05

— Você enlouqueceu, Clara! Você enlouqueceu! — Exclamei, indo de um lado para o outro, assim que chegamos em casa.

Porque era o que tinha acontecido, não?

Digo, inventar um namorado para mim quando, na verdade, eu havia acabado de sair de um relacionamento.

Loucura total!

— Eu não podia deixar aquela gente te humilhar, Zoe — Clara justificou. — Nem sua mãe te defendeu.

Me sentei no sofá, o coração acelerado, as mãos suadas, uma sensação de sufocamento dentro de mim.

Eu odiava mentiras, muito. Elas têm pernas curtas e te jogam numa teia complicada demais, que te impedem de sair de lá tão cedo.

Nada de bom acontece quando há mentiras pelo meio.

Aprendi isso com os livros da Carina Rissi.

— Clara, eles querem que eu o leve para o casamento da Anelise. Você não percebe onde me meteu?

Foi isso que aconteceu quando Clara inventou essa lorota toda, minha tia praticamente intimou que eu levasse o tal de Alex para o casamento da filha, que, por sua vez, ainda não engolira a história narrada pela minha amiga.

Até vovó fez perguntas sobre o moço. E Clara não poupou elogios.

Alex era trabalhador, honesto, lindo e muito, muito bacana. Só não havia ido para o almoço hoje porque houve um contratempo muito grande.

— Amiga, me escuta, eu tenho uma ideia. Eu jamais te meteria numa encrenca dessas sem ter algo em mente.

— Eu sinceramente não sei se isso me conforta ou me assusta.

Clara foi até a cozinha e voltou segundos depois, com um copo d’água com açúcar para mim. Tomei tudo numa golada só.

— Vai — falei, colocando o copo vazio na mesinha de centro —, me conta esse seu plano mirabolante.

— Muito bem, o Alex a gente já tem, né?

Olhei para ela, embasbacada.

— Não...

— Escuta, Zoe. Tudo o que você tem que fazer é se aproximar dele, iniciar uma amizade. Vocês se deram bem ontem.

— Eu tava bêbada, Clara! Me daria bem até com a Anelise.

Tá, exagerei.

— Nem vem, eu te conheço. Você gostou do cara.

Balancei a cabeça em sinal de negação.

— Não no sentido romântico — ela se corrigiu.

— Não posso fazer isso. Não posso magoar alguém tão legal como ele.

Então Clara ajoelhou-se de frente para mim e segurou firme minha mão.

— Você mesmo disse que ele é apaixonado por outra, Zoe — argumentou. — Por mais linda que você seja, não se muda um sentimento tão forte do dia pra noite. Só se aproxime dele, dê uns beijinhos, quem sabe uma boa noite de sexo, e pronto. Conseguiu um ficante, leva o Alex para o casamento da Anelise como namorado e depois termina o lance porque acabou de sair de um relacionamento sério.

— Sei lá, parece muito injusto.

— É o que os homens vivem fazendo. Só pensa a respeito, tá? Agora eu tenho que ir, amanhã é dia de acordar cedo.

Minha amiga sapecou um beijo em minha bochecha e saiu, me deixando confusa.

E se eu embarcasse nessa ideia pra valer? E se, no fundo, não fosse tão ruim assim?

De uma coisa eu sabia, Alex jamais se apaixonaria por mim.

Nem eu por ele.

Pedro deixou um buraco enorme em meu coração, não era qualquer um que o preencheria assim tão fácil.

Por volta das seis horas da noite, minha mãe ligou para mim. Estranhei, ela não costumava ligar tanto, como disse Anelise, nós não éramos tão próximas.

Isso me machucava bastante, mas eu estava aprendendo a lidar com essa ausência, guardando tudo dentro de mim, fingindo que não era assim, tão importante.

— Sinto que te devo explicações, Zoe — Ela foi logo dizendo, tão logo eu atendi.

— Ah, sério? — Fui irônica. — Por quê? Por que de repente a senhora me aparece com um cara bem mais novo e o apresenta como namorado?

— Idade não importa quando se há amor, querida. — Ela retrucou.

Fui até a cozinha e preparei um chá. Deixei o copo rodar no micro-ondas e fiquei ali, encostada no batente da cozinha.

— Amor? Há quanto tempo a senhora conhece esse cara? — Inquiri.

Minha mãe demorou alguns segundos para responder.

— Faz uns dias — disse por fim. — Você, mais do que ninguém, poderia entender. Clara disse que está apaixonada, eu nunca acreditei que vocês eram namoradas, mas você nunca teve sorte com homens.

Uau, essa doeu.

— É verdade essa história, Zoe? Você está mesmo apaixonada? Está namorando?

Eu deveria desmentir, contar toda a verdade, negar até a morte porque, afinal, era tudo uma farsa.

Mas a partir do momento que fiquei em silêncio, digerindo tudo o que minha mãe dizia, eu não fui forte o bastante para fazer isso.

Então eu fiz a última coisa que deveria fazer.

— É, mãe. — Afirmei. — Eu estou namorando o Alex.

— Maravilha! — Ela exclamou, contente. — Quando irei conhecê-lo?

— Em breve — respondi, abrindo o micro-ondas e pegando o copo com chá de camomila. Segui até a sala e me sentei no sofá. — Me fala mais sobre seu namorado.

— Ele é advogado — contou, toda empolgada —, nos conhecemos no Tinder.

Tinder! Minha mãe estava usando o Tinder!

Virei o chá, nervosa, mesmo ele estando quente.

— E a senhora... Está feliz?

— Estou. Era o que seu pai queria, Zoe. Ele me disse isso antes de partir. A vida segue, afinal.

— Eu sei, é que..

— O quê?

“Eu sinto tanto a falta dele.”, era o que eu queria dizer, mas deixei pra lá.

— Nada. Mãe, preciso desligar agora, vou tomar um banho.

— E depois? Qual a programação para depois?

Respirei fundo.

— Pedir pizza — contei, e torci bastante para que Alex viesse junto.

***

Como havia dito, lá pras nove da noite, pedi pizza. Para minha sorte, Alex veio entregar para mim.

— Oi, motoboy — eu disse, ansiosa.

— Oi, Zoe. Está se sentindo melhor?

O tom de preocupação em sua voz me fez amolecer. Eu iria mesmo meter esse cara legal nessa encrenca toda?

Não. Eu não podia fazer isso.

— Estou sim — afirmei e lhe estendi o dinheiro —, fica com a gorjeta.

— Obrigado. — Agradeceu. Seus olhos verdes me estudaram por um tempinho, antes de ele se virar para ir embora.

— Alex — cala a boca, Zoe. Só cala.

— Oi — notei que havia uma certa expectativa no modo como ele me respondeu.

Tudo bem, eu podia fazer isso. Ele estava apaixonado por outra, eu não era, nem de longe, apaixonante. Seria só um lance ou talvez o começo de uma grande amizade, não passaria disso.

Certo???

Certo, respondi para mim mesma.

— Vem pra cá depois do expediente — chamei e ele abriu um sorriso lindo que faria qualquer garota sorrir de volta.

— Eu não demoro. — Prometeu.

E ele não demorou.

Uma hora depois, lá estava Alex, tocando a campainha da minha casa.

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