Guilherme narrando:Terminamos o café com aquele clima gostoso de manhã em família. Camila ainda ria das histórias que Gabi contava toda empolgada, enquanto Dona Lúcia ouvia como se fosse a maior fã da neta. Dona Maria, sentada mais quieta, observava tudo com aquele olhar de quem carrega sabedoria no silêncio.Levantei primeiro e comecei a recolher as xícaras da mesa. Camila logo se levantou também, pegou a mochila da Gabi e chamou ela com um carinho na voz que só ela tinha.— Vamos, princesa, senão a gente se atrasa.Gabi se despediu da Dona Maria com um abraço apertado e depois correu até a minha mãe.— Tchau, vó Maria! Tchau, vó Lúcia!— Vai com Deus, minha filha — Dona Maria respondeu, sorrindo com os olhos.— Se comporta, hein? E depois quero saber como foi a aula! — Dona Lúcia disse, ajeitando a gola do uniforme da Gabi como se ainda não estivesse perfeita.Camila deu um beijo na bochecha das duas. Eu também me aproximei, abracei minha mãe de leve e dei um beijo rápido na testa
Camila narrando :Eu sabia que, em algum momento, esse encontro ia acontecer. Mas nem nos meus piores pensamentos eu imaginei que seria assim… na frente da empresa, com a Jamile parada ali feito uma tempestade prestes a desabar, e eu no meio do fogo cruzado.Quando ouvi a voz dela chamando o Guilherme, meu corpo enrijeceu. E quando ela me olhou daquele jeito, como se eu fosse um erro, uma ameaça, foi como levar um soco seco no peito.Mas eu fiquei. Firme. Calada.Não era por medo, nem por submissão. Era por escolha. Porque eu sabia que qualquer palavra minha seria usada contra mim. E porque eu confiava no Guilherme. Confiava que ele ia me proteger.E ele fez.— Essa aí é minha mulher. Então você respeita ela.Quando ele falou aquilo, com o olhar firme, a postura reta, senti algo dentro de mim se acalmar. Não era só defesa. Era posicionamento. Era amor sendo posto pra fora.Fiquei quieta enquanto ela debochava, provocava, jogava farpas. Quando ela disse que era a mãe do filho dele, por
Camila narrando:A manhã foi puxada. Depois de toda aquela situação com a Jamile, eu tentei me concentrar no trabalho, fingir que tava tudo normal, mesmo com o coração ainda um pouco acelerado.Almoçamos em um restaurante com a Gabi e depois levamos ela pra casa. Guilherme teve que sair depois do almoço pra resolver umas coisas no cartório, algo sobre documentos da empresa, transferência de contrato, essas coisas mais burocráticas. Antes de sair, ele me deu um beijo rápido na testa e disse que voltava em no máximo duas horas.— Qualquer coisa, me liga. E não se estressa — ele disse, antes de sair.Assenti, com um sorriso discreto.Fiquei ali na sala dele, organizando a agenda da semana, respondendo e-mails, dando uma geral nos compromissos que ele tinha deixado pendente. O silêncio da sala até me ajudava a focar… até a porta se abrir de repente.Quando levantei os olhos, era o Eduardo.Ele entrou com aquele ar confiante demais, camisa meio aberta no colarinho, um sorriso de canto que
Guilherme narrando :No cartório, eu tava resolvendo algumas pendências da empresa, assinatura de contrato, atualização de procurações, aquela burocracia toda que ninguém gosta, mas que faz parte de manter tudo nos trilhos.Enquanto o funcionário carimbava os documentos, minha cabeça tava longe. Pensava na Camila, na forma como ela ficou quieta depois do encontro com a Jamile. Pensava também na Jamile, no exame que eu sabia que precisava fazer, e em como tudo tinha virado de cabeça pra baixo em tão pouco tempo.Mas, no meio dessa bagunça, uma coisa era clara pra mim: eu queria a Camila. E nada, nem ninguém, ia mudar isso.Saí do cartório e fui direto pra empresa. O sol já tava forte, e o movimento na rua parecia mais acelerado que o normal. Estacionei, entrei no prédio e cumprimentei um ou outro funcionário no caminho, mas nem prestei muita atenção. Tudo que eu queria era voltar pra minha sala, ver a Camila, me reconectar com ela depois daquela manhã intensa.Subi os andares com press
Guilherme narrando :— Respeitar? Você engravida minha filha e depois tá agarrado com outra como se fosse normal? Acha que é o quê, moleque?— Não, eu acho que sou um homem que não vive mais com a sua filha, que terminou com ela antes mesmo dessa gravidez surgir — falei firme, mantendo a postura. — E que, inclusive, tem direito de refazer a vida.— Acha mesmo que vai fugir dessa responsabilidade? Porque tá se iludindo com uma assistentezinha metida a primeira-dama de empresa?Meu sangue ferveu, mas respirei fundo. Eu não ia perder a cabeça. Ele queria isso. Queria o meu descontrole pra usar contra mim.— Eu nunca disse que não assumiria responsabilidade nenhuma. Mas eu também não sou otário. E essa gravidez… ainda tá mal contada.Ele me encarou com um misto de surpresa e indignação.— Você tá dizendo que minha filha tá mentindo?— Tô dizendo que os fatos não batem. Que o tempo não bate. E que, sim, vou fazer um exame de DNA antes de assumir qualquer coisa.Ele riu com desprezo.— Você
Camila narrando :Depois que saí da sala do Guilherme, fui direto pra copa. Peguei um café preto e me encostei no balcão, tentando acalmar meu coração. O gosto forte e amargo desceu pela garganta, mas nem aquilo me tirava da cabeça o que tinha acabado de acontecer.O pai da Jamile entrando daquele jeito na nossa sala, gritando comigo, me olhando como se eu fosse culpada de tudo. E o Eduardo… ali, calado, como se assistisse a um teatro barato.Suspirei fundo e decidi sair. Fui até a porta lateral da empresa e caminhei em direção ao lado de fora. O ar fresco bateu no meu rosto, e por um instante, respirei aliviada.Mas foi só olhar pro outro lado da rua que meu alívio sumiu.Lá estava o Eduardo… discutindo com ninguém menos que a Jamile. Eles gesticulavam, falavam alto, pareciam nervosos. Me escondi um pouco, tentando não chamar atenção, e atravessei a rua devagar, curiosa e desconfiada.Fui chegando mais perto, mas antes que eu conseguisse ouvir alguma coisa, Eduardo bufou, virou as co
Guilherme narrando :Eu tava sentado na minha sala, tentando focar em um contrato importante quando a cabeça começou a pesar de novo. Aquele encontro com o pai da Jamile ainda tava me remoendo por dentro, e a preocupação com a Camila não me dava sossego.Peguei o celular e liguei pra ela. Uma vez. Duas. Três.Nada.Ela não atendeu.Minha mão já começou a suar. Camila nunca deixava de atender assim, ainda mais depois de uma situação tensa como aquela.Foi aí que a secretária bateu na porta com pressa e entrou logo em seguida, com a voz aflita:— Senhor Guilherme… desculpa interromper, mas… eu acho que é melhor o senhor ir lá fora. Sua noiva tá discutindo com a Jamile. Tá do outro lado da rua!Meu coração disparou.— O quê?!Levantei da cadeira num pulo, o sangue gelando na hora.— Ela tá sozinha? — perguntei, já indo em direção à porta.— Tá… Estão só as duas.Saí correndo. Atravessei a empresa como um furacão, nem vi quem tava no caminho. Abri a porta principal e corri, o coração mar
Prólogo : Guilherme narrando : Eu sabia que aquele dia não seria como os outros. Desde o momento em que acordei, uma sensação estranha me acompanhava, como se algo estivesse prestes a acontecer. Algo ruim. O meu instinto gritava, mas eu ignorei. Estava ansioso para ver Camila, para sentir o seu cheiro, para tê-la nos meus braços mais uma vez. Era como um vício, uma obsessão que eu não conseguia controlar. A casa de praia da família dela era o nosso refúgio, o lugar onde podíamos nos esconder do mundo. Onde ela me dizia, entre suspiros e beijos, que nunca sentiu nada igual. E eu sempre acreditei nisso. Eu acreditei que ela era minha, assim como eu era dela. Cheguei lá com o coração disparado. A porta estava entreaberta, como se estivesse me esperando. Algo no silêncio do lugar me incomodou. O som das ondas parecia distante, abafado pela sensação sufocante que tomou conta de mim. Um arrepio percorreu minha espinha. — Camila? — chamei, a minha voz soando estranha até para mi