Guilherme narrando :No cartório, eu tava resolvendo algumas pendências da empresa, assinatura de contrato, atualização de procurações, aquela burocracia toda que ninguém gosta, mas que faz parte de manter tudo nos trilhos.Enquanto o funcionário carimbava os documentos, minha cabeça tava longe. Pensava na Camila, na forma como ela ficou quieta depois do encontro com a Jamile. Pensava também na Jamile, no exame que eu sabia que precisava fazer, e em como tudo tinha virado de cabeça pra baixo em tão pouco tempo.Mas, no meio dessa bagunça, uma coisa era clara pra mim: eu queria a Camila. E nada, nem ninguém, ia mudar isso.Saí do cartório e fui direto pra empresa. O sol já tava forte, e o movimento na rua parecia mais acelerado que o normal. Estacionei, entrei no prédio e cumprimentei um ou outro funcionário no caminho, mas nem prestei muita atenção. Tudo que eu queria era voltar pra minha sala, ver a Camila, me reconectar com ela depois daquela manhã intensa.Subi os andares com press
Guilherme narrando :— Respeitar? Você engravida minha filha e depois tá agarrado com outra como se fosse normal? Acha que é o quê, moleque?— Não, eu acho que sou um homem que não vive mais com a sua filha, que terminou com ela antes mesmo dessa gravidez surgir — falei firme, mantendo a postura. — E que, inclusive, tem direito de refazer a vida.— Acha mesmo que vai fugir dessa responsabilidade? Porque tá se iludindo com uma assistentezinha metida a primeira-dama de empresa?Meu sangue ferveu, mas respirei fundo. Eu não ia perder a cabeça. Ele queria isso. Queria o meu descontrole pra usar contra mim.— Eu nunca disse que não assumiria responsabilidade nenhuma. Mas eu também não sou otário. E essa gravidez… ainda tá mal contada.Ele me encarou com um misto de surpresa e indignação.— Você tá dizendo que minha filha tá mentindo?— Tô dizendo que os fatos não batem. Que o tempo não bate. E que, sim, vou fazer um exame de DNA antes de assumir qualquer coisa.Ele riu com desprezo.— Você
Camila narrando :Depois que saí da sala do Guilherme, fui direto pra copa. Peguei um café preto e me encostei no balcão, tentando acalmar meu coração. O gosto forte e amargo desceu pela garganta, mas nem aquilo me tirava da cabeça o que tinha acabado de acontecer.O pai da Jamile entrando daquele jeito na nossa sala, gritando comigo, me olhando como se eu fosse culpada de tudo. E o Eduardo… ali, calado, como se assistisse a um teatro barato.Suspirei fundo e decidi sair. Fui até a porta lateral da empresa e caminhei em direção ao lado de fora. O ar fresco bateu no meu rosto, e por um instante, respirei aliviada.Mas foi só olhar pro outro lado da rua que meu alívio sumiu.Lá estava o Eduardo… discutindo com ninguém menos que a Jamile. Eles gesticulavam, falavam alto, pareciam nervosos. Me escondi um pouco, tentando não chamar atenção, e atravessei a rua devagar, curiosa e desconfiada.Fui chegando mais perto, mas antes que eu conseguisse ouvir alguma coisa, Eduardo bufou, virou as co
Guilherme narrando :Eu tava sentado na minha sala, tentando focar em um contrato importante quando a cabeça começou a pesar de novo. Aquele encontro com o pai da Jamile ainda tava me remoendo por dentro, e a preocupação com a Camila não me dava sossego.Peguei o celular e liguei pra ela. Uma vez. Duas. Três.Nada.Ela não atendeu.Minha mão já começou a suar. Camila nunca deixava de atender assim, ainda mais depois de uma situação tensa como aquela.Foi aí que a secretária bateu na porta com pressa e entrou logo em seguida, com a voz aflita:— Senhor Guilherme… desculpa interromper, mas… eu acho que é melhor o senhor ir lá fora. Sua noiva tá discutindo com a Jamile. Tá do outro lado da rua!Meu coração disparou.— O quê?!Levantei da cadeira num pulo, o sangue gelando na hora.— Ela tá sozinha? — perguntei, já indo em direção à porta.— Tá… Estão só as duas.Saí correndo. Atravessei a empresa como um furacão, nem vi quem tava no caminho. Abri a porta principal e corri, o coração mar
Prólogo : Guilherme narrando : Eu sabia que aquele dia não seria como os outros. Desde o momento em que acordei, uma sensação estranha me acompanhava, como se algo estivesse prestes a acontecer. Algo ruim. O meu instinto gritava, mas eu ignorei. Estava ansioso para ver Camila, para sentir o seu cheiro, para tê-la nos meus braços mais uma vez. Era como um vício, uma obsessão que eu não conseguia controlar. A casa de praia da família dela era o nosso refúgio, o lugar onde podíamos nos esconder do mundo. Onde ela me dizia, entre suspiros e beijos, que nunca sentiu nada igual. E eu sempre acreditei nisso. Eu acreditei que ela era minha, assim como eu era dela. Cheguei lá com o coração disparado. A porta estava entreaberta, como se estivesse me esperando. Algo no silêncio do lugar me incomodou. O som das ondas parecia distante, abafado pela sensação sufocante que tomou conta de mim. Um arrepio percorreu minha espinha. — Camila? — chamei, a minha voz soando estranha até para mi
Capítulo 2 Camila narrando : Eu tinha 17 anos e, naquela época, o meu mundo ainda era a escola. Eu estava acostumada com aquele ambiente, com a rotina de ser a filha da família rica que todo mundo respeitava, ou, se fosse o caso, temia. Eu não me importava muito com isso, na verdade. Tinha meus amigos, as minhas coisas, e um futuro aparentemente já traçado. Mas tudo mudou quando ele apareceu. Ele estava no meu último ano de escola, mas era novo, um novato que parecia ter saído de algum lugar muito distante da minha realidade. Eu lembro bem do primeiro dia em que ele entrou na sala, com aquele olhar desconfiado, como se estivesse analisando cada pessoa, cada detalhe do lugar. Ele era diferente de todos os meninos que eu já conhecia, e não era só pelo jeito de andar, mais solto, mais confiante de uma maneira que eu não sabia explicar. Eu tinha acabado de sentar no meu lugar, perto da janela, quando ele entrou. Seu nome era Guilherme, e logo ele virou o assunto da turma. Gênio dos
Capitulo 3 :Camila narrando :Continuação :Uma tarde, depois da aula de história, ele me abordou novamente. Dessa vez, sem me pedir nada, sem um livro para pegar emprestado. Ele apenas se aproximou da minha mesa e ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse decidindo o que dizer. O olhar dele estava mais intenso do que nunca.— Camila... — ele começou, com uma voz calma, mas que soava mais séria do que de costume. — Eu... eu não sei o que você pensa de mim, mas eu não sou como os outros. E eu sei que nem deveria estar falando com você,.mas eu não aguento mais guardar isso pra mim.Eu não sabia o que responder. Não estava esperando aquilo, mas ele parecia estar falando direto ao meu coração. Como se tudo o que eu temia, todas as barreiras que eu tentava colocar entre nós, estivessem sendo desfeitas com aquelas palavras simples.— Eu sei o que você quer dizer — respondi, com a voz trêmula, sem saber ao certo o que estava sentindo. — Mas não é tão simples assim.Ele me olh
Capítulo 4Guilherme narrando :Acordar cedo sempre fez parte da minha rotina. O despertador toca antes do sol nascer, e eu já sei o que me espera: mais um dia de luta. Minha mãe, Dona Lúcia, já está de pé antes de mim, preparando o café simples, que na maioria das vezes é só café puro mesmo, sem pão, sem leite. Quando tem, é porque algum dinheiro sobrou ou porque ela conseguiu trazer algo da casa onde trabalha como empregada.Moro num bairro humilde, de ruas esburacadas e casas pequenas que se amontoam umas sobre as outras. O tipo de lugar onde, quando chove forte, as vielas alagam e a água entra pelas frestas da porta. Mas esse é o meu lugar. Cresci aqui, aprendi a me virar aqui. Minha mãe fez de tudo pra me manter longe dos problemas, e foi por causa dela que eu sempre levei os estudos a sério.Eu estudo numa escola de elite, mas não porque minha família tem dinheiro. Entrei lá porque ganhei uma bolsa integral, dessas que só oferecem pra alunos que se destacam. Sempre fui bom com n