5

Judith

— E então? — questiono quando ele permanece em silêncio por alguns minutos.

— A verdade, é que eu não sei por onde começar, Senhorita Evans. — Curiosa, arqueio as sobrancelhas.

— Pelo começo seria uma boa opção, não acha, sua graça? — O fato de eu rebater com o um tom formal demais e da maneira correta o faz encarar o meu olhar. Contudo, Thomas desvia seus olhos dos meus outra vez, para fitar o horizonte em seguida. E ele solta um suspiro alto pela boca.

Me pergunto se algo o está incomodando?

— Ok, você está certa. — Ele solta mais uma respiração e continua. — Da última que conversamos percebi que você não gosta de falar sobre o seu passado.

Ah, sério? Ralho mentalmente.

— E?

— Também não gosto de falar sobre o meu passado, Senhorita Evans. Mas às vezes para fazer as pessoas nos compreenderem é preciso tocar na ferida, mesmo que a ardência nos faça retrair um pouco.

Suspiro.

— Sua graça, eu não estou entendendo onde o Senhor quer chegar com essa conversa.

— Deixei-me falar, Senhorita Evans. — Ele pede calmamente, fazendo um gesto de mão. — Devo dizer que desde a partida de minha esposa eu não senti o desejo de me relacionar com as pessoas ao meu redor. Em especial com outras mulheres — declara. — Mas desde a nossa última dança eu não consigo tirá-la da minha cabeça. E… eu andei tendo algumas ideias.

Ideias? De onde veio isso agora?

— Sua graça, eu não…

— Pelo amor de Deus, Judith não me interrompa, ou eu não terei coragem de seguir em frente com essa loucura! — O home grunhe exasperado, puxando mais uma respiração, dessa vez um tanto pesada e encara-me duramente.

Loucura? Que loucura?

— Judith, eu sou um homem de um único amor — declara, me deixando confusa. —  Ou eu era. — Thomas parece aturdido. — Eu já nem sei mais o que pensar realmente. O que eu quero dizer é que… eu sou o tipo de homem que se entrega ao amor de corpo e alma, entende?

Amor? Ele não pode estar falando sério, não é?

Gostaria de responder-lhe que não entendo, mas ele não para de falar.

— E foi por esse motivo que eu me afoguei pela primeira vez.

Oh!

— Confesso que não estou preparado para um novo amor preenchendo o meu coração machucado, Senhorita Evans. E temo que nunca esteja apto a amar outra vez. Mas infelizmente o meu título exige um novo casamento e eu… gostaria de fazer-lhe uma proposta. — Thomas para a caminhada e olha dentro dos meus olhos.

Paro de andar e de respirar também.

— Uma… proposta? Que tipo de proposta? — inquiro receosa.

— Você perdeu os seus pais muito cedo e viveu a sua vida toda trancafiada dentro de um orfanato…

— Me desculpe, mas como sabe disso? — inquiro perplexa.

— Isso não é relevante, Judith Evans. — Thomas rebate um tanto seco. — E continuando, após sair do orfanato você se dedicou a trabalhar para uma editora de renome no Brasil, porém, evitou todo e qualquer tipo de relacionamento. E ao que parece, você não tem interesse por sentimentos e essas coisas do coração, certo?

Balbucio sem saber o que dizer.

— E por que acha isso, sua graça? — retruco com certo desdém, mantendo a minha pose de garota determinada.

Mas a verdade, é que saber que a minha vida é tão resumida me deixou frustrada. Inesperadamente sua graça ergue a sua mão e o seu polegar desliza suave pela minha bochecha. Contudo, o Duque parece perceber onde estamos e os olhares curiosos que com certeza devem estar em cima de nós dois agora. Então ele recolhe a sua mão imediatamente, porém, seus olhos indecifráveis permanecem nos meus.

— Porque eu consigo ver isso nos seus olhos, Judith — sibila, dessa vez baixo demais. No entanto, Thomas limpa a sua garganta e parece se recompor. — Eu consigo ver em suas retinas a força com que abraça essa sua solidão convicta, Senhorita Evans. E eu sei que podemos fazer isso acontecer. Se você aceitar, claro.

Uno as sobrancelhas.

— Me desculpe, mas fazer o que acontecer? — questiono um tanto confusa.

— Um casamento, Senhorita Evans.

Meu coração erra uma batida.

— Um… casamento? — questiono sem acreditar nesse pedido tão sem noção.

— Na verdade, um casamento por contrato. — Uno as sobrancelhas. — Um casamento sem qualquer sentimento envolvido. Eu ponho um anel no seu dedo, lhe ofereço o meu título e com isso calamos as vozes daqueles que nos empurram para um compromisso que não queremos ter. Assim poderei conviver com o meu amor perdido e ferido. E você terá a paz de que sempre quis ter. O que me diz, Senhorita Evans?

— Oh! — Resfolego. — É… eu não o que dizer.

— Apenas pense na minha proposta, Judith. E quando estiver preparada poderemos conversar sobre como isso vai funcionar.

Apenas solto o ar pela boca quando ele me faz uma sútil reverência para se afastar logo em seguida.

— E se eu aceitar? — pergunto abruptamente, o fazendo parar de andar no ato. Thomas se vira para olhar dentro dos meus olhos.

— Marcaremos um encontro e conversaremos sobre os detalhes desse nosso acordo.  — Então ele se vai, me deixando sozinha e aturdida com os meus pensamentos.

… Um casamento sem amor.

Céus, ele está certo. Isso é uma grande loucura.

… Eu ponho um anel no seu dedo, lhe ofereço o meu título e com isso calamos as vozes daqueles que nos empurram para um compromisso que não queremos ter.

Não, Judith, eu a proíbo!

… Apenas pense na minha proposta, Judith. E quando estiver preparada poderemos conversar sobre como isso vai funcionar.

— Minha resposta é não, Senhor Thomas Elliot de Birmingham Terceiro! — ralho irritadiça, voltando para perto das damas.

— Você está bem? — Ellen procura saber quando entorno uma xícara de chá na boca. Contudo, abro um sorriso sutil para ela, acenando um sim com a cabeça em resposta.

***

Durante a madrugada…

— Oi, querida! — Tio Willian sussurra, se agachando bem na minha frente.

— Tio Willian, nós já podemos ir para a sua casa? — pergunto na minha doce inocência, mas ele solta um ar consternado pela boca, enquanto se propõe a ajeitar algumas mechas dos meus cabelos atrás da minha orelha.

— Você não vai para a caso do tio, querida. — Ele sibila baixo, parece dolorido.

— Por que a tia Magnólia não me quer?

— Por Deus, não! Quer dizer, ela te quer. Ela te quer muito, mas…  — Ele puxa outra respiração.  — Escute com atenção, Judith. Nesse momento o melhor lugar para você ficar é aqui no orfanato.

— Eu não quero ir para lá, tio Willian! — lamento.

— Você vai ver, querida. É um lugar bem legal e é cheio de crianças para você brincar. — Meus olhos se enchem de lágrimas. — E um dia você vai crescer e vai entender tudo isso, querida.

Enquanto as lágrimas molham o meu rosto, uma freira segura na minha mão e sem qualquer resistência me levanto do banco para caminhar pelo longo corredor, levando comigo a sua imagem parada ao lado de sua esposa.

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