Puta que pariu! Anelise estava grávida... De outro. Isso era tão inacreditável. Quer dizer, ela ia se casar com Vicente semana que vem! Ouvimos uma batida na porta ao lado e resolvemos sair. Não tinha ninguém por ali, só eu, Clara, e minha prima em total histeria. — O que eu vou fazer, meu Deus? O que eu vou fazer? — Ela se perguntava, exasperada, indo de um lugar a outro. — Você precisa se recompor primeiro — Clara aconselhou, e eu concordei com ela. — Tem um jantar de noivado acontecendo, e ele é seu. Ela riu, sarcástica. — Que se dane esse jantar! Eu não posso perder o Ronaldo. Eu não posso. Vocês não entendem, eu o amo demais. — Quem é Ronaldo? — Eu quis saber. Anelise suspirou, mortificada. — Meu funcionário. Ele é confeiteiro. Enquanto Vicente é um empresário fodão. — Então é isso que te impede de ficar com ele? — Eu não ligo, Zoe. Mas meus pais, ah, tudo que importa pra eles é o status e a pose de que somos a família perfeita. Às vezes eu q
Dia 12 cairia num domingo. Anelise não desistiu do casamento, apesar de toda a pressão que vinha recebendo. Confessou que não era tão corajosa como aparentava ser. Eu também não era. Se fosse, já teria dito para Alex sobre toda a farsa criada em torno do nosso namoro. Eu tentei, juro. Nos dias seguintes ao do aniversário de Ruan, eu começava com: “Preciso te contar uma coisa.” Então Alex me olhava com aquele tipo de olhar que desnudava meu corpo e parecia ler minha alma e toda a coragem que eu tinha adquirido se evaporava por completo. Eu não podia perdê-lo. Mas também não podia continuar com esse segredo dentro de mim. Às vezes, olhar para ele e fingir que estava tudo bem me custava caro demais. Ele percebia. Alex sabia que nem tudo estava legal. Contudo, ao invés de me encurralar contra a parede, ele me abraçava bem apertado, cessando todos os meus medos. Eu não o merecia. Tinha consciência disso. E se eu fosse corajosa o suficiente, deixaria Alex ir. Mas o amo
Ao contrário do que imaginei, o casamento de Anelise e Vicente não foi cancelado. Tentei falar com ela, dizer que não havia sido eu que contara para minha mãe aquele seu segredo. Só que a bendita me bloqueou de todas as redes sociais, então, só me restava comparecer à cerimônia, na cara dura, para lhe explicar toda a situação. Era minha única chance. E, já que toquei no nome de minha mãe, liguei para ela nessa manhã de sábado, e acabei descobrindo que havia feito uma viagem para o Rio. Pelo que me disse, seria algo rápido, voltaria no começo da próxima semana. Pedi para que contasse à Anelise toda a verdade, mas ela também tinha sido bloqueada. — Tem certeza que vai ao casamento? — Clara perguntou, do outro lado da linha. — Não vejo outra saída, Clara — respondi, jogando o corpo no sofá. — Por que se importa tanto, Zoe? Não foi você quem contou e ponto. Soltei um suspiro. — Gostei de ter feito as pazes com Anelise — confessei —, no fundo, acho que estava eng
À noite, Alex não veio me ver. Achei estranho, mas como não queria parecer uma namorada grudenta, deixei para ligar hoje pela manhã. Depois, me arrependi por ter esperado o dia seguinte, pois podia ter acontecido algo, já que não era de seu costume deixar de passar em casa depois do expediente. Então, quando ele me atendeu, o aperto em meu peito se dissipou, e uma onda de alívio me preencheu. Alex estava bem. Pelo menos era o que eu achava. — Oi — sua voz saiu seca, fria. — Oi — eu disse, com um súbito desconforto —, tá tudo bem? Você não veio me ver ontem nem mandou mensagem. — Não deu, desculpe. — Tá tudo bem mesmo? — Tá. — Hoje é o casamento de Anelise. Você está lembrado? — Nem se eu morresse me esqueceria dele. — Respondeu, sarcástico. —Preciso desligar, Zoe. Nos vemos mais tarde. Meu coração descompassou-se pela maneira como ele falou comigo. Tinha algo de errado, Alex não era assim. Ou será que o encanto tinha acabado? Deus, não! Até ontem
A igreja estava lotada, mal achamos lugar para sentar. Vicente esperava Anelise, aparentemente ansioso. Em seu lado direito estavam seus pais e Júnior — seu padrinho. No seu lado esquerdo; tia Marta e uma amiga de minha prima que eu não lembrava bem o nome agora. Julie...? Alice...? Lili...? Como ela se chamava mesmo? Ah, tenho coisas mais importantes para me preocupar. Tipo meu namoro, por exemplo. Alex permanecia calado, frio e distante. Sentou-se ao meu lado, quieto. Clara e Ruan conversavam, alheios ao clima tenso que se instalou entre nós dois. Alex segurou em minha mão, e aquela eletricidade que surgia toda vez que ele me tocava perpassou por meu corpo inteiro, alojando-se em meu coração. Não me deixe. Eu não sei viver sem você. Com muita tristeza, tirei minha mão da sua. Me atrevi a olhar para ele e notei que seus olhos estavam úmidos. Aquilo me quebrou, me deixou desolada e destruída. Alex estava sofrendo. Eu não queria vê-lo assim. Deus, eu não sup
Clara mandou mensagem avisando que não voltaria com a gente. Ruan chamou um Uber e foi embora mais cedo, pois tinha que trabalhar no dia seguinte. Então restou só eu e Alex. E um abismo gigantesco entre nós. A volta também foi desconfortável, o silêncio que se instalou dentro do carro me deixou apreensiva, triste e com um baita nó tapando minha garganta. Alex ligou o som e, por o destino ser tão cruel às vezes, a música que tocou foi a mesma que dançamos no dia do churrasco, em sua casa. Soltei um longo e pesaroso suspiro. — Acho melhor eu mudar — avisou. — Se importa?Senti um frio incômodo na barriga. A ansiedade tomou conta de mim, as lágrimas, que eu tanto havia segurado, ameaçavam escapulir dos meus olhos. — Tanto faz — respondi e ele trocou de estação. Seguimos sem dizer nada, e isso destroçou minha alma. Alex embicou o carro em frente à minha casa, uma mistura de alívio e medo me invadiu. Desci, com as pernas trêmulas. Quando eu estava prestes a abrir a
Não consegui pregar o olho um minuto sequer. A dor era sufocante, dilacerante. Lágrimas desciam, uma por uma, e eu, encolhida em posição fetal, abraçada ao travesseiro, revivia os bons momentos que tive com Alex. Não tinha esperanças de tê-lo de volta, ele deixou bem claro que não me perdoaria, nada que eu fizesse o traria novamente para mim. Era o fim. E doía tanto, mas tanto. Quando os raios de sol incidiram pela janela, indicando que já havia amanhecido, eu me levantei. Desconsolada, escovei os dentes e fui preparar o café. Por dentro, eu sentia que tudo em mim estava despedaçado, destruído e quebrado. Ninguém, ninguém mesmo, ocuparia o lugar de Alex em meu coração. Era dele, somente dele. Não tinha a menor chance de eu amar outro homem. Amar Alex — um rapaz honesto, bom, carinhoso e gentil —, foi uma dádiva. Eu não iria esquecê-lo, nem se eu quisesse seria capaz disso. Alex foi minha calmaria em meio ao caos. Não dava para simplesmente ignorar ou fingir que n
Clara, como era de se esperar, tentou fazer de tudo para eu me sentir bem. Fez meu macarrão favorito — com muito queijo, creme de leite e camarão —, colocou um filme de terror para assistirmos e até quis dispensar o Júnior mais cedo, para me dar seu colo que eu tanto necessitava. Contudo, eu não deixei. Já me sentia péssima invadindo a privacidade dos dois, além do mais, não tinha nada que ela fizesse nesse momento que dizimasse a dor que eu estava sentindo por perder Alex. Portanto, quando Clara propôs que brincássemos de adedanha eu aceitei, estava fazendo de tudo para tornar o clima um pouco mais agradável, mesmo que por dentro, eu sentisse que tudo estava quebrado em mim. — Que saco — minha amiga resmungou —, não tô achando nenhuma novela com a letra P. — Eu também tô nesse impasse — disse Júnior —, nunca fui de ver novelas. — Stop! — Gritei, virando uma taça de vinho. — E a propósito, marquei como novela Páginas da Vida. Clara, eu esperava mais de você. — Es