No dia seguinte eu e Alex fomos para o Recanto Feliz, visitar a casa de repouso e ajudar na ornamentação para a festa beneficente que ocorreria dentro de algumas semanas. Eu estava pintando uma das paredes desgastadas, quando meu celular tocou.Estranhei ao ver o rosto da minha prima estampado na tela do celular, mas atendi mesmo assim. Podia ter acontecido alguma coisa. Tipo um raio ter caído em sua casa e eu ser a única pessoa que poderia ajuda-la, por exemplo. — Oi — falei, num tom seco. — Oi, Zoe — sua voz não tinha emoção também, era prática demais —, liguei para confirmar sua presença em meu jantar de noivado amanhã. Ah, é, a droga do jantar. — Será no Spadoletto, às oito da noite — continuou. — Vai ser só pra família, mas você pode levar a Clara e seu namorado, se ainda estiver com ele é claro. Enfim, é algo bem simples mesmo.Simples? Num dos restaurantes mais caros e chiques da cidade? Ah, me poupe, Anelise! — Entendi. Estaremos lá. Tchau. — Espe
Ontem, entreguei vovó intacta e super satisfeita ao meu tio, que jurou de pé junto que foi um contratempo e que aquilo não iria mais ocorrer. Mas pelo jeito que dona Alma reagiu ao ser esquecida na casa de Stripper onde Simone trabalha, acredito que sua visita lá será bastante corriqueira. Agora, aqui estava eu, abrindo e fechando as portas do guarda-roupa, à procura de algo para vestir no jantar de noivado de Anelise. Como eu pude esquecer desse bendito evento?!Alex pediu folga na pizzaria para me acompanhar. Clara estava na sala, me esperando, toda arrumada. — Você vai morar aí? — Ela gritou, estava ansiosa e impaciente. Nem queria ir ao restaurante, mas eu implorei tanto que ela acabou cedendo. Chegou aqui e se sentou no sofá, nem mexeu no celular nem nada, o que era bem estranho, já que desde que deu match com o tal carinha do Tinder, ela não parava de falar com ele. — Não estou achando nada pra vestir. Vem me ajudar. — Não tem nada de novo que possa usar?
Puta que pariu! Anelise estava grávida... De outro. Isso era tão inacreditável. Quer dizer, ela ia se casar com Vicente semana que vem! Ouvimos uma batida na porta ao lado e resolvemos sair. Não tinha ninguém por ali, só eu, Clara, e minha prima em total histeria. — O que eu vou fazer, meu Deus? O que eu vou fazer? — Ela se perguntava, exasperada, indo de um lugar a outro. — Você precisa se recompor primeiro — Clara aconselhou, e eu concordei com ela. — Tem um jantar de noivado acontecendo, e ele é seu. Ela riu, sarcástica. — Que se dane esse jantar! Eu não posso perder o Ronaldo. Eu não posso. Vocês não entendem, eu o amo demais. — Quem é Ronaldo? — Eu quis saber. Anelise suspirou, mortificada. — Meu funcionário. Ele é confeiteiro. Enquanto Vicente é um empresário fodão. — Então é isso que te impede de ficar com ele? — Eu não ligo, Zoe. Mas meus pais, ah, tudo que importa pra eles é o status e a pose de que somos a família perfeita. Às vezes eu q
Dia 12 cairia num domingo. Anelise não desistiu do casamento, apesar de toda a pressão que vinha recebendo. Confessou que não era tão corajosa como aparentava ser. Eu também não era. Se fosse, já teria dito para Alex sobre toda a farsa criada em torno do nosso namoro. Eu tentei, juro. Nos dias seguintes ao do aniversário de Ruan, eu começava com: “Preciso te contar uma coisa.” Então Alex me olhava com aquele tipo de olhar que desnudava meu corpo e parecia ler minha alma e toda a coragem que eu tinha adquirido se evaporava por completo. Eu não podia perdê-lo. Mas também não podia continuar com esse segredo dentro de mim. Às vezes, olhar para ele e fingir que estava tudo bem me custava caro demais. Ele percebia. Alex sabia que nem tudo estava legal. Contudo, ao invés de me encurralar contra a parede, ele me abraçava bem apertado, cessando todos os meus medos. Eu não o merecia. Tinha consciência disso. E se eu fosse corajosa o suficiente, deixaria Alex ir. Mas o amo
Ao contrário do que imaginei, o casamento de Anelise e Vicente não foi cancelado. Tentei falar com ela, dizer que não havia sido eu que contara para minha mãe aquele seu segredo. Só que a bendita me bloqueou de todas as redes sociais, então, só me restava comparecer à cerimônia, na cara dura, para lhe explicar toda a situação. Era minha única chance. E, já que toquei no nome de minha mãe, liguei para ela nessa manhã de sábado, e acabei descobrindo que havia feito uma viagem para o Rio. Pelo que me disse, seria algo rápido, voltaria no começo da próxima semana. Pedi para que contasse à Anelise toda a verdade, mas ela também tinha sido bloqueada. — Tem certeza que vai ao casamento? — Clara perguntou, do outro lado da linha. — Não vejo outra saída, Clara — respondi, jogando o corpo no sofá. — Por que se importa tanto, Zoe? Não foi você quem contou e ponto. Soltei um suspiro. — Gostei de ter feito as pazes com Anelise — confessei —, no fundo, acho que estava eng
À noite, Alex não veio me ver. Achei estranho, mas como não queria parecer uma namorada grudenta, deixei para ligar hoje pela manhã. Depois, me arrependi por ter esperado o dia seguinte, pois podia ter acontecido algo, já que não era de seu costume deixar de passar em casa depois do expediente. Então, quando ele me atendeu, o aperto em meu peito se dissipou, e uma onda de alívio me preencheu. Alex estava bem. Pelo menos era o que eu achava. — Oi — sua voz saiu seca, fria. — Oi — eu disse, com um súbito desconforto —, tá tudo bem? Você não veio me ver ontem nem mandou mensagem. — Não deu, desculpe. — Tá tudo bem mesmo? — Tá. — Hoje é o casamento de Anelise. Você está lembrado? — Nem se eu morresse me esqueceria dele. — Respondeu, sarcástico. —Preciso desligar, Zoe. Nos vemos mais tarde. Meu coração descompassou-se pela maneira como ele falou comigo. Tinha algo de errado, Alex não era assim. Ou será que o encanto tinha acabado? Deus, não! Até ontem
A igreja estava lotada, mal achamos lugar para sentar. Vicente esperava Anelise, aparentemente ansioso. Em seu lado direito estavam seus pais e Júnior — seu padrinho. No seu lado esquerdo; tia Marta e uma amiga de minha prima que eu não lembrava bem o nome agora. Julie...? Alice...? Lili...? Como ela se chamava mesmo? Ah, tenho coisas mais importantes para me preocupar. Tipo meu namoro, por exemplo. Alex permanecia calado, frio e distante. Sentou-se ao meu lado, quieto. Clara e Ruan conversavam, alheios ao clima tenso que se instalou entre nós dois. Alex segurou em minha mão, e aquela eletricidade que surgia toda vez que ele me tocava perpassou por meu corpo inteiro, alojando-se em meu coração. Não me deixe. Eu não sei viver sem você. Com muita tristeza, tirei minha mão da sua. Me atrevi a olhar para ele e notei que seus olhos estavam úmidos. Aquilo me quebrou, me deixou desolada e destruída. Alex estava sofrendo. Eu não queria vê-lo assim. Deus, eu não sup
Clara mandou mensagem avisando que não voltaria com a gente. Ruan chamou um Uber e foi embora mais cedo, pois tinha que trabalhar no dia seguinte. Então restou só eu e Alex. E um abismo gigantesco entre nós. A volta também foi desconfortável, o silêncio que se instalou dentro do carro me deixou apreensiva, triste e com um baita nó tapando minha garganta. Alex ligou o som e, por o destino ser tão cruel às vezes, a música que tocou foi a mesma que dançamos no dia do churrasco, em sua casa. Soltei um longo e pesaroso suspiro. — Acho melhor eu mudar — avisou. — Se importa?Senti um frio incômodo na barriga. A ansiedade tomou conta de mim, as lágrimas, que eu tanto havia segurado, ameaçavam escapulir dos meus olhos. — Tanto faz — respondi e ele trocou de estação. Seguimos sem dizer nada, e isso destroçou minha alma. Alex embicou o carro em frente à minha casa, uma mistura de alívio e medo me invadiu. Desci, com as pernas trêmulas. Quando eu estava prestes a abrir a