caírem e meu coração gelar.

— E com quem eu estaria? — perguntei sem paciência e sigo em direção ao meu quarto, hoje eu não estou a fim desses questionamentos.

Ele sempre fez esse tipo de pergunta só para reafirmar a sua ameaça caso eu encontre alguém para namorar.

— Não me dê as costas, sua cadela — rosna — Se eu descobrir que você está aprontando por aí, eu vou matar o desgraçado e prender você em casa até o dia da minha morte, você não será igual a sua mãe!

Respiro fundo quando o choro vem na minha garganta, seguro bravamente as lágrimas.

— Eu estava trabalhando! — grito arrumando coragem não sei de onde — Trabalhando para bancar essa casa e seus luxos com bebidas e mulher.

— Não fale assim como mocinha — grita mais alto — Da próxima vez que falar dessa maneira comigo, não respondo por mim — adverte me olhando com ódio — Você não será uma vadia igual a sua mãe.

— Não fala da minha mãe — falo entredentes — Ela e o meu pai se amavam.

— Amor não existe, garota — ele debocha — Veja para onde o amor os levou.

— Essa conversa de novo não — choramingo — Respeita a memoria dos meus pais, e eu só quero descansar.

— Você tem que cuidar do seu avô — insiste um diálogo.

— Eu estou cuidando — respondo sem forças, só quero me trancar no meu quarto e esquecer um pouco esse velho dos infernos.

Viro as costas e saio apressada para o meu quarto, assim que entro, tranco a porta e vou para o meu banheiro tomar um banho, meu corpo só pede cama!

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