Capítulo 2

Aquela conversa estava entrando em um caminho perigoso. Já havia sido excitante ouvir a maneira como Esther descrevia o seu porte físico; agora, o jeito como ela sorria, com as bochechas coradas, fazia sua imaginação percorrer um caminho diferente do que estava vendo à sua frente.

Harry imaginou como seria tomar aqueles lábios nos seus com um beijo fervoroso, percorrendo as mãos por cada centímetro de seu corpo, fazendo-a suspirar com seu toque. Ele desejava mais do que tudo vê-lá sentindo o desejo e a chama ardendo dentro deles.

Harry saiu de sua ilusão quando Esther começou a estalar os dedos à sua frente. Ele agradeceu mentalmente por isso, pois estava imaginando ela sentada em sua mesa com as pernas em volta dele, enquanto implorava para senti-lo ainda mais. Se continuasse com aqueles pensamentos, passaria por algo vergonhoso na frente dela, que ainda o via como seu amigo.

— No mundo da lua de novo? – Esther cruzou os braços, o encarando.

Era fofo como ela o encarava, fingindo estar irritada. Harry apertou os lábios tentando se concentrar.

— Me desculpe, o que dizia?

Esther suspirou antes de prosseguir.

— Você vai me levar a um lugar hoje – ela assumiu um ar misterioso, pegando sua mão e o direcionando para fora da sala.

Ele adorava seu jeito mandão; nem mesmo se importava de segui-la para onde quer que fosse. Conforme passavam pelo corredor da empresa, sentiu vários olhares direcionados a eles, algumas pessoas nem mesmo disfarçaram quando começaram a sussurrar.

Harry odiava aquilo. Desde que entrou naquela empresa, estava consciente dos boatos que corriam pelos corredores envolvendo seu nome e o de Esther. O pior era que cada um deles parecia mais absurdo que o outro.

Alguns acreditavam que Esther estava com Daniel por interesse, devido ao seu cargo como Presidente da empresa, e que Harry era o seu amante.

Outros acreditavam que eram um trisal, o que era ainda mais repulsivo, sabendo que Daniel era o seu primo. Harry jamais dividiria o que é seu com outro homem.

Outro boato dizia que os dois primos eram gays, e o relacionamento de Daniel com Esther era só uma fachada. Quando ouviu esse boato pela primeira vez, seu sangue ferveu. Poderia virar as costas e ignorar tudo aquilo, mas era o nome de sua família que todos estavam ridicularizando ao inventar essas histórias. Esther não merecia ser chamada de traidora, interesseira ou qualquer outra coisa que não fosse verdade.

Mesmo depois de seu breve recado em uma das reuniões, alegando que nada daquilo era verdade e que gostaria que todos os boatos se encerrassem por ali, pois aquele era um local de trabalho e não um lugar para fofocas. Ele sabia que ainda existiam os curiosos e fofoqueiros que continuavam falando sobre a vida do CEO e do Presidente como se tivessem algum tipo de intimidade para isso.

Ele não se arrependia de sua atitude; já era hora de tomar alguma providência. Mas a única coisa que poderia fazer agora era ignorar e viver sua vida.

Assim que entraram no carro, Esther colocou o endereço no GPS e o mandou seguir.

— Nenhuma dica? – Harry perguntou.

— Não é nada de mais – ela deu de ombros antes de conferir sua maquiagem no espelho e devolvê-la à bolsa.

Poderia ser impressão dele, mas Esther estava agindo de maneira estranha assim que entraram naquele carro. Seu sorriso parecia forçado, e seus olhos estavam cansados, como se não estivesse dormindo bem fazia dias.

— Está tudo bem?

— Sim, por que não estaria? – ela se virou, o encarando, fazendo um bico surpresa.

— Nada não – Harry pegou em sua mão, que estava em cima da coxa, e entrelaçou os seus dedos.

A cada momento que passava próximo daquela mulher, sentia que em breve sua sanidade mental iria pelos ares. O simples toque em sua pele quente fez seu corpo se arrepiar e dar mais sinal de vida. Ao olhar mais uma vez para sua mão, mexeu de leve, apenas para sentir o calor de sua coxa, que fantasiava inúmeras vezes em apertar cada centímetro dela.

Novamente, Harry precisou afastar seus pensamentos, ao perceber que estava começando a ficar animado demais com a ideia. Ele voltou sua atenção no rosto da mulher ao seu lado. Algo parecia estar a incomodando, mas, se Esther não queria falar sobre isso naquele momento, ele esperaria até o dia em que ela estivesse pronta para desabafar.

Para falar a verdade, Esther não parecia a mesma desde que assumiu um relacionamento com Daniel publicamente em uma das festas de Natal da empresa, o que foi um grande espanto até mesmo para Harry, que era o seu melhor amigo e com quem ela sempre confidenciou tudo sobre sua vida, até mesmo coisas constrangedoras ou íntimas das quais, Harry não precisava saber.

Antes disso, Esther nunca havia tocado no nome de seu primo, nem mesmo o observava com qualquer tipo de interesse. Parecia que agora Esther estava perdendo o brilho nos olhos pouco a pouco, mas sempre que Harry perguntava algo sobre, ela evitava o assunto, mudando o rumo da conversa ou dizia: “Eu estou bem, Harry, estou feliz com Daniel, ele é bom para mim.” Mas Harry a conhecia melhor do que ninguém, e aquele sorriso em seus lábios não parecia nada verdadeiro.

Somente quando ficavam a sós, sem tocar no assunto, que ele via um vislumbre do sorriso que o fez se apaixonar por ela. Naqueles momentos, Harry se consolava, acreditando que tudo era coisa da sua cabeça, talvez por conta do ciúme de Esther estar com Daniel e não com ele.

O caminho foi mais silencioso do que o normal. Harry estava perdido demais em seus pensamentos e cada vez mais preocupado com as atitudes de Esther para tentar chamar a atenção dela. Só conseguiu sair de seu transe quando parou o carro em frente a uma loja que fez seu corpo todo estremecer ao ver do que se tratava.

Ele engoliu em seco antes de sair do carro e abrir a porta para Esther, pegando em sua mão. Conforme seguiam até a loja de vestidos de noiva, Harry sentiu-se enjoado.

Naquele momento, percebeu que precisava acabar com aquilo. Não conseguiria mais ficar ao lado de Esther fingindo ser apenas um amigo, sendo que tinha sentimentos verdadeiros e românticos por ela.

— Espero que não se incomode de me acompanhar a mais um ajuste do vestido. Depois daqui podemos ir almoçar em algum lugar – Esther falou quase como em um sussurro.

— Tudo bem – ele concordou, observando o olhar meigo que ela direcionava para ele.

— Boa tarde, senhorita Brooks, estava te esperando. Tudo está pronto, me acompanhe – uma atendente deu um grande sorriso ao se aproximar deles.

Ela falava tudo tão rápido que Harry quase não conseguiu raciocinar.

— Claro – Esther sorriu.

— Esse deve ser o noivo, devido à tradição de não ver a noiva antes do casamento, é uma surpresa vê-lo aqui. É um prazer conhecê-lo – a mulher se virou para ele e o encarou com os grandes olhos verdes, como se estivesse o julgando por algo que ele fez.

— Na verdade… – antes mesmo dele tentar se explicar e dizer que não era o noivo, a mulher o interrompeu.

— Pode se sentar aqui enquanto aguarda – ela apontou para o sofá branco que estava no centro da sala.

Esther deu um sorriso travesso quando percebeu seu constrangimento. Depois, pegou em sua mão para assegurar que tudo estava bem.

Harry respirou fundo e revirou os olhos enquanto se sentava, observando elas sumirem atrás das cortinas que separavam aquele cômodo.

— Onde fui me meter? – Harry ajeitou a gravata antes de fechar os olhos com força.

Sabia que não deveria permanecer ali, seu coração não era tão forte quando se tratava de Esther.

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