25 de Dezembro de 2058 Jasmim Prince abriu, vagarosamente, os olhos. Onde estava o quarto de hospital onde ela se internou devido a um câncer de pulmão? Ela parecia estar... Numa casa? — Gatinha. — Chamou Eros, preocupado —, você está bem? — O que você está fazendo aqui? — O que um marido faz quando sua esposa desmaia na sala de casa? — Brincou ele. — O que aconteceu? — Você desmaiou de repente, o médico disse que sua pressão baixou. Ela sempre é baixa, desde sua gravidez. — Gravidez? — Sim. Você não lembra de nada? Não queria preocupá-lo, então ficou em silêncio. Eros depositou um beijo em sua testa e disse que precisava avisar à Adrielle que ela estava bem. Adrielle não tinha falecido? — E aí, como foi voltar para o futuro? A dona da pergunta era uma garota de cabelos roxos, roupas coloridas e meias listradas. — Quem é você? Sou Valência, seu anjo da guarda. Não se preocupe, eu congelei o tempo e ninguém pode nos ouvir.
25 de Dezembro de 2025 Eu estava em meu quarto, deitada por conta da cólica, quando, de repente, um papel surgiu em cima da cama. Eu o peguei, receosa. Era uma carta. De Jass. Ai. Meu. Deus. Eu a abri e comecei a ler. “Queria Jasmim Escrevo essa carta para te agradecer. Por sua causa, eu fui — e sou — uma mulher feliz e realizada. Eu e Eros somos felizes, nossa filha é linda, inteligente e sábia. Quando estive aí, eu tinha acabado de sair de um hospital, onde eu estava morrendo por conta de um câncer. E você nos salvou. Não há palavras pra expressar minha gratidão. Continue ouvindo seu coração, a gente vai longe. Amo você, minha querida, seja feliz daí, que eu serei daqui. Com todo meu amor; Jass.” A carta se dissipou em minhas mãos, virando uma espécie de poeira mágica. Fiquei tão feliz por saber que Jass estava bem. Como se percebesse isso, minha filha chutou em minha barriga, me fazendo rir. — Dinda! — Maria chamou da sala. A muito custo, me
“ — Se não consegue enxergar a imensidão do meu amor, se não consegue ler em meus olhos o quão forte são meus sentimentos por você, então, sinto muito em te dizer isso, mas és um completo babaca.” (Perdidos no amor, Violet Monteiro) ***01 — Sinto muito, Zoe. Acabou. — Mas... — Não concluí a frase, não sabia o que dizer. As lágrimas ensoparam meus olhos e meu estômago embrulhou de repente.Tudo bem que a coisa toda era recente, eu e Pedro estávamos juntos há seis meses apenas, mas, poxa vida, eu iria apresentá-lo para minha família, no dia dos namorados, dia em que minha adorável prima resolvera se casar.Veja bem, eu não a odiava, mas ela sempre dava um jeito de desdenhar de mim. Anelise era uma mulher independente, bem-sucedida na área profissional (dona de uma confeitaria renomada), e agora, no âmbito amoroso também, já que Vicente, seu noivo e futuro marido, era um verdadeiro príncipe.Pelo menos era isso que minha mãe me dizia toda vez que
— Trocar de dentista? — Perguntei para Clara, assim que ela entrou feito tempestade em minha casa.As bochechas vermelhas e os olhos inchados indicavam que ela havia chorado. — O Alessandro é gay! Gay! — Sério? Tem certeza? — Gritei da cozinha, estava ocupada lavando os pratos.Ela veio em minha direção e sentou-se no banco vermelho, atrás da bancada de azulejo branco. — Zoe, eu estava lá naquela maldita cadeira, com a boca escancarada, e o cara simplesmente me fala que, caso eu tivesse algum amigo para apresentar para ele, que não me acanhasse. — Que merda! Clara soltou um gemido e debruçou a cabeça sobre os braços. — Amiga, não fica assim — aconselhei —, vá à minha dentista se quiser. Maria Eduarda é uma das melhores da cidade, ela foi aprendiz do senhor Aristeu, pelo que eu pesquisei, o cara é foda. — É, vou pensar. E o seu dia, como foi?Fechei a torneira, peguei o rodinho de pia e comecei a secá-la. — Uma merda — respondi, concentrada em minha tarefa —
— Corta essa, nem todos são assim — Alex contrapôs, aceitando a taça de vinho que eu lhe entregava. Mas antes, prometeu que só tomaria uma garrafa, para me acompanhar. — São sim — discordei, sorvendo mais um gole da bebida —, uns verdadeiros pilantras, safados, sem coração.Estávamos no tapete da sala, dividindo uma pizza de calabresa — a favorita da Clara que, nos braços de Alex, foi levada ainda dormindo para o quarto ao lado do meu. — Você só diz isso porque... — Fui largada — completei. — Desculpa, eu não tive a intenção de te magoar. — Tudo bem, Alex, uma hora eu tenho que aceitar. — Você consegue. — Obrigada. E você, tem namorada? — Tive. Mas não durou muito tempo.Me virei para ele. — Por quê?Alex coçou a cabeça, meio sem jeito, e desviou o olhar para o chão. — Eu sempre fui apaixonado por outra — contou baixinho. — Ela corresponde?Então ele olhou para mim e sorriu. — Não tenho tanta sorte, Zoe.Não soube o que dizer, só fiquei ali
Vovó e vovô tiveram três filhos: Tia Marta, minha mãe e tio Alfredo.Tia Marta se casou com Osvaldo; um empresário rico, dono de uma rede de eletrodomésticos e completamente babaca. Com ele, teve Anelise e Júnior. Júnior se casou com uma dondoca chamada Martina, eles estavam juntos desde o colegial.Minha mãe conheceu meu pai num baile dos anos 80. Ele era músico e ela; professora. Só tiveram a mim como filha.Tio Alfredo — Deus sabe como — era um tremendo galinha, não casou nem teve filhos, e, mesmo com quarenta e nove anos, não saiu da casa dos pais.Vovô faleceu quando eu tinha dezesseis anos. Vovó seguia intacta, com seus oitenta e dois anos de idade, vivia sob os cuidados de tio Alfredo e sua namorada da vez — uma stripper mega loira, magra e peituda, que abeirava os quarenta e cinco anos.E, falando sério, tio Alfredo era feio de doer. Como conseguia essas namoradas? Tá aí um grande mistério.Resumindo, essa era a minha família materna.Bati na porta, inquieta. Para minha
— Você enlouqueceu, Clara! Você enlouqueceu! — Exclamei, indo de um lado para o outro, assim que chegamos em casa.Porque era o que tinha acontecido, não?Digo, inventar um namorado para mim quando, na verdade, eu havia acabado de sair de um relacionamento.Loucura total! — Eu não podia deixar aquela gente te humilhar, Zoe — Clara justificou. — Nem sua mãe te defendeu. Me sentei no sofá, o coração acelerado, as mãos suadas, uma sensação de sufocamento dentro de mim.Eu odiava mentiras, muito. Elas têm pernas curtas e te jogam numa teia complicada demais, que te impedem de sair de lá tão cedo.Nada de bom acontece quando há mentiras pelo meio.Aprendi isso com os livros da Carina Rissi. — Clara, eles querem que eu o leve para o casamento da Anelise. Você não percebe onde me meteu? Foi isso que aconteceu quando Clara inventou essa lorota toda, minha tia praticamente intimou que eu levasse o tal de Alex para o casamento da filha, que, por sua vez, ainda não engolira a his
Eu só podia estar doida.Só isso justificava o que eu estava fazendo naquele instante; deitada no ombro de Alex, comendo minha pizza favorita com ele, enquanto assistíamos uma comédia romântica, sentados no tapete da sala.É, eu estava doidona. — Lindo filme — falei enquanto rolava os créditos finais —, pena que não é assim na realidade. — Poderia ser — Alex afirmou, acarinhando minhas tranças.Eu ri. — Não consigo acreditar nisso. Pelo menos não agora quando meu coração está partido. — Sinto muito, Zoe — ele disse, consternado.Soltei um suspiro. — Tudo bem. Vai passar. — Claro que vai — Alex me encorajou —, não deixe um idiota te fazer perder a fé no amor. Ainda existem pessoas boas no mundo.Ergui a cabeça e o encarei. — Me diz quem?Seus lindos olhos verdes me escrutinaram, a pupila dilatou e ele desviou o olhar para o chão. — Não consigo pensar em ninguém agora. Mas quem sabe um dia você não encontre alguém que te faça ver fogos de artifícios. Que te