Perola Campbell
O bom humor e a leveza do almoço com a senhora Olivia passou rapidamente, assim que avistei o tanto que trabalho acumulado sobre a minha mesa, é difícil encontrar uma parte que não esteja com papel. A mesa do meu chefe, Senhor Bonitão Beaumont também está cheia de papeis e pastas empilhadas esperando por alguns minutos do seu precioso tempo, mas ele saiu apressado por algum motivo que não quis compartilhar.
Eu não julgo, sou apenas uma secretária, não preciso saber do seu paradeiro caso algum cliente importante ligue a sua procura.
Respiro fundo e tomo coragem para finalmente mergulhar naquelas pilhas de papeis, não é esse o mergulho que eu queria agora, mas é o que temos para hoje. Ser uma assalariada que quase não vê a cor do próprio dinheiro é uma vida difícil,
Eu tento me apegar aquela típica frase “Os humilhados serão exaltados”, porém tem momentos que eu acho que os humilhados já foram exaltados e esqueceram de mim.
Paro de enrolar e analiso por qual papel eu começo, o ruim de ter muito trabalho é que as horas passam muito rápido, odeio ter que voltar para casa, odeio ter que ver aquele velho babão, odeio não ter coragem para fugir, odeio que as horas passem tão depressa.
Algumas pessoas torcem para que o dia passe rápido para não ter que trabalhar mais do que o essencial, mas não eu, eu torço para ficar mais no trabalho, se eu pudesse moraria aqui, dormiria no sofá confortável da sala do meu chefe, que tenho certeza que é melhor que a minha cama, uma pena que não seria muito ético.
— Ei, Pérola.
Ergui meu olhar e encontro Breno caminhando em minha direção, ele é o estagiário do setor de Marketing, é um garoto legal, mas as vezes tenho a impressão que ele gosta de mim, não seria nada mal, o garoto é um gatinho, porém não posso me arriscar ninguém, não com a vida que tenho morando com aquele velho. Quem sabe um dia, eu possa conhecer uma pessoa legal e viver um amor tranquilo.
— Como vai, Breno? — pergunto de maneira educada.
— Melhor agora — ele pisca um olho para mim — Vim deixar esses documentos para o Senhor Beaumont — peguei a pasta que ele oferece.
— Não precisa ter se incomodado em vim até aqui. Poderia ter mandado alguém trazer — digo conferindo os arquivos.
— Até poderia, mas queria vê-la — diz tranquilo — Nem parece mais aquela garota de jeans e jaqueta que entra nesse prédio dos os dias pela manhã.
— Sou a mesma garota, Breno — ergui o olhar novamente e me surpreendo ao ver Apolo bem atrás do Breno com os braços cruzados.
— Está muito bonita, como sempre — Elogiou sem perceber o nosso chefe em suas costas.
— Já viu minha secretária e a elogiou o suficiente? — Apolo perguntou em um tom duro que eu nunca tinha ouvido antes.
Até mesmo em suas reuniões mais estressantes ele mantinha a calma na voz, talvez ele não goste desses tipos de interações no ambiente de trabalho, eu sei que o Breno estava flertando comigo, mas eu nunca retribuo suas investidas.
Breno pula assustado e se vira rapidamente.
— Senhor Beaumont — O cumprimentou constrangido.
— Acredito que já passou tempo demais longe do seu setor — Apolo diz em tom de acusação e o encara firmemente.
Breno apenas balança a cabeça concordando, acena uma despedida para mim e sai quase correndo, intimidado, dá até para sentir pena, se um dia o senhor Beaumont falar dessa forma dura comigo eu choro. Brincadeira, choro nada, preciso desse emprego.
Tento entender o motivo no qual o meu chefe agiu dessa maneira dura, se por disciplina, por não querer seus funcionários tendo alguma relação no trabalho ou por outro motivo que não consigo identificar agora. Será que alguém o irritou?
Nunca irei saber, e o instinto da curiosidade que habita em mim vai se revirar em desespero ansiando pela resposta que nunca virá.
Quando viro e o encaro quase corro também, seu rosto está bem vermelho e as veias do seu pescoço estão sobressaltadas.
— Senhor Beaumont? — o chamo achando mais prudente seguir com as formalidades.
Ele somente me encara como se estivesse se segurando para não me matar e beber meu sangue, como aquele vampiro gato de Crepúsculo se controlando para não beber todo o sangue da inocente Bela.
— Senhor Beaumont? — insisto mais uma vez e não tenho resposta — Apolo?
— Fale, senhoria Campbell! — ele não fala, ele rosna entre dentes e agora não o acho como o Vampiro e sim o lobo mau, pronto para devorar a chapeuzinho vermelho, que no caso sou seu.
— Que olhos grandes você tem...
— Como é? — ele rosna incrédulo e percebo que pensei alto demais.
— O senhor está bem? Quer um pouco de água? Um suco? — questiono me levantando.
— Estou ótimo, senhorita — fala quase sem vontade e passa por mim igual um furacão, abre a porta da sua sala furioso e depois a b**e com força, estremeço.
Suspiro sem saber o que fazer, volto a sentar e tento trabalhar mais um pouco, seja lá o que fizeram com ela, o tirou do sério de verdade.
Não o vejo pelo resto do dia, foi melhor assim mesmo, dado ao estado emocional do homem. Porém, desejei vê-lo, talvez até tentar acalmá-lo, meio contraditória eu sei, fazer o que, tenho bipolaridade as vezes.
No final do expediente arrumo minhas coisas, confesso que faço tudo bem devagar, quanto mais tempo que passar longe daquela casa é melhor, qualquer segundo que seja.
Procuro mais uma vez tentar entender o que poderia tê-lo deixado tão fora de si, e como esperado, não obtenho nenhuma resposta.
...
Abro a porta de casa bem devagar, eu estou um pouco exausta, só que me jogar na minha cama, dormir e não olhar na cara daquele velho.
Porém quando coloco o resto do corpo para dentro a luz da sala é acesa e encaro o meu carcereiro, digo, meu avô, não por escolha, claro.
— Com quem você estava? — a pergunta direta fiz meus ombros caírem e meu coração gelar.
— E com quem eu estaria? — perguntei sem paciência e sigo em direção ao meu quarto, hoje eu não estou a fim desses questionamentos.
Ele sempre fez esse tipo de pergunta só para reafirmar a sua ameaça caso eu encontre alguém para namorar.
— Não me dê as costas, sua cadela — rosna — Se eu descobrir que você está aprontando por aí, eu vou matar o desgraçado e prender você em casa até o dia da minha morte, você não será igual a sua mãe!
Respiro fundo quando o choro vem na minha garganta, seguro bravamente as lágrimas.
— Eu estava trabalhando! — grito arrumando coragem não sei de onde — Trabalhando para bancar essa casa e seus luxos com bebidas e mulher.
— Não fale assim como mocinha — grita mais alto — Da próxima vez que falar dessa maneira comigo, não respondo por mim — adverte me olhando com ódio — Você não será uma vadia igual a sua mãe.
— Não fala da minha mãe — falo entredentes — Ela e o meu pai se amavam.
— Amor não existe, garota — ele debocha — Veja para onde o amor os levou.
— Essa conversa de novo não — choramingo — Respeita a memoria dos meus pais, e eu só quero descansar.
— Você tem que cuidar do seu avô — insiste um diálogo.
— Eu estou cuidando — respondo sem forças, só quero me trancar no meu quarto e esquecer um pouco esse velho dos infernos.
Viro as costas e saio apressada para o meu quarto, assim que entro, tranco a porta e vou para o meu banheiro tomar um banho, meu corpo só pede cama!
Perola CampbellAcordo com o som estridente do meu despertador, gritando no meu ouvido que o dia já amanheceu e preciso levantar, afinal alguém tem que trabalhar nessa casa, esse alguém é obvio que sou eu.Escuto batidas fortes na minha porta, que sempre está trancada, impedindo que aquele velho entre enquanto estou dormindo, algo nele me dá calafrios.— Está atrasada — berra do outro lado da porta.Gemo frustrada e olho para o relógio, não estou atrasado, esse velho quer apenas me atormentar só pode.— Vamos Perola, se perder esse emprego vai se ver comigo — ameaça.Suspiro e enfio a cabeça embaixo do travesseiro, talvez se eu o ignorar ele se cansa e desiste de me perturbar.— Não se esqueça do que conversamos ontem a noite garota — ele insiste — Nada de garotos para você, só estou cuidando da minha netinha.Será possível que ele não vai me deixar em paz?Sento na cama já cem por cento desperta e impaciente, não aguento mais essa vida de cativa e escrava, preciso fugir!Mas até cons
Apolo BeaumontEnquanto encaro a senhorita Campbell vejo o exato momento em que ela ergue o olhar e me encara, nesse exato momento percebo que passei um pouco dos limites. Nunca conseguir decifrar suas emoções apenas ao olha-la, mas agora, vejo raiva e tristeza.— Senhor Beaumont — diz em um rosnado — Fiz algo que lhe incomodou? Não fiz meu trabalho corretamente e com o empenho necessário?Não acredito que ela rosnou pra mim!Tenho plena consciência de que passei um pouco dos limites, não deveria ter sido grosso com ela, mas nesse momento ela me encara e parece está decidindo qual a melhor forma de me fazer sobre.— Não para todas as perguntas.— Sinto muito senhor, mas alguma coisa eu fiz! — afirma furiosa.— Já disse que não fez nada senhorita — digo calmo.— Então, por favor, me explica porque está me tratando com tanta grosseria? — exige ainda furiosa.Eu só posso está ficando doido, porque a raiva em seu rosto a deixa ainda mais atraente, e a tristeza em seu olhar me faz ter vont
Perola CampbellEu sou uma completa covarde!É um pouco difícil admitir, vergonhoso eu diria também, porém eu tenho os meus motivos para esse medo todo. Obviamente eu ignorei o meu chefe pelo resto da semana.Assim que meu despertador toca, suspiro aliviada pela sexta feira, apenas mais um dia para ignorar aquele homem lindo de quase dois metros de puro músculo.Eu deveria fazer terapia, as vezes eu acho que não sou muito normal, afinal eu odeio ficar em casa e correr o risco de encontrar aquele velho, mas nos últimos tempos ele quase não fica em casa, ou chega muito tarde e não me perturba.Reúno toda coragem que ainda possuo depois que a lembrança daquele beijo me atormenta constantemente.Meu primeiro beijo foi com o meu chefe!A forma como ele me pegou, me colocou em cima da mesa, foi tão depravado, mas ao mesmo tempo tão bom!Balanço cabeça tentando afastar esses pensamentos assim que sento atrás da minha mesa.Minha paz não dura nem um minuto, pois o elevador apita e o Apolo sai
Perola Campbell— Para onde você pensa que vai? — meu avô pergunta entrando no meu quarto, posso sentir um frio atravessar a minha espinha.— Em um jantar.— Você não vai em um encontro! — fala alto me cortando.— É um jantar de negócios, com o pessoal do trabalho — não é uma completa mentira, eu realmente vou almoçar com o rapaz do trabalho.— Se eu souber que anda mentindo para mim, não sei o que faço com você!— Não estou mentindo — tento ser firme.Ajeito o penteado simples e passo a mão pelo vestido rosa que estou usando tirando rugas imaginarias.— Ok, Perola! — ele rosna — Esse emprego é muito importante, vá no jantar e passe uma boa impressão, não podemos perder esse dinheiro.Tudo sempre é sobre dinheiro, ele tira até a ultima moeda de mim, quase não consigo comprar o mínimo para minha própria higiene.Pego minha bolsa rapidamente e dou a volta nele, antes que perceba que estou tremula, esse velho me assusta!Tento lembrar porque eu aceitei esse jantar mesmo, já que estou gas
Perola CampbellTento controlar minha respiração e as reações do meu corpo, ele não pode me querer, na verdade, eu não posso querer ele, tenho que afastar qualquer possível envolvimento, mas ao invés disso, acabo dando esperança para que ele machuque o meu coração.— Não precisa se preocupar, então.— Por que?— Ele nunca teve uma chance, só foi um jantar — balancei a cabeça ao pensar no encontro — E foi um completo desastre.Estaciona o carro na porta da minha casa e se vira para me olhar.— Conte-me mais — pede com um sorriso de canto.E eu esqueço que estamos na frente da minha casa, o velho pode estar nos espionando.— Eu não quis que me levasse embora.— Apesar de gostar, acho arriscado ficar esperando um táxi a essa hora — estreita os olhos — Ele fez algo sem sua permissão?— Claro que não — respondo rindo — Se ele fizesse isto ia levar um soco.— Gosto de como soa — sorri — Então, por que foi embora sozinha?— Você é muito curioso.— De família — fala dando de ombros.— O cara
Apolo BeaumontIrei precisar da ajuda do Filipo para lidar com as multas que, com certeza, estou tomando ao voltar para casa. O motor ruge sob o capô do carro, meu pé pressionando com força o pedal do acelerador, uma expressão de frustração e raiva estampada em meu rosto.Cada semáforo vermelho, cada sinal de trânsito parece ser um lembrete do meu estado de espírito. Estou com pressa, impaciente e com raiva, raiva por não ter tido a oportunidade de beijar a minha doce secretária Perola, não poder tocar na sua pele, sentir o seu corpo colado no meu e ver seus pelos de arrepiarem com o meu toque.Hoje não é o meu dia, solto um rosnado quando vejo o carro do Filipo estacionado na porta da minha casa, parece uma praga, só fiz pensar no bastardo e ele apareceu, agora não seria uma boa hora para encontrar o meu amigo, já que estou com raiva, frustrado e não quero que ele saiba o motivo.Desço do carro e passo a mão pelos cabelos em um gesto de frustração, tentando controlar minhas emoções a
Perola CampbellA parte boa dos finais de semana é ter a chance de acordar um pouco mais tarde, chance essa que eu não estou tendo. A tranquilidade matinal é abruptamente interrompida pelo som estridente que ecoa pelo corredor, invadindo o ambiente como um intruso indesejado. É a música, uma cafonia irritante de batidas descompassadas e letras desconexas, que ressoa no ar como um desafio provocativo.Com um suspiro exasperado, viro-me na cama, tentando abafar o ruído perturbador. Tenho quase certeza de que meu avô está deliberadamente aumentando o volume, como se estivesse tentando me tirar do sono de propósito. É uma provocação flagrante e, ao mesmo tempo, uma lembrança incômoda de que o dia começou muito mais cedo do que eu gostaria.Apesar da vontade irresistível de voltar a mergulhar no conforto do sono, sei que preciso me levantar. Com um esforço concentrado, finalmente consigo arrancar-me das cobertas macias e me colocar de pé. Mesmo com a preguiça ainda pesando em meus membros,
Perola Campbell— Onde estamos? — pergunto, sentindo-me um tanto desconcertada quando finalmente paramos.— Minha casa — ele responde casualmente, como se não fosse nada de extraordinário. Meus olhos se arregalam em surpresa diante da revelação, incapazes de conter minha reação.— Como? — consigo articular, sentindo-me aliviada por não gaguejar em sua frente.— Não se assuste — pede percebendo minha perplexidade e me lança um sorriso tranquilizador — Eu não mordo — acrescenta com um piscar de seus olhos azuis brilhantes em minha direção, uma leve brincadeira dançando em suas palavras — A menos que peça — continua, e uma onda de calor sobe pelas minhas bochechas ao captar a insinuação sugestiva em sua fala — Mas acredito que nenhum outro lugar irá trazer a tranquilidade que precisamos — segura minha mão — Tivemos uma longa semana — conclui, seu tom indicando uma compreensão mútua do cansaço que nos envolve após tantos dias agitados.— Muito longa realmente.— Então venha comigo, vamos