Capítulo 5

— Estou precisando de umas férias mesmo – Harry respondeu com um sorriso de lado.

Esther deu um grito e acabou com a distância entre eles, espremendo-o em um abraço caloroso e aconchegante. Fazia meses que ele não conseguia tirar um sorriso sincero dela, nem mesmo a via tão animada assim.

— Para onde vamos? – Esther perguntou, mas, antes mesmo de ele responder, continuou: — Não importa, temos que fazer as malas – ela falou enquanto entrava no carro.

— Agora? – Harry disse surpreso.

— Sim, meus pais estão fora hoje; se não aproveitarmos essa oportunidade, jamais conseguiremos sair do país.

Harry sorriu ao ligar o carro, com um sentimento nostálgico no peito. Fazia muito tempo que não se sentia assim.

— Passaremos na sua casa primeiro? Ou eu te deixo lá e depois volto para te buscar?

— Vamos fazer assim: primeiro passamos em casa; farei de tudo para arrumar a mala em tempo recorde, depois iremos para a sua casa.

******************

Quando chegaram, já estava escurecendo.

— E agora? Se entrarmos, duvido muito que um dos empregados não irá suspeitar ao me ver carregando uma mala – Esther falou pensativa.

— E se entrarmos escondidos pela janela? – Harry perguntou, olhando para fora, pensando naquilo como se fosse uma missão secreta.

— Como entraremos sem que os seguranças nos vejam? Tem câmera por toda a parte.

Harry ligou o carro e os levou até a residência dos Brooks, mesmo com os protestos de Esther ao seu lado.

— Vamos improvisar caso algum deles nos veja. Não é como se fôssemos crianças; você é adulta e, se quer viajar, não deve pedir permissão aos seus pais ou dar satisfações a ninguém – Harry rebateu.

— Quando você diz assim, eu pareço ainda mais patética – Esther respirou fundo.

Harry abriu o vidro do seu lado e tocou o interfone. Esther se aproximou e pediu para abrirem o portão; em poucos segundos, já estavam na residência.

— É bom estar aqui sem sentir o olhar penetrante da general me vigiando como um alvo – Harry brincou.

— Acredite em mim, eu sinto o mesmo.

Lorena, a mãe de Esther, nunca foi uma grande fã da amizade deles. Nas poucas vezes que Harry os visitou, ela fazia vista grossa, por isso a apelidaram de general.

Quando entraram, uma mulher os esperava em frente à porta.

— Melanie, pode dispensar os outros empregados. Irei sair esta noite e não voltarei cedo; também peça que ninguém venha nos incomodar – Esther pediu antes de seguirem para o andar de cima. — E aí, como eu fui? – ela sussurrou para Harry.

— Excelente – ele levantou o polegar confirmando e deu um sorriso enquanto a seguia até o quarto.

Fazia tempo desde a última vez em que Harry entrou no quarto de Esther. Tanto tempo que, agora, as paredes, que eram rosas e com vários posters de cantores seminus, estavam vazias e com cores neutras.

Também não havia sinal da coleção de bonecas e ursos de pelúcia, dos quais Esther odiava, mas sua mãe insistia em mantê-los ali na esperança de prolongar a infância da filha por mais um tempo.

— Fico surpreso por não ter mais dezenas de bonecas e ursos de pelúcia – Harry sorriu, observando a penteadeira branca.

Esther revirou os olhos e sorriu ao encará-lo.

— Me livrei deles quando fiz 18.

— Uma ótima maneira de mostrar que se tornou adulta. Como conseguiu tal feito? – Harry perguntou, cruzando os braços e a observando enquanto Esther colocava uma quantidade absurda de roupa na mala sem ao menos dobrá-las.

— Aproveitei que meus pais haviam saído, juntei todos e doei – ela deu de ombros — Quando a general viu, gritou muito e depois se trancou no quarto, irritada. Uma atitude muito madura para uma mãe – ela sorriu.

— Sua mãe parece desejar que você nunca crescesse – Harry disse, se aproximando de Esther para ajudá-la a fechar a mala.

— Você não faz ideia – ela suspirou. — Pronto, peguei roupa para o frio e calor, biquínis, alguns produtos de higiene, apenas o essencial; o que precisar, comprarei onde quer que estejamos.

Harry observou a mala. Esther estava decidida a fazer tudo o mais rápido que podia; apesar de a mala ser grande, não era nem metade do que ela costumava levar em suas viagens.

Harry pegou a mala e colocou no chão, enquanto Esther pegava algumas coisas no banheiro e colocava em sua bolsa.

— Vamos – Esther apareceu ao seu lado, apressando-o.

A saída da mansão foi mais fácil do que imaginavam; sem ninguém para incomodá-los, mesmo assim, fizeram de tudo para sair silenciosamente e sem fazer muito barulho.

Quando chegaram ao carro, Esther o apressou para que Harry saísse de lá o mais rápido possível.

— Do jeito que você fala até parece uma fuga – ele brincou.

— E não é? – Esther o encarou enquanto Harry arregalou os olhos antes de rir.

— Você vai mesmo fazer isso? E o seu trabalho? – Esther perguntou.

— Faz muitos anos que tenho me dedicado demais a esse trabalho e deixado minha vida pessoal de lado. Acredite, preciso mais do que você dessas férias.

Aquilo era totalmente verdade. Harry passou a se concentrar mais no trabalho em busca de esquecer os seus sentimentos por Esther, já que todas as suas investidas com ela pareciam não dar em nada. Depois que Esther anunciou que estava com Daniel, tudo piorou.

Aqueles sentimentos começaram a preocupá-lo. Às vezes, tudo o que ele mais queria era não sentir mais nada daquilo, mas nem mesmo as festas ou outras mulheres o fizeram se esquecer dela. Ele precisava retomar sua vida, então decidiu focar no trabalho, o que deu muito certo até quando Esther o procurava e ele percebia que aquele sentimento continuava ali.

Por isso, Harry precisava daquela viagem para esclarecer as coisas com ela. Poderia parecer egoísmo, mas ele já estava certo de que, se Esther o rejeitasse, ele abandonaria tudo e recomeçaria uma nova vida longe dela.

Em todos esses anos, até mesmo agora, pensar na possibilidade de ficar distante de Esther dava um grande e sufocante aperto em seu peito. Mas ele não podia continuar naquela vida, ou ela seria sua ruína.

******************

Em pouco tempo, Harry fez sua mala; depois, se sentou na cama enquanto decidiam onde iriam.

— Um paraíso tropical, quero relaxar em uma praia bebendo água de coco e olhando para o mar – Esther falou com um olhar sonhador.

Antes de prosseguir, seu celular começou a tocar. Ela pegou na bolsa e desligou a chamada.

— É minha mãe.

— Será que ela já sabe? – Harry perguntou.

— Com toda certeza. Duvido muito que algum empregado não tenha dado com a língua nos dentes; sempre que ela sai, deixa alguém para me vigiar e contar cada passo que eu dou – Esther bufou enquanto mexia no celular. — É difícil encontrar passagens em cima da hora, mas precisamos ir logo antes que ela volte e acabe com os nossos planos.

— Você não acha que está exagerando? Já é adulta, pode tomar decisões.

— Até parece que você não conhece minha mãe. E, além disso, estou para me casar em breve; ela vai surtar, e quero evitar ao máximo ter uma briga ou dar satisfações a ela.

Tudo que envolve a mãe de Esther é exagerado e, ao mesmo tempo, assustava Harry. Ele nunca viu alguém tão controlador quanto Lorena. Imaginava que havia mudado pelo menos um pouco depois que Esther cresceu, mas, pelos relatos de sua amiga, ela não mudou nada, continua a tratando como uma criança irresponsável.

— Aqui será o primeiro lugar que ela vai procurar – Esther falou, andando de um lado para o outro.

— Podemos ir para a casa de praia dos meus pais. Ninguém sabe sobre aquele lugar – Harry disse.

— É uma ótima ideia – Esther sorriu e correu para abraçá-lo, depois deu um beijo em sua bochecha.

Apenas o toque de seu lábio macio contra a bochecha de Harry já o fez ficar hipnotizado. Por um breve segundo, ele se perguntou se sobreviveria ficando dias sozinho com Esther. Parecia loucura o que estavam fazendo, mas, se recuasse agora, poderia (e iria) se arrepender muito no futuro.

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