— Faltam menos de vinte dias pro casamento da Anelise — Clara apontou, enquanto despachava um cliente —, vai mesmo levar o Alex? Manter a farsa e tudo mais? Soltei um longo e pesaroso suspiro. — Não tem outro jeito — falei, encostada no balcão. — Zoe — ela chamou, preocupada —, desde que fomos assaltadas aqui, você tomou trauma desse lugar. E agora me aparece em plena segunda-feira, antes das oito da manhã. O que tá pegando? — Não sei — respondi, sincera —, eu realmente não sei. — Então descubra. — E se eu não gostar da resposta? Clara me encarou por alguns segundos, em seguida, também suspirou. — Então você conta uma mentira pro seu coração, até ele acreditar que é verdade. Eu ri. — Amanhã é sua folga? — É — respondeu —, a gente pode combinar alguma coisa. Mas primeiro você tem que fazer minha sobrancelha. Você tem mãos de fada. — Vou começar a cobrar — brinquei. Quando olhei para minha amiga, percebi que seu semblante estava iluminado, como se
— E aí, Alex, Zoe me contou que você é apaixonado por uma garota. — Clara! — Eu a repreendi, cutucando-a. — Assim Alex vai pensar que sou fofoqueira. Ele riu, sem graça, ao meu lado. — Conta pra gente quem é, Ruan — ela pediu e eu senti vontade de esganá-la. — Ih, Clarinha, isso é segredo de estado — falou Ruan, com a cabeça deitada no colo da fuxiqueira da minha amiga. Estávamos sentados no chão da sala, tínhamos acabado de assistir Feel The Beat e agora comíamos comida japonesa que pedimos no Ifood. — Ela deve ser muito especial — eu comentei, enciumada. — Pena que ela é cega — falou Ruan e recebeu um olhar furioso do amigo. Fiquei sem entender nada. — Eu nunca me apaixonei de verdade — Clara disse, de repente. — Como você se sente, Alex? — Clara, hoje você está impossível — resmunguei, não queria ouvir resposta. — Bem, eu sinto vontade de estar com ela todos os dias se assim fosse possível. É possível, afinal ela é sua chefe!Pensei em falar,
Os dias seguintes foram normais. Alex, sempre vinha para minha casa depois do expediente. Como era época de prova, ele trazia o material e eu o ajudava nas questões. Na verdade, eu fazia uma garrafa de café e alguma coisa para comer e ficava do seu lado, observando-o estudar, todo concentrado. Lindo, Alex era lindo! Me senti mal pela farsa que eu e Clara criamos, sobre ele ser meu namorado e tal. Mas tudo ficaria bem, eu sabia. Alex tinha o coração de ouro, se porventura descobrisse tudo, ele me perdoaria. Ele tinha que me perdoar, pois eu já não sabia bem como era ter a vida sem ele. Então chegou sábado, Alex tinha ido para o asilo, até me convidou, mas era o dia da promoção no salão de beleza de sua irmã, e hoje, pela manhã, eu já tinha marcado com minha mãe. Metida à rica do jeito que era, obviamente me perguntou se o bairro onde iríamos era seguro e se a cabeleireira usava produtos bons. Soltei um: “Mãe, por favor!”, e ela me deixou em paz e concordou me acompanhar.
— Então você e Alex estão apaixonados um pelo outro? — Clara perguntou, nada surpresa, assim que cheguei em casa. — Siiim! — Exclamei, toda boba. — Amiga, era eu o tempo todo. Clara sorriu. — Ah, disso eu sabia. Por que você acha que não quis dormir contigo terça? Tava na cara que Alex te amava. Só você não via. Me sentei no sofá, ao lado dela, e soltei um suspiro de alívio. Alex não pôde vir comigo, iria ter uma festa beneficente na casa de repouso — eu e Clara fomos convidadas —, e ele teria que ajudar em alguns preparativos. Mas ficou de vir aqui, à noite, depois do expediente. Deixei minha mãe dentro do Uber, com a promessa de me passar uma mensagem quando estivesse no Shopping. Pois é, ela tinha combinado com umas amigas de fazer compras, mesmo eu sabendo que ela não tinha um tostão furado esse mês e iria estourar o cartão de crédito mais uma vez. É, essa é minha mãe. — Eu estou tão feliz — comentei, empolgada —, nunca me senti tão completa. — Você m
— Do tamanho de uma régua? — Clara perguntou, abismada, na tarde de domingo. Tinha sido escalada para trabalhar esse final de semana. Ponderei por alguns instantes. — Humm, talvez um pouquinho menor. Só um pouquinho. — Maior que a do Pedro? Alarguei o sorriso. — Sim. Clara tapou a boca, embasbacada. — Meu Deus, Zoe, você é uma guerreira! Eu ri e apoiei os cotovelos em cima da mesa. Estávamos num restaurante, próximo do seu trabalho, por volta de meio-dia e meia, horário do almoço dela. — E aí, dando muitos matches no Tinder? — Eu perguntei. Clara desviou o olhar para o prato. — Alguns. — respondeu, meio vaga. — Mas tem um em especial. — Ah, que bom! Deixa eu ver a foto dele? — Err... — olhou para o relógio em seu pulso —, meu horário de almoço acabou, Zoe. Vou nessa! Levantou-se depressa e saiu, me deixando sozinha. Fiquei sem entender nada, já que Clara nunca tinha feito algo parecido.Paguei a conta, peguei minha bolsa, e também saí.
A noite de domingo tinha sido incrível. Pessoalmente Laura era ainda mais linda. Foi super simpática e atenciosa comigo, e me contou, toda empolgada, sobre como conheceu Augusto, seu namorado. Aconteceu numa noite de Natal, quando ela, por engano, entrou no baile errado e Augusto a confundiu com a atriz que iria interpretar a Cinderela em sua festa temática. Apaixonaram-se instantaneamente. Antes de irmos embora, quando Alex estava conversando com os colegas de trabalho, Laura me chamou discretamente. — Alex é um bom homem, Zoe. Por favor, não o machuque. — Não vou — assegurei. Era uma promessa muito grande, principalmente depois da mentira que Clara contou no dia em que almoçamos na casa de tia Marta, sobre Alex ser meu namorado, muito antes de isso se tornar real. E eu, ao invés de desmentir toda essa história, contribuí com a farsa e me aproximei dele cheia de segundas intenções. Assim que chegamos em casa, Alex comentou que eu estava muito calada. Eu o enc
No dia seguinte eu e Alex fomos para o Recanto Feliz, visitar a casa de repouso e ajudar na ornamentação para a festa beneficente que ocorreria dentro de algumas semanas. Eu estava pintando uma das paredes desgastadas, quando meu celular tocou.Estranhei ao ver o rosto da minha prima estampado na tela do celular, mas atendi mesmo assim. Podia ter acontecido alguma coisa. Tipo um raio ter caído em sua casa e eu ser a única pessoa que poderia ajuda-la, por exemplo. — Oi — falei, num tom seco. — Oi, Zoe — sua voz não tinha emoção também, era prática demais —, liguei para confirmar sua presença em meu jantar de noivado amanhã. Ah, é, a droga do jantar. — Será no Spadoletto, às oito da noite — continuou. — Vai ser só pra família, mas você pode levar a Clara e seu namorado, se ainda estiver com ele é claro. Enfim, é algo bem simples mesmo.Simples? Num dos restaurantes mais caros e chiques da cidade? Ah, me poupe, Anelise! — Entendi. Estaremos lá. Tchau. — Espe
Ontem, entreguei vovó intacta e super satisfeita ao meu tio, que jurou de pé junto que foi um contratempo e que aquilo não iria mais ocorrer. Mas pelo jeito que dona Alma reagiu ao ser esquecida na casa de Stripper onde Simone trabalha, acredito que sua visita lá será bastante corriqueira. Agora, aqui estava eu, abrindo e fechando as portas do guarda-roupa, à procura de algo para vestir no jantar de noivado de Anelise. Como eu pude esquecer desse bendito evento?!Alex pediu folga na pizzaria para me acompanhar. Clara estava na sala, me esperando, toda arrumada. — Você vai morar aí? — Ela gritou, estava ansiosa e impaciente. Nem queria ir ao restaurante, mas eu implorei tanto que ela acabou cedendo. Chegou aqui e se sentou no sofá, nem mexeu no celular nem nada, o que era bem estranho, já que desde que deu match com o tal carinha do Tinder, ela não parava de falar com ele. — Não estou achando nada pra vestir. Vem me ajudar. — Não tem nada de novo que possa usar?