DAVID:
Tomamos um café da manhã bem reforçado e resolvemos, ela resolveu, que precisávamos fazer faxina na casa. Ela ainda não estava totalmente recuperada, mas como eu sabia que ela não ficaria satisfeita até me convencer de que iria fazer e ponto, decidi que enfrentaríamos essa missão. Colocamos uma musicam alta e bem divertida e partimos para o trabalho, eu nunca havia me divertido tanto. Principalmente; ao vê-la imitando os cantores e achando que sua vassoura era um microfone, e poderia ser perfeitamente! As caras e bocas que ela imitava me matavam de rir, lavamos a sala. Não sem antes escorregarmos no sabão, ela inventou de brincar de pega-pega no chão espumado o que me rendeu uma queda.
— Você está bem? — Ela veio correndo tentando esconder a vontade de rir.
— O que você acha? — Eu falei fingindo estar muito
— Toda a minha vida, como eu vim parar aqui. Coisas que eu queria ter feito e não fiz. A saudade dos meus pais. Eu queria saber se eles ainda pensam em mim. — Ela falou fechando os olhos como se esse ato pudesse amenizar a dor.— O que você queria ter feito e não fez meu bem? — Perguntei com um tom brando enquanto apertava seu corpo de encontro ao meu mostrando que eu poderia protegê-la e que eu não sairia dali.— Queria ter tido uma vida diferente. Eu queria que tivéssemos nos conhecido em circunstancias diferentes. Eu não mereço esse cuidado. — Ela falou balançando a cabeça negativamente.— E por que não merece esse cuidado? —- Eu tinha tantas perguntas, estava sendo doloroso vê-la se culpar tanto.— Porque eu sou uma garota de programa, David. — Ela falou agora se virando para mim e olhando em meus olhos. —
DAVID: Nós dois entramos para fazer o jantar, arrumamos a mesa e ficamos assistindo pelo resto da tarde até umas oito da noite. Eu não queria acordar a Emily, queria deixá-la descansar o suficiente. Estávamos completamente empolgados em um filme de ação quando ela apareceu no pé da escada com a cara inchada e sonolenta.— Oi. — Ela disse ainda assimilando que estava acordada.— Oi meu bem. Preparamos o jantar, mas queríamos esperar você acordar. — Minha mãe disse sorrindo carinhosamente.— Poderia ter me acordado, ou comido sem mim. Não precisavam ter esperado. — Ela disse bocejando e se aproximando.— Mas não queríamos comer sem você, ué. — Eu disse a encarando.— Eu estou com fome. — Ela disse sorrindo. — E você disse que me
— Me colocaram numa casa com outras crianças, nós comíamos apenas duas vezes por dia. Quando não obedecíamos apanhávamos, os primeiros dias foram os piores. Eu tinha pesadelos com a minha mãe, e eu orava e esperava que a qualquer momento eu acordasse ou que eles me encontrassem e me tirassem dali. Depois de um mês, me fizeram cruzar uma fronteira com mais três garotas e um garoto. Fomos levados para a República do Congo, lá foi onde realmente começou o inferno. — Dei uma pausa, eu nunca havia falado para ninguém sobre minha história.— De onde você veio? — Ele me perguntou como se entendesse os sentimentos que aquelas revelações me causavam.— Brasil, Rio de Janeiro. — Falei.— Então você é carioca? — Ele sorriu.— Sou. — Eu retribuo o sorriso.— O q
— Eu não sou forte, sou covarde. — Balancei a cabeça negativamente ao escutar aquelas palavras.— Você não é covarde Emily, você é forte. Você é a mulher mais forte que eu já conheci. Eu não imagino o quão doloroso foi ter passado por tudo que você passou e estar aqui hoje para contar a história. Você não está vazia, é que a sua dor não lhe deixa enxergar o tamanho do propósito inigualável que você tem no mundo. Você está cheia de força e de munição para encorajar outras mulheres a sobreviverem ao seu próprio caos. E quando superar e abrir os olhos vai ver que você lutou com as armas que tinha e venceu. Porque ainda é possível vencer.— Obrigada. — Tudo que eu podia fazer era agradecê-lo, o abracei o mais forte que pude e deixei
Eu finalmente me sentia protegida, eu passei quase toda a minha vida com medo do que poderia acontecer comigo a qualquer momento e chegou um momento que eu já não tinha mais medo porque eu simplesmente não ligava para o que pudesse acontecer. Mas agora eu me sentia acolhida, eu sentia que não precisava mais ser a Ema porque alguém havia escolhido pela Emily. Os dias foram se passando tranquilamente ali e eu sentia estar em família, eu sabia que em algum momento teria que voltar para a realidade. Teria que voltar para casa! Eu não podia simplesmente entrar e ficar na vida de alguém de repente, apesar de que era o que eu queria. Eu estava completamente apaixonada pelo David. E sinceramente, eu tinha medo de que acontecesse com ele a mesma coisa que já aconteceu quando eu tentei me apaixonar, quando eu acreditei que um homem poderia mudar alguma coisa em minha vida. Não era o que eu queria. Eu sentia que podia fazer
— Me desculpe... — Eu falei caindo de joelhos com Nora me abraçando. — Foi culpa minha, me desculpe.— Ei minha querida, você não teve culpa de nada. — Ela falou me abraçando forte.— O Jake estava certo, eu sou uma garota de programa. Eu fiz isso acontecer. Eu destruí a vida de vocês. — Falei chorando de soluçar.— Ei Emily, olha para mim. — Ela pegou o meu rosto. — Eu não ligo para o que você foi, e não, o Jake não estava certo. Não foi culpa sua, o David vai sair dali bem e vamos falar para a polícia que foi legitima defesa.— Eu não posso fala com a polícia, Dona Nora. — Falei sussurrando.— Eles irão nos entender, minha querida. — Ela sorriu.— Eu sou imigrante, não tenho documentos. Eles irão me deportar. Eu sou uma garota de
UM ANO DEPOIS... — Emy, cinco minutos. — A garota gritou no camarim do HICKYHOUSE bar. — Tá bom, Ceci. Obrigado por me avisar. — Emily falou sorrindo enquanto finalizava a maquiagem básica com um batom vinho. Aos três minutos antes de entrar no palco ela se olhou no espelho, seus cabelos ondulados caiam pelas costas, soltos e livres. Enquanto seu sobretudo contrastava uma meia calça preta e um tênis preto. Ela se sentia magnificamente incrível. — Senhoras e Senhores, temos hoje uma artista que começou a fazer sucesso em São Francisco há alguns meses, e que hoje nos deu o privilégio de seu talento no HICKYHOUSE bar. Aproveitem uma boa bebida ao som da talentosa Emily Lauren. ... Eu subi ao palco e me endireitei no centro com o microfone, acenei para que a banda pudesse começar. Ouviu-se a batida da bateria, a guitarra ecoou por todo o salão e logo após, ouviu-se de
— Vem aqui. — Ele falou pegando uma das minhas mãos e o puxando mais para ele. — Eu já disse e repito, não foi culpa sua. Nada disso foi culpa sua. Eu estou bem agora e aqui por você.— Por mim? — Falei. Escutar aquela frase foi como melodia aos meus ouvidos.— Sim, saber que você havia ido embora foi um alivio, mas ao mesmo tempo uma tortura. Sabe como foi para mim, chegar em casa e não ter você lá? Bagunçando tudo? Me chamando? — Ele sorriu acariciando meu rosto. — Em uma semana aquela casa já tinha o seu cheiro, o seu nome, o seu gosto. — Ele engoliu em seco. — Eu ao menos conseguia dormir em minha própria cama! Foi doloroso acordar no meio da noite e não ver você roncando e babando.— David... — Sussurrei fechando meus olhos. — Eu iria embora da mesma forma. —Tentei argumentar.&mdas