Em todos aqueles anos, Harry havia conhecido várias personalidades de Esther; a atual era mais reservada, e, por conta disso, aquele simples ato o deixou surpreso e esperançoso. Foi somente quando saíram daquela tensão do casamento que ele pôde ver o vislumbre da garota pela qual ele se apaixonou. Esther estava debruçada sobre o balcão da cozinha, mexendo no notebook, quando Harry apareceu.— O que você está fazendo? – Harry perguntou.— Enviando um e-mail para minha mãe e para Daniel avisando que ficarei fora por um tempo – ela respondeu, sem ao menos tirar os olhos do notebook. Harry se serviu de café. Assim que se sentou na frente da amiga, ela empurrou um prato com ovos mexidos e torradas que estava ao seu lado.— Fiz para você.— Estou vendo vantagens nesta viagem, assim poderei aproveitar seus dotes culinários – Harry piscou, levando um pouco de ovo à boca.— São só ovos mexidos – ela deu um pequeno sorriso e, pela primeira vez desde que ele entrou naquele cômodo, levantou o
Em várias ocasiões, eles tocaram nesse assunto, mas ela nunca sequer teve coragem de confessar seus motivos. Apesar de aconselhá-la a viver sua vida, ele jamais falou para Esther se distanciar da família, mas sabia que, para ela conseguir se curar dos tormentos que a assombravam, ela precisava fazer isso. No entanto, ele não queria ser visto como o vilão daquela história, era assim que ela o veria, pois Esther estava cega demais para perceber o que acontecia ao seu redor. Então, ele decidiu esperar que ela visse tudo isso por conta própria, e aquela viagem era sua última chance. Leandro tinha razão em uma coisa: se Esther se casasse, ele precisaria se distanciar dela. Havia tomado muito de suas dores durante todos esses anos e, de alguma forma, Harry sabia que o pouco que restava da essência de Esther sumiria com aquele casamento. Ele queria poder esquecer aqueles sentimentos por ela, se apaixonar por outra pessoa e continuar sendo seu melhor amigo, para que Esther não ficasse sozi
A maneira como ela o encarava era diferente de todas as outras vezes. Seu olhar estava mais penetrante, e Harry podia jurar que havia algo naquele gesto. Um arrepio percorreu seu corpo, mas, antes de cogitar fazer qualquer aproximação, Esther se esquivou e levantou, recolhendo a bagunça que fizeram. Harry se levantou em seguida para ajudá-la. Quando fez menção de ir para a cozinha, sentiu o impacto do corpo de Esther batendo no dele. Ela parecia constrangida quando se desculpou e continuou andando.— Obrigada, mas não precisava ajudar – ela falou, abaixando a cabeça.— Imagina, eu também fiz essa bagunça – Harry disse, pegando as coisas de sua mão e jogando no lixo. Foi estranho; de repente, o clima entre eles começou a mudar, e Esther parecia mais tímida ao se aproximar. Nunca havia acontecido algo assim. Harry entendeu isso como um sinal para continuar com o seu plano inicial. Algo dentro dele dizia que isso iria dar certo, e aquele olhar de Esther sobre ele foi como uma chama
Por mais que acompanhasse Esther praticamente a vida toda, ele não podia dizer que entendia completamente o que ela sentia. Quando via tudo o que Esther passava com os pais, os problemas que ele tinha com sua própria família se tornavam sem importância. Talvez ele nem mesmo devesse chamar aquilo de problemas. Esther não merecia vivenciar isso. Ela merecia uma família acolhedora, que a amassem e, ao mesmo tempo, a apoiassem em seus sonhos, que a deixassem ser livre. Mas o maior erro de muitas pessoas é ter filhos e achar que são suas posses. A partir do momento em que se tornam mãe e pai, acreditam que têm o direito de forçar a criança a viver conforme as altas expectativas que criaram para ela. Infelizmente, não era somente Esther que passava por esse tormento. Muitas outras pessoas dão o seu máximo para receber o mínimo de afeto de outros e acabam pagando um preço alto demais no caminho, perdendo a liberdade. Harry pegou a mão de Esther tentando confortá-la. Ele não queria que a
Era por isso que seu avô escolheu Daniel para substituí-lo como presidente da empresa. De certo modo, Harry ficou aliviado. Jamais se rebaixaria a esse nível de arrogância para conseguir um cargo mais alto. Ele tinha seus princípios e gostava de tratar todos com gentileza. Esther era assim também, por isso não conseguia compreender por que ela estava disposta a se casar com Daniel. Harry passou muito tempo sem entender por que seu pai desistiu de trabalhar naquela empresa anos atrás. Afinal, era a empresa da família, da qual ele herdaria um dia. Agora que trabalhava lá, passou a compreendê-lo cada vez mais. Quando Harry estava na faculdade e recebeu a notícia de que seu pai havia tido um infarto, foi o pior dia de sua vida. Sentiu como se o mundo ao seu redor estivesse desmoronando, as paredes ficando cada vez mais próximas, e em breve iria sufocá-lo. Ele precisava ver sua família e jamais suportaria a ideia de que seu pai falecesse sem ao menos se despedir. Mas naquele dia, o úni
No início daquele jantar, tudo estava correndo como o planejado. Agora, depois daquela confissão inesperada de Esther, sua mente estava a mil. A mulher à sua frente parecia perdida demais em seus pensamentos enquanto comia e tentava evitar contato visual. Harry não queria aquilo. Aquela viagem era a chance de mudar tudo, o que mais precisavam naquele momento: se divertir, aproveitar a companhia um do outro e arejar a mente.— Não acredito no que estou vendo. É o Harry Miller! – Harry escutou uma voz estranhamente familiar próxima deles. Quando levantou o olhar, não conseguiu acreditar em quem estava ali. Levou alguns segundos para reconhecê-lo.— Adam! – Harry quase gritou de tanta empolgação ao ver um dos seus amigos da escola. Ele se levantou, e se cumprimentaram com um abraço. Adam estava um pouco mais alto, com a barba grande e um estilo diferente.— Quanto tempo, cara! Não nos vemos desde a formatura da escola! – Adam falou, se afastando.— Lembra da Esther? – Harry perguntou,
— Harry, vou ali cumprimentar as garotas – Esther avisou, levantando-se e indo com Angelina em direção ao grupo de mulheres que estavam do outro lado da piscina.— Então, enfim, você conseguiu conquistar a Esther? – Adam perguntou, batendo de leve nas costas de Harry e entregando-lhe uma cerveja. Ele sabia que era errado beber estando dirigindo, mas uma cerveja não faria mal, ainda mais porque estava precisando muito disso. Harry balançou a cabeça, sentindo as palavras entalarem na garganta. Era difícil confessar aquilo em voz alta, até porque já se passaram anos e ele continuava do mesmo jeito com Esther. Seus amigos o achariam um covarde, e teriam razão.— As coisas entre nós são complicadas – ele respondeu — Não estamos juntos, mas esta viagem mudará tudo. Estou confiante.— É assim que se fala, cara! – Adam o apoiou.— Eu sempre imaginei que vocês já estivessem casados e com filhos a essa altura –Denis observou. Antes que ele continuasse, Leandro apareceu, gritando, com uma ca
Antes de trocar de roupa no banheiro, Harry se apoiou na pia e encarou o seu reflexo no espelho. Ele tinha o mesmo sorriso desde que beijou Esther há dez minutos e não conseguia parar de sorrir, porque, depois de tantos anos, ela finalmente o viu como um homem. Ele se sentia como um adolescente bobo, apesar de agora saber lidar melhor com as mulheres e saber como agradá-las. Mesmo assim, ainda tinha dúvidas se deveria agir mais rápido ou não. Afinal, estavam nisso já faz muitos anos. Mas Harry não queria assustar Esther. O certo era esquecer e continuar agindo como fez até agora, pois estava dando mais certo do que ele esperava. O beijo o pegou totalmente desprevenido. Agora ele deveria se trocar logo para encontrá-la. Harry estava ansioso para saber o que viria depois.****************** Esther estava em um canto da piscina, conversando com Leandro, quando Harry se aproximou. Os dois o encararam enquanto ele entrava na água. Um vento gostoso bateu em seu peito. O tempo estava