Capítulo 3

Assim que chegou em casa, Eloise entrou pela porta dos fundos novamente e pediu a Ignácia que preparasse um banho quente para ela e correu para seu quarto antes que alguém pudesse vê-la. Assim que chegou em seu quarto começou se despir, primeiramente retirando o chapéu e os grampos do cabelo os deixando em frente a uma penteadeira.

O quarto dela continha um guarda-roupas de madeira, uma cama de madeira com lençóis brancos de linho que estavam bem espichados. Continham também duas janelas com vista para o horizonte, que estavam cobertas com cortinas num tom creme, um baú que ficava aos pés da cama, além da penteadeira e uma cadeira.

Não demorou e Ignácia, com ajuda de outra empregada apareceram com uma banheira móvel a colocando no quarto. Em seguida trouxeram toalhas e água quente.

— A senhorita precisa de ajuda?

— Obrigada Ignácia, mas vou me banhar sozinha, podem voltar para os seus afazeres, não quero atrapalhar.

As duas criadas, retiram os baldes que trouxeram e saíram deixando Eloise sozinha com seus pensamentos.

Após terminar de se despir, ela entra na água quentinha e se encosta na borda da banheira pensando nos últimos acontecimentos e em como ela se meteu naquela confusão. Uma coisa não poderia negar, o jovem Arthur Fonseca era um homem muito bonito e perspicaz, só não entendia como ainda não o tinha visto em nenhum baile que ela frequentou. Mas logo Eloise foi tirada de seus pensamentos quando a mãe adentrou a porta do quarto sem bater, com o susto a moça deu um grito:

— Mãeeeee!!!! A senhora não sabe que tem que bater antes de entrar?

A mãe a olhou com um olhar desafiador:

— Minha querida, não se esqueça que eu a carreguei na barriga e depois que nasceu, dei muitos banhos em você...

A mãe era uma mulher esguia, com cabelos castanhos escuros como os da filha, no entanto seu rosto era um pouco mais fino. Ela estava vestindo um vestido verde escuro, com mangas longas e poucas rendas, era um dos vestidos que usava quando saiam ou recebiam convidados. Algo havia acontecido para ela adentrar assim no quarto da filha, curiosa ela indagou:

— Aconteceu alguma coisa mãe?

A mulher caminhava de um lado para o outro, mostrando-se nervosa:

— Onde esteve durante a tarde?

Eloise tentou se manter calma e contou a mãe que saiu para dar uma volta e ler um livro em meio a natureza:

— ... porém a história era tão boa, que perdi a hora.

A mãe nem pareceu ouvir o que ela dissera e emendou:

— O senhor Barros e seu filho estão aqui.

Eloise olhou para a mãe surpresa. Estevam, filho mais velho do senhor Barros já havia tirado ela para dançar em alguns bailes e inclusive a havia feito convite para sair do salão, o que certamente ela recusou. Embora ele fosse considerado um bom partido pela maioria das moças solteiras, Eloise não pensava da mesma forma.

— O que eles estão fazendo aqui?

— Querida, quero que saiba que eu tentei...

Eloise não entendia o que a mãe estava tentando dizer e foi terminando seu banho rapidamente. Sua mãe alcançou a toalha e foi ajudando a filha se secar, acrescentando:

— É melhor escolher um vestido bem bonito para hoje, eu vim busca-la para a janta.

— Mãe, a senhora poderia me contar o que está acontecendo? Estou ficando assustada....

Eloise estava verdadeiramente preocupada agora. Imaginou se o pai havia descoberto sobre o que fazia em seus passeios, mas isso não explicaria porque o senhor Barros e seu filho estariam ali. Então ela se deu conta de uma coisa e tremeu. Enquanto sua mãe a ajudava pôr o espartilho, ela virou para olhá-la nos olhos:

— Mãe, não me diga que ele veio pedir permissão para me cortejar?

A mãe ficou sem graça e a olhou com um olhar arrependido, demonstrando culpa:

— Filha, eu sinto muito, mas temo que tudo já esteja acertado.

A jovem não conseguia acreditar no que estava ouvindo, seu coração apertou na mesma hora. Automaticamente a mãe ia ajudando-a se vestir e após estar pronta, sentou-se em frente a penteadeira, onde a mesma foi arrumando seus cabelos, penteando para o alto num coque e prendendo com grampos, deixando apenas algumas mechas soltas.

O vestido escolhido era de um tom azul claro, mangas longas e gola alta, que contava com uma renda um pouco mais escura em volta do pescoço. Do alto do pescoço até a cintura haviam alguns botões decorativos, era franzido no busto e não possuía saias. Sua cor combinava com seus olhos, que apesar de serem verdes, hoje estavam num tom azulado. Eloise olhou para a mãe:

— Vocês prometeram que não iam me forçar a casar sem amor.

A mãe fez com que ela virasse novamente de costas e seguiu arrumando seus cabelos a encarando pelo espelho:

— Eu tentei argumentar com seu pai, mas você sabe como ficou a situação após a abolição da escravidão, ele perdeu muito dinheiro e eu sinto tanto filha, não era o que queria para você, mas não tem mais o que eu possa fazer. Talvez se você der uma chance, pode ser que se apaixone por ele.

Os olhos de Eloise ficaram marejados e ela não sabia como argumentar. Seu pai havia tido paciência com ela, já estava com vinte e quatro anos e nessa idade as moças já eram consideradas solteironas. Talvez realmente não houvesse um grande amor a aguardando. Ela sabia que uma hora ia ter que casar, só não esperava que fosse com Estevam.

Não demorou e Ignácia bateu a porta dizendo que o jantar seria servido em breve e que o senhor Queiroz, pai de Eloise, as estava chamado.

— Vamos acabar logo com isso mãe.

A jovem olhou no espelho uma última vez, limpou qualquer vestígio de lágrima e saiu de seu quarto para encarar o que o destino a estava reservando.

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