02. Você?

A manhã começou mais cedo do que eu gostaria. O som distante de pássaros e o vento frio soprando pelas janelas abertas da casa velha me trouxeram de volta à realidade.

Depois daquele sonho idiota, eu não consegui dormir bem. 

Eu estava nervosa. Um peso estranho de expectativas sobre mim.

Arrumei-me rapidamente, minha mente ainda presa nas lembranças confusas do encontro com Foster no dia anterior. Ele me conhecia. Mas como? E por que não falava mais sobre isso? A cidade, meus pais... tudo parecia envolto em uma loucura. 

Apressada, comecei a revirar minhas roupas na mala, em busca de algo minimamente apresentável. Optei por uma blusa simples e uma calça social. Nada glamouroso como as roupas que eu tinha anteriormente, mas pelo menos parecia profissional. 

Me olhei no espelho e, embora a ansiedade estivesse clara em meu rosto, eu me senti pronta. Não havia outra escolha. Precisava desse emprego.

Ao sair de casa, percebi o quanto estava atrasada e um surto de pânico tomou conta de mim.

"Merda, vou perder essa entrevista!" murmurei, acelerando o passo.

Foi quando vi um homem saindo da casa ao lado. Ele parecia estar saindo para o trabalho também, mas, ao notar minha pressa, se aproximou rapidamente.

"Ei, você está bem?" Ele perguntou, a voz calma contrastando com minha agitação.

Eu o observei por um momento, surpresa com sua presença. Era um homem jovem, com um sorriso amigável e um ar descontraído. Seus cabelos eram castanhos claros, levemente bagunçados pelo vento, e seus olhos castanhos tinham uma expressão curiosa. Ele era notavelmente bonito, e atraente.

"Eu estou atrasada," disse, tentando manter a calma enquanto procurava meu caminho. "Tenho uma entrevista no hotel, e já deveria estar lá."

Ele riu levemente, o que me irritou um pouco, mas logo continuou. "Bem, se está tão atrasada assim, talvez precise de uma carona."

"Eu não... não sei…" comecei, hesitando por um momento. Afinal, ele era um estranho.

"Relaxa, sou apenas seu vizinho. Me chamo Gabriel," disse ele, apontando para a casa ao lado. "Vi que você se mudou recentemente, e parece que precisa de ajuda.  Minha carona vai te levar bem mais rápido do que você correndo por  aí."

Olhei para a moto e, em seguida, para o meu relógio. Eu estava realmente sem tempo. "Ok, obrigada," respondi finalmente, tentando soar grata, mesmo que a ansiedade ainda estivesse tomando conta de mim.

Gabriel me entregou um capacete e subiu na moto. "Pode subir, Evans," disse ele com um sorriso, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

"Como você sabe meu nome?" perguntei, surpresa.

"Pequena cidade. As pessoas falam," respondeu ele com um sorriso, enquanto eu subia na moto.

O vento batia em meu rosto enquanto ele acelerava pelas ruas da cidade. Eu me agarrei à jaqueta dele, lutando para manter o equilíbrio. Embora eu estivesse nervosa pela entrevista, o instante de adrenalina me distraiu, pelo menos um pouco.

"Chegamos," disse Gabriel, parando em frente ao imponente hotel, bem a tempo. "Boa sorte lá dentro."

Desci da moto e tirei o capacete, meu coração ainda batendo rápido. "Obrigada. Eu te devo uma."

Ele acenou despreocupado. "Não se preocupe. A gente se vê por aí. Quem sabe eu te mostro a cidade qualquer dia desses."

Eu sorri de leve, tentando controlar meus nervos, antes de virar e entrar no hotel. A recepcionista estava esperando por mim, como se já soubesse exatamente quem eu era. "Você deve ser Elena Evans," disse ela, me avaliando de cima a baixo. "O tio do nosso chefe, Sr Foster me avisou sobre você."

Agradeci, um tanto desconcertada. Então Foster tinha mais influência do que eu imaginava. Ela me levou até uma sala de espera luxuosa, onde tudo exalava riqueza e sofisticação. Sentei-me, tentando acalmar meus nervos enquanto aguardava. Eu nunca tinha precisado trabalhar, essa era a minha primeira entrevista.

Foi quando ouvi passos firmes se aproximando, e, ao levantar os olhos, meu coração disparou. Na porta, estava o mesmo homem com quem tive um encontro desconfortável no dia anterior.

Isso só poderia ser brincadeira.

Ele entrou na sala com uma presença que dominava o ambiente, seus olhos azuis que eu tinha reparado anteriormente, me avaliavam com um misto de curiosidade e algo mais que eu não conseguia identificar. 

Era ele: Mason Blake. O homem que apareceu na minha casa, dono do hotel e, aparentemente, o homem mais poderoso daquela cidade.

"Parece que a patricinha da cidade grande decidiu aparecer," ele disse, um sorriso frio e irônico em seus lábios.

"VOCÊ? " Rebati rapidamente, o calor subindo ao meu rosto.

Mason arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso pela minha resposta. "Interessante," ele murmurou, aproximando-se com passos calculados.

"Para quem quer um emprego, você está muito mal-educada. Vamos ver se você tem o que é necessário para trabalhar aqui, Srta. Evans."

Eu engoli em seco, mas não deixaria que ele me intimidasse. Se ele achava que eu ia ser só mais uma garota assustada, estava muito enganado.

Senti meu corpo enrijecer ao perceber que ele não estava apenas avaliando minhas qualificações, mas também me testando de uma maneira mais profunda, quase pessoal. Havia algo em sua presença que irradiava autoridade, mas também uma arrogância que me fazia querer enfrentá-lo, mesmo sabendo que ele detinha o poder naquela sala.

"Então, você acha que está preparada para lidar com as responsabilidades aqui?" Ele perguntou, caminhando lentamente ao redor da sala, com as mãos casualmente nos bolsos do paletó perfeitamente ajustado. Seus olhos não me deixavam por um segundo, como se estivesse estudando cada movimento meu.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma. "Sim, senhor, eu realmente preciso deste emprego."

Ele arqueou uma sobrancelha, um meio sorriso provocador surgindo em seu rosto. "Então, o que exatamente te trouxe a Brașov? Parece uma escolha curiosa para alguém como você."

Havia algo naquela frase, “alguém como você,” que me fez querer gritar. Ele não sabia nada sobre mim, e ainda assim, achava que podia me rotular com base em uma primeira impressão.

"Isso não é da sua conta," retruquei, talvez de maneira mais afiada do que deveria, mas não consegui me conter. Eu estava cansada de ser subestimada e rotulada por estranhos que mal conheciam minha história.

Mason deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Seu perfume amadeirado era quase intoxicante, e sua proximidade fez meu coração acelerar de um jeito irritante. Ele era desconcertante, em todos os sentidos possíveis. "Você tem coragem, Srta. Evans. Gostei disso. Mas aqui, no meu hotel, a coragem não será suficiente."

O tom de voz dele, grave e quase sussurrado, fez minha pele arrepiar. Por um segundo, pensei ter visto algo mais profundo por trás de sua expressão controlada — algo que ele estava escondendo, como se houvesse uma guerra interna acontecendo dentro dele.

"Eu vou provar que você está errado," declarei, com firmeza, embora minha mente estivesse uma bagunça.

Mason sorriu novamente, dessa vez com um toque de desafio.

"Estarei contando com isso, você está contratada, Elena"

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App