Respirei fundo tentando entender o que estava acontecendo, ele havia me ajudado e eu sentia que ele não queria me fazer mal. Havia algo bom no David que me fazia querer ficar e isso mexia comigo.
— Olha. Amanhã eu já vou estar melhor. — Falei abrindo um sorriso gentil.
— Que bom, então amanhã assim que eu ver que você está melhor, eu te levo para casa. — Ele assentiu.
— Não tenho roupas aqui e preciso de um banho. — Falei procurando a desculpa mais fajuta que tinha. Eu não sabia aonde estava. Realmente sentia meu corpo doer e não aguentaria ir para casa sozinha então tinha que fazê-lo me levar.
— Eu tenho. — Ele deu de ombros. — Vou pegar para você.
— Você não é um serial killer, É? — A pergunta simplesmente saiu, foi estúpido.
— Eu acho que se eu fosse, não iria dizer que era. Mas, — ele se virou para mim ainda de pé com um sorriso atraente no rosto. — Não, eu não sou um serial killer.
— E por qual outro motivo teria roupa de mulher... Você é gay? — Outra pergunta estúpida. Dessa vez ele gargalhou.
— Você me acha gay? — Ele me encarou agora com um sorriso descontraído em seus lábios.
— Eu não sei. Não parece. Se fosse seria um desperdício, quer dizer, eu respeito. Mas... Você é? — Falei me enrolando ao mesmo tempo em que me arrependi de perguntar.
Ele cruzou os braços na altura do peito o deixou completamente charmoso.
— Eu não sou gay, Ema. — Ele disse sorrindo. — As roupas, são da minha mulher.
—Ai meu deus, você é casado! — Eu quase gritei. — Eu... Minha nossa. — Falei agora tentando me levantar da cama, eu tinha que ir mesmo embora dali.
— Ei. Para com isso. — Ele correu até mim quando fiquei de pé e nossos olhos se encontraram.
— Olha. Eu não preciso de mais confusão do que Já tenho. Você é casado, eu nem deveria estar aqui. — Falei desviando o olhar.
— Minha mulher faleceu, há alguns meses. — Ele respirou fundo. — Não sou casado, sou viúvo. Expliquei mal, é que ainda não acostumei. — Ele disse me ajudando a se sentar novamente.
— Ah, me, me desculpe... Eu, eu estou constrangida agora. Não sei o que falar. O que eu falo? — Falei mais para mim do que para ele.
— Nada. Só fica quietinha que vou pegar as roupas. — Ele riu.
Eu fiquei ali me sentindo a maior ridícula enquanto ele ia buscar as roupas em algum outro lugar fora do quarto, porque eu fiz perguntas idiota e dava para ver que ele não é gay. Meu Deus, como fui burra e horrível ao pensar coisas ruins de um cara que me ajudou. Fiquei me martirizando até vê-lo voltar com as roupas.
— Bom, como eu imagino que você não vai conseguir ficar de pé embaixo do chuveiro... — Ele ia dizendo quando eu o cortei.
— Eu consigo tomar banho sozinha. — Falei rápido e baixo.
— Você achou que eu ia se oferecer para te dar banho? — Ele perguntou parecendo estar se divertindo com aquilo.
— Você não ia? — Falei o encarando sem graça. Onde eu estava com a minha cabeça?
— Não? Mas se você quiser... Enfim, eu só ia dizer que tenho uma ducha e enchi com água morna. Então te levo até lá, peguei roupas leves para que não tenha trabalho ao se vestir e depois você chama que eu te ajudo a voltar. — Ele deu de ombros.
— Ah, sim, claro. É isso. Obrigada. Não precisava, eu poderia tomar banho sozinha, no chuveiro. — Falei completamente corada.
— Tá, se precisar de qualquer coisa é só gritar. — Ele falou, desviando o olhar.
— Não, eu não estou tão mal assim. — Falei tentando parecer forte.
— Eu acho que você deslocou algumas partes e que necessita de um médico, e de repouso. Mas pelo visto; é bem teimosa. — Ele disse agora num tom sério.
— Você é bem exagerado, mas entre um e outro eu prefiro repouso. — Falei dando de ombros e me levantando com calma.
Ele simplesmente me pegou no colo e me levou até o banheiro.
— Não precisa disso. — Falei no meio do caminho.
— Não vou arriscar piorar as coisas já que você não quer o médico. — Ele disse.
Quando chegamos ao banheiro, ele simplesmente me colocou perto da banheira.
— Consegue tirar a roupa? — Ele falou meio que sem graça.
— Eu acho que sim. Se eu precisar, eu grito... — Minha voz quase falhou em falar aquilo.
Eu nunca tive vergonha em ficar pelada na frente de alguém, muito menos de um desconhecido, pois esse era o meu trabalho. Mas; eu não sei, com ele era diferente. Com ele eu não me sentia uma garota de programa, mesmo sabendo que foi justamente por isso que fui parar ali. Mas era estranho; ele me fazia se sentir mais especial, eu não sei... Tentei apagar aqueles pensamentos enquanto tirava a minha roupa com esforço, engoli o choro ao sentir dor quando me abaixei para tirar a meia calça, eu realmente não estava bem e isso era o fardo que eu tinha que carregar pela minha profissão. Vendo-me daquele jeito, só me fazia perceber que eu realmente não teria final feliz e não adiantava fugir do que eu era. Sempre teriam homens como o Kevin me prometendo um mar de ilusões, homens como David, dispostos a cuidar de mim até me conhecer de verdade e homens como o Jake que sempre faria questão de me lembrar que eu era apenas uma vadia. Entrei na banheira sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu não estava bem; e estava cansada de ter apenas aquela alternativa, de ter apenas a escolha de ser quem eu era. Queria ser mais, mas não podia. Não tinha como, arrancaram de mim tudo que eu amava e me reduziram somente a um mero produto. Como mudar isso? Engoli os soluços e a enorme vontade de gritar. Eu não queria ser garota de programa. Eu queria ser cuidada, amada e valorizada como uma mulher tem que ser, mas quem se casaria comigo? Quem teria filhos com uma mulher que já foi prostituta? Mesmo que isso acontecesse sempre teria o dia de jogar isso em minha cara, usariam isso para me humilhar como já fizeram. Isso não é para mim. Eu só estava esgotada de acreditar em algo bom, não existe algo bom ou final feliz.
Não notei quando mergulhei para o fundo da banheira, não sei se foi impulso ou a minha real vontade de morrer. Mas se tem uma coisa que eu aprendi é que você pode morrer de mil formas, e ainda assim continuar vivo. Fui aprendendo com o passar do tempo a eliminar a dor, quando você passa muito tempo com algo que dói chega um momento em que simplesmente passa, como uma anestesia natural. Assim era perder o fôlego debaixo d'água, os pulmões queimam. Você se sente mal, mas depois de um tempo a dor vai embora. E foi o que aconteceu. Eu apaguei.
Quando acordei o David estava olhando para mim, ele estava com uma cara completamente assustada e eu demorei um pouco para assimilar o porquê.
— O que houve? — Falei ainda confusa e um pouco fraca.
— Você... — Ele não conseguiu completar, apenas desviou o olhar e suspirou.
— Eu... — Eu ia completar, mas então as cenas vieram à minha cabeça. Eu havia tentado me matar na banheira de um desconhecido. Eu simplesmente me afundei, não, eu já estava no fundo do poço há muito tempo. — Eu... Tentei me matar. Me desculpe. — Falei sentindo agora lágrimas quentes brotarem em meu rosto.
— Você teria morrido se eu não tivesse te chamado para entregar a toalha, você tem ideia do que fez? — Ele falou com os olhos agora cheios de lágrimas. Aquilo me comoveu, ele estava chorando por minha causa. Por que ele estava chorando por minha causa? Sua voz estava rouca.
— Me desculpa. — Sussurrei o olhando no fundo dos seus olhos. — Me desculpa. — Foi tudo que eu consegui falar. — Me deixa ir para casa, por favor? — Eu só queria desaparecer dali.
— Você acha mesmo que vou simplesmente lhe deixar ir depois disso? — Ele abriu um sorriso irônico se levantando da cama e virando-se para o outro lado.
— Você tem que me deixar ir. — Falei agora me esforçando para se levantar sem ligar para a maldita dor que me dilacerava. — Por que está fazendo isso? Que merda! Eu sou só uma prostituta, para que tanta preocupação? — Falei não aguentando mais.
— Você não é só uma prostituta! — Ele me encarou e eu percebi que ele estava cerrando o maxilar de raiva. — Quem fez isso com você? — Ele me perguntou.
— O que? — Perguntei confusa.
— Isso! Quem, quem lhe fez se sentir assim? Como se fosse apenas uma mercadoria? — Ele disse com uma urgência desconhecida. — Você, Ema, ou, seja lá quem for. Porque eu sei que esse não é seu nome de batismo. Você não é só uma prostituta. Todo mundo faz o que precisa ser feito, você faz o que precisa ser feito. Mas você não é só isso. — Ele disse se sentando a minha frente e olhando em meus olhos. — Eu não sei quem fez você se sentir assim, mas essa, ou essas pessoas, mentiram.
Aquelas palavras fizeram mais lágrimas caírem, por que ele conseguia enxergar isso? Por que ele estava me falando isso?
— Você nem me conhece... — Falei deixando escapar um sorriso.
— Eu não preciso conhecer para saber que você é uma pessoa especial e não consegue enxergar. — Ele falou acariciando o meu rosto com a ponta dos dedos.
Eu fechei os olhos e me deixei sentir aquele toque. Era um toque carinhoso e protetor, e aquelas palavras... Eu... Eu nunca tinha ouvido tamanha sinceridade de alguém.
— Eu... — Tentei argumentar. — Você... Por que você está fazendo isso? — Era tudo que eu conseguia dizer, abaixei a cabeça engolindo os soluços que vinham em minha garganta.
— Isso? Por que eu estou ajudando você? Porque você precisa. Você precisa de ajuda, e eu só quero lhe ajudar. — Ele falou sorrindo.
— Você não me conhece. — Tentei me convencer de que havia algo errado, ninguém costuma ajudar uma prostituta. O que havia de errado ali?
— Então vamos fazer assim, me deixe lhe conhecer. E então eu vou lhe ajudar. — Ele falou abrindo um sorriso maior. Como se aquela frase fosse a solução para tudo.
— Ninguém pode me ajudar David. — Falei suspirando. Ninguém podia desfazer o meu passado, ninguém poderia tirar o peso que havia em minhas costas, essa missão era impossível.
— Você está enganada sobre isso, mas me deixe tentar pelo menos. — Ele disse me olhando carinhosamente.
Eu fiquei pensando sobre aquilo, eu não podia simplesmente deixá-lo entrar assim. Eu era uma furada e todos que me conheciam sabiam disso. Ele não estava sendo coerente, como assim ajudar uma desconhecida? Mas, ele parecia ser tão sincero, ele me fazia querer ser ajudada. Aquilo reacendia uma pequena chama de esperança dentro do meu coração, o medo de que aquilo fosse me derrubar me afetou. Eu só queria sair correndo dali e voltar para minha vida de merda até o dia em que eu não aguentasse mais. Mas... Eu não sei. Algo me dizia que ele não iria desistir tão fácil assim.— Emily. — Falei quando ele se levantou.— Como? — Ele disse virando-se novamente para mim.— Emily, é o meu nome de batismo. — Falei abrindo um sorriso sem graça.— É um prazer conhecer você Emily, já é um bom
DAVID:Tudo havia acontecido rápido demais, num dia eu estava vivendo minha vida rotineira aprendendo a viver sozinho, e no outro tudo havia mudado com uma desconhecida em minha casa. Tudo havia sido num piscar de olhos, num momento eu havia encontrado ela sendo espancada por moleques de rua e em outro ela estava ali dando o sorriso mais lindo do mundo. Eu não sei qual o propósito para as nossas vidas, não sei o que o destino nos reserva na vida um do outro, mas tem algo! A primeira vez em que a vi machucada eu coloquei em minha mente que ela era apenas uma desconhecida, eu a deixaria num hospital próximo e iria embora. Simples assim. Mas quando ela me pediu que não a levasse para o hospital eu senti algo estranho, e do nada me vi levando uma desconhecida machucada para casa. Me vi cuidando de uma desconhecida e me sentindo no dever de protegê-la. A forma como ela se diminuía. Aquilo me doía. Desde
DAVIDEu estava completamente desconcertado, não tinha como estar mais envergonhado. E vê-la só de toalha foi algo extremamente desafiador! Desviei o olhar quinhentas vezes; ela era completamente sexy, eu tinha que admitir. Não tive onde enfiar minha cara ao ver o sorriso de minha mãe, eu já sabia tudo que ela iria falar e quando ela saiu do quarto, eu respirei fundo. Queria pedir mil desculpas para a Emily, mas vê-la naquele estado não estava ajudando, eu simplesmente fechei os olhos e respirei fundo tentando dissipar a quentura que me invadiu...— Me desculpe... — Foi tudo que eu consegui dizer e antes que minha mente começasse a trabalhar mais naquela cena, eu me virei e sai do quarto. Agora a tarefa era explicar para minha mãe que ela não era minha namorada. Quando desci minha mãe estava apoiada no balcão com
DAVID:Eu fiquei ali mastigando e engolindo aquelas palavras até não terem mais efeito nenhum sobre mim, mas eu ainda podia sentir todo o arrepio pelo meu corpo quando ela sussurrou em meu ouvido. Ela estava me testando, estava me provocando. Era um desafio, um desafio tentador! A minha intenção não era dormir com ela, queria ajudá-la, protegê-la e cuidar dela, mas eu também não poderia simplesmente dizer que eu não estava tentado. Deu para perceber que ouvir aquilo me excitou e quando ela simplesmente se virou e saiu eu tive vontade de trazê-la de volta, de beijá-la, de... Engoli em seco. Não. Eu não iria dormir com ela porque eu sabia que se fizesse só estaria provando que ela era realmente apenas uma garota de programa. Eu queria provar que ela era mais do que isso, e que existia um homem capaz de enxergar todo o potencial que ela tinha fora da cama. E eu
DAVID:Ela não falou nada, só se virou e olhou no fundo dos meus olhos. Ela parecia estar pedindo por algo mais e aquilo me deixou sem fôlego. Aquela cozinha estava pegando fogo, então ela colocou a ponta do dedo indicador sobre o meu peito e foi subindo até o meu pescoço até que eu segurei suas mãos. Que droga! Eu estava excitado! Ela percebeu e abriu um sorriso. Eu balancei a cabeça negativamente, e antes que eu pudesse fazer alguma merda simplesmente beijei sua mão, acariciei o seu rosto depositando um beijo em sua testa e a abracei.— Isso é tentador. — Eu disse com a respiração entrecortada. — Mas, eu quero mais do que isso. — Sussurrei em seu ouvido.— O que você quer? — Ela sussurrou olhando em meus olhos com a boca a centímetros da minha.— Eu não sei. — Respirei fundo. &mdas
— Estou limpando você também. — Ela deu de ombros. Notando que eu já tinha terminado de limpar e pegando o pano da minha mão. — Sua vez.— Eu não me sujei tanto. — Falei sentindo o fôlego escapulir do meu pulmão.— Mas, se sujou. Então, agora eu vou lhe limpar. — Ela disse decidida passando o pano pelo meu rosto carinhosamente. Depois de limpar meu rosto ela largou o pano deixando cair no chão e acariciou o meu rosto com as duas mãos enquanto me olhava nos olhos. Coloquei as duas mãos sobre a bancada, punho fechado, tentei afastar os pensamentos perversos que rondavam a minha mente. Ela aproximou seu rosto do meu, colocando sua testa na minha e pude sentir sua respiração entrecortada, ela também estava tentando se controlar! Eu abri as mãos e as coloquei em sua cintura, acariciando-as, a sua pele era
DAVID:Tomamos um café da manhã bem reforçado e resolvemos, ela resolveu, que precisávamos fazer faxina na casa. Ela ainda não estava totalmente recuperada, mas como eu sabia que ela não ficaria satisfeita até me convencer de que iria fazer e ponto, decidi que enfrentaríamos essa missão. Colocamos uma musicam alta e bem divertida e partimos para o trabalho, eu nunca havia me divertido tanto. Principalmente; ao vê-la imitando os cantores e achando que sua vassoura era um microfone, e poderia ser perfeitamente! As caras e bocas que ela imitava me matavam de rir, lavamos a sala. Não sem antes escorregarmos no sabão, ela inventou de brincar de pega-pega no chão espumado o que me rendeu uma queda.— Você está bem? — Ela veio correndo tentando esconder a vontade de rir.— O que você acha? — Eu falei fingindo estar muito
— Toda a minha vida, como eu vim parar aqui. Coisas que eu queria ter feito e não fiz. A saudade dos meus pais. Eu queria saber se eles ainda pensam em mim. — Ela falou fechando os olhos como se esse ato pudesse amenizar a dor.— O que você queria ter feito e não fez meu bem? — Perguntei com um tom brando enquanto apertava seu corpo de encontro ao meu mostrando que eu poderia protegê-la e que eu não sairia dali.— Queria ter tido uma vida diferente. Eu queria que tivéssemos nos conhecido em circunstancias diferentes. Eu não mereço esse cuidado. — Ela falou balançando a cabeça negativamente.— E por que não merece esse cuidado? —- Eu tinha tantas perguntas, estava sendo doloroso vê-la se culpar tanto.— Porque eu sou uma garota de programa, David. — Ela falou agora se virando para mim e olhando em meus olhos. —