Por mais que acompanhasse Esther praticamente a vida toda, ele não podia dizer que entendia completamente o que ela sentia. Quando via tudo o que Esther passava com os pais, os problemas que ele tinha com sua própria família se tornavam sem importância. Talvez ele nem mesmo devesse chamar aquilo de problemas. Esther não merecia vivenciar isso. Ela merecia uma família acolhedora, que a amassem e, ao mesmo tempo, a apoiassem em seus sonhos, que a deixassem ser livre. Mas o maior erro de muitas pessoas é ter filhos e achar que são suas posses. A partir do momento em que se tornam mãe e pai, acreditam que têm o direito de forçar a criança a viver conforme as altas expectativas que criaram para ela. Infelizmente, não era somente Esther que passava por esse tormento. Muitas outras pessoas dão o seu máximo para receber o mínimo de afeto de outros e acabam pagando um preço alto demais no caminho, perdendo a liberdade. Harry pegou a mão de Esther tentando confortá-la. Ele não queria que a
“Dedico esse livro a todos que desejam um recomeço. Que o destino providencie uma nova chance de serem felizes”.**Prefácio** E, pela segunda vez, Harry a deixou partir. Seu coração parecia ter sido estraçalhado ao ver Esther o encarando com lágrimas descendo em seu rosto antes de afastar-se dele. Harry não conseguiu reagir. Por mais que sentisse como se o mundo aos seus pés tivesse desabado, ele não fez menção de sair do lugar enquanto ainda conseguia ver Esther se distanciando cada vez mais, até que, em um momento, não pôde mais vê-la. Sentiu como se seu coração tivesse ido com ela. Nunca havia sentido algo parecido: era cruel, devastador e agonizante. Uma pequena parte de si ainda tinha esperança de que ela se virasse, talvez corresse atrás dele para um último beijo, ou apenas para admirar, pela última vez, seu belo rosto. Aqueles breves segundos ficariam marcados em sua memória pelo resto da vida. Tudo havia acabado. Passara a vida toda apaixonado por aquela mulher, e, por dua
Assim que chegou ao escritório, Harry foi recebido com um largo sorriso de Ana, sua secretária.— Bom dia – ele cumprimentou antes de entrar em sua sala. Ao sentar, colocou o celular sobre a mesa, no mesmo segundo viu uma notificação. Desbloqueou a tela e sorriu ao ver o nome de Esther.“Está livre nesta tarde?”, ela perguntou. Harry respirou fundo antes de responder. Mesmo depois de tantos anos de amizade, toda vez que falava com ela sentia-se como um adolescente desajeitado.“Vou verificar minha agenda”, ele brincou, antes de responder: “Para você, sempre arrumo um tempo”.“Passarei aí na hora do almoço. Beijos”, ela avisou. Harry começou a cantarolar enquanto ligava o computador, mas engoliu em seco e tossiu ao ver Leandro entrar sem aviso.— Não sabe bater? – Harry o encarou, irritado.— Posso saber o motivo de tanta felicidade tão cedo? – Leandro sentou-se no sofá, esperando uma resposta.Harry inclinou a cadeira para trás, mantendo uma expressão séria.— Não é da sua conta
Aquela conversa estava entrando em um caminho perigoso. Já havia sido excitante ouvir a maneira como Esther descrevia o seu porte físico; agora, o jeito como ela sorria, com as bochechas coradas, fazia sua imaginação percorrer um caminho diferente do que estava vendo à sua frente. Harry imaginou como seria tomar aqueles lábios nos seus com um beijo fervoroso, percorrendo as mãos por cada centímetro de seu corpo, fazendo-a suspirar com seu toque. Ele desejava mais do que tudo vê-lá sentindo o desejo e a chama ardendo dentro deles. Harry saiu de sua ilusão quando Esther começou a estalar os dedos à sua frente. Ele agradeceu mentalmente por isso, pois estava imaginando ela sentada em sua mesa com as pernas em volta dele, enquanto implorava para senti-lo ainda mais. Se continuasse com aqueles pensamentos, passaria por algo vergonhoso na frente dela, que ainda o via como seu amigo.— No mundo da lua de novo? – Esther cruzou os braços, o encarando. Era fofo como ela o encarava, fingin
Nem mesmo se quisesse, Harry conseguiria descrever o que sentiu e pensou quando as cortinas se abriram e Esther apareceu com o vestido de noiva. Ela sempre foi linda, mas naquele momento parecia uma miragem ou alucinação diante dele. Sabe aquelas cenas de filmes românticos onde o personagem se encanta com a beleza da moça, e os dois parecem estar vivendo em câmera lenta enquanto ela o observa timidamente, com as bochechas vermelhas? Isso poderia descrever perfeitamente aquele momento. Se prestasse atenção, Harry podia escutar a batida do seu coração, que parecia querer sair de seu peito. Ele nem piscou, ainda petrificado no sofá diante dela.— Fale alguma coisa – Esther quebrou o silêncio, ainda constrangida. Ele engoliu em seco antes de ter qualquer outra reação. Harry sentia que nenhuma palavra do dicionário poderia descrever a beleza da mulher à sua frente. Sim, pode parecer exagero, mas era o que seu coração apaixonado gritava enquanto batia cada vez mais rápido no peito. T
Enquanto caminhavam até o carro, Harry percebeu que Esther parecia querer dizer algo, o que era estranho, pois, em todos os anos de amizade, isso nunca aconteceu. Esther era a pessoa com quem ele sempre se sentia livre para falar sobre qualquer coisa (bem, quase tudo, já que ele nunca teve coragem de confessar o que sentia além da amizade). Mas, ultimamente, as coisas entre eles pareciam diferentes, e Harry não gostava disso. Quando decidiu perguntar o que ela estava pensando, ambos abriram a boca ao mesmo tempo, e sorriram, resmungando qualquer coisa.— Pode falar primeiro – Harry se adiantou.— Você precisa mesmo voltar ao trabalho hoje? Ele pensou em responder que sim, pois tinha muito trabalho, o que não seria mentira. Mas havia algo no olhar dela, quase uma súplica. Harry sabia que precisava estar com ela naquele momento. Talvez, assim, Esther tivesse coragem de contar o que a estava incomodando tanto.— O que você tem em mente? – Harry perguntou, observando enquanto ela mudav
— Estou precisando de umas férias mesmo – Harry respondeu com um sorriso de lado. Esther deu um grito e acabou com a distância entre eles, espremendo-o em um abraço caloroso e aconchegante. Fazia meses que ele não conseguia tirar um sorriso sincero dela, nem mesmo a via tão animada assim.— Para onde vamos? – Esther perguntou, mas, antes mesmo de ele responder, continuou: — Não importa, temos que fazer as malas – ela falou enquanto entrava no carro.— Agora? – Harry disse surpreso.— Sim, meus pais estão fora hoje; se não aproveitarmos essa oportunidade, jamais conseguiremos sair do país. Harry sorriu ao ligar o carro, com um sentimento nostálgico no peito. Fazia muito tempo que não se sentia assim.— Passaremos na sua casa primeiro? Ou eu te deixo lá e depois volto para te buscar?— Vamos fazer assim: primeiro passamos em casa; farei de tudo para arrumar a mala em tempo recorde, depois iremos para a sua casa.****************** Quando chegaram, já estava escurecendo.— E agora? Se
Quais loucuras você faria por alguém que ama? Nunca em toda a sua vida, Harry imaginou estar naquela situação. Já era tarde da noite, e mesmo assim, decidiram colocar suas malas no carro e seguir estrada. Esther não queria dar chance de alguém descobrir seu plano e atrapalhar, e Harry não ousou contradizê-la. Sentia uma energia nova subindo em seu peito e a adrenalina correndo nas veias. Por um instante, teve um vislumbre dos tempos de adolescente, quando faziam esse tipo de loucura. Ele havia esquecido como era aquela sensação e, naquele momento, se permitiu esquecer de tudo e viver o presente, com Esther ao seu lado. Após cantarem algumas músicas e dividirem uma porção de batata frita, Esther adormeceu ao seu lado, apesar de antes ter prometido com convicção que seria a melhor copiloto:“Vou ficar acordada a noite toda para te ajudar a não dormir ao volante. Já preparei várias músicas para animar e serei a melhor co-piloto dessa viagem”. Mas, assim que a quinta música começou,