Tive alta no sábado à tarde. Eros foi me ver ontem, mas eu disse ao médico que estava cansada demais para receber visitas. Era mentira, obviamente. Eu não queria vê-lo, não queria ouvir o quanto Alícia era foda, linda e boa de cama. Não queria que ele me dissesse que eu seria madrinha de um dos seus filhos futuramente. Eu já estava sofrendo demais, tinha perdido minha prima, a dor que sentia em relação a isso era incalculável. Então guardei todas essas questões de Eros numa gaveta e fui agindo no automático. — Antes de descermos — disse Maya, enquanto parava o carro em frente à minha casa — quero que saiba que eu sinto muito pela Adrielle. — Obrigada, May. Minha amiga me ajudou a subir as escadas. Ao abrir a porta, me deparei com mamãe, papai, Jass, Eros e Alícia (Argh!). Quando me viram, bateram palmas, ao redor deles tinha um bolo e uma placa de boas-vindas. — Querida — falou mamãe, abraçando-me —, você está bem? Fisicamente, sim. Emocionalmente, não. Mas como
Na terça eu me levantei, o sonho com Adrielle me fez ter uma força que eu sequer sabia que tinha. Tomei café com mamãe e Jass e me aprontei para ir comprar as coisas que faltavam para montar meu estúdio. Eros me acompanhou, mesmo eu dizendo que não precisava. Não falei muito, só respondia o que ele perguntava, e isso bastava. — O que tá havendo, Jasmim? Por que você está tão estranha comigo? — ele perguntou, quando paramos no portão de casa. — Não quero falar sobre isso agora. — E quando vai ser? Porra, Jasmim, que diabos eu fiz pra você? — Você arranjou outra! — Gritei. —Enquanto eu estava na porcaria de uma cama de hospital, você estava saindo com uma mulher que conheceu no Tinder. — Gatinha... — Não, Eros, não me chame assim. — Eu te conheço, sei que tem mais alguma coisa te incomodando. O que é, Jasmim? — Não importa. Você me magoou, Eros. Você me magoou. Dei as costas e subi o primeiro degrau. — Eu estou bem. Como minha melhor a
25 de Dezembro de 2058 Jasmim Prince abriu, vagarosamente, os olhos. Onde estava o quarto de hospital onde ela se internou devido a um câncer de pulmão? Ela parecia estar... Numa casa? — Gatinha. — Chamou Eros, preocupado —, você está bem? — O que você está fazendo aqui? — O que um marido faz quando sua esposa desmaia na sala de casa? — Brincou ele. — O que aconteceu? — Você desmaiou de repente, o médico disse que sua pressão baixou. Ela sempre é baixa, desde sua gravidez. — Gravidez? — Sim. Você não lembra de nada? Não queria preocupá-lo, então ficou em silêncio. Eros depositou um beijo em sua testa e disse que precisava avisar à Adrielle que ela estava bem. Adrielle não tinha falecido? — E aí, como foi voltar para o futuro? A dona da pergunta era uma garota de cabelos roxos, roupas coloridas e meias listradas. — Quem é você? Sou Valência, seu anjo da guarda. Não se preocupe, eu congelei o tempo e ninguém pode nos ouvir.
25 de Dezembro de 2025 Eu estava em meu quarto, deitada por conta da cólica, quando, de repente, um papel surgiu em cima da cama. Eu o peguei, receosa. Era uma carta. De Jass. Ai. Meu. Deus. Eu a abri e comecei a ler. “Queria Jasmim Escrevo essa carta para te agradecer. Por sua causa, eu fui — e sou — uma mulher feliz e realizada. Eu e Eros somos felizes, nossa filha é linda, inteligente e sábia. Quando estive aí, eu tinha acabado de sair de um hospital, onde eu estava morrendo por conta de um câncer. E você nos salvou. Não há palavras pra expressar minha gratidão. Continue ouvindo seu coração, a gente vai longe. Amo você, minha querida, seja feliz daí, que eu serei daqui. Com todo meu amor; Jass.” A carta se dissipou em minhas mãos, virando uma espécie de poeira mágica. Fiquei tão feliz por saber que Jass estava bem. Como se percebesse isso, minha filha chutou em minha barriga, me fazendo rir. — Dinda! — Maria chamou da sala. A muito custo, me
“ — Se não consegue enxergar a imensidão do meu amor, se não consegue ler em meus olhos o quão forte são meus sentimentos por você, então, sinto muito em te dizer isso, mas és um completo babaca.” (Perdidos no amor, Violet Monteiro) ***01 — Sinto muito, Zoe. Acabou. — Mas... — Não concluí a frase, não sabia o que dizer. As lágrimas ensoparam meus olhos e meu estômago embrulhou de repente.Tudo bem que a coisa toda era recente, eu e Pedro estávamos juntos há seis meses apenas, mas, poxa vida, eu iria apresentá-lo para minha família, no dia dos namorados, dia em que minha adorável prima resolvera se casar.Veja bem, eu não a odiava, mas ela sempre dava um jeito de desdenhar de mim. Anelise era uma mulher independente, bem-sucedida na área profissional (dona de uma confeitaria renomada), e agora, no âmbito amoroso também, já que Vicente, seu noivo e futuro marido, era um verdadeiro príncipe.Pelo menos era isso que minha mãe me dizia toda vez que
— Trocar de dentista? — Perguntei para Clara, assim que ela entrou feito tempestade em minha casa.As bochechas vermelhas e os olhos inchados indicavam que ela havia chorado. — O Alessandro é gay! Gay! — Sério? Tem certeza? — Gritei da cozinha, estava ocupada lavando os pratos.Ela veio em minha direção e sentou-se no banco vermelho, atrás da bancada de azulejo branco. — Zoe, eu estava lá naquela maldita cadeira, com a boca escancarada, e o cara simplesmente me fala que, caso eu tivesse algum amigo para apresentar para ele, que não me acanhasse. — Que merda! Clara soltou um gemido e debruçou a cabeça sobre os braços. — Amiga, não fica assim — aconselhei —, vá à minha dentista se quiser. Maria Eduarda é uma das melhores da cidade, ela foi aprendiz do senhor Aristeu, pelo que eu pesquisei, o cara é foda. — É, vou pensar. E o seu dia, como foi?Fechei a torneira, peguei o rodinho de pia e comecei a secá-la. — Uma merda — respondi, concentrada em minha tarefa —
— Corta essa, nem todos são assim — Alex contrapôs, aceitando a taça de vinho que eu lhe entregava. Mas antes, prometeu que só tomaria uma garrafa, para me acompanhar. — São sim — discordei, sorvendo mais um gole da bebida —, uns verdadeiros pilantras, safados, sem coração.Estávamos no tapete da sala, dividindo uma pizza de calabresa — a favorita da Clara que, nos braços de Alex, foi levada ainda dormindo para o quarto ao lado do meu. — Você só diz isso porque... — Fui largada — completei. — Desculpa, eu não tive a intenção de te magoar. — Tudo bem, Alex, uma hora eu tenho que aceitar. — Você consegue. — Obrigada. E você, tem namorada? — Tive. Mas não durou muito tempo.Me virei para ele. — Por quê?Alex coçou a cabeça, meio sem jeito, e desviou o olhar para o chão. — Eu sempre fui apaixonado por outra — contou baixinho. — Ela corresponde?Então ele olhou para mim e sorriu. — Não tenho tanta sorte, Zoe.Não soube o que dizer, só fiquei ali
Vovó e vovô tiveram três filhos: Tia Marta, minha mãe e tio Alfredo.Tia Marta se casou com Osvaldo; um empresário rico, dono de uma rede de eletrodomésticos e completamente babaca. Com ele, teve Anelise e Júnior. Júnior se casou com uma dondoca chamada Martina, eles estavam juntos desde o colegial.Minha mãe conheceu meu pai num baile dos anos 80. Ele era músico e ela; professora. Só tiveram a mim como filha.Tio Alfredo — Deus sabe como — era um tremendo galinha, não casou nem teve filhos, e, mesmo com quarenta e nove anos, não saiu da casa dos pais.Vovô faleceu quando eu tinha dezesseis anos. Vovó seguia intacta, com seus oitenta e dois anos de idade, vivia sob os cuidados de tio Alfredo e sua namorada da vez — uma stripper mega loira, magra e peituda, que abeirava os quarenta e cinco anos.E, falando sério, tio Alfredo era feio de doer. Como conseguia essas namoradas? Tá aí um grande mistério.Resumindo, essa era a minha família materna.Bati na porta, inquieta. Para minha