“Dedico esse livro a todos que desejam um recomeço. Que o destino providencie uma nova chance de serem felizes”.
**Prefácio** E, pela segunda vez, Harry a deixou partir. Seu coração parecia ter sido estraçalhado ao ver Esther o encarando com lágrimas descendo em seu rosto antes de afastar-se dele. Harry não conseguiu reagir. Por mais que sentisse como se o mundo aos seus pés tivesse desabado, ele não fez menção de sair do lugar enquanto ainda conseguia ver Esther se distanciando cada vez mais, até que, em um momento, não pôde mais vê-la. Sentiu como se seu coração tivesse ido com ela. Nunca havia sentido algo parecido: era cruel, devastador e agonizante. Uma pequena parte de si ainda tinha esperança de que ela se virasse, talvez corresse atrás dele para um último beijo, ou apenas para admirar, pela última vez, seu belo rosto. Aqueles breves segundos ficariam marcados em sua memória pelo resto da vida. Tudo havia acabado. Passara a vida toda apaixonado por aquela mulher, e, por duas vezes, ele precisou deixá-la partir. Harry começava a acreditar que eles não nasceram para ficar juntos. Pode parecer tolice, mas, boa parte de sua vida, ele acreditou que Esther era seu destino. Nenhuma outra mulher jamais conseguiu ocupar o lugar dela em seu coração, e agora esse lugar estava preenchido por um grande vazio, que Harry temia jamais conseguir preencher. Mas o que ele poderia fazer? Ele estava tão perdido quanto no momento em que acordou e percebeu que tudo o que havia escrito naquela máquina antiga havia se tornado realidade. Parecia loucura; uma magia sobrenatural assim não era para existir, pelo menos, era o que ele pensava. Mas seria possível que um simples desejo pudesse se tornar realidade? E por que nada saiu da maneira que ele queria? (Alguns anos antes…) Enquanto a música tocava, Harry só queria curtir o momento. Esther tomava outro copo de cerveja, e ele sorriu ao vê-la rebolar e descer até o chão. Assim que “Billie Jean”, do Michael Jackson, começou a tocar, Esther deu um grito e o puxou para a pista de dança. Aquela era uma de suas músicas favoritas. Harry adorava aqueles momentos descontraídos com sua amiga, nem mesmo se importava se estava passando vergonha enquanto dançava. Todos ali estavam bêbados e eram amigos da escola; o conheciam desde sempre. Não havia motivo para se envergonhar, afinal, seu time inteiro de futebol estava ali, dançando e se divertindo ao ritmo da música. Eles o acompanharam enquanto ele girava e dava um chute no ar. Harry não imaginava que, um dia, sentiria tanta falta daquela época, principalmente das músicas épicas. Quando a música acabou, ele estava ofegante, e todos gargalhavam alegremente. Harry estava com sede; precisava beber algo. Eles estavam se divertindo tanto que não sentiam nenhuma culpa por enganarem os pais para ir à festa. Estavam no último ano do ensino médio, e, em breve, as aulas terminariam. Precisavam aproveitar ao máximo a juventude e não queriam se arrepender de ter perdido esses momentos. Enquanto Harry enchia seu copo de cerveja, levou um susto quando Esther chegou por trás. Ao se virar, viu que ela gargalhava ao vê-lo assustado. — Sentirei saudades disso – Esther sorriu. — Não é como se nunca mais fôssemos nos ver – Harry encostou-se na parede enquanto bebia. — Mas nada será igual; tudo vai mudar – Esther abaixou a cabeça. Harry pegou uma mecha de seu cabelo e a colocou atrás da orelha. — Nada entre nós vai mudar, estrelinha – ele sussurrou em seu ouvido. Um arrepio percorreu o corpo de Esther ao ouvir o som da voz dele. Ela o encarou; talvez fosse a bebida falando mais alto, mas, por um minuto, Esther esqueceu que aquele era seu melhor amigo. Aproximou-se mais dele e o beijou, sem pensar em mais nada. Talvez o ato tenha sido repentino demais. Harry já havia beijado muitas garotas, mas nunca havia cogitado beijar Esther. Ele se surpreendeu quando a morena se aproximou e colocou os lábios nos dele. Depois do susto inicial, ele abriu a boca, dando passagem para a língua dela. Esther subiu a mão até a nuca dele, puxando seu cabelo e soltando um suspiro. Aquilo era tão bom que ele não queria parar. Harry pegou em sua cintura, intensificando ainda mais o beijo. Seu coração palpitava mais rápido, seu sangue esquentava, e o desejo de continuar beijando-a se intensificava. Então, Esther parou e olhou em seus olhos. Ele sentia como se fosse uma alucinação; aquilo não parecia real. Era sua melhor amiga e por que ele desejava tanto continuar beijando-a? Esther o encarava com intensidade, até que seus olhos começaram a fechar lentamente. Harry a segurou antes que ela desmaiasse ali. Respirando fundo, Harry a carregou para fora da casa. Apesar do barulho alto, Esther dormia profundamente. Ele a colocou no carro e a levou até a casa dela. Enquanto dirigia, Harry a olhava ao seu lado para se certificar de que estava tudo bem. Assim que parou o carro, passou a mão nos cabelos e suspirou fundo. ****************** Depois daquela noite, Esther nunca tocou no assunto do beijo. Harry tentou, mas foi covarde o bastante para nunca conseguir falar sobre isso. Talvez esse tenha sido o seu maior erro. Levou meses para Harry entender que estava apaixonado por sua melhor amiga. Se Esther não o tivesse beijado naquela festa, ele talvez jamais percebesse. Harry encarava o envelope à sua frente, passando a mão nas letras douradas enquanto relembrava o passado. Era o convite de casamento de Esther e Daniel. Ele pegou seu copo e deu mais um gole na bebida, ainda observando em choque aquele papel. Um simples objeto que era como uma sentença para o fim de tudo o que Harry desejava. Todas às vezes que tentou dizer o que sentia por ela, ele falhou, sem nem saber o porquê. Talvez fosse o medo de ser rejeitado, ou de que Esther se distanciasse dele. Seu coração se apertava só de pensar em uma vida sem ela. Por isso, contentou-se em ser apenas seu amigo. Ele jamais conseguiria viver sem ver seus olhos brilhando quando ela fala sobre algo de que gosta, ou sem ouvir sua gargalhada, uma bela música para seus ouvidos. Harry não conseguia imaginar uma vida sem Esther Brooks. Havia algo naquela mulher que o prendia, como se suas almas estivessem ligadas uma à outra. Por mais que tentasse, Harry sempre falhava em se manter distante dela. Mesmo depois de todos esses anos, ele ainda podia sentir o sabor do beijo e o toque quente dos lábios de Esther quando fechava os olhos e se lembrava daquele momento. Aquilo o estava destruindo por dentro. Harry já havia bebido muito naquela noite. Jogou o envelope no chão, soltou um grito e se deitou, fechando os olhos. Às vezes, ele amaldiçoava aquele dia. Se Esther nunca o tivesse beijado, ele jamais teria se apaixonado por ela, e eles poderiam ter continuado amigos. Mas quem ele estava tentando enganar? Seria impossível conviver com Esther sem se apaixonar. A cada dia, ele tinha mais certeza de que ela era perfeita para ele. Nenhuma outra mulher que ele já beijou o fazia sentir o que sentia por Esther. Naquela noite, Harry decidiu que faria tudo o que fosse preciso para que Esther se apaixonasse por ele e percebesse que Daniel nunca foi o cara certo. Mas ainda havia um grande obstáculo: ela o via apenas como um amigo. Como ele mudaria isso? Harry abriu os olhos, encarando o teto, enquanto as cenas daquele beijo ainda se repetiam em sua mente. Ele não queria continuar vivendo do passado; queria mudar seu futuro. Harry deveria ser o homem esperando por Esther no altar, e não Daniel. ****************** Harry acordou de mau-humor, com uma terrível dor de cabeça. Quando finalmente conseguiu dormir, já era de madrugada, e ele sonhou com ela novamente. Ao se levantar, sua mente estava agitada e cheia de pensamentos. O que ele deveria fazer? Seguir em frente e deixá-la ir? Se fizesse isso, passaria o resto da vida arrependido e com um enorme vazio no coração por não poder ver Esther novamente. — Chega de arrependimentos. Seja homem e faça o que for preciso para conquistá-la – sussurrou, encarando seu reflexo no espelho.Assim que chegou ao escritório, Harry foi recebido com um largo sorriso de Ana, sua secretária.— Bom dia – ele cumprimentou antes de entrar em sua sala. Ao sentar, colocou o celular sobre a mesa, no mesmo segundo viu uma notificação. Desbloqueou a tela e sorriu ao ver o nome de Esther.“Está livre nesta tarde?”, ela perguntou. Harry respirou fundo antes de responder. Mesmo depois de tantos anos de amizade, toda vez que falava com ela sentia-se como um adolescente desajeitado.“Vou verificar minha agenda”, ele brincou, antes de responder: “Para você, sempre arrumo um tempo”.“Passarei aí na hora do almoço. Beijos”, ela avisou. Harry começou a cantarolar enquanto ligava o computador, mas engoliu em seco e tossiu ao ver Leandro entrar sem aviso.— Não sabe bater? – Harry o encarou, irritado.— Posso saber o motivo de tanta felicidade tão cedo? – Leandro sentou-se no sofá, esperando uma resposta.Harry inclinou a cadeira para trás, mantendo uma expressão séria.— Não é da sua conta
Aquela conversa estava entrando em um caminho perigoso. Já havia sido excitante ouvir a maneira como Esther descrevia o seu porte físico; agora, o jeito como ela sorria, com as bochechas coradas, fazia sua imaginação percorrer um caminho diferente do que estava vendo à sua frente. Harry imaginou como seria tomar aqueles lábios nos seus com um beijo fervoroso, percorrendo as mãos por cada centímetro de seu corpo, fazendo-a suspirar com seu toque. Ele desejava mais do que tudo vê-lá sentindo o desejo e a chama ardendo dentro deles. Harry saiu de sua ilusão quando Esther começou a estalar os dedos à sua frente. Ele agradeceu mentalmente por isso, pois estava imaginando ela sentada em sua mesa com as pernas em volta dele, enquanto implorava para senti-lo ainda mais. Se continuasse com aqueles pensamentos, passaria por algo vergonhoso na frente dela, que ainda o via como seu amigo.— No mundo da lua de novo? – Esther cruzou os braços, o encarando. Era fofo como ela o encarava, fingin
Nem mesmo se quisesse, Harry conseguiria descrever o que sentiu e pensou quando as cortinas se abriram e Esther apareceu com o vestido de noiva. Ela sempre foi linda, mas naquele momento parecia uma miragem ou alucinação diante dele. Sabe aquelas cenas de filmes românticos onde o personagem se encanta com a beleza da moça, e os dois parecem estar vivendo em câmera lenta enquanto ela o observa timidamente, com as bochechas vermelhas? Isso poderia descrever perfeitamente aquele momento. Se prestasse atenção, Harry podia escutar a batida do seu coração, que parecia querer sair de seu peito. Ele nem piscou, ainda petrificado no sofá diante dela.— Fale alguma coisa – Esther quebrou o silêncio, ainda constrangida. Ele engoliu em seco antes de ter qualquer outra reação. Harry sentia que nenhuma palavra do dicionário poderia descrever a beleza da mulher à sua frente. Sim, pode parecer exagero, mas era o que seu coração apaixonado gritava enquanto batia cada vez mais rápido no peito. T
Enquanto caminhavam até o carro, Harry percebeu que Esther parecia querer dizer algo, o que era estranho, pois, em todos os anos de amizade, isso nunca aconteceu. Esther era a pessoa com quem ele sempre se sentia livre para falar sobre qualquer coisa (bem, quase tudo, já que ele nunca teve coragem de confessar o que sentia além da amizade). Mas, ultimamente, as coisas entre eles pareciam diferentes, e Harry não gostava disso. Quando decidiu perguntar o que ela estava pensando, ambos abriram a boca ao mesmo tempo, e sorriram, resmungando qualquer coisa.— Pode falar primeiro – Harry se adiantou.— Você precisa mesmo voltar ao trabalho hoje? Ele pensou em responder que sim, pois tinha muito trabalho, o que não seria mentira. Mas havia algo no olhar dela, quase uma súplica. Harry sabia que precisava estar com ela naquele momento. Talvez, assim, Esther tivesse coragem de contar o que a estava incomodando tanto.— O que você tem em mente? – Harry perguntou, observando enquanto ela mudav
— Estou precisando de umas férias mesmo – Harry respondeu com um sorriso de lado. Esther deu um grito e acabou com a distância entre eles, espremendo-o em um abraço caloroso e aconchegante. Fazia meses que ele não conseguia tirar um sorriso sincero dela, nem mesmo a via tão animada assim.— Para onde vamos? – Esther perguntou, mas, antes mesmo de ele responder, continuou: — Não importa, temos que fazer as malas – ela falou enquanto entrava no carro.— Agora? – Harry disse surpreso.— Sim, meus pais estão fora hoje; se não aproveitarmos essa oportunidade, jamais conseguiremos sair do país. Harry sorriu ao ligar o carro, com um sentimento nostálgico no peito. Fazia muito tempo que não se sentia assim.— Passaremos na sua casa primeiro? Ou eu te deixo lá e depois volto para te buscar?— Vamos fazer assim: primeiro passamos em casa; farei de tudo para arrumar a mala em tempo recorde, depois iremos para a sua casa.****************** Quando chegaram, já estava escurecendo.— E agora? Se
Quais loucuras você faria por alguém que ama? Nunca em toda a sua vida, Harry imaginou estar naquela situação. Já era tarde da noite, e mesmo assim, decidiram colocar suas malas no carro e seguir estrada. Esther não queria dar chance de alguém descobrir seu plano e atrapalhar, e Harry não ousou contradizê-la. Sentia uma energia nova subindo em seu peito e a adrenalina correndo nas veias. Por um instante, teve um vislumbre dos tempos de adolescente, quando faziam esse tipo de loucura. Ele havia esquecido como era aquela sensação e, naquele momento, se permitiu esquecer de tudo e viver o presente, com Esther ao seu lado. Após cantarem algumas músicas e dividirem uma porção de batata frita, Esther adormeceu ao seu lado, apesar de antes ter prometido com convicção que seria a melhor copiloto:“Vou ficar acordada a noite toda para te ajudar a não dormir ao volante. Já preparei várias músicas para animar e serei a melhor co-piloto dessa viagem”. Mas, assim que a quinta música começou,
Em todos aqueles anos, Harry havia conhecido várias personalidades de Esther; a atual era mais reservada, e, por conta disso, aquele simples ato o deixou surpreso e esperançoso. Foi somente quando saíram daquela tensão do casamento que ele pôde ver o vislumbre da garota pela qual ele se apaixonou. Esther estava debruçada sobre o balcão da cozinha, mexendo no notebook, quando Harry apareceu.— O que você está fazendo? – Harry perguntou.— Enviando um e-mail para minha mãe e para Daniel avisando que ficarei fora por um tempo – ela respondeu, sem ao menos tirar os olhos do notebook. Harry se serviu de café. Assim que se sentou na frente da amiga, ela empurrou um prato com ovos mexidos e torradas que estava ao seu lado.— Fiz para você.— Estou vendo vantagens nesta viagem, assim poderei aproveitar seus dotes culinários – Harry piscou, levando um pouco de ovo à boca.— São só ovos mexidos – ela deu um pequeno sorriso e, pela primeira vez desde que ele entrou naquele cômodo, levantou o
Em várias ocasiões, eles tocaram nesse assunto, mas ela nunca sequer teve coragem de confessar seus motivos. Apesar de aconselhá-la a viver sua vida, ele jamais falou para Esther se distanciar da família, mas sabia que, para ela conseguir se curar dos tormentos que a assombravam, ela precisava fazer isso. No entanto, ele não queria ser visto como o vilão daquela história, era assim que ela o veria, pois Esther estava cega demais para perceber o que acontecia ao seu redor. Então, ele decidiu esperar que ela visse tudo isso por conta própria, e aquela viagem era sua última chance. Leandro tinha razão em uma coisa: se Esther se casasse, ele precisaria se distanciar dela. Havia tomado muito de suas dores durante todos esses anos e, de alguma forma, Harry sabia que o pouco que restava da essência de Esther sumiria com aquele casamento. Ele queria poder esquecer aqueles sentimentos por ela, se apaixonar por outra pessoa e continuar sendo seu melhor amigo, para que Esther não ficasse sozi