Clara, como era de se esperar, tentou fazer de tudo para eu me sentir bem. Fez meu macarrão favorito — com muito queijo, creme de leite e camarão —, colocou um filme de terror para assistirmos e até quis dispensar o Júnior mais cedo, para me dar seu colo que eu tanto necessitava. Contudo, eu não deixei. Já me sentia péssima invadindo a privacidade dos dois, além do mais, não tinha nada que ela fizesse nesse momento que dizimasse a dor que eu estava sentindo por perder Alex. Portanto, quando Clara propôs que brincássemos de adedanha eu aceitei, estava fazendo de tudo para tornar o clima um pouco mais agradável, mesmo que por dentro, eu sentisse que tudo estava quebrado em mim. — Que saco — minha amiga resmungou —, não tô achando nenhuma novela com a letra P. — Eu também tô nesse impasse — disse Júnior —, nunca fui de ver novelas. — Stop! — Gritei, virando uma taça de vinho. — E a propósito, marquei como novela Páginas da Vida. Clara, eu esperava mais de você. — Es
O dia seguiu normalmente. Assisti aula, almocei, ajeitei a casa, reli diversas vezes a mensagem de Ruan e chorei de saudade de Alex. Clara me ligou e perguntou se estava indo tudo bem, eu disse que sim, não queria preocupá-la, ela estava tão feliz com Júnior que eu me sentia mal só de cogitar estragar seu namoro com meus problemas. Ela me disse que Júnior a chamou para passar a folga dela num resort bem pertinho daqui e eu a incentivei a ir. Minha amiga até me chamou, mas eu falei que preferia ficar em casa. Além de não ser de bom tom viajar com um casal recém-formado, eu não me sentia à vontade para sair de casa. À noite, já pronta para me deitar, a campainha tocou. Achando que fosse Clara, fui abrir.Era Pedro. Não senti nada além de surpresa. Não tinha mágoa, não tinha borboletas no estômago, muito menos alegria ao vê-lo. — O que você está fazendo aqui? — Perguntei, espantada. — Fátima me deixou — meu ex namorado disse, tristonho —, eu sei que fui um canalha co
Não tive mais notícias de Alex depois daquela noite. Tentei lhe mandar mensagem, mas ainda estava bloqueada. Talvez eu devesse me conformar, tudo estava perdido, nada que eu fizesse traria Alex de volta para minha vida, eu tinha certeza disso. Clara já havia voltado da viagem e me encheu de fofocas sobre como tudo foi tão perfeito e mágico. Torci, de todo coração, para que ela e meu primo fossem eternamente felizes, já que eu, estava fadada a sofrer. Então decidi focar em minha profissão. Ontem eu fui ao curso presencial, fiz micropigmentação em duas mulheres e o resultado foi muito satisfatório, elas amaram e até pegaram meu contato. Recebi o diploma — que preguei na parede da sala — e conheci alguns colegas bacanas. Voltei para casa contente, disposta a ser uma workaholic e não me envolver com mais nenhum cara. Eu ia ser como Sofia, antes de conhecer Ian Clarke; super focada no trabalho, lendo romances e vendo a melhor amiga se dando bem na área amorosa. Estava decidido;
No dia seguinte, como combinado, fui à feira com minha mãe. Ela me perguntou sobre meu namoro com Alex e eu lhe contei que havíamos rompido. Doía demais dizer isso em voz alta, mas não dava para esconder a verdade. Já havia mentido demais, inclusive. Pedimos dois pasteis e dois copos de caldo de cana. Quando estávamos à mesa, minha mãe soltou um suspiro e esfregou as têmporas. — Sobre o prostituto... — Mãe... — Uma hora alguém teria que tocar no assunto, querida — sorriu, tristonha. — Tudo bem. Pode falar. — Bem, eu o contratei sim, apenas como acompanhante, que fique claro. — Por que fez isso? — Quis saber. — Vergonha. Ego inflado. Solidão. — Você tem a mim. Você sempre teve a mim. — Eu sei. Mas sua tia é terrível, Zoe. Vivemos numa eterna disputa de quem é melhor em tudo. Quando perdi seu pai... — Não fale disso. Não agora. — Eu preciso. Seu pai foi o grande amor da minha vida. Perdê-lo me deixou tão sem rumo, tão vazia. Eu tinha voc
Um ano se passou desde aquela noite em que Alex me perdoou pra valer.De lá pra cá, tanta coisa aconteceu.Vamos começar do início.Ruan deixou todo o romantismo de lado e virou um pegador master, segundo ele, seu coração estava fechado para estadias curtas ou longas.Clara e Júnior se casaram com dois meses de namoro. Foi uma cerimônia linda, simples, porém muito significativa.Ah, e ela está grávida!Descobriu ontem e eu fui a primeira a saber. Recebi uma mensagem com o teste e duas listinhas vermelhas seguido da frase: “Pronta pra ser madrinha, Zoe?”.Gritei, surtei, desejei os parabéns e já fui pesquisar por roupas de bebê na internet.Tá, acho que apressei um pouco a narrativa, vamos voltar.Já que estava falando sobre gravidez, Anelise, no final do ano passado, deu a luz à um casal de gêmeos: Analu e Romeu.Eles eram uma gracinha. Ela criou um grupo no WhatsApp com o nome: “As três espiãs” e adicionou, além dela, eu e Clara. Nesse grupo tinha de tudo, desde figurinha
“Nada é impossível se você acreditar.” — Era uma vez no Natal, Gisele Pereira — Prólogo 25 de Dezembro de 2058 Deitada numa cama de hospital, estava a velha Jasmim Prince. As mãos, enrugadas, buscavam o fino lençol, para cobrir o corpo tão pesado e pequeno. Era natal. Era dia de celebrar. Mas Jasmim não tinha muito o que comemorar. Não tinha filhos, nem gatos, nem plantas. Não casou. Não teve uma carreira bem sucedida. Não viveu como queria. Já foi muito bonita no passado, mas nunca conseguiu enxergar isso. Se ao menos tivesse como voltar no tempo... — Por favor — murmurou; a voz fraca e tão sem vida — , me dê mais uma chance. E então tudo aconteceu. Uma estrela cadente cruzou o céu, as nuvens se chocaram, causando um estrondo semelhante a um trovão, uma luz potente preencheu aquele quarto tão mórbido, e Jasmim foi levada junto com uma onda magnética e colorida. Somente o zelador viu tudo aquilo, e guardou o momento no coração, que parou de bater sete anos
Dias atuais... 01 Atrasada. Eu estava atrasada! Merda, merda, merda! Por que eu fui beber tanto ontem? Será que eu não me dei conta de que hoje seria segundafeira? Inferno. Ou melhor: INFEEEEEERNO! Sim, o meme da Carminha. Me levantei, ainda zonza, calcei meus saltos, e fui me arrastando até o banheiro. Tive que tapar a boca, tamanho o susto que levei ao abrir a porta. Esticada no chão frio, estava uma senhora, de cabelos brancos, olhos fechados e roupas esquisitas. Eu a conhecia? Não, óbvio que não. Mas, ao me aproximar, senti que havia algo nela semelhante a... Mim? Não, não, eu só podia estar bêbada ainda. Coloquei a mão em seu peito e notei que seu coração batia. Soltei um suspiro de alívio. Eu devia tê-la conhecido ontem, na balada. Era a única explicação plausível que encontrei para justificar aquela situação. É, era isso. A senhora lentamente abriu os olhos. Eram azuis, da cor dos meus, um tipo de arrepio percorreu pelo meu corpo inteir
Eu zanzava de um lado para o outro, sem saber direito o que pensar. O trabalho podia esperar. Ah, uns minutos a mais uns minutos a menos não mataria ninguém, certo? Errado. Mas eu nunca fui tão certinha assim mesmo. — Se você é eu — sério, Jasmim? —, então eu tenho perguntas. — Pode perguntar — ela disse, ajeitando a roupa que parecia de hospital e sentando-se na beirada da cama. Tinha tirado-a do banheiro assim que escovei os dentes e me recuperei do choque ao ver a tatuagem idêntica à minha . — Em que dia, mês e ano eu nasci? — 28 de Dezembro de 1997. — Você pegou minha identidade? — Inquiri, desconfiada. Ela riu. — Não querida, eu não peguei nosso RG. Mentira. Ela tinha pegado. Eu tinha certeza disso. — Minha cor preferida? — Verde. Não um verde qualquer, mas um piscina. — Porque... — Era a cor dos olhos de nossa avó — completou. Me sentei na cama, atordoada. — Quando eu me apaixonei por Eros? Era difícil tocar nesse assu