Arthur chegou em casa e foi direto procurar o pai na biblioteca. Estava curioso para saber sobre as terras do outro lado do rio, mais especificamente sobre a moça que havia conhecido.
Fazia pouco mais de uma semana que ele havia retornado da Europa, onde havia ido estudar. Ainda não tinha frequentado nenhum baile e nem conhecido nenhuma dama no seu retorno. Mas não se enganem ao pensarem que ele era casto, pois aproveitou muito sua estadia na Europa, se divertindo com amigos.
O fato era que conhecer Eloise mexeu com ele e nem o próprio sabia explicar porquê. Queria saber mais sobre ela, conversar, a conhecer melhor, saber sua comida e sua cor preferida, céus o que estava acontecendo com ele?
A família de Arthur era muito rica, seu pai era um renomado fazendeiro de café. Após a libertação dos escravos, eles conseguiram manter todos que desejassem trabalhando para eles recebendo um salário justo, eles também tinham suas moradias e sempre que alguém adoecia, o médico da família era chamado. Apenas alguns não ficaram na fazenda, pois estavam em busca de familiares perdidos.
Arthur compartilhava as ideias do pai e sempre que possível ajudava aqueles que necessitavam. Sempre foi muito humano e queria seguir os passos do pai um dia.
A casa deles era grande, composta por seis quartos, cozinha, sala de jantar, sala de visitas, banheiros (eles possuíam água encanada que contava com água quente), a biblioteca, um salão de bailes, uma sala de leituras. Ao lado de fora, um belo jardim cercava a casa, além de um lindo bosque próximo e mais as casas dos trabalhadores.
Arthur atravessou um corredor cheio de quadros de seus antepassados e parou em frente a grande porta da biblioteca, então bateu e esperou. Não demorou e uma voz lá de dentro pediu que entrasse.
Seu pai estava sentado atrás de uma grande mesa, cheia de papéis para todo lado, que para quem visse de fora parecia desorganizado, mas para seu pai estava tudo organizado. Ele fumava um charuto enquanto respondia algumas cartas. Então levantou a cabeça e indicou ao filho uma das cadeiras de couro à sua frente:
— Sente-se. Estou terminando de responder alguns convites. Gostaria de ir a um baile no sábado?
Arthur o olhou curioso:
— Baile?
— Sim filho, agora que voltou, imagino que vá frequentar bailes, se integrar à sociedade, conhecer uma boa moça e casar.
— Pai, tem uma semana que voltei. Mas se o senhor achar apropriado, irei ao baile.
O pai o olhou satisfeito. Eles sempre se deram muito bem e Gregorio respeitava e admirava muito o filho.
— Ótimo, vou confirmar sua presença. Depois passo as informações mais detalhadas. Agora me diga o que te incomoda?
O rapaz olhou para o pai e levantou uma sobrancelha. Ao que este respondeu:
— Suponho que algo o incomoda, para vir ao meu escritório com a roupa toda molhada...
Só então Arthur se deu conta que não havia se secado:
— Eu ajudei uma criança que estava se afogando no rio e é sobre isso que queria falar.
Esse fato chamou a atenção do pai, que se rencostou na cadeira, cruzando as pernas e prestando atenção no filho:
— Espero que a criança esteja bem. O que posso fazer por você?
— Sim, ele está a salvo. Ele mora no outro lado do rio com a família. Eu até ofereci emprego a eles… o senhor sabe de quem são aquelas terras?
Gregorio sentia muito orgulho do filho e tinha certeza que um dia ele ia administrar muito bem a fazenda. Ele era um dos filhos do meio, os dois mais velhos já estavam casados e as duas meninas mais novas estavam estudando em uma escola preparatória para moças.
— Fico feliz em ouvir. Aquelas terras são do Queiroz, eu soube que após a absolvição ele deixou, a pedido da filha, os trabalhadores que não pôde empregar morarem lá até encontrarem um emprego.
Arthur ficou pensando no nome. Então provavelmente a moça que conheceu naquela tarde era a filha do Queiroz. Algo se acendeu dentro dele. Agora tinha um nome por quem procurar e ele não ia descansar até encontrar ela de novo, mal sabia ele que estava mais próximo do que imaginava.
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Eloise não viu mais Estevam no transcorrer daquela semana, o que a fez pensar que ele não seria como os demais rapazes que quando cortejam as moças, estão sempre por perto. Melhor para ela, pensou. Ela também não foi mais à aldeia por receio de encontrar Arthur.
Aquele dia foi a costureira provar um vestido novo para o baile no próximo sábado. Era a última prova. Embora não achasse necessário ficar gastando dinheiro com vestidos, em quanto a fazenda não ia bem, seu pai fez questão. Para ele as aparências eram muito importantes e ele queria a filha linda, como sempre.
O vestido escolhido era um tom de vermelho mais escuro, com costura logo abaixo do busto e um decote que favorecia este. As mangas eram curtas e bufantes, com rendas brancas. Um par de luvas brancas até acima do cotovelo faria parte do traje, além de uma pashimina sob os ombros.
Eloise já tinha ido a muitos bailes e para ela eram sempre a mesma coisa. As músicas geralmente eram as mesmas, apenas trocavam os músicos. Às vezes acontecia alguma apresentação de alguma peça, mas era difícil. Havia muitas comidas que geralmente eram muito boas, especialmente os doces. Sem falar nas conversas triviais com outras moças que estavam à procura de bons maridos, suas mães que corriam atrás de bons pretendentes para as filhas e os mesmos cavalheiros de sempre.
A costureira terminou os últimos ajustes e prometeu entregar na casa de Eloise até sexta-feira. O baile seria no sábado. Se seu pai não tivesse confirmado presença, certamente ela não iria. Preferia ficar em casa lendo.
Firmina a estava acompanhando naquela tarde de quarta-feira. O dia estava muito bonito, com um lindo sol. Elas saíram da loja e estavam caminhando pela calçada em direção a carruagem que as aguardava a uma quadra da loja. Eloise usava um vestido lilás de mangas longas, num estilo gótico romântico. Elas andavam distraídas, quando um menino passou correndo por entre as duas, empurrando Eloise em direção a rua.
Antes que pudesse cair e ser atropelada por uma carruagem, um cavalheiro a segurou em seus braços. Muito assustada e tremendo, ela levantou os olhos para encarar seu benfeitor e qual foi a sua surpresa ao ver aqueles olhos pretos e cintilantes a encarando.
— Arthur!!! Digo, senhor Fonseca!
Arthur deu um sorriso quando reconheceu a moça que havia acabado de salvar e não pôde deixar de implicar com ela:— Não sabia que já estávamos nos tratando pelos primeiros nomes!Ela rapidamente se levantou, ajeitando seu vestido.— Eu peço desculpas senhor Fonseca, me precipitei devido ao susto.Arthur a ficou encarando, ele havia gostado muito de ouvir ela lhe chamando pelo primeiro nome e imaginou como seria na intimidade. Aquele pensamento o deixou um pouco transtornado, mas ele conseguiu disfarçar.— Temos que parar de nos encontrarmos assim, se não vou achar que gosta de estar em meus braços.Eloise corou. Nenhum homem jamais havia falado daquela forma com ela. Um calor começou a invadir todo seu corpo ao imaginar-se nos braços dele. Então ela espantou aqueles pensamentos, afinal não eram adequados.— O senhor
Os dias passaram rapidamente e já era sábado. Eloise se arrumou para o baile com a ajuda de Firmina. O vestido havia ficado impecável e o cabelo foi trançado e preso no alto da cabeça com mechas que caiam em formato de cascata.— A senhorita está muito bonita.— Obrigada Firmina.Seus pais já estavam prontos e logo os três saíram na carruagem da família rumo ao baile. Eloise estava ansiosa, pois sabia que ia encontrar Arthur e tinha prometido uma dança a ele.Assim que chegaram a casa dos Barbosa, o cocheiro parou em frente a entrada da casa. Álvaro desceu e ajudou a esposa e a filha a descerem. Então se dirigiram ao hall de entrada, enquanto o cocheiro estacionava a carruagem junto às demais.O local já estava cheio, com diversas famílias aristocráticas da região. Os músicos tocavam uma melodia suave e tod
Após o episódio na biblioteca, Eloise e Arthur se separaram, indo cada um para um lado. Ele logo foi abordado por algumas mães e foi dançar com uma moça.Enquanto caminhava de volta ao salão, Eloise pensava no que acabara de acontecer. Não era o certo, mas ela havia gostado mesmo assim. Agora precisaria conversar com os pais a respeito. Tão logo sua mãe a avistou, seguiu em sua direção.— Querida onde estava? Seu noivo estava te procurando.Sem entender sobre o que a mãe estava falando, ela o olhou surpresa.— Noivo?A mãe a fitou com um olhar de incredulidade por ela não lembrar.— O senhor Barros, meu amor!— Ainda não somos noivos!!!!Eloise precisava resolver aquela situação o quanto antes. Mas antes de fazer menção a qualquer coisa para sua mãe, Estevam se aprox
No domingo de manhã Arthur levantou cedo, lavou seu rosto, se vestiu e foi para a sala tomar café com os pais. Ele sempre teve o hábito de levantar cedo e já começar organizar o dia para trabalhar. Enquanto esteve fora, estudou arquitetura, depois que voltou começou fazer algumas melhorias na fazenda, especialmente no alojamento dos empregados, deixando-os mais confortáveis e habitáveis.Naquela manhã ia com o pai inspecionar a serralheria da família. O ano passado começaram investir em madeira, tirando proveito do bosque que tinham na propriedade. Contrataram um homem que entendia tudo sobre as melhores espécies de árvores a serem plantadas, para criarem uma mata própria, enquanto isso, tiravam a madeira que já tinham.Quando chegou à sala, os pais já estavam sentados à mesa desfrutando do desjejum. A mãe de Arthur, Isabel era uma mulher
Eloise acordou mais tarde do que de costume na segunda-feira. Logo Firmina bateu a porta, entrando logo após ser solicitado. Ela parecia ansiosa.— O que aconteceu, Firmina ?Ela foi logo ajudar Eloise a terminar de prender os cabelos e a encarou através do espelho:— O homem que a senhorita encontrou outro dia, está aqui.Eloise a olhou assustada:— Arthur? Que horas são?Firmina seguiu puxando os cabelos da jovem com a escova num penteado no alto da cabeça:— Quase onze horas.Realmente Eloise havia dormido muito. O domingo havia sido como qualquer outro. Ela ficou em casa junto com os pais, não receberam nenhuma visita. Então ela foi para o quarto cedo, mas ficou lendo até tarde.— Eu preciso me apressar. Onde ele está?Firmina sabia que se referia a Arthur.— Na biblioteca com seu pai.— Faz t
Eloise e Arthur haviam combinado de se encontrar na aldeia à tarde. Então ela pediu a Ignácia que arrumasse uma cesta cheia de comida para levar às crianças. Ela falou à mãe que ia caminhar, mas dessa vez a mãe insistiu para Firmina ir junto. Já o pai de Eloise havia ido até a fazenda do Barros para desfazer o acordo.Enquanto caminhavam até a aldeia, Firmina e Eloise conversavam:— A senhorita combinou de se encontrar com ele, não é?Eloise a olhou e deu uma risadinha tímida:— Você acha que minha mãe desconfiou?Firmina sorriu de volta:— Sua mãe é muito perspicaz, senhorita.Elas seguiram o restante do caminho conversando e rindo. Firmina era confidente de Eloise e esta sabia que podia confiar nela. Ao se aproximarem da aldeia, algumas crianças que brincavam ali fora correram para enc
Eloise estava preocupada com Arthur e foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou ao local da briga, junto com Firmina, os dois homens já haviam sido separados. Arthur estava com um olho roxo e Estevam com o nariz escorrendo sangue e a boca cortada. Estevam se soltou dos homens que o seguravam e saiu andando rápido em direção ao seu cavalo. Quando ele passou por Eloise, a olhou com fúria nos olhos e lhe fez uma promessa: — Se não for minha, não será de mais ninguém!!! Eu tornarei sua vida um inferno. Ela se encolheu e ele passou. Montou em seu cavalo e saiu trotando. Eloise não entendia o que havia acontecido, Estevam nunca a amou, por que estaria fazendo aquilo? Orgulho ferido? Arthur correu em direção a ela. Pegou sua cabeça em suas mãos e a olhou nos olhos, nas bochechas, orelhas, examinando: — Você está bem? Ela ficou comovida com a preocupação, pegou a mão dele e o olhou: — Eu estou. Mas você não parece muito bem.
Era uma quarta-feira de outono, mas fazia um daqueles dias atípicos. Estava muito quente. O sol estava forte. Eloise e sua mãe tomavam um chá na varanda da casa e conversavam sobre assuntos aleatórios. Álvaro havia saído para comprar fertilizantes para a lavoura de café e vacinas para o gado. O lacaio da fazenda o acompanhava. Após a libertação dos escravos, o pai de Eloise ficou com poucos homens trabalhando para ele, manteve duas mulheres na casa, seu lacaio e mais três homens que cuidavam do gado e do cafezal. Ele teve que vender muito do gado que tinha para pagar contas e conseguir manter esses empregados. Em relação ao café, não teve como diminuir a produção, pois já estava cultivado. E o lucro da venda desse que ia ajudar a pagar um salário para aqueles que ficaram e dar um sustento a família. Já havia se passado uma semana após o incidente com o Estevam e ele não havia mais dado sinal de vida. Eloise e Arthur se corresponderam por quartas nesses dias, enviadas através