Momentos difíceis

CAPÍTULO 02

Fernanda Antero

— Rose, vem! Vamos para o compartimento secreto, não diga nada, precisamos fazer silêncio! — eu disse a ela, a puxando com a boca ainda tapada, até o local que tantas vezes fomos instruídas por meu pai a se esconder em momentos como este.

Era um compartimento secreto que ficava na sala, de dentro a gente conseguia ver tudo o que acontecia ali fora, mas quem estava do lado de fora jamais imaginaria que estaríamos ali. O meu pai o construiu com muito cuidado, pois imaginava que um dia precisaríamos desse lugar para se esconder, e pelo visto esse dia chegou.

Rose estava bastante assustada, e eu a abracei forte colocando a mão nos seus cabelos tentando consolá-la.

— Calma! Vai ficar tudo bem! A gente já vai sair daqui, é só um pouquinho, tá? Respira devagar, e jura pra mim que não vai fazer barulho? Corremos risco se nos descobrirem aqui! — cochichei no seu ouvido, mas por dentro eu estava em desespero, ela tem claustrofobia, e em breve começaria a surtar, a passar mal, se sentir sufocada, e eu já estava apavorada, se eu daria conta.

— Aqui é fechado, Nanda! Eu tenho medo! Tá escuro! Você promete cuidar de mim? Eu estou com pouco ar! — reclamou ela, e eu morria de dó, mas era a única coisa que eu poderia fazer agora.

— Eu prometo, meu amor, eu prometo! — Beijei a sua testa e precisei tapar a sua boca novamente, quando eu vi que o meu pai começou a apanhar daquele homem e haviam vários outros na sala.

— Shiii! Vai ficar tudo bem! — Eu falei deixando as lágrimas rolarem ao ver o meu pai sofrendo.

O homem gritava com ele, e perguntava repetidamente:

— Aonde está o mapa? Anda filho da puta! Você o escondeu, é só falar aonde está!

— Eu não vou dizer! Já falei que não digo! Eu sei que vai me matar de qualquer jeito, então que você se foda! — o meu pai respondeu.

— Coloquem o saco plástico na cabeça dele! Vai refrescar a memória com certeza! — o homem falou, e vi o meu pai se debater, e escondi o rosto da Rose nos meus seios, para que ela não visse.

Tiraram o saco e o meu pai procurava por ar, e depois que já respirava normalmente, eles repetiam a pergunta e ele continuava se negando a dizer.

Eles queriam saber de algum mapa, mas eu não fazia ideia do que eles estavam falando. A única coisa que eu sei é que pelas pronúncias do meu pai, ele sabia aonde estava, mas eu já sabia o que aconteceria, ali... ele não falaria nunca.

Chegou um momento em que fechei os olhos, pois não queria mais ver, já não bastava ouvir tudo o que estavam falando, então ver... seria demais para mim e fiquei ali abraçada, escondida com a minha irmã, uma vez ou outra deixando ela respirar melhor, pois pensei que ela desmaiaria por causa do seu problema de claustrofobia.

Quando os barulhos cessaram, eu abri os olhos novamente e o homem que era o chefe e torturava o meu pai, olhou para o local onde a gente estava, e quando vi o seu rosto me lembrei dele, era o mesmo homem que trabalhava com o meu pai e que veio aqui em casa discutir com ele esses dias.

Eles não nos viram e seguiram caminho pela casa, pelo que eu vi, estavam procurando por algo. Vários homens derrubando tudo e destruindo, e a pior cena que eu poderia ver na minha vida, eu vi, ali escondida naquele momento... o meu pai jogado no chão, já desacordado e cheio de cortes, com bastante sangue espalhado pelo chão.

Foi muito difícil manter a Rose ali por todo esse tempo, mas a gente conseguiu, e quando percebi que os homens estavam saindo, tive certeza de que precisávamos fugir dali, e ir até esse homem chamado Pietro kosta que o meu pai orientou.

Assim que vi que a barra estava limpa, abri o compartimento e a minha irmã que estava quase sem ar, agora já soluçava junto comigo de tanto chorar ao olhar para o nosso pai, provavelmente morto no chão.

— Não olhe, Rose! Vamos nos disfarçar para poder fugir daqui! Tenho roupas de freiras que o papai guarda para possíveis fugas, precisamos ser rápidas!

— Coisa feia! Eu não quero! — falou brava, aos prantos... mas eu a convenci a usar.

— Não temos escolhas, você viu o que nos espera se ficarmos aqui... — me olhou brava, mas não negou.

Fui com cuidado até o quarto e olhei melhor para a caixa que o meu pai tanto queria proteger. Eu decidi abrir e ver de uma vez do que se tratava, e me assustei quando vi que era o mapa de Gura, o traficante mais rico da Grécia, que havia morrido e deixado uma fortuna, escondida naquele endereço do mapa, e eu pensando que era só conversa fiada, agora não sei se fiquei feliz, ou ainda mais preocupada... precisaríamos muito de ajuda, e eu teria que me casar com um desconhecido!

Eu resolvi fechar e guardar de novo, coloquei dentro de uma sacola plástica muito bem fechada, enrolei em um pano e coloquei dentro da mochila que eu levava com poucas coisas para eu e a minha irmã.

— Vamos Rose! Se alguém perguntar, você deixa que eu fale, ok?

— Tá...

Depois disso, nós saímos pelos fundos da nossa casa, por um caminho que o nosso pai já havia nos instruído, era um local secreto que dava acesso ao outro lado de Atenas, sem sermos vistas com facilidade.

Ainda assim encontramos com muitos homens armados, espalhados pelas ruas ao redor da nossa casa. E foi difícil manter a calma ali, mas eu precisava e a Rose dependia de mim...

Eu me lembrei de um amigo do meu pai que morava ali por perto, decidi que pediria ajuda a ele e ele certamente nos tiraria daqui e nos levaria até a ilha de Creta.

Fui entrando com a minha irmã pelo portão e lá de dentro alguns homens levantaram as armas em nossa direção.

— Ei! Somos as filhas do cobra, viemos em busca de ajuda, e proteção! — expliquei depressa.

— Porque estão aqui a este horário? — o homem perguntou, desconfiado.

— Mataram o meu pai! Precisamos ir até a ilha de Creta! Pode nos ajudar a ir em segurança? Tem homens armados por todos os lados, nos procurando, a minha irmã só tem dez anos... — pedi, logo.

— Certo! Vou te mostrar o caminho que é mais seguro, pode confiar! — pegou um papel e escreveu alguns lugares.

— Você vai procurar por Romeo! Ele estará na fronteira, usará uma jaqueta vermelha e vai te ajudar a chegar até a ilha de Creta, e se infiltrar por lá! Agora vá que aqui não é seguro! — falou o homem e a gente saiu agradecendo.

Fui andando a passos rápidos com a minha irmã. Precisamos nos esforçar, mas logo estávamos próximos a fronteira. Só que quando avistamos o único com jaqueta vermelha, o tal amigo de um dos sócios do meu pai, eu vi que tinha algo muito errado ali, pois eu poderia jurar que vi esse homem torturando o meu pai dentro da minha casa.

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