Após o episódio na biblioteca, Eloise e Arthur se separaram, indo cada um para um lado. Ele logo foi abordado por algumas mães e foi dançar com uma moça.
Enquanto caminhava de volta ao salão, Eloise pensava no que acabara de acontecer. Não era o certo, mas ela havia gostado mesmo assim. Agora precisaria conversar com os pais a respeito. Tão logo sua mãe a avistou, seguiu em sua direção.
— Querida onde estava? Seu noivo estava te procurando.
Sem entender sobre o que a mãe estava falando, ela o olhou surpresa.
— Noivo?
A mãe a fitou com um olhar de incredulidade por ela não lembrar.
— O senhor Barros, meu amor!
— Ainda não somos noivos!!!!
Eloise precisava resolver aquela situação o quanto antes. Mas antes de fazer menção a qualquer coisa para sua mãe, Estevam se aproximou.
— Boa Noite senhorita Queiroz.
Ela se virou e alcançou a mão que ele havia solicitado. Então ele deu um beijo em sua mão e ela a retirou em seguida.
— Boa Noite senhor Barros.
— Eu estive procurando pela senhorita.
Eloise não estava nenhum pouco afim de ficar dando explicações, mas sua educação não permitia que fosse grosseira.
— Estava na mesa de comidas e depois fui ao corredor de quadros .
Ele a olhou desconfiado:
— Esqueceu de mencionar sua dança com um cavalheiro.
A mãe a olhou surpresa. Mas Eloise permaneceu calma.
— Achei que não fosse algo importante para mencionar, mas já que falaste, sim, dancei com um cavalheiro.
Estevam permaneceu a encarando, era difícil saber o que se passava na cabeça dele, mas certamente não era ciúmes.
— A senhorita conhece o tal cavalheiro?
— Isso é um interrogatório?
A mãe lhe deu um beliscão por trás das costas perplexa e acrescentou:
— O senhor queira perdoar a minha filha.
Ele sorriu para a mãe de Eloise e estendeu a mão.
— Somente se ela me conceder essa dança.
Meio a contragosto, Eloise pegou a mão de Estevam e se dirigiu à pista de dança. Dançar com ele era maçante e ela nunca gostou, muito menos hoje. Estava sem paciência para ter que lidar com ele. No entanto, ele parecia estar gostando muito.
— Me desculpe por não ter ido visitá-la essa semana.
— Não se preocupe com isso.
Ele a apertou mais de encontro ao seu corpo:
— Fiquei com ciúmes de vê-la dançando com outro.
Ela não sabia como responder aquilo e nem se era verdade ou ele a estava perturbando.
— Não vejo motivos para isso. Não assumimos nenhum compromisso.
Ele deu um sorriso para Eloise e acrescentou:
— Pelo visto também está aproveitando até eu formalizar o pedido. Pois que seja, porque depois será somente minha.
Ela se sentiu enojada e ficou em silêncio. Olhou ao redor e viu Arthur a olhando no canto do salão. Ele lhe deu um sorriso e ela desviou o olhar com medo que alguém percebesse.
Assim que a música terminou, Estevam acompanhou Eloise até a beirada da pista e a olhou:
— Gostaria de dar uma volta? Pegar um ar?
— Obrigada senhor Barros, mas devo me juntar a minha mãe.
Ele pareceu ficar irritado, se aproximou do ouvido dela.
— Eu não sei porque sempre se esquiva de mim. Qualquer mulher aqui daria qualquer coisa para estar no seu lugar.
Ela se afastou e o olhou furiosa.
— Ainda bem que não sou qualquer mulher.
Ele a segurou forte no cotovelo e a fitou desafiando-a. Eloise não desviou o olhar e puxou seu braço.
Arthur estava observando de longe se contendo para não atravessar o salão e dar um soco na cara daquele homem que ousava importunar Eloise daquele jeito. Caminhou em direção a eles, quando chegou próximo, fingiu tropeçar e empurrou outro homem, que perdeu o equilíbrio e empurrou Estevam o fazendo se desequilibrar e quase cair. Ele pediu desculpas aos cavalheiros e saiu andando. Apenas Eloise viu seu rosto e aproveitou a deixa.
— Queira me dar licença, senhor.
Então saiu andando o deixando visivelmente irritado. Quando passava por uma coluna, alguém a chamou, ela olhou e viu Arthur. Ele lhe perguntou de longe se estava tudo bem e ela assentiu. Foi até a sua mãe e pediu para ir embora.
— Aconteceu alguma coisa querida?
Achou melhor mentir, pois se dissesse o quanto Estevam era um idiota, provavelmente teria que ficar mais.
— Estou com dor de cabeça.
— Vamos procurar seu pai.
Elas saíram em busca de Álvaro, que estava com outros cavalheiros numa conversa animada. Assim que viu a esposa e filha se aproximarem, ele foi ao encontro delas. Carmelia explicou a situação e não demorou e eles foram para casa.
Na carruagem, Álvaro perguntou a filha o que havia acontecido:
— O que desencadeou essa dor minha filha?
Ela o olhou:
— Uma série de coisas, principalmente o senhor Barros.
Sua mãe e seu pai se olharam sem entender, então a mãe que perguntou primeiro:
— Eu não entendo, ele estava ansioso para vê-la.
Eloise ainda estava furiosa:
— Após a dança, ele queria que eu o acompanhasse até a varanda e quando eu recusei, ficou muito ofendido e segurou meu braço com força.
Seus seus pais trocaram olhares novamente e desta vez o pai ponderou:
— Tem certeza que não está exagerando filha?
Eloise sentiu os olhos encherem de água, disfarçou e os secou, então disse:
— Pai eu o amo muito e respeito, mas saiba que eu não quero casar com o Estevam, eu o tripúdio e desprezo e serei a pessoa mais infeliz do mundo se me obrigar a isso.
O pai ficou transtornado, ele não esperava por aquilo. Nem pela atitude de Estevam e nem pela negativa da filha. E ele jamais poderia deixar ela ser infeliz. Sabia que muitas pessoas se casavam sem amor e depois acabam se gostando, mas a filha alegava que desprezava o rapaz. Teria que pensar em algo.
— Falaremos disso em outro momento quando estivermos mais calmos.
Então ele mudou de assunto:
— Vocês viram o alvoroço que o filho do seu Fonseca causou entre as moças solteiras? Parece inclusive que ele foi pego em uma situação comprometedora na biblioteca.
Eloise arregalou os olhos?
— Ah é? Com quem?
— O senhor Barros não reconheceu a moça.
A mãe de Eloise a olhou e percebeu que ela estava vermelha e ficou desconfiada, mas não disse nada. O pai continuou.
— O estranho é que ele veio falar comigo, marcar uma audiência para a próxima semana.
Eloise quase engasgou, ficou olhando para fora da carruagem. Sua mãe ficou ainda mais desconfiada:
— Você faz ideia do que ele quer falar, querido?
O marido a olhou e respondeu:
— Nenhuma. Mas ele é um rapaz muito educado. Gostei dele.
A jovem olhou para o pai com o coração apertado. Será que Arthur ia pedir para corteja-la?
Assim que chegaram em casa, cada um foi para seu quarto. Eloise tirou sua roupa de festa, escovou os cabelos e colocou uma camisola de dormir. Deitou na cama e sonhou com Arthur.
No domingo de manhã Arthur levantou cedo, lavou seu rosto, se vestiu e foi para a sala tomar café com os pais. Ele sempre teve o hábito de levantar cedo e já começar organizar o dia para trabalhar. Enquanto esteve fora, estudou arquitetura, depois que voltou começou fazer algumas melhorias na fazenda, especialmente no alojamento dos empregados, deixando-os mais confortáveis e habitáveis.Naquela manhã ia com o pai inspecionar a serralheria da família. O ano passado começaram investir em madeira, tirando proveito do bosque que tinham na propriedade. Contrataram um homem que entendia tudo sobre as melhores espécies de árvores a serem plantadas, para criarem uma mata própria, enquanto isso, tiravam a madeira que já tinham.Quando chegou à sala, os pais já estavam sentados à mesa desfrutando do desjejum. A mãe de Arthur, Isabel era uma mulher
Eloise acordou mais tarde do que de costume na segunda-feira. Logo Firmina bateu a porta, entrando logo após ser solicitado. Ela parecia ansiosa.— O que aconteceu, Firmina ?Ela foi logo ajudar Eloise a terminar de prender os cabelos e a encarou através do espelho:— O homem que a senhorita encontrou outro dia, está aqui.Eloise a olhou assustada:— Arthur? Que horas são?Firmina seguiu puxando os cabelos da jovem com a escova num penteado no alto da cabeça:— Quase onze horas.Realmente Eloise havia dormido muito. O domingo havia sido como qualquer outro. Ela ficou em casa junto com os pais, não receberam nenhuma visita. Então ela foi para o quarto cedo, mas ficou lendo até tarde.— Eu preciso me apressar. Onde ele está?Firmina sabia que se referia a Arthur.— Na biblioteca com seu pai.— Faz t
Eloise e Arthur haviam combinado de se encontrar na aldeia à tarde. Então ela pediu a Ignácia que arrumasse uma cesta cheia de comida para levar às crianças. Ela falou à mãe que ia caminhar, mas dessa vez a mãe insistiu para Firmina ir junto. Já o pai de Eloise havia ido até a fazenda do Barros para desfazer o acordo.Enquanto caminhavam até a aldeia, Firmina e Eloise conversavam:— A senhorita combinou de se encontrar com ele, não é?Eloise a olhou e deu uma risadinha tímida:— Você acha que minha mãe desconfiou?Firmina sorriu de volta:— Sua mãe é muito perspicaz, senhorita.Elas seguiram o restante do caminho conversando e rindo. Firmina era confidente de Eloise e esta sabia que podia confiar nela. Ao se aproximarem da aldeia, algumas crianças que brincavam ali fora correram para enc
Eloise estava preocupada com Arthur e foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou ao local da briga, junto com Firmina, os dois homens já haviam sido separados. Arthur estava com um olho roxo e Estevam com o nariz escorrendo sangue e a boca cortada. Estevam se soltou dos homens que o seguravam e saiu andando rápido em direção ao seu cavalo. Quando ele passou por Eloise, a olhou com fúria nos olhos e lhe fez uma promessa: — Se não for minha, não será de mais ninguém!!! Eu tornarei sua vida um inferno. Ela se encolheu e ele passou. Montou em seu cavalo e saiu trotando. Eloise não entendia o que havia acontecido, Estevam nunca a amou, por que estaria fazendo aquilo? Orgulho ferido? Arthur correu em direção a ela. Pegou sua cabeça em suas mãos e a olhou nos olhos, nas bochechas, orelhas, examinando: — Você está bem? Ela ficou comovida com a preocupação, pegou a mão dele e o olhou: — Eu estou. Mas você não parece muito bem.
Era uma quarta-feira de outono, mas fazia um daqueles dias atípicos. Estava muito quente. O sol estava forte. Eloise e sua mãe tomavam um chá na varanda da casa e conversavam sobre assuntos aleatórios. Álvaro havia saído para comprar fertilizantes para a lavoura de café e vacinas para o gado. O lacaio da fazenda o acompanhava. Após a libertação dos escravos, o pai de Eloise ficou com poucos homens trabalhando para ele, manteve duas mulheres na casa, seu lacaio e mais três homens que cuidavam do gado e do cafezal. Ele teve que vender muito do gado que tinha para pagar contas e conseguir manter esses empregados. Em relação ao café, não teve como diminuir a produção, pois já estava cultivado. E o lucro da venda desse que ia ajudar a pagar um salário para aqueles que ficaram e dar um sustento a família. Já havia se passado uma semana após o incidente com o Estevam e ele não havia mais dado sinal de vida. Eloise e Arthur se corresponderam por quartas nesses dias, enviadas através
Arthur estava desesperado. A fumaça estava muito densa e era difícil ver qualquer coisa à frente. Ao mesmo tempo estava com raiva de Eloise por ter se metido em algo assim. Conforme adentrava mais aquela nuvem, mais seu coração acelerava e seu corpo tremia, agora tinha certeza que amava Eloise e não podia perdê-la:— Eloiseeee!!!Arthur andava com cuidado, olhando para todos os lados, tentando não deixar passar nada. De repente algo o segurou no tornozelo e ele quase caiu. Olhou para o chão e deitada de bruços, com a cabeça dentro de um buraco, tentando se proteger da fumaça, estava ela. Ele se abaixou rápido e a pegou nos braços:— Eloise, meu amor…Passou a mão pelo rosto dela, tirando os cabelos que caiam na testa suada. Ela respirava com dificuldade e seus olhos estavam vermelhos:— Vem meu amor, vou tirar você
Firmina ajudou Eloise no banho, enquanto sua mãe foi conversar com o pai que havia chegado em casa e queria notícias da filha. Eloise aproveitou para obter algumas informações:— Firmina, você conhece a história de Romeu e Julieta?Firmina não entendia o porquê daquela pergunta naquele momento, mas respondeu:— A senhorita comentou comigo quando foi assistir a peça.— Há uns dias atrás eu li o livro e agora, depois de tudo que aconteceu, fico pensando se existe mesmo um remédio ou planta que pode fazer aquilo? Eu preciso me livrar do Estevam Firmina. Ele não vai deixar eu e minha família em paz até nos tirar tudo…Eloise estava abalada e lágrimas corriam pelo seu rosto. Firmina lavava seus cabelos com cuidado e parou para olhar para ela:— O que a senhorita está pensando?— Tenho um
Ao anoitecer daquele dia, após todos terem jantado e se retirado, Firmina preparou um chá para Eloise e foi até seu quarto. A jovem estava com um lindo vestido branco, cheio de rendas e bordados. Firmina a encarou e colocou a xícara ao lado da cama:— A senhorita está muito bonita.A jovem sorriu:— Obrigada Firmina. Estou um pouco nervosa.Firmina sentou ao lado dela:— Ainda dá tempo de desistir.— Não. Eu vou continuar. Já enviei a carta para o Arthur, não vai demorar muito para ele receber e a dos meus pais, você coloca embaixo da porta assim que eu adormecer.Firmina assentiu. Eloise pegou a carta e entregou a ela:— Será que vou sentir alguma coisa? Dor?Firmina pegou as mãos da jovem:— Eu acredito que deve ser como dormir. Eu ficarei aqui com a senhorita.Eloise assentiu e pegou a x