Arthur deu um sorriso quando reconheceu a moça que havia acabado de salvar e não pôde deixar de implicar com ela:
— Não sabia que já estávamos nos tratando pelos primeiros nomes!
Ela rapidamente se levantou, ajeitando seu vestido.
— Eu peço desculpas senhor Fonseca, me precipitei devido ao susto.
Arthur a ficou encarando, ele havia gostado muito de ouvir ela lhe chamando pelo primeiro nome e imaginou como seria na intimidade. Aquele pensamento o deixou um pouco transtornado, mas ele conseguiu disfarçar.
— Temos que parar de nos encontrarmos assim, se não vou achar que gosta de estar em meus braços.
Eloise corou. Nenhum homem jamais havia falado daquela forma com ela. Um calor começou a invadir todo seu corpo ao imaginar-se nos braços dele. Então ela espantou aqueles pensamentos, afinal não eram adequados.
— O senhor está muito convencido!!!
Ele sorriu novamente e olhou para Firmina perguntando se estava tudo bem com ela. Esta apenas assentiu. Então ele ofereceu o braço a Eloise e disse:
— Permita-me que lhe acompanhe senhorita… deveria chamá-la de senhorita Queiroz?
Eloise deu o braço a ele e eles foram caminhando. Ela tentou não demonstrar nenhuma surpresa por ele ter descoberto seu sobrenome.
Firmina vinha logo atrás, como era muito discreta, não se meteu em nenhum momento na conversa, apenas assentindo quando ele lhe fizera uma pergunta. Ficara preocupada com Eloise, mas quando viu que ela estava a salvo, ficou na sua.
Após um silêncio, Eloise resolveu ceder:
— Me chamo Eloise Queiroz.
Arthur pronunciou o nome em sua cabeça e gostou de como ele soava.
— Fico feliz de confiar a mim seu nome.
— Dadas as circunstâncias, acredito que posso confiar no senhor.
Eles seguiram caminhando sem rumo ou direção, apenas andando pela calçada, desfrutando a companhia um do outro. Ao chegarem próximo a uma praça eles pararam. Eloise se virou para ele e disse:
— Obrigada por me salvar!
Arthur não conseguia parar de olhar para ela, seus olhos verdes como de um lago, os cabelos pretos presos, sua pele era levemente bronzeada, ao contrário das outras moças que conhecia, que evitavam ao máximo pegar sol. Os lábios eram cheios e vermelhos e ele queria muito saber que gosto tinham.
Ao perceber que ele a estava encarando, Eloise ficou sem jeito, nenhum homem jamais a olhou assim, claro que já recebera muitos elogios, alguns até tentaram lhe beijar, mas aquele olhar era puro desejo, ela podia ver que ele a queria e isso mexeu muito com ela e era preciso quebrar aquele torpor:
— Senhor Fonseca? Está tudo bem?
Arthur voltou a si e deu um sorriso para ela.
— Está sim, perdoe os meus modos. É que nunca conheci uma dama como a senhorita.
— Como eu? O que quer dizer?
Arthur olhou para longe, buscando as palavras certas para responder:
— De uma beleza encantadora, corajosa, inteligente… teria tanto para dizer, mas prefiro conhecê-la melhor, se me permitir.
O coração dela acelerou e a fez lembrar do compromisso que seu pai tinha firmado com Estevam. O destino seria mesmo tão cruel? Colocando em seu caminho um cavalheiro que finalmente apreciava a companhia logo agora?
— O senhor me deixa sem graça. Agradeço os elogios. Posso lhe fazer uma pergunta?
— Quantas quiser.
Ela sorriu para ele. Era a primeira vez que ela sorria e agora ele precisava acrescentar isso a lista de coisas que mais gostava nela. Certamente ele estava mesmo perdido.
— Eu nunca o vi antes por aqui ou em algum baile, o senhor não morava aqui?
— És bem observadora. Mas respondendo a sua pergunta, eu estava fora estudando, tem uma semana que retornei.
Ela deu um sorriso novamente.
— Se o senhor frequentasse os bailes saberia que são sempre as mesmas pessoas que lá estão.
Ele sorriu para ela:
— Então acho que saberei em breve, tenho um baile para ir no próximo sábado.
Eloise o encarou surpresa:
— Do senhor Barbosa? Eu também estarei lá.
Os olhos deles se encontraram por um momento e ficaram se encarando, então Arthur falou:
— Fico realmente muito feliz em saber.
E logo em seguida acrescentou:
— A senhorita me concederia uma dança?
Ao se imaginar novamente nos braços dele, fez com que ela sentisse um calor atravessando todo o seu corpo. Como ele poderia causar tais sensações nela?
— Posso pensar a respeito.
Eles ficaram um tempo em silêncio observando as outras pessoas na praça. Então Eloise disse:
— Eu preciso ir para casa.
Arthur olhou para ela:
— Eu posso acompanhar a senhorita até sua carruagem?
Ela assentiu mostrando a ele o caminho.
Enquanto caminhavam falavam sobre o clima e coisas triviais. Quando chegaram até a carruagem, Firmina entrou e Arthur ajudou Eloise, mas antes que ela entrasse, ele puxou sua mão e a beijou, olhando diretamente em seus olhos.
— Foi um enorme prazer desfrutar da sua companhia.
Eloise lhe deu um sorriso tímido e fez uma reverência.
— O prazer foi meu senhor Fonseca. Nos vemos no baile.
Ela entrou na carruagem e esta logo partiu, deixando Arthur com seus pensamentos.
No interior da carruagem, Firmina olhava para Eloise curiosa e com um sorriso divertido.
— Não estou entendendo esse sorrisinho em sua boca Firmina
Firmina era uma das escravas que eles mantiveram. Ela ajudava na casa e era dama de companhia de Eloise.
— Que belo rapaz a senhorita conheceu.
Eloise fica pensativa, a verdade é que ela gostou da companhia de Arthur, mas agora seu pai firmou compromisso com o senhor Barros.
— Meu pai já deu permissão ao Estevam para me cortejar.
— A senhorita comentou que ele só a pediria em um mês…
Eloise contava tudo a Firmina.
— Sim, mas para meu pai e o senhor Barros já está tudo acertado… você precisa me ajudar Firmina, eu não posso casar com Estevam. Já não podia antes e agora…
Firmina a encarou com pesar.
— Agora que está se apaixonando?
Eloise não havia pensado sobre isso. Será que poderia estar se apaixonando por alguém que encontrou apenas duas vezes?
O fato era que nunca gostara de Estevam, sabia que ele não seria um marido fiel. E sim, queria ter a chance de conhecer melhor Arthur.
— Não posso negar que gostei da companhia dele e queria conhecê-lo melhor… você sabe alguma forma que eu possa me livrar desse casamento sem prejudicar minha família?
Firmina a olhou sem saber o que responder.
— Nós vamos pensar em algo… não se preocupe!
Eloise ficou pensativa olhando pela janela da carruagem, seguindo em silêncio o resto do trajeto até em casa.
Os dias passaram rapidamente e já era sábado. Eloise se arrumou para o baile com a ajuda de Firmina. O vestido havia ficado impecável e o cabelo foi trançado e preso no alto da cabeça com mechas que caiam em formato de cascata.— A senhorita está muito bonita.— Obrigada Firmina.Seus pais já estavam prontos e logo os três saíram na carruagem da família rumo ao baile. Eloise estava ansiosa, pois sabia que ia encontrar Arthur e tinha prometido uma dança a ele.Assim que chegaram a casa dos Barbosa, o cocheiro parou em frente a entrada da casa. Álvaro desceu e ajudou a esposa e a filha a descerem. Então se dirigiram ao hall de entrada, enquanto o cocheiro estacionava a carruagem junto às demais.O local já estava cheio, com diversas famílias aristocráticas da região. Os músicos tocavam uma melodia suave e tod
Após o episódio na biblioteca, Eloise e Arthur se separaram, indo cada um para um lado. Ele logo foi abordado por algumas mães e foi dançar com uma moça.Enquanto caminhava de volta ao salão, Eloise pensava no que acabara de acontecer. Não era o certo, mas ela havia gostado mesmo assim. Agora precisaria conversar com os pais a respeito. Tão logo sua mãe a avistou, seguiu em sua direção.— Querida onde estava? Seu noivo estava te procurando.Sem entender sobre o que a mãe estava falando, ela o olhou surpresa.— Noivo?A mãe a fitou com um olhar de incredulidade por ela não lembrar.— O senhor Barros, meu amor!— Ainda não somos noivos!!!!Eloise precisava resolver aquela situação o quanto antes. Mas antes de fazer menção a qualquer coisa para sua mãe, Estevam se aprox
No domingo de manhã Arthur levantou cedo, lavou seu rosto, se vestiu e foi para a sala tomar café com os pais. Ele sempre teve o hábito de levantar cedo e já começar organizar o dia para trabalhar. Enquanto esteve fora, estudou arquitetura, depois que voltou começou fazer algumas melhorias na fazenda, especialmente no alojamento dos empregados, deixando-os mais confortáveis e habitáveis.Naquela manhã ia com o pai inspecionar a serralheria da família. O ano passado começaram investir em madeira, tirando proveito do bosque que tinham na propriedade. Contrataram um homem que entendia tudo sobre as melhores espécies de árvores a serem plantadas, para criarem uma mata própria, enquanto isso, tiravam a madeira que já tinham.Quando chegou à sala, os pais já estavam sentados à mesa desfrutando do desjejum. A mãe de Arthur, Isabel era uma mulher
Eloise acordou mais tarde do que de costume na segunda-feira. Logo Firmina bateu a porta, entrando logo após ser solicitado. Ela parecia ansiosa.— O que aconteceu, Firmina ?Ela foi logo ajudar Eloise a terminar de prender os cabelos e a encarou através do espelho:— O homem que a senhorita encontrou outro dia, está aqui.Eloise a olhou assustada:— Arthur? Que horas são?Firmina seguiu puxando os cabelos da jovem com a escova num penteado no alto da cabeça:— Quase onze horas.Realmente Eloise havia dormido muito. O domingo havia sido como qualquer outro. Ela ficou em casa junto com os pais, não receberam nenhuma visita. Então ela foi para o quarto cedo, mas ficou lendo até tarde.— Eu preciso me apressar. Onde ele está?Firmina sabia que se referia a Arthur.— Na biblioteca com seu pai.— Faz t
Eloise e Arthur haviam combinado de se encontrar na aldeia à tarde. Então ela pediu a Ignácia que arrumasse uma cesta cheia de comida para levar às crianças. Ela falou à mãe que ia caminhar, mas dessa vez a mãe insistiu para Firmina ir junto. Já o pai de Eloise havia ido até a fazenda do Barros para desfazer o acordo.Enquanto caminhavam até a aldeia, Firmina e Eloise conversavam:— A senhorita combinou de se encontrar com ele, não é?Eloise a olhou e deu uma risadinha tímida:— Você acha que minha mãe desconfiou?Firmina sorriu de volta:— Sua mãe é muito perspicaz, senhorita.Elas seguiram o restante do caminho conversando e rindo. Firmina era confidente de Eloise e esta sabia que podia confiar nela. Ao se aproximarem da aldeia, algumas crianças que brincavam ali fora correram para enc
Eloise estava preocupada com Arthur e foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou ao local da briga, junto com Firmina, os dois homens já haviam sido separados. Arthur estava com um olho roxo e Estevam com o nariz escorrendo sangue e a boca cortada. Estevam se soltou dos homens que o seguravam e saiu andando rápido em direção ao seu cavalo. Quando ele passou por Eloise, a olhou com fúria nos olhos e lhe fez uma promessa: — Se não for minha, não será de mais ninguém!!! Eu tornarei sua vida um inferno. Ela se encolheu e ele passou. Montou em seu cavalo e saiu trotando. Eloise não entendia o que havia acontecido, Estevam nunca a amou, por que estaria fazendo aquilo? Orgulho ferido? Arthur correu em direção a ela. Pegou sua cabeça em suas mãos e a olhou nos olhos, nas bochechas, orelhas, examinando: — Você está bem? Ela ficou comovida com a preocupação, pegou a mão dele e o olhou: — Eu estou. Mas você não parece muito bem.
Era uma quarta-feira de outono, mas fazia um daqueles dias atípicos. Estava muito quente. O sol estava forte. Eloise e sua mãe tomavam um chá na varanda da casa e conversavam sobre assuntos aleatórios. Álvaro havia saído para comprar fertilizantes para a lavoura de café e vacinas para o gado. O lacaio da fazenda o acompanhava. Após a libertação dos escravos, o pai de Eloise ficou com poucos homens trabalhando para ele, manteve duas mulheres na casa, seu lacaio e mais três homens que cuidavam do gado e do cafezal. Ele teve que vender muito do gado que tinha para pagar contas e conseguir manter esses empregados. Em relação ao café, não teve como diminuir a produção, pois já estava cultivado. E o lucro da venda desse que ia ajudar a pagar um salário para aqueles que ficaram e dar um sustento a família. Já havia se passado uma semana após o incidente com o Estevam e ele não havia mais dado sinal de vida. Eloise e Arthur se corresponderam por quartas nesses dias, enviadas através
Arthur estava desesperado. A fumaça estava muito densa e era difícil ver qualquer coisa à frente. Ao mesmo tempo estava com raiva de Eloise por ter se metido em algo assim. Conforme adentrava mais aquela nuvem, mais seu coração acelerava e seu corpo tremia, agora tinha certeza que amava Eloise e não podia perdê-la:— Eloiseeee!!!Arthur andava com cuidado, olhando para todos os lados, tentando não deixar passar nada. De repente algo o segurou no tornozelo e ele quase caiu. Olhou para o chão e deitada de bruços, com a cabeça dentro de um buraco, tentando se proteger da fumaça, estava ela. Ele se abaixou rápido e a pegou nos braços:— Eloise, meu amor…Passou a mão pelo rosto dela, tirando os cabelos que caiam na testa suada. Ela respirava com dificuldade e seus olhos estavam vermelhos:— Vem meu amor, vou tirar você