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Judith

— Boa noite, linda dama! — Uma voz firme e forte, porém, galanteadora diz atraindo a minha atenção para o homem extremamente alto e… eu devo dizer que ele é muito, muito bonito, embora a sua face séria demais e rígida demais me deixe um tanto curiosa. — Será que a Senhorita aceita dançar comigo?

Céus, ele é um duque. Eu sei por que as pessoas ao meu redor não param de murmurar sobre ele desde que entrou nesse salão de festas. E ele está me convidando para dançar em plena festa de casamento dos meus melhores amigos. Penso em dizer que não, porém, me vejo segurando a sua mão estendida e logo sou guiada por para o centro da pista de dança, onde alguns casais já se aventuravam. Eu não faço ideia, mas sinto que de alguma forma esse pedido em algum momento mudará completamente o meu destino. E o fato de dizer sim para esse lindo e elegante estranho cavalheiro me deixou incomodada. Contudo, ao sentir a sua pegada forte na base da minha coluna, unindo o meu corpo ao seu me fez sentir estranha também.

— A propósito, eu me chamo Thomas Elliot de Birmingham Terceiro. — Ele diz quando começa a nos embalar.

Tive que segurar o riso. Devo dizer que os ingleses são mesmo pessoas muito formais e que eles levam muito a sério esse negócio de títulos e tudo mais. Thomas Elliot de Birmingham Terceiro?

Eu tenho uma pergunta. Devo chamá-lo pelo primeiro, pelo segundo ou pelo seu terceiro nome? Um apelido ajudaria também.

— E você é?

Oh, com tantos pensamentos preenchendo a minha mente me esqueci de me apresentar.

— O meu nome é Judith Evans. Apenas Judith Evans. Mas pode me chamar de Judy.

— Soube que você é brasileira, Senhorita Evans. — Thomas ignora completamente o meu pedido e o seu tom seco me diz que ele não procura intimidades. Mesmo que elas estejam apenas no nome de uma mulher.

Rolo os olhos internamente.

É ridículo, mas é aceitável. A final, contra uma tradição milenar não existe dobras, certo?

— Eu sou — respondo-lhe no mesmo tom.

— E deixou a sua família para seguir o Barão de Luxemburgo em uma terra tão distante do seu lar? Você, não sente falta deles? — Pressiono os lábios porque não quero falar sobre o meu passado com esse estranho. Com certeza isso não está nos meus planos. Contudo, ainda assim, me pego falando um pouco sobre ele.

—  Eu não tenho uma família, Senhor Birmingham. — Thomas arqueia as sobrancelhas, parece não gostar da forma como usei o seu sobrenome.

Bufo mentalmente.

— Todos temos uma família, Senhorita Evans. — Ele grunhe ainda com essa sua m*****a secura. Irritada, paro de dançar.

— Não eu. Agora, se me der licença… — Penso em me afastar e deixá-lo sozinho no meio da pista. Contudo, ele segura na minha mão e me puxa de volta para os seus braços.

— Não ouse me deixar sozinho aqui, Senhorita Evans. Isso não é educado, não quando a dança ainda não terminou.

Rude, frio e autoritário.

— Essa dança já terminou para mim, Senhor Birmingham! — rebato grosseiramente, assim como ele foi rude comigo.  Entretanto, tento me afastar outra vez, porém, Thomas pressiona ainda mais os seus dedos na minha coluna, colando-me ainda mais ao seu corpo e irritada, olho dentro dos seus olhos.

— Ok, já compreendi que não gosta de falar sobre o seu passado. E eu respeito isso.

— Respeita? — rebato irônica.

— Eu também tenho um passado, Senhorita Evans. E não gosto que mexam nele.

— Ótimo, Senhor Birmingham! — rosno, me afastando outra vez no exato momento que a música se acaba. — Passar bem, Senhor Birmingham!

— É, vossa graça! — Ele exige, mas não lhe dou atenção e saio imediatamente do salão.

Idiota!  Retruco mentalmente, afastando-me do barulho da festa e saio à procura do silêncio do jardim. Em segundos encostando-me em uma mureta de arbustos para apreciar a quietude do mar que rodeia essa ilha, banhando pela luz do luar.

Rio mesmo sem vontade. Juro que pensei que respirar novos ares me ajudaria e que eu teria a chance de me tornar outra pessoa longe do meu passado.

— Você é tão tola, Judy! — ralho baixinho, incomodada com os meus pensamentos e decido encerrar essa noite.

***

Algumas semanas…

—  Darly, preciso dos contratos dos novos editores. E preciso da lista de escritores para uma visita formal — peço, colocando a cabeça rapidamente para fora da brecha da porta do meu escritório e a fito com a cara enfiada dentro de um arquivo volumoso demais. Um possível lançamento para a filial da editora aqui em Londres.

Um dos primeiros da Publishing Hill LTDA.

— Está tudo pronto, Senhorita Evans. De que horas o Senhor Hill chega? — Ela pergunta, me entregando algumas pastas pesadas que tem a logo da empresa e mesmo com as mãos cheias, dou um jeito de olhar o meu relógio no meu pulso.

— Em duas horas.

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