Alex veio nos buscar por volta das onze e meia da manhã, chegou na porta de minha casa, dirigindo um Celta prateado.Desceu, abriu a porta para nós e sorriu para mim. Fiquei meio desconcertada, mas acabei sorrindo de volta. — Oi — ele balbuciou, tinha carinho em seu tom de voz. — Oi, motoboy — respondi, um pouco melosa.Deus, o que estava acontecendo comigo? — Oi, Clara — saudou minha amiga, todo simpático —, como você está? — Estou bem — ela respondeu —, e você? — Pra ser sincero, com fome. Entrem, eu juro que sou um bom motorista.Eu ri.Sentei no banco da frente e afivelei o cinto. Clara fez o mesmo, sentada no banco de trás. — Minha família é um pouco... Como vou explicar? Barulhenta...?Ri novamente. — Estou preparada — assegurei, apertando sua mão.Alex olhou para mim de soslaio e abriu um sorriso que aqueceu meu coração, me fazendo, a contragosto, suspirar.Sério, alguém me explica o que está acontecendo comigo?Como ele mesmo dissera no sábado (o
Alex veio nos buscar por volta das onze e meia da manhã, chegou na porta de minha casa, dirigindo um Celta prateado.Desceu, abriu a porta para nós e sorriu para mim. Fiquei meio desconcertada, mas acabei sorrindo de volta. — Oi — ele balbuciou, tinha carinho em seu tom de voz. — Oi, motoboy — respondi, um pouco melosa.Deus, o que estava acontecendo comigo? — Oi, Clara — saudou minha amiga, todo simpático —, como você está? — Estou bem — ela respondeu —, e você? — Pra ser sincero, com fome. Entrem, eu juro que sou um bom motorista.Eu ri.Sentei no banco da frente e afivelei o cinto. Clara fez o mesmo, sentada no banco de trás. — Minha família é um pouco... Como vou explicar? Barulhenta...?Ri novamente. — Estou preparada — assegurei, apertando sua mão.Alex olhou para mim de soslaio e abriu um sorriso que aqueceu meu coração, me fazendo, a contragosto, suspirar.Sério, alguém me explica o que está acontecendo comigo?Como ele mesmo dissera no sábado (o
— Uau! — Eu exclamei, boquiaberta, ao ver o local especial que Alex me levara naquele domingo. Em minha cabeça, pensei que fosse um parque, lago ou algo do tipo. Nunca imaginei que Alex me levaria para um asilo para ser sincera.Não que a ideia me parecesse ruim, eu só não esperava mesmo. Ele fez suspense o caminho todo, deu até dicas falsas, mas quando estacionou de frente para a casa de repouso, abriu um sorriso para mim e disse: — Seja bem-vinda ao Recanto Feliz, Zoe. Quero que conheça um pouco mais do meu mundo. Eu não soube o que dizer, então sorri em resposta e nós descemos do carro. No trajeto, Alex segurou minha mão, e meu coração disparou de imediato. Ele é apaixonado pela Laura, Zoe. Pelo amor de Deus!, era o que eu repetia para mim mesma enquanto entrávamos na enorme casa azul bebê. Estávamos, nesse momento, no Hall, onde eu admirava os quadros pintados pelos moradores dali.Um, em especial, me chamou a atenção.Era a imagem de uma senhora, sentada num ba
— Faltam menos de vinte dias pro casamento da Anelise — Clara apontou, enquanto despachava um cliente —, vai mesmo levar o Alex? Manter a farsa e tudo mais? Soltei um longo e pesaroso suspiro. — Não tem outro jeito — falei, encostada no balcão. — Zoe — ela chamou, preocupada —, desde que fomos assaltadas aqui, você tomou trauma desse lugar. E agora me aparece em plena segunda-feira, antes das oito da manhã. O que tá pegando? — Não sei — respondi, sincera —, eu realmente não sei. — Então descubra. — E se eu não gostar da resposta? Clara me encarou por alguns segundos, em seguida, também suspirou. — Então você conta uma mentira pro seu coração, até ele acreditar que é verdade. Eu ri. — Amanhã é sua folga? — É — respondeu —, a gente pode combinar alguma coisa. Mas primeiro você tem que fazer minha sobrancelha. Você tem mãos de fada. — Vou começar a cobrar — brinquei. Quando olhei para minha amiga, percebi que seu semblante estava iluminado, como se
— E aí, Alex, Zoe me contou que você é apaixonado por uma garota. — Clara! — Eu a repreendi, cutucando-a. — Assim Alex vai pensar que sou fofoqueira. Ele riu, sem graça, ao meu lado. — Conta pra gente quem é, Ruan — ela pediu e eu senti vontade de esganá-la. — Ih, Clarinha, isso é segredo de estado — falou Ruan, com a cabeça deitada no colo da fuxiqueira da minha amiga. Estávamos sentados no chão da sala, tínhamos acabado de assistir Feel The Beat e agora comíamos comida japonesa que pedimos no Ifood. — Ela deve ser muito especial — eu comentei, enciumada. — Pena que ela é cega — falou Ruan e recebeu um olhar furioso do amigo. Fiquei sem entender nada. — Eu nunca me apaixonei de verdade — Clara disse, de repente. — Como você se sente, Alex? — Clara, hoje você está impossível — resmunguei, não queria ouvir resposta. — Bem, eu sinto vontade de estar com ela todos os dias se assim fosse possível. É possível, afinal ela é sua chefe!Pensei em falar,
Os dias seguintes foram normais. Alex, sempre vinha para minha casa depois do expediente. Como era época de prova, ele trazia o material e eu o ajudava nas questões. Na verdade, eu fazia uma garrafa de café e alguma coisa para comer e ficava do seu lado, observando-o estudar, todo concentrado. Lindo, Alex era lindo! Me senti mal pela farsa que eu e Clara criamos, sobre ele ser meu namorado e tal. Mas tudo ficaria bem, eu sabia. Alex tinha o coração de ouro, se porventura descobrisse tudo, ele me perdoaria. Ele tinha que me perdoar, pois eu já não sabia bem como era ter a vida sem ele. Então chegou sábado, Alex tinha ido para o asilo, até me convidou, mas era o dia da promoção no salão de beleza de sua irmã, e hoje, pela manhã, eu já tinha marcado com minha mãe. Metida à rica do jeito que era, obviamente me perguntou se o bairro onde iríamos era seguro e se a cabeleireira usava produtos bons. Soltei um: “Mãe, por favor!”, e ela me deixou em paz e concordou me acompanhar.
— Então você e Alex estão apaixonados um pelo outro? — Clara perguntou, nada surpresa, assim que cheguei em casa. — Siiim! — Exclamei, toda boba. — Amiga, era eu o tempo todo. Clara sorriu. — Ah, disso eu sabia. Por que você acha que não quis dormir contigo terça? Tava na cara que Alex te amava. Só você não via. Me sentei no sofá, ao lado dela, e soltei um suspiro de alívio. Alex não pôde vir comigo, iria ter uma festa beneficente na casa de repouso — eu e Clara fomos convidadas —, e ele teria que ajudar em alguns preparativos. Mas ficou de vir aqui, à noite, depois do expediente. Deixei minha mãe dentro do Uber, com a promessa de me passar uma mensagem quando estivesse no Shopping. Pois é, ela tinha combinado com umas amigas de fazer compras, mesmo eu sabendo que ela não tinha um tostão furado esse mês e iria estourar o cartão de crédito mais uma vez. É, essa é minha mãe. — Eu estou tão feliz — comentei, empolgada —, nunca me senti tão completa. — Você m
— Do tamanho de uma régua? — Clara perguntou, abismada, na tarde de domingo. Tinha sido escalada para trabalhar esse final de semana. Ponderei por alguns instantes. — Humm, talvez um pouquinho menor. Só um pouquinho. — Maior que a do Pedro? Alarguei o sorriso. — Sim. Clara tapou a boca, embasbacada. — Meu Deus, Zoe, você é uma guerreira! Eu ri e apoiei os cotovelos em cima da mesa. Estávamos num restaurante, próximo do seu trabalho, por volta de meio-dia e meia, horário do almoço dela. — E aí, dando muitos matches no Tinder? — Eu perguntei. Clara desviou o olhar para o prato. — Alguns. — respondeu, meio vaga. — Mas tem um em especial. — Ah, que bom! Deixa eu ver a foto dele? — Err... — olhou para o relógio em seu pulso —, meu horário de almoço acabou, Zoe. Vou nessa! Levantou-se depressa e saiu, me deixando sozinha. Fiquei sem entender nada, já que Clara nunca tinha feito algo parecido.Paguei a conta, peguei minha bolsa, e também saí.