À noite, Alex não veio me ver. Achei estranho, mas como não queria parecer uma namorada grudenta, deixei para ligar hoje pela manhã. Depois, me arrependi por ter esperado o dia seguinte, pois podia ter acontecido algo, já que não era de seu costume deixar de passar em casa depois do expediente. Então, quando ele me atendeu, o aperto em meu peito se dissipou, e uma onda de alívio me preencheu. Alex estava bem. Pelo menos era o que eu achava. — Oi — sua voz saiu seca, fria. — Oi — eu disse, com um súbito desconforto —, tá tudo bem? Você não veio me ver ontem nem mandou mensagem. — Não deu, desculpe. — Tá tudo bem mesmo? — Tá. — Hoje é o casamento de Anelise. Você está lembrado? — Nem se eu morresse me esqueceria dele. — Respondeu, sarcástico. —Preciso desligar, Zoe. Nos vemos mais tarde. Meu coração descompassou-se pela maneira como ele falou comigo. Tinha algo de errado, Alex não era assim. Ou será que o encanto tinha acabado? Deus, não! Até ontem
A igreja estava lotada, mal achamos lugar para sentar. Vicente esperava Anelise, aparentemente ansioso. Em seu lado direito estavam seus pais e Júnior — seu padrinho. No seu lado esquerdo; tia Marta e uma amiga de minha prima que eu não lembrava bem o nome agora. Julie...? Alice...? Lili...? Como ela se chamava mesmo? Ah, tenho coisas mais importantes para me preocupar. Tipo meu namoro, por exemplo. Alex permanecia calado, frio e distante. Sentou-se ao meu lado, quieto. Clara e Ruan conversavam, alheios ao clima tenso que se instalou entre nós dois. Alex segurou em minha mão, e aquela eletricidade que surgia toda vez que ele me tocava perpassou por meu corpo inteiro, alojando-se em meu coração. Não me deixe. Eu não sei viver sem você. Com muita tristeza, tirei minha mão da sua. Me atrevi a olhar para ele e notei que seus olhos estavam úmidos. Aquilo me quebrou, me deixou desolada e destruída. Alex estava sofrendo. Eu não queria vê-lo assim. Deus, eu não sup
Clara mandou mensagem avisando que não voltaria com a gente. Ruan chamou um Uber e foi embora mais cedo, pois tinha que trabalhar no dia seguinte. Então restou só eu e Alex. E um abismo gigantesco entre nós. A volta também foi desconfortável, o silêncio que se instalou dentro do carro me deixou apreensiva, triste e com um baita nó tapando minha garganta. Alex ligou o som e, por o destino ser tão cruel às vezes, a música que tocou foi a mesma que dançamos no dia do churrasco, em sua casa. Soltei um longo e pesaroso suspiro. — Acho melhor eu mudar — avisou. — Se importa?Senti um frio incômodo na barriga. A ansiedade tomou conta de mim, as lágrimas, que eu tanto havia segurado, ameaçavam escapulir dos meus olhos. — Tanto faz — respondi e ele trocou de estação. Seguimos sem dizer nada, e isso destroçou minha alma. Alex embicou o carro em frente à minha casa, uma mistura de alívio e medo me invadiu. Desci, com as pernas trêmulas. Quando eu estava prestes a abrir a
Não consegui pregar o olho um minuto sequer. A dor era sufocante, dilacerante. Lágrimas desciam, uma por uma, e eu, encolhida em posição fetal, abraçada ao travesseiro, revivia os bons momentos que tive com Alex. Não tinha esperanças de tê-lo de volta, ele deixou bem claro que não me perdoaria, nada que eu fizesse o traria novamente para mim. Era o fim. E doía tanto, mas tanto. Quando os raios de sol incidiram pela janela, indicando que já havia amanhecido, eu me levantei. Desconsolada, escovei os dentes e fui preparar o café. Por dentro, eu sentia que tudo em mim estava despedaçado, destruído e quebrado. Ninguém, ninguém mesmo, ocuparia o lugar de Alex em meu coração. Era dele, somente dele. Não tinha a menor chance de eu amar outro homem. Amar Alex — um rapaz honesto, bom, carinhoso e gentil —, foi uma dádiva. Eu não iria esquecê-lo, nem se eu quisesse seria capaz disso. Alex foi minha calmaria em meio ao caos. Não dava para simplesmente ignorar ou fingir que n
Clara, como era de se esperar, tentou fazer de tudo para eu me sentir bem. Fez meu macarrão favorito — com muito queijo, creme de leite e camarão —, colocou um filme de terror para assistirmos e até quis dispensar o Júnior mais cedo, para me dar seu colo que eu tanto necessitava. Contudo, eu não deixei. Já me sentia péssima invadindo a privacidade dos dois, além do mais, não tinha nada que ela fizesse nesse momento que dizimasse a dor que eu estava sentindo por perder Alex. Portanto, quando Clara propôs que brincássemos de adedanha eu aceitei, estava fazendo de tudo para tornar o clima um pouco mais agradável, mesmo que por dentro, eu sentisse que tudo estava quebrado em mim. — Que saco — minha amiga resmungou —, não tô achando nenhuma novela com a letra P. — Eu também tô nesse impasse — disse Júnior —, nunca fui de ver novelas. — Stop! — Gritei, virando uma taça de vinho. — E a propósito, marquei como novela Páginas da Vida. Clara, eu esperava mais de você. — Es
O dia seguiu normalmente. Assisti aula, almocei, ajeitei a casa, reli diversas vezes a mensagem de Ruan e chorei de saudade de Alex. Clara me ligou e perguntou se estava indo tudo bem, eu disse que sim, não queria preocupá-la, ela estava tão feliz com Júnior que eu me sentia mal só de cogitar estragar seu namoro com meus problemas. Ela me disse que Júnior a chamou para passar a folga dela num resort bem pertinho daqui e eu a incentivei a ir. Minha amiga até me chamou, mas eu falei que preferia ficar em casa. Além de não ser de bom tom viajar com um casal recém-formado, eu não me sentia à vontade para sair de casa. À noite, já pronta para me deitar, a campainha tocou. Achando que fosse Clara, fui abrir.Era Pedro. Não senti nada além de surpresa. Não tinha mágoa, não tinha borboletas no estômago, muito menos alegria ao vê-lo. — O que você está fazendo aqui? — Perguntei, espantada. — Fátima me deixou — meu ex namorado disse, tristonho —, eu sei que fui um canalha co
Não tive mais notícias de Alex depois daquela noite. Tentei lhe mandar mensagem, mas ainda estava bloqueada. Talvez eu devesse me conformar, tudo estava perdido, nada que eu fizesse traria Alex de volta para minha vida, eu tinha certeza disso. Clara já havia voltado da viagem e me encheu de fofocas sobre como tudo foi tão perfeito e mágico. Torci, de todo coração, para que ela e meu primo fossem eternamente felizes, já que eu, estava fadada a sofrer. Então decidi focar em minha profissão. Ontem eu fui ao curso presencial, fiz micropigmentação em duas mulheres e o resultado foi muito satisfatório, elas amaram e até pegaram meu contato. Recebi o diploma — que preguei na parede da sala — e conheci alguns colegas bacanas. Voltei para casa contente, disposta a ser uma workaholic e não me envolver com mais nenhum cara. Eu ia ser como Sofia, antes de conhecer Ian Clarke; super focada no trabalho, lendo romances e vendo a melhor amiga se dando bem na área amorosa. Estava decidido;
No dia seguinte, como combinado, fui à feira com minha mãe. Ela me perguntou sobre meu namoro com Alex e eu lhe contei que havíamos rompido. Doía demais dizer isso em voz alta, mas não dava para esconder a verdade. Já havia mentido demais, inclusive. Pedimos dois pasteis e dois copos de caldo de cana. Quando estávamos à mesa, minha mãe soltou um suspiro e esfregou as têmporas. — Sobre o prostituto... — Mãe... — Uma hora alguém teria que tocar no assunto, querida — sorriu, tristonha. — Tudo bem. Pode falar. — Bem, eu o contratei sim, apenas como acompanhante, que fique claro. — Por que fez isso? — Quis saber. — Vergonha. Ego inflado. Solidão. — Você tem a mim. Você sempre teve a mim. — Eu sei. Mas sua tia é terrível, Zoe. Vivemos numa eterna disputa de quem é melhor em tudo. Quando perdi seu pai... — Não fale disso. Não agora. — Eu preciso. Seu pai foi o grande amor da minha vida. Perdê-lo me deixou tão sem rumo, tão vazia. Eu tinha voc