Judith
— Hu, com o tanto de dinheiro que esse homem tem, eu passaria meses viajando pelo mundo. Como pode um Barão usar apenas vinte dias para a sua lua de mel? — Lanço lhe um olhar atravessado em resposta.
— Acredito que isso não seja da sua conta, Darly! — retruco mal-humorada, fazendo-a balbuciar.
— É claro que não, Senhorita Evans. Eu só…
— Que tal ir olhar como andam os detalhes da decoração da sala da sua chefe, enquanto eu cuido de toda a burocracia desses registros? — A garota resmunga algo que eu não consigo entender. — O que disse, Darly?
— Ah, nada, Senhorita Evans. Na verdade, eu disse que já estou indo.
— Ótimo! — Ela sai apressada e sorrio, enquanto a observo se afastar.
Darly Between é uma jovem universitária que está cursando literatura inglesa. Ela ainda tem muito o que aprender nesse ramo, mas acredite, eu tenho a paciência e a experiência de que ela precisa para crescer dentro desse universo.
— Senhorita Evans, a sala de reuniões já está pronta para as entrevistas. — Adam, o novo assistente do Barão de Luxemburgo avisa assim que adentro a minha pequena e confortável sala.
Ser a assistente do Senhor Hill sempre foi um grande desafio para mim. A final, o Barão costuma ser um chefe bem exigente e pontualidade é o seu ponto forte. Contudo, entregar nas minhas mãos cada detalhe da inauguração da filial da sua editora aqui na Inglaterra foi algo realmente inesperado. Entretanto, devo dizer que eu amei, pois o excesso de trabalho tem me ajudado a manter-me distante de certos pensamentos dolorosos do meu passado. E a minha ansiedade parece estar a mil nesses últimos dias.
Um dia inteiro nessa correria me trará o cansaço de que preciso para apagar por uma noite inteira, sem tem tempo para sonhar. Portanto, ao cair da noite, adentro o meu novo apartamento que devo mencionar, é pelo menos duas vezes maior do que o que eu tinha no Rio de Janeiro. Logo me livro dos meus sapatos e da bolsa, largando-os de qualquer jeito e em qualquer lugar, e após suspirar alto caminho direto para o meu quarto, livro-me das minhas roupas em seguida, e passo alguns longos minutos relaxando dentro de uma banheira com uma água morna, e perfumada.
…
A maior dor de uma criança é a perda dos seus pais quando ela ainda nem entende o que é a vida direito. Penso, enquanto caminho desolada pelo longo corredor de piso escuro e me sento em um banco de madeira para esperar o final do meu desfecho. Nesse momento eu só tenho duas opções: ir morar com tio Willian, meu único parente vivo e sua a esposa, ou ir para um orfanato. Meus pensamentos se quebram quando uma porta se abre e uma freira passa por ela, deixando uma pequena brecha entreaberta.
— O que você quer dizer com isso, Magnólia? — Escuto a voz exasperada do meu tio.
— Não podemos ficar com ela, Willian.
— Mas ela é a minha sobrinha! E esse é um desejo do meu irmão, que…
— O que você quer que eu diga, Willian? Acabamos de nos casar e ainda estou construindo a minha carreira como médica cirurgiã. Eu não posso e não vou assumir uma criança que não é minha!
Abaixo a minha cabeça quando penso que o meu destino já está traçado.
…
— Senhor Hill? — falo assim que desperto do meu sonho acordado, atendendo o telefone. E no ato, salto para fora da cama imediatamente. Olho as horas no relógio em cima do criado mudo, ao lado da minha cama e solto um xingamento mental.
— Judy, onde você está? — Uno as sobrancelhas quando percebo que não é o meu chefe do outro lado da linha.
— Ellen?
— Estamos aguardando você para o chá da tarde.
Bufo mentalmente.
— Chá… da tarde?
Que história é essa agora?
— Me desculpa, Ellen, mas não dá para eu ir…
— Como assim, não dá? — Ela me interrompe.
— Eu preciso finalizar alguns relatórios que trouxe para casa. Você sabe, com a inauguração da editora as portas…
— Sem desculpas, Judith Evans! — Ela me corta com um maldito tom repreensivo. — Eu a espero aqui na mansão Hill em meia hora! — Determina.
— Meia… hora? — ralho desanimada, mas com certeza ela não me ouviu, pois encerrou a ligação bem na minha cara.
Bufo outra vez!
Chá da tarde e agora mais essa! Definitivamente não consigo acompanhar a alta sociedade britânica.
***
Alguns minutos…
— Senhoras damas da corte, vocês já conhecem a minha amiga Judith Evans, certo? — Ellen fala assim que nos aproximamos de uma roda de mulheres bem-vestidas e exibindo suas joias elegantes, enquanto elas bebericam seus chás e conversam amenidades um tanto animadas.
— É claro que sim! — Uma delas se levanta para me cumprimentar e logo depois as outras. E enquanto elas voltam a conversar, eu não consigo me concentrar nessa conversa tão fútil. Não quando um certo Duque de Birmingham está em pé do outro lado do jardim conversando com o meu chefe, enquanto ele saboreia um pequeno gole do seu uísque. E o fato de os meus olhos acompanharem a bebida passar pela sua garganta me deixa um tanto incomodada.
— Eu vou me servir de uma xícara de chá. Você quer? — pergunto para Ellen, ficando de pé imediatamente, forçando-me a desviar os meus olhos de cima de um certo senhorio.
Manter a distância é a coisa mais certa a se fazer, Judy. Aconselho-me.
A verdade, é que nitidamente somos como a água e o óleo. Simplesmente não nos encaixamos em nada e nada de bom sairia de uma amizade entre nós, quem dirá de um relacionamento. Contudo, parece que a minha cabeça ainda não entendeu isso, pois logo me pego aceitando o seu convite para um passeio no jardim e uma conversa nada apropriada. E enquanto caminhamos pelo jardim da mansão, percebo que estamos nos distanciando de todos e isso me deixa um pouco cautelosa.
Judith— E então? — questiono quando ele permanece em silêncio por alguns minutos.— A verdade, é que eu não sei por onde começar, Senhorita Evans. — Curiosa, arqueio as sobrancelhas.— Pelo começo seria uma boa opção, não acha, sua graça? — O fato de eu rebater com o um tom formal demais e da maneira correta o faz encarar o meu olhar. Contudo, Thomas desvia seus olhos dos meus outra vez, para fitar o horizonte em seguida. E ele solta um suspiro alto pela boca.Me pergunto se algo o está incomodando?— Ok, você está certa. — Ele solta mais uma respiração e continua. — Da última que conversamos percebi que você não gosta de falar sobre o seu passado.Ah, sério? Ralho mentalmente.— E?— Também não gosto de falar sobre o meu passado, Senhorita Evans. Mas às vezes para fazer as pessoas nos compreenderem é preciso tocar na ferida, mesmo que a ardência nos faça retrair um pouco.Suspiro.— Sua graça, eu não estou entendendo onde o Senhor quer chegar com essa conversa.— Deixei-me falar, Se
JudithO problema é que nunca entendi o motivo do seu abandono, tio Willian.— Bom dia, Senhorita Evans! — Desperto com a voz da minha jovem assistente.— Bom dia Darly! Alguma novidade?— O Senhor Hill já a aguarda em seu escritório.— Collin Hill está aqui tão cedo? — indago surpresa.— Ele está sim.— Ok, prepare dois cafés bem quentes, fortes e com pouco açúcar, e leve-os para a sala do presidente — ordeno e caminho imediatamente para lá. — Por que não me avisou que viria hoje, Senhor Hill? — inquiro, após adentrar o seu escritório.— Só estava curioso com os preparativos para a inauguração. E devo dizer que você se superou, Judy. — Não seguro um sorriso satisfeito.— Não se gabe, Senhor Hill, porque eu tive o melhor me treinando por anos.— Não me venha com essa, Judith Evans! Tudo isso é mérito somente seu. — Meu sorriso se amplia. — Ah, e antes que eu me esqueça. A baronesa está exigindo a sua presença na hora do almoço na mansão Hill. E ela deixou bem claro que não vai aceitar
Judith— Bom dia, Senhor Hill e Senhorita Evans!— Bom dia, Albert! — Meu chefe e eu respondemos em uníssono, nos acomodando a uma mesa redonda de um restaurante.— Tomei a liberdade de pedir o nosso café da manhã. Assim não perdemos tempo em resolver alguns detalhes do nosso contrato, tudo bem?— Por mim tudo bem. — Collin Hill responde usando o seu melhor tom profissional e logo dois garçons se aproximam para servir a mesa.— Gostaria que vocês conhecessem a Matilda Slin. Ela será a sua editora e a Senhorita Evans ficará responsável pelos detalhes do seu livro. — Collin informa— É um prazer, Senhorita Slin!— A propósito, eu gostaria de lhe dizer que o seu… De repente, o meu celular começa a vibrar sobre a mesa, chamando não só a minha atenção, mas a de todos na mesa e imediatamente encerro a chamado de um número desconhecido, lançando um pedido de desculpas mudo para Collin do outro lado da mesa.— Como eu estava dizendo… Matilda é novamente interrompida e dessa vez o Barão me l
Judith— Nesse meio tempo teremos duas aparições em público. Um jantar em minha casa para que as minhas irmãs a conheçam e em seguida, um pedido formal de casamento…— Espere! — peço abruptamente o fazendo se calar. — Por que toda essa pressa?— E por que não? Teremos uma lua de mel de apenas uma quinzena…— Uma… lua de mel? — Thomas revira os olhos com impaciência.— Não preocupe, tudo não passará de fachada. Mas, ao regressar para casa você terá uma lista de tarefas que uma Duquesa deverá representar.Respiro fundo diante dessa avalanche maluca que ele acaba de despejar em cima de mim.— Eu tenho uma pergunta.— É claro.— Por que duas aparições em público?— Porque quero que as pessoas comentem que estamos juntos, Judith. Assim não haverá especulações sobre o nosso casamento.— Eu preciso de no mínimo noventa dias para…— Não!— Thomas, existe uma série de coisas para se organizar. Os convites, a decoração, o vestido de noiva…— Deixe tudo isso comigo — balbucio.— Não seria estran
ThomasJá tem algumas horas que estou trancado dentro do meu escritório me perguntando que merda estou fazendo com a vida daquela garota. Como assim, um casamento em quinze dias? Bufo. Definitivamente eu perdi o meu juízo. A verdade, é que perto de Judith Evans eu mal consigo raciocinar direito e pelo visto farei muitas besteiras quando ela estiver ao meu alcance. Sem falar naquela boca atrevida que tem sempre uma resposta pronta na ponta da língua para me desafiar.Arg! Ela precisa saber qual é o seu lugar no meio do nosso acordo, ou isso tem tudo para dar errado.Uma batida leve na porta do meu escritório me tira dos meus devaneios e imediatamente olho na sua direção, encontrando Doris, a minha assistente bem na entrada. Faço um gesto de mão para ela se aproximar e percebo um pequeno envelope em sua mão.— O que é isso? — pergunto com certa curiosidade.— É um convite para o baile de inverno que acontecerá nesse final de semana no castelo de Brennand, sua graça. — A garota me estend
Judith— Nossa, você parece bem nervosa! — Ellen fala assim que adentro a sua casa.— Eu preciso de uma bebida — resmungo, adentrando a sua sala e com uma respiração alta largo a minha bolsa em cima de um amplo sofá branco, sentando-me nele em seguida.— O que aconteceu? Você não é de beber assim. — Ela inquire à medida que me serve uma pequena dose de conhaque. Contudo, levanto-me, vou até o bar de canto, pego o copo de sua mão e aumento a dose pelo menos três vezes, bebendo tudo de uma só vez. — Oh! — Ellen sibila estarrecida.— Eu vou me casar. — Solto a novidade de uma vez, verificando os seus olhos que se abrem absurdamente em espanto.— Como assim, você vai se casar? Com quem você vai se casar? — Ela parece perplexa. Respiro fundo, absorvendo o calor do álcool que começa a me queimar por.— Com o Senhor Thomas Elliot de Birmigham Terceiro. — Não pensei que fosse possível, mas os seus olhos se arregalam ainda mais.— Com… o Duque de Birmigham? — Meneio a cabeça fazendo um sim.—
Judith— Tem certeza de que quer fazer isso, Judy? — Forço um sorriso para ela.— Bom, eu já disse sim para ele e não pretendo voltar atrás. — Ela bufa.— Devo dizer que nutri algumas esperanças sobre vocês ficarem juntos, mas isso é…— Isso não pode sair daqui Ellen — falo, pedindo segredo sobre essa nossa conversa.— Oh! Ok, tudo bem!— É sério, Ellen. Nem mesmo o Barão deve saber sobre esse nosso acordo.— Eu prometo que não vou falar nada, ok? Ah, Judy! — Ellen volta a me abraçar. Contudo, estou aliviada de pôr tudo para fora e de saber que ainda posso contar com ela.— Tem uma festa… — afirmo outra vez quando me afasto um pouco dela.— Sim, o baile no castelo de Brennand. Collin não para de falar o quanto esse baile é importante. — Ela para de falar, lançando-me um olhar perplexo. — Não!— Será a nossa primeira aparição em público.— O Duque não perde a oportunidade, hein?— Será que você pode me ajudar…— Deixe tudo comigo. Irei promover um dia de salão e de SPA para nós duas e
JudithO que há de errado com você? Essa pergunta preenche a minha cabeça e penso que isso não é da minha conta. Que eu deveria voltar para a minha cama macia e quentinha, e me esquecer que o vi ali tão vulnerável. Mas o fato de Thomas ajoelhar-se no chão e de o seu choro tornar-se ainda mais compulsivo, e dolorido está me matando por dentro. Por um instante eu quis sair correndo de dentro desse quarto para ir abraçá-lo fortemente. Queria dizer-lhe que tudo ficará bem, mas os meus pés não pensam a mesma coisa. Então apenas continuo parada aqui no meu lugar assistindo a sua dor por sabe Deus quanto tempo.— Mas o que você… — Entro em pânico quando ele pula na água gélida da piscina e se deixa submergir completamente, e fica lá no fundo. — Suba, Thomas! Por favor, suba! — rogo baixinho como uma súplica, mas ele não faz. Thomas continua submerso na parte profunda da piscina, quieto e esperando a morte chegar. — Mas que droga, Thomas! — rosno exasperada e saio correndo do quarto. Desço a