Eu abri os olhos torcendo para que tudo aquilo tivesse sido apenas mais um sonho infeliz, mas a dor que senti em meu corpo me alertou que não era. Ajustei minha vista para uma janela de frente para o mar, estava de dia e fui tentando com um pouco de dificuldade enxergar melhor tudo ao meu redor. Eu estava em um quarto, havia um criado mudo preto ao lado da cama com a foto de um homem sorrindo e eu estava deitada numa cama enorme, do outro lado uma escrivaninha com um computador. Não sabia como tinha ido parar ali e não tinha ninguém mais no quarto, me levantei com certa dificuldade sentindo dor em cada partícula de mim, e me sentei pronta para me levantar e sair daquele lugar, pois eu precisava voltar para minha casa onde eu estaria mais segura.
— O que você está fazendo? — Escutei uma voz firme masculina atrás de mim. — Você está machucada, não pode se levantar. – Ele veio rapidamente com uma bandeja de alimentos na mão e as colocou na cama.
— Eu preciso ir para a casa... — Falei suspirando ao senti uma dor imensa em minha cabeça.
— Você mal consegue ficar sentada, quem dirás. — Ele falou me ajeitando para que eu ficasse apoiada na cabeceira da cama.
— Quem é você? — O encarei um pouco assustada. Ele era moreno, alto e com cabelos enrolados. Seus olhos eram negros e ele tinha um sorriso muito bonito.
— Sou o David. — Ele falou, sorrindo e pegando novamente a bandeja de alimentos. — Fiz isso aqui para você. Qual o seu nome?
— Ema... — Meu nome de batismo não era esse, mas ele ainda era um desconhecido. — Eu não posso ficar aqui, por que me trouxe para sua casa? — Perguntei desconfiada.
— Porque me implorou para que eu não lhe levasse para um hospital e eu não sabia o que fazer. Quem eram aquelas pessoas e por que fizeram isso com você? — Ele perguntou se sentando ao meu lado na cama e colocando um pouco de café num copo e me oferecendo.
— Jake e sua turma. Porque sou garota de programa e me recusei a fazer um programa com ele. — Falei dando de ombros e levantando as mãos para pegar a xícara. — Puta merda. — Falei ao olhar as marcas de mão em meu braço, meus olhos lacrimejaram e senti um nó na garganta.
— Vai sarar logo. — Ele falou colocando o café em minhas mãos. — Eles fizeram isso só por que você recusou um programa?
— É. — Peguei o copo do café em sua mão e tomei um gole, foi um dos melhores cafés que eu já tomei em toda a minha vida. — Não só por isso. Eu fiz programa com o Jake uma vez, ele foi violento e então o denunciei. — Falei engolindo em seco constrangida.
— E por que ele está solto? — Ele falou tomando um gole do café dele.
— Porque as pessoas me culpam, afinal, eu sou uma garota de programa. As pessoas acham que se eu aceitei esse ramo tenho que aceitar as violências também. — Falei suspirando.
— Isso é um absurdo. — Ele falou com um tom de voz baixo.
— Obrigada; por me socorrer. Eram cinco. Você poderia ter se machucado, eles poderiam estar armados. — Falei olhando para o meu copo.
— Eu não podia simplesmente deixar você lá. Eu não podia. — Ele sorriu pensativo.
— Obrigada, mais uma vez. — Meus olhos novamente ficaram marejados com aquilo. — Eu preciso ir para a minha casa.
— Fique e descanse, você tem alguém para cuidar de você na sua casa? Um marido ou namorado? Alguém? Mãe, filha? — Ele falou preocupado.
Eu não consegui me conter e gargalhei com aquilo.
— O que foi? — Ele perguntou sério.
— Quem namoraria uma prostituta? — Perguntei o encarando.
— Desculpe, eu sei lá, o mundo está tão mudado não é mesmo? — Ele falou confuso.
— Não... — Eu falei por fim, terminando de beber o meu café.
— Não o quê? — Ele falou perdido, e aquilo me fez sorrir.
— Não tenho ninguém. — Respirei fundo desviando o olhar. — Mas, você poderia pegar o meu celular, por favor.
— Eles levaram. — David falou.
— Puta merda... — Suspirei. —Poderia me emprestar o seu? — Pedi.
— Ah, claro. — Ele disse pegando o celular no criado mudo.
Ele se levantou enquanto eu discava e arrastou um banquinho para o meu lado ligando o computador.
— Você quer que eu saia? É que preciso fazer algo aqui rapidinho e meu notebook descarregou. — Ele deu um sorriso sem graça.
— Não, tudo bem. Eu sou a visita aqui, lembra? — Falei abrindo um sorriso gentil enquanto a ligação chamava.
O telefone tocou três vezes até que alguém atendesse.
— Oi. Posso falar com O Kevin? — Falei estranhando a voz feminina do outro lado.
— E quem gostaria? — A garota falou do outro lado.
— Diga a ele que é a Ema, é um assunto urgente. — Falei já ficando impaciente.
— Um minuto; amor, alguém com nome de Ema. — A mulher falou com tom de ironia.
Em menos de dois minutos Kevin atendeu.
— Onde você estava? Me deixou preocupado! — Ele falou com um tom nervoso.
— Sério, Kevin? Amor? — Falei engolindo a queimação que senti no peito.
— O quê? Sabe que eu sou seu, mas você não me quer. — Ele disse dando de ombros do outro lado da linha.
— Fico muito feliz que tenha desapegado. — Abri um sorriso. — Avisa ao Luke que não vou trabalhar hoje e acho que nem pelo resto da semana. — Falei sabendo que Luke iria pirar.
— Você nunca falta. O que aconteceu? — Ele falou assustado.
— Jake. — Sussurrei, olhando de soslaio o cara concentrado no computador ao meu lado.
— O que aquele desgraçado fez? — Afastei o telefone do ouvido quando ele gritou.
— Ele me espancou. — Falei sentindo o gosto daquelas palavras.
— Você aceitou o programa com ele de novo? — Kevin falou revoltado.
— Não! — Quase gritei, mas controlei meu tom de voz ao notar novamente que David estava ao meu lado. — Ele se juntou com uns garotos e... Eu, eu não quero falar sobre isso. Ossos do oficio, afinal, sou só, sou só eu né Kevin. Sou só isso. — Senti o amargo das minhas palavras.
— Para com isso Ema, você é incrível, você não é só isso. Onde você está? Vou aí te ver. Saia dessa vida e se case comigo. — Ele falou, eu podia notar o carinho no tom de sua voz.
— Eu não estou em casa, e preciso desligar, acho que dá para ver que o telefone não é meu. — Falei suspirando. — Você sabe que esse conto de fadas não é para mim, não sabe? — Quase me perdi no tom de voz. — Não conte nada ao Luke, só diga que eu viaje e não arranje confusão com o Jake. Eu já estou exausta de pessoas machucadas em minha vida Kevin. Se cuide, e aproveite a possível linda mulher ao seu lado. Você merece. — Desliguei antes mesmo que ele pudesse falar alguma coisa.
Eu sabia que a história com o Jake estaria longe de acabar, ele arrumaria mais confusão, tinha até demorado demais. Estava perdida em meus pensamentos...
— Ema? — David chamou pela terceira vez.
— Oi... Oi... — Falei voltando a realidade...
— Você está bem? — Ele perguntou preocupado se virando para mim.
— Estou viva, não é? — Falei, sabendo que eu não estava nada bem. Mas; eu estava muito cansada para fingir. — Poderia me levar para casa?
— Não. — Ele falou o mais natural possível.
— Como assim? — Falei meio assustada.
— Não posso te levar para casa assim, você tomou uma surra e está machucada e não quer ir ao hospital. Então; não vou lhe deixar sozinha. — Ele deu de ombros.
— Eu posso me cuidar sozinha, tenho que resolver algumas coisas, preciso comprar um novo celular e para isso não posso deixar de trabalhar. — Falei tentando fazer com que ele mudasse de ideia, ele nem me conhecia.
— Tudo bem, faremos tudo ficar mais fácil então. O problema é dinheiro? — Ele disse me encarando. — Eu pago. Estou pagando para que você fique até melhorar.
— Ah, então você quer dormir comigo dessa forma? — Sorri meio que confusa com aquilo.
— Eu não quero dormir com você. — Ele falou por cima da lata, eu arqueei uma das sobrancelhas em resposta. — Não me leve a mal, eu dormiria com você sem problemas. Quer dizer; você é muito bonita, mas eu não quero dormir com você agora, nem depois. Ah, eu quero dizer que quero que você descanse. — Ele falou se embolando o que me fez rir.
— Então eu sou muito bonita na minha pior versão? — Eu perguntei encucada com aquilo.
— Garota, se essa for sua pior versão, então eu não aguentaria ver a melhor. — Ele abriu um sorriso atraente e piscou para mim se levantando.
Antes que eu pudesse falar algo ele saiu do quarto com a bandeja, eu não sabia se ele havia flertado comigo ou estava apenas levantando a minha autoestima. Mas a oferta de ser paga para ficar na cama me atraia, eu realmente não conseguiria trabalhar dessa forma e estava marcada demais. Os homens identificariam isso como um problema!
Eu continuei ali deitada pensativa sobre o porquê que um desconhecido queria tanto me ajudar, o fato de ele querer me pagar somente para cuidar de mim havia despertado algo que não sei reconhecer. Eu não sabia o que era ser cuidada e ter alguém se preocupando comigo desde quando eu era criança.
— Iai? Já pensou na minha proposta? — Ele entrou novamente e se sentou no banco ao meu lado.
— Por que está pagando para cuidar de uma desconhecida? — Perguntei confusa.
— Porque você precisa de cuidados e não tem ninguém que faça isso.
— Não é uma resposta plausível. — Falei o encarando.
— Seu nome é Ema. — Ele abriu um sorriso, — É tudo que eu preciso saber. — Quanto você cobra por um dia?
— Pelo amor de Deus. — Corri os olhos e voltei a encará-lo.
— Estou falando sério. — Ele riu.
— Não vou aceitar seu dinheiro. — Falei dando de ombros.
— Por que não? Isso é um negócio, para casa eu não vou te levar. — Ele falou me encarando.
Respirei fundo tentando entender o que estava acontecendo, ele havia me ajudado e eu sentia que ele não queria me fazer mal. Havia algo bom no David que me fazia querer ficar e isso mexia comigo.— Olha. Amanhã eu já vou estar melhor. — Falei abrindo um sorriso gentil.— Que bom, então amanhã assim que eu ver que você está melhor, eu te levo para casa. — Ele assentiu.— Não tenho roupas aqui e preciso de um banho. — Falei procurando a desculpa mais fajuta que tinha. Eu não sabia aonde estava. Realmente sentia meu corpo doer e não aguentaria ir para casa sozinha então tinha que fazê-lo me levar.— Eu tenho. — Ele deu de ombros. — Vou pegar para você.— Você não é um serial killer, É? — A pergunta simplesmente saiu, foi estúpido.— Eu acho que se eu fos
Eu fiquei pensando sobre aquilo, eu não podia simplesmente deixá-lo entrar assim. Eu era uma furada e todos que me conheciam sabiam disso. Ele não estava sendo coerente, como assim ajudar uma desconhecida? Mas, ele parecia ser tão sincero, ele me fazia querer ser ajudada. Aquilo reacendia uma pequena chama de esperança dentro do meu coração, o medo de que aquilo fosse me derrubar me afetou. Eu só queria sair correndo dali e voltar para minha vida de merda até o dia em que eu não aguentasse mais. Mas... Eu não sei. Algo me dizia que ele não iria desistir tão fácil assim.— Emily. — Falei quando ele se levantou.— Como? — Ele disse virando-se novamente para mim.— Emily, é o meu nome de batismo. — Falei abrindo um sorriso sem graça.— É um prazer conhecer você Emily, já é um bom
DAVID:Tudo havia acontecido rápido demais, num dia eu estava vivendo minha vida rotineira aprendendo a viver sozinho, e no outro tudo havia mudado com uma desconhecida em minha casa. Tudo havia sido num piscar de olhos, num momento eu havia encontrado ela sendo espancada por moleques de rua e em outro ela estava ali dando o sorriso mais lindo do mundo. Eu não sei qual o propósito para as nossas vidas, não sei o que o destino nos reserva na vida um do outro, mas tem algo! A primeira vez em que a vi machucada eu coloquei em minha mente que ela era apenas uma desconhecida, eu a deixaria num hospital próximo e iria embora. Simples assim. Mas quando ela me pediu que não a levasse para o hospital eu senti algo estranho, e do nada me vi levando uma desconhecida machucada para casa. Me vi cuidando de uma desconhecida e me sentindo no dever de protegê-la. A forma como ela se diminuía. Aquilo me doía. Desde
DAVIDEu estava completamente desconcertado, não tinha como estar mais envergonhado. E vê-la só de toalha foi algo extremamente desafiador! Desviei o olhar quinhentas vezes; ela era completamente sexy, eu tinha que admitir. Não tive onde enfiar minha cara ao ver o sorriso de minha mãe, eu já sabia tudo que ela iria falar e quando ela saiu do quarto, eu respirei fundo. Queria pedir mil desculpas para a Emily, mas vê-la naquele estado não estava ajudando, eu simplesmente fechei os olhos e respirei fundo tentando dissipar a quentura que me invadiu...— Me desculpe... — Foi tudo que eu consegui dizer e antes que minha mente começasse a trabalhar mais naquela cena, eu me virei e sai do quarto. Agora a tarefa era explicar para minha mãe que ela não era minha namorada. Quando desci minha mãe estava apoiada no balcão com
DAVID:Eu fiquei ali mastigando e engolindo aquelas palavras até não terem mais efeito nenhum sobre mim, mas eu ainda podia sentir todo o arrepio pelo meu corpo quando ela sussurrou em meu ouvido. Ela estava me testando, estava me provocando. Era um desafio, um desafio tentador! A minha intenção não era dormir com ela, queria ajudá-la, protegê-la e cuidar dela, mas eu também não poderia simplesmente dizer que eu não estava tentado. Deu para perceber que ouvir aquilo me excitou e quando ela simplesmente se virou e saiu eu tive vontade de trazê-la de volta, de beijá-la, de... Engoli em seco. Não. Eu não iria dormir com ela porque eu sabia que se fizesse só estaria provando que ela era realmente apenas uma garota de programa. Eu queria provar que ela era mais do que isso, e que existia um homem capaz de enxergar todo o potencial que ela tinha fora da cama. E eu
DAVID:Ela não falou nada, só se virou e olhou no fundo dos meus olhos. Ela parecia estar pedindo por algo mais e aquilo me deixou sem fôlego. Aquela cozinha estava pegando fogo, então ela colocou a ponta do dedo indicador sobre o meu peito e foi subindo até o meu pescoço até que eu segurei suas mãos. Que droga! Eu estava excitado! Ela percebeu e abriu um sorriso. Eu balancei a cabeça negativamente, e antes que eu pudesse fazer alguma merda simplesmente beijei sua mão, acariciei o seu rosto depositando um beijo em sua testa e a abracei.— Isso é tentador. — Eu disse com a respiração entrecortada. — Mas, eu quero mais do que isso. — Sussurrei em seu ouvido.— O que você quer? — Ela sussurrou olhando em meus olhos com a boca a centímetros da minha.— Eu não sei. — Respirei fundo. &mdas
— Estou limpando você também. — Ela deu de ombros. Notando que eu já tinha terminado de limpar e pegando o pano da minha mão. — Sua vez.— Eu não me sujei tanto. — Falei sentindo o fôlego escapulir do meu pulmão.— Mas, se sujou. Então, agora eu vou lhe limpar. — Ela disse decidida passando o pano pelo meu rosto carinhosamente. Depois de limpar meu rosto ela largou o pano deixando cair no chão e acariciou o meu rosto com as duas mãos enquanto me olhava nos olhos. Coloquei as duas mãos sobre a bancada, punho fechado, tentei afastar os pensamentos perversos que rondavam a minha mente. Ela aproximou seu rosto do meu, colocando sua testa na minha e pude sentir sua respiração entrecortada, ela também estava tentando se controlar! Eu abri as mãos e as coloquei em sua cintura, acariciando-as, a sua pele era
DAVID:Tomamos um café da manhã bem reforçado e resolvemos, ela resolveu, que precisávamos fazer faxina na casa. Ela ainda não estava totalmente recuperada, mas como eu sabia que ela não ficaria satisfeita até me convencer de que iria fazer e ponto, decidi que enfrentaríamos essa missão. Colocamos uma musicam alta e bem divertida e partimos para o trabalho, eu nunca havia me divertido tanto. Principalmente; ao vê-la imitando os cantores e achando que sua vassoura era um microfone, e poderia ser perfeitamente! As caras e bocas que ela imitava me matavam de rir, lavamos a sala. Não sem antes escorregarmos no sabão, ela inventou de brincar de pega-pega no chão espumado o que me rendeu uma queda.— Você está bem? — Ela veio correndo tentando esconder a vontade de rir.— O que você acha? — Eu falei fingindo estar muito