Eloise e sua mãe caminharam até a sala de visitas, onde se encontravam os homens bebendo e conversando. Assim que elas chegaram, todos se levantaram e fizeram uma leve reverência. Carmélia caminhou até seu marido, ficando ao lado dele. O senhor Queiroz então falou:
— Vamos a sala de jantar, que logo será servido.
Estevam se aproximou de Eloise e ofereceu seu braço, o qual ela aceitou.
— Permita-me dizer que a senhorita está muito bonita essa noite.
Ela deu uma breve olhada para ele ao responder:
— Obrigada senhor Barros.
Ele sorriu para ela. Não um sorriso genuíno, mas algo malicioso e acrescentou:
— Já que vou cortejar a senhorita, acredito que possamos nos tratar pelo primeiro nome.
Eloise se sentiu frustrada, mas não cedeu:
— Por hora prefiro continuar lhe chamando formalmente.
— Como a senhorita preferir.
Eles chegaram à mesa, que estava elegantemente arrumada e cada um sentou em seu lugar. O senhor Barros era viúvo e tinha dois filhos, Estevam que era o mais o velho com vinte e seis anos e Enio, com vinte e quatro anos. A mãe dos meninos havia morrido no parto de Enio e seu pai nunca se casara novamente. Naquela noite Enio estava fora visitando outra propriedade da família e por isso não compareceu ao jantar.
O jantar transcorreu normalmente, com algumas entradas, sopas, pratos principais e a sobremesa. Após o jantar os homens foram para a biblioteca conversar e tomar vinho. Eloise e a mãe ficaram na sala. Eloise era filha única, antes dela sua mãe tivera alguns abortos e um natimorto, depois dela mais dois abortos e então o médico desaconselhou tentar engravidar, dizia ter sido um grande milagre ela ter conseguido ter uma filha. Seu pai sonhara em ter um menino, um herdeiro, mas mesmo assim não se importou e ficou do lado da esposa, criando a filha com todo amor e carinho, fazendo quase todas suas vontades.
Não demorou muito, Estevam saiu da biblioteca e veio até a sala convidar Eloise para dar uma volta. Ela olhou para a mãe que assentiu. Deu seu braço ao jovem e saíram até a varanda. A noite estava muito bonita, com uma lua cheia que deixava à noite clara como o dia.
Ao chegarem na varanda, Eloise soltou o braço de Estevam e caminhou até um pilar olhando para a lua. Sem tirar os olhos do céu o questionou:
— Por que quis me cortejar?
Ele se aproximou e tocou a mão dela. Eloise se assustou com o toque inesperado e puxou a mão. Estevam deu um sorriso de canto:
— Eu a acho uma mulher muito bonita e já lhe disse mais de uma vez.
Eloise pareceu não acreditar, pois ele já teve oportunidade antes de pedir para corteja-la e não o fez.
— Então isso não tem nada a ver com um possível acordo com o meu pai?
Ele a olhou espantado e fingindo estar ofendido:
— Jamais me casaria por interesses.
Estevam a virou de frente para ele e passou o polegar pelo seu rosto, olhando para a sua boca.
— Sempre me perguntei qual seria o gosto da sua boca…
Então se aproximou para beija-la, mas Eloise virou o rosto e ele deu um beijo na sua bochecha. Ela se afastou e começou entrar novamente em casa:
— Acho que devemos voltar, não é prudente ficarmos muito tempo sozinhos.
Ele a alcançou e pegou em seu cotovelo:
— Agora estamos praticamente noivos.
Eloise parou e olhou para ele:
— O que o senhor quer dizer com isso? Achei que já estava tudo acertado.
Estevam deu um sorrisinho debochado a ela quando respondeu:
— Eu pedi um tempo ao meu pai para fazer o pedido oficial, preciso aproveitar minha vida de solteiro enquanto posso.
Eloise sentiu seu estômago embrulhar com a resposta dele, mas ao mesmo tempo sentiu um fio de esperanças
Eles voltaram para dentro e se juntaram aos demais na sala. Não demorou muito e os visitantes foram embora, para alívio de Eloise. O senhor Álvaro então olhou para a filha:
— Filha espero que me perdoe, mas já esperamos demais para que você encontrasse um pretendente que gostasse e eu não sei mais o que fazer com as dívidas da fazenda.
Eloise olhou para o pai:
— O senhor ao menos poderia ter me comunicado antes.
Eles estavam sentados na sala. As mulheres tomavam um chá e ele um conhaque. A sala da casa dos Queiroz era ampla, com três sofás grandes de veludo nas cores bordô, um lindo tapete ao centro juntamente com uma mesinha, uma cristaleira ao lado direito da porta de entrada e uma lareira que era acesa somente nos dias frios de inverno. As paredes eram pintadas num tom floral, na ala leste, havia um quadro grande de uma paisagem e ao lado esquerdo haviam duas janelas grandes que davam para o jardim.
Álvaro olhou para a esposa e após voltou seus olhos para a filha:
— Mas tudo foi decidido hoje à tarde. Estávamos na reunião dos fazendeiros, quando eu reclamei da falta de recursos o Barros teve a ideia. Após todos irem embora, ele e o filho ficaram e acertamos os detalhes. O rapaz apenas pediu um mês para fazer o pedido formalmente.
Ao lembrar no que Estevam a disse na varanda, sobre aproveitar enquanto podia, fez com que ela revirasse os olhos. Então outro pensamento passou pela sua cabeça, Arthur. Então resolveu arriscar para ver se o pai conhecia a família do rapaz:
— O senhor Fonseca também estava nessa reunião?
O pai a olhou curioso:
— Não sabia que conhecia o Fonseca. Mas ele não estava, Gregorio tem ideias muito liberais.
Ela ficou pensando no que aquilo poderia querer dizer e se calou para evitar perguntas de onde o conhecia, mas então voltou a encarar o pai com olhos esperançosos:
— Pai e se eu conhecer alguém nesse espaço de tempo?
O pai a olhou surpreso:
— Você não conheceu em todos esses anos que frequenta a sociedade, porque agora seria diferente?
Eloise não respondeu. Apenas ficou pensativa. O pai a fitou e acrescentou em seguida:
— Aproveite esse tempo antes do casamento filha e não se preocupe, tudo vai dar certo, tenho certeza que vocês vão se entender.
Se ao menos o pai conhecesse Estevam, saberia que aquilo não era verdade. Não teria como ela se acertar com alguém como ele. Ele adorava flertar com as moças nos bailes e leva-las para fora dos salões para roubar beijos. Sempre havia deixado claro que não casaria tão cedo e se havia aceitado casar com ela, certamente deveria estar ganhando alguma coisa com isso.
A jovem levantou e disse aos pais que estava cansada e pediu licença para ir dormir. Ela queria que aquela noite acabasse logo.
Arthur chegou em casa e foi direto procurar o pai na biblioteca. Estava curioso para saber sobre as terras do outro lado do rio, mais especificamente sobre a moça que havia conhecido.Fazia pouco mais de uma semana que ele havia retornado da Europa, onde havia ido estudar. Ainda não tinha frequentado nenhum baile e nem conhecido nenhuma dama no seu retorno. Mas não se enganem ao pensarem que ele era casto, pois aproveitou muito sua estadia na Europa, se divertindo com amigos.O fato era que conhecer Eloise mexeu com ele e nem o próprio sabia explicar porquê. Queria saber mais sobre ela, conversar, a conhecer melhor, saber sua comida e sua cor preferida, céus o que estava acontecendo com ele?A família de Arthur era muito rica, seu pai era um renomado fazendeiro de café. Após a libertação dos escravos, eles conseguiram manter todos que desejassem trabalhando para eles recebendo um sal&aac
Arthur deu um sorriso quando reconheceu a moça que havia acabado de salvar e não pôde deixar de implicar com ela:— Não sabia que já estávamos nos tratando pelos primeiros nomes!Ela rapidamente se levantou, ajeitando seu vestido.— Eu peço desculpas senhor Fonseca, me precipitei devido ao susto.Arthur a ficou encarando, ele havia gostado muito de ouvir ela lhe chamando pelo primeiro nome e imaginou como seria na intimidade. Aquele pensamento o deixou um pouco transtornado, mas ele conseguiu disfarçar.— Temos que parar de nos encontrarmos assim, se não vou achar que gosta de estar em meus braços.Eloise corou. Nenhum homem jamais havia falado daquela forma com ela. Um calor começou a invadir todo seu corpo ao imaginar-se nos braços dele. Então ela espantou aqueles pensamentos, afinal não eram adequados.— O senhor
Os dias passaram rapidamente e já era sábado. Eloise se arrumou para o baile com a ajuda de Firmina. O vestido havia ficado impecável e o cabelo foi trançado e preso no alto da cabeça com mechas que caiam em formato de cascata.— A senhorita está muito bonita.— Obrigada Firmina.Seus pais já estavam prontos e logo os três saíram na carruagem da família rumo ao baile. Eloise estava ansiosa, pois sabia que ia encontrar Arthur e tinha prometido uma dança a ele.Assim que chegaram a casa dos Barbosa, o cocheiro parou em frente a entrada da casa. Álvaro desceu e ajudou a esposa e a filha a descerem. Então se dirigiram ao hall de entrada, enquanto o cocheiro estacionava a carruagem junto às demais.O local já estava cheio, com diversas famílias aristocráticas da região. Os músicos tocavam uma melodia suave e tod
Após o episódio na biblioteca, Eloise e Arthur se separaram, indo cada um para um lado. Ele logo foi abordado por algumas mães e foi dançar com uma moça.Enquanto caminhava de volta ao salão, Eloise pensava no que acabara de acontecer. Não era o certo, mas ela havia gostado mesmo assim. Agora precisaria conversar com os pais a respeito. Tão logo sua mãe a avistou, seguiu em sua direção.— Querida onde estava? Seu noivo estava te procurando.Sem entender sobre o que a mãe estava falando, ela o olhou surpresa.— Noivo?A mãe a fitou com um olhar de incredulidade por ela não lembrar.— O senhor Barros, meu amor!— Ainda não somos noivos!!!!Eloise precisava resolver aquela situação o quanto antes. Mas antes de fazer menção a qualquer coisa para sua mãe, Estevam se aprox
No domingo de manhã Arthur levantou cedo, lavou seu rosto, se vestiu e foi para a sala tomar café com os pais. Ele sempre teve o hábito de levantar cedo e já começar organizar o dia para trabalhar. Enquanto esteve fora, estudou arquitetura, depois que voltou começou fazer algumas melhorias na fazenda, especialmente no alojamento dos empregados, deixando-os mais confortáveis e habitáveis.Naquela manhã ia com o pai inspecionar a serralheria da família. O ano passado começaram investir em madeira, tirando proveito do bosque que tinham na propriedade. Contrataram um homem que entendia tudo sobre as melhores espécies de árvores a serem plantadas, para criarem uma mata própria, enquanto isso, tiravam a madeira que já tinham.Quando chegou à sala, os pais já estavam sentados à mesa desfrutando do desjejum. A mãe de Arthur, Isabel era uma mulher
Eloise acordou mais tarde do que de costume na segunda-feira. Logo Firmina bateu a porta, entrando logo após ser solicitado. Ela parecia ansiosa.— O que aconteceu, Firmina ?Ela foi logo ajudar Eloise a terminar de prender os cabelos e a encarou através do espelho:— O homem que a senhorita encontrou outro dia, está aqui.Eloise a olhou assustada:— Arthur? Que horas são?Firmina seguiu puxando os cabelos da jovem com a escova num penteado no alto da cabeça:— Quase onze horas.Realmente Eloise havia dormido muito. O domingo havia sido como qualquer outro. Ela ficou em casa junto com os pais, não receberam nenhuma visita. Então ela foi para o quarto cedo, mas ficou lendo até tarde.— Eu preciso me apressar. Onde ele está?Firmina sabia que se referia a Arthur.— Na biblioteca com seu pai.— Faz t
Eloise e Arthur haviam combinado de se encontrar na aldeia à tarde. Então ela pediu a Ignácia que arrumasse uma cesta cheia de comida para levar às crianças. Ela falou à mãe que ia caminhar, mas dessa vez a mãe insistiu para Firmina ir junto. Já o pai de Eloise havia ido até a fazenda do Barros para desfazer o acordo.Enquanto caminhavam até a aldeia, Firmina e Eloise conversavam:— A senhorita combinou de se encontrar com ele, não é?Eloise a olhou e deu uma risadinha tímida:— Você acha que minha mãe desconfiou?Firmina sorriu de volta:— Sua mãe é muito perspicaz, senhorita.Elas seguiram o restante do caminho conversando e rindo. Firmina era confidente de Eloise e esta sabia que podia confiar nela. Ao se aproximarem da aldeia, algumas crianças que brincavam ali fora correram para enc
Eloise estava preocupada com Arthur e foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou ao local da briga, junto com Firmina, os dois homens já haviam sido separados. Arthur estava com um olho roxo e Estevam com o nariz escorrendo sangue e a boca cortada. Estevam se soltou dos homens que o seguravam e saiu andando rápido em direção ao seu cavalo. Quando ele passou por Eloise, a olhou com fúria nos olhos e lhe fez uma promessa: — Se não for minha, não será de mais ninguém!!! Eu tornarei sua vida um inferno. Ela se encolheu e ele passou. Montou em seu cavalo e saiu trotando. Eloise não entendia o que havia acontecido, Estevam nunca a amou, por que estaria fazendo aquilo? Orgulho ferido? Arthur correu em direção a ela. Pegou sua cabeça em suas mãos e a olhou nos olhos, nas bochechas, orelhas, examinando: — Você está bem? Ela ficou comovida com a preocupação, pegou a mão dele e o olhou: — Eu estou. Mas você não parece muito bem.