Assim que chegou em casa, Eloise entrou pela porta dos fundos novamente e pediu a Ignácia que preparasse um banho quente para ela e correu para seu quarto antes que alguém pudesse vê-la. Assim que chegou em seu quarto começou se despir, primeiramente retirando o chapéu e os grampos do cabelo os deixando em frente a uma penteadeira.
O quarto dela continha um guarda-roupas de madeira, uma cama de madeira com lençóis brancos de linho que estavam bem espichados. Continham também duas janelas com vista para o horizonte, que estavam cobertas com cortinas num tom creme, um baú que ficava aos pés da cama, além da penteadeira e uma cadeira.
Não demorou e Ignácia, com ajuda de outra empregada apareceram com uma banheira móvel a colocando no quarto. Em seguida trouxeram toalhas e água quente.
— A senhorita precisa de ajuda?
— Obrigada Ignácia, mas vou me banhar sozinha, podem voltar para os seus afazeres, não quero atrapalhar.
As duas criadas, retiram os baldes que trouxeram e saíram deixando Eloise sozinha com seus pensamentos.
Após terminar de se despir, ela entra na água quentinha e se encosta na borda da banheira pensando nos últimos acontecimentos e em como ela se meteu naquela confusão. Uma coisa não poderia negar, o jovem Arthur Fonseca era um homem muito bonito e perspicaz, só não entendia como ainda não o tinha visto em nenhum baile que ela frequentou. Mas logo Eloise foi tirada de seus pensamentos quando a mãe adentrou a porta do quarto sem bater, com o susto a moça deu um grito:
— Mãeeeee!!!! A senhora não sabe que tem que bater antes de entrar?
A mãe a olhou com um olhar desafiador:
— Minha querida, não se esqueça que eu a carreguei na barriga e depois que nasceu, dei muitos banhos em você...
A mãe era uma mulher esguia, com cabelos castanhos escuros como os da filha, no entanto seu rosto era um pouco mais fino. Ela estava vestindo um vestido verde escuro, com mangas longas e poucas rendas, era um dos vestidos que usava quando saiam ou recebiam convidados. Algo havia acontecido para ela adentrar assim no quarto da filha, curiosa ela indagou:
— Aconteceu alguma coisa mãe?
A mulher caminhava de um lado para o outro, mostrando-se nervosa:
— Onde esteve durante a tarde?
Eloise tentou se manter calma e contou a mãe que saiu para dar uma volta e ler um livro em meio a natureza:
— ... porém a história era tão boa, que perdi a hora.
A mãe nem pareceu ouvir o que ela dissera e emendou:
— O senhor Barros e seu filho estão aqui.
Eloise olhou para a mãe surpresa. Estevam, filho mais velho do senhor Barros já havia tirado ela para dançar em alguns bailes e inclusive a havia feito convite para sair do salão, o que certamente ela recusou. Embora ele fosse considerado um bom partido pela maioria das moças solteiras, Eloise não pensava da mesma forma.
— O que eles estão fazendo aqui?
— Querida, quero que saiba que eu tentei...
Eloise não entendia o que a mãe estava tentando dizer e foi terminando seu banho rapidamente. Sua mãe alcançou a toalha e foi ajudando a filha se secar, acrescentando:
— É melhor escolher um vestido bem bonito para hoje, eu vim busca-la para a janta.
— Mãe, a senhora poderia me contar o que está acontecendo? Estou ficando assustada....
Eloise estava verdadeiramente preocupada agora. Imaginou se o pai havia descoberto sobre o que fazia em seus passeios, mas isso não explicaria porque o senhor Barros e seu filho estariam ali. Então ela se deu conta de uma coisa e tremeu. Enquanto sua mãe a ajudava pôr o espartilho, ela virou para olhá-la nos olhos:
— Mãe, não me diga que ele veio pedir permissão para me cortejar?
A mãe ficou sem graça e a olhou com um olhar arrependido, demonstrando culpa:
— Filha, eu sinto muito, mas temo que tudo já esteja acertado.
A jovem não conseguia acreditar no que estava ouvindo, seu coração apertou na mesma hora. Automaticamente a mãe ia ajudando-a se vestir e após estar pronta, sentou-se em frente a penteadeira, onde a mesma foi arrumando seus cabelos, penteando para o alto num coque e prendendo com grampos, deixando apenas algumas mechas soltas.
O vestido escolhido era de um tom azul claro, mangas longas e gola alta, que contava com uma renda um pouco mais escura em volta do pescoço. Do alto do pescoço até a cintura haviam alguns botões decorativos, era franzido no busto e não possuía saias. Sua cor combinava com seus olhos, que apesar de serem verdes, hoje estavam num tom azulado. Eloise olhou para a mãe:
— Vocês prometeram que não iam me forçar a casar sem amor.
A mãe fez com que ela virasse novamente de costas e seguiu arrumando seus cabelos a encarando pelo espelho:
— Eu tentei argumentar com seu pai, mas você sabe como ficou a situação após a abolição da escravidão, ele perdeu muito dinheiro e eu sinto tanto filha, não era o que queria para você, mas não tem mais o que eu possa fazer. Talvez se você der uma chance, pode ser que se apaixone por ele.
Os olhos de Eloise ficaram marejados e ela não sabia como argumentar. Seu pai havia tido paciência com ela, já estava com vinte e quatro anos e nessa idade as moças já eram consideradas solteironas. Talvez realmente não houvesse um grande amor a aguardando. Ela sabia que uma hora ia ter que casar, só não esperava que fosse com Estevam.
Não demorou e Ignácia bateu a porta dizendo que o jantar seria servido em breve e que o senhor Queiroz, pai de Eloise, as estava chamado.
— Vamos acabar logo com isso mãe.
A jovem olhou no espelho uma última vez, limpou qualquer vestígio de lágrima e saiu de seu quarto para encarar o que o destino a estava reservando.
Eloise e sua mãe caminharam até a sala de visitas, onde se encontravam os homens bebendo e conversando. Assim que elas chegaram, todos se levantaram e fizeram uma leve reverência. Carmélia caminhou até seu marido, ficando ao lado dele. O senhor Queiroz então falou:— Vamos a sala de jantar, que logo será servido.Estevam se aproximou de Eloise e ofereceu seu braço, o qual ela aceitou.— Permita-me dizer que a senhorita está muito bonita essa noite.Ela deu uma breve olhada para ele ao responder:— Obrigada senhor Barros.Ele sorriu para ela. Não um sorriso genuíno, mas algo malicioso e acrescentou:— Já que vou cortejar a senhorita, acredito que possamos nos tratar pelo primeiro nome.Eloise se sentiu frustrada, mas não cedeu:— Por hora prefiro continuar lhe chamando formalmente.— Como a
Arthur chegou em casa e foi direto procurar o pai na biblioteca. Estava curioso para saber sobre as terras do outro lado do rio, mais especificamente sobre a moça que havia conhecido.Fazia pouco mais de uma semana que ele havia retornado da Europa, onde havia ido estudar. Ainda não tinha frequentado nenhum baile e nem conhecido nenhuma dama no seu retorno. Mas não se enganem ao pensarem que ele era casto, pois aproveitou muito sua estadia na Europa, se divertindo com amigos.O fato era que conhecer Eloise mexeu com ele e nem o próprio sabia explicar porquê. Queria saber mais sobre ela, conversar, a conhecer melhor, saber sua comida e sua cor preferida, céus o que estava acontecendo com ele?A família de Arthur era muito rica, seu pai era um renomado fazendeiro de café. Após a libertação dos escravos, eles conseguiram manter todos que desejassem trabalhando para eles recebendo um sal&aac
Arthur deu um sorriso quando reconheceu a moça que havia acabado de salvar e não pôde deixar de implicar com ela:— Não sabia que já estávamos nos tratando pelos primeiros nomes!Ela rapidamente se levantou, ajeitando seu vestido.— Eu peço desculpas senhor Fonseca, me precipitei devido ao susto.Arthur a ficou encarando, ele havia gostado muito de ouvir ela lhe chamando pelo primeiro nome e imaginou como seria na intimidade. Aquele pensamento o deixou um pouco transtornado, mas ele conseguiu disfarçar.— Temos que parar de nos encontrarmos assim, se não vou achar que gosta de estar em meus braços.Eloise corou. Nenhum homem jamais havia falado daquela forma com ela. Um calor começou a invadir todo seu corpo ao imaginar-se nos braços dele. Então ela espantou aqueles pensamentos, afinal não eram adequados.— O senhor
Os dias passaram rapidamente e já era sábado. Eloise se arrumou para o baile com a ajuda de Firmina. O vestido havia ficado impecável e o cabelo foi trançado e preso no alto da cabeça com mechas que caiam em formato de cascata.— A senhorita está muito bonita.— Obrigada Firmina.Seus pais já estavam prontos e logo os três saíram na carruagem da família rumo ao baile. Eloise estava ansiosa, pois sabia que ia encontrar Arthur e tinha prometido uma dança a ele.Assim que chegaram a casa dos Barbosa, o cocheiro parou em frente a entrada da casa. Álvaro desceu e ajudou a esposa e a filha a descerem. Então se dirigiram ao hall de entrada, enquanto o cocheiro estacionava a carruagem junto às demais.O local já estava cheio, com diversas famílias aristocráticas da região. Os músicos tocavam uma melodia suave e tod
Após o episódio na biblioteca, Eloise e Arthur se separaram, indo cada um para um lado. Ele logo foi abordado por algumas mães e foi dançar com uma moça.Enquanto caminhava de volta ao salão, Eloise pensava no que acabara de acontecer. Não era o certo, mas ela havia gostado mesmo assim. Agora precisaria conversar com os pais a respeito. Tão logo sua mãe a avistou, seguiu em sua direção.— Querida onde estava? Seu noivo estava te procurando.Sem entender sobre o que a mãe estava falando, ela o olhou surpresa.— Noivo?A mãe a fitou com um olhar de incredulidade por ela não lembrar.— O senhor Barros, meu amor!— Ainda não somos noivos!!!!Eloise precisava resolver aquela situação o quanto antes. Mas antes de fazer menção a qualquer coisa para sua mãe, Estevam se aprox
No domingo de manhã Arthur levantou cedo, lavou seu rosto, se vestiu e foi para a sala tomar café com os pais. Ele sempre teve o hábito de levantar cedo e já começar organizar o dia para trabalhar. Enquanto esteve fora, estudou arquitetura, depois que voltou começou fazer algumas melhorias na fazenda, especialmente no alojamento dos empregados, deixando-os mais confortáveis e habitáveis.Naquela manhã ia com o pai inspecionar a serralheria da família. O ano passado começaram investir em madeira, tirando proveito do bosque que tinham na propriedade. Contrataram um homem que entendia tudo sobre as melhores espécies de árvores a serem plantadas, para criarem uma mata própria, enquanto isso, tiravam a madeira que já tinham.Quando chegou à sala, os pais já estavam sentados à mesa desfrutando do desjejum. A mãe de Arthur, Isabel era uma mulher
Eloise acordou mais tarde do que de costume na segunda-feira. Logo Firmina bateu a porta, entrando logo após ser solicitado. Ela parecia ansiosa.— O que aconteceu, Firmina ?Ela foi logo ajudar Eloise a terminar de prender os cabelos e a encarou através do espelho:— O homem que a senhorita encontrou outro dia, está aqui.Eloise a olhou assustada:— Arthur? Que horas são?Firmina seguiu puxando os cabelos da jovem com a escova num penteado no alto da cabeça:— Quase onze horas.Realmente Eloise havia dormido muito. O domingo havia sido como qualquer outro. Ela ficou em casa junto com os pais, não receberam nenhuma visita. Então ela foi para o quarto cedo, mas ficou lendo até tarde.— Eu preciso me apressar. Onde ele está?Firmina sabia que se referia a Arthur.— Na biblioteca com seu pai.— Faz t
Eloise e Arthur haviam combinado de se encontrar na aldeia à tarde. Então ela pediu a Ignácia que arrumasse uma cesta cheia de comida para levar às crianças. Ela falou à mãe que ia caminhar, mas dessa vez a mãe insistiu para Firmina ir junto. Já o pai de Eloise havia ido até a fazenda do Barros para desfazer o acordo.Enquanto caminhavam até a aldeia, Firmina e Eloise conversavam:— A senhorita combinou de se encontrar com ele, não é?Eloise a olhou e deu uma risadinha tímida:— Você acha que minha mãe desconfiou?Firmina sorriu de volta:— Sua mãe é muito perspicaz, senhorita.Elas seguiram o restante do caminho conversando e rindo. Firmina era confidente de Eloise e esta sabia que podia confiar nela. Ao se aproximarem da aldeia, algumas crianças que brincavam ali fora correram para enc