03. Mason Blake

Mason Blake

Minhas patas tocaram o chão com a terra ainda molhada, cada passo impulsionado pela força que só um Alfa pode sentir. O cheiro da floresta, da umidade e das folhas recém-caídas me envolve, e eu corro mais rápido, permitindo que Tornado, meu lobo, tome controle. 

O mundo ao nosso redor se torna um borrão verde e marrom enquanto avançamos, e eu sinto a pura liberdade que só a forma de um lobo pode me dar.

Voltar à minha parte humana era sempre uma mistura de frustração e alívio. Frustração porque, como lobo, tudo é mais simples, mais claro. Alívio porque, como humano, eu controlo o poder, não o contrário.

 Enquanto me transformava de volta, sinto os ossos se realinham, a pele se esticar, e o lobo cede espaço para o homem. A floresta ao redor é silenciosa, respeitando o processo, como sempre faz.  A dor era insuportável, mas eu já estava acostumado.

A raiva borbulhava dentro de mim, após lembrar do que meu pai fez comigo. Eu era o único herdeiro homem que ele tinha, fora a minha irmã que não se importava com os negócios da família. E mesmo assim, ele colocou uma condição estúpida para que eu pudesse continuar com as minhas heranças. 

Ele me deu dois anos: o prazo de exatos dois anos para que eu reivindicasse uma companheira da linhagem Evans e tivesse um filho. E eu me perguntava desesperadamente, por quê? Eles eram humanos, até onde eu sabia.

Meu pai sempre foi um homem cheio de enigmas, mesmo em seus últimos dias. Ele gostava de ensinar lições com o silêncio, deixando que eu descobrisse a resposta sozinho. Mas sua última ordem não era um enigma — era uma sentença.

Eu me lembro das suas palavras como se tivesse sido ontem. "Você será Alfa, Mason. Mas a herança, as terras e tudo o que é direito da linhagem Blake só serão suas completamente se você der à matilha um descendente. E não qualquer descendente. Precisa ser do sangue dos Evans."

Na época, eu achava que ele estava delirando. Meu pai, em seu leito de morte, murmurando nomes que pareciam saídos de contos antigos. Os Evans. Um nome que ressoava em nossa história, mas que ninguém mencionava há décadas. Por que isso importava agora?

Eu engoli minha descrença e segui em frente. Meses se passaram, anos, e aquela ordem absurda foi guardada em uma gaveta na minha mente, trancada sob o peso de responsabilidades mais urgentes.

Até agora.

E ao receber a mensagem do maldito advogado do falecido Blake eu não tinha mais opção.

Eu pesquisei, ela era a última dos Evans, e por mais que eu quisesse ignorar, sabia que não podia. Perguntas pairavam pela minha mente: como eu iria fazer para me casar com essa patricinha? 

Até que a chegada dela era mais do que uma coincidência — era a chave para meu futuro e o da matilha. Meu pai havia dito que as terras seriam minhas, mas não apenas por direito. Era uma barganha. Um preço a ser pago.

A humana não fazia ideia de nada disso. Para ela, Brașov era apenas um refúgio, uma tentativa de recomeço após perder os pais. Ela não sabia que estava entrando no território de lobos, muito menos que o destino dela já havia sido decidido. 

Eu deveria ser frio, calculista. Tornar isso simples. Mas algo em Elena tornava tudo complicado. Talvez fosse o cheiro dela, ou o jeito como ela olhava para o mundo, como se não tivesse ideia de quão perigoso ele realmente era.

Meu lobo rosnou em minha mente, impaciente. Ele também sentia a conexão, mesmo que eu quisesse negar. O sangue dos Evans corria nas veias dela, e isso significava que ela era essencial.

Eu só precisava fazer com que ela permanecesse aqui. Que aceitasse o que estava por vir e eu sabia exatamente como.

Enquanto me vestia, meu telefone tocou. Foster, meu tio e conselheiro, estava na linha.

"Fala, tio," atendi, puxando a camisa sobre a cabeça.

"Mason, tenho um favor para pedir. É sobre Elena Evans."

Um sorriso frio surgiu em meu rosto. Foster não fazia ideia de que eu já estava três passos à frente. "E o que tem ela?"

"Ela precisa de um emprego. Pensei que talvez pudesse ajudar. Os pais dela eram conhecidos nossos."

"Conhecidos, é?" 

"Sim, mas isso é uma longa história. O que importa é que ela está sozinha e precisa de ajuda."

"Você quer que eu dê uma oportunidade para ela no hotel?" perguntei, testando a paciência de Foster.

"Exatamente. Faça isso, Mason. Considere um gesto de boa vontade."

Meu tio não sabia dessa condição maluca que meu pai havia imposto. Eu já havia calculado cada passo. A casa onde ela estava morando, acreditando ser uma herança, era, na verdade, minha. 

Agora, ela estava exatamente onde eu precisava: Na minha mão.

De volta ao escritório, Gabriel, meu Beta, entrou. "Algo errado, meu Alfa?"

"Uma humana, Elena Evans é o seu nome. E Foster quer que eu a contrate no hotel."

Gabriel arqueou uma sobrancelha, mas respondeu com seu tom sempre contido. "Ela é minha vizinha. Parece uma garota perdida."

"Perdida, mas necessária," murmurei.

Gabriel me lançou um olhar curioso, mas sabia não questionar. Ele entenderia em breve por que eu estava tão interessado nela. Decidi manter segredo por enquanto, mesmo sendo meu braço direito, havia coisas que eu guardava somente para mim até que estivessem concretizadas.

Eu me levantei e fui até o andar de baixo, onde algumas das lobas estavam reunidas para quando eu quisesse. Havia uma em particular que sempre estava disponível para me ajudar a aliviar a tensão, e eu sabia que ela não faria perguntas. Talvez, depois disso, eu finalmente conseguisse tirar a humana da minha mente. 

Ela me seguiu para o quarto sorridente por ser a escolhida da vez.

"Tira a roupa logo, não tenho tempo." eu ordenei."

Mas enquanto eu observava a loba com o traseiro perfeitamente empinado para mim, uma voz interna, quase imperceptível, questionava: o que essa garota tinha que mexia tanto com a minha mente?"

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