Assim que chegaram a margem do rio, Eloise correu para pegar suas roupas. Dandara, uma jovem da aldeia, vinha de encontro a ela para ajudá-la se vestir.
— A senhorita deveria se secar primeiro, permita que eu traga um pano?
Mas Eloise estava com muita pressa, não queria ficar exposta daquele jeito e também precisava correr para casa:
— Não será necessário, eu preciso mesmo me apressar
Seus cabelos que antes estavam presos no alto da cabeça em um coque, agora despencavam pelas costas. Ela os arrumou e prendeu com os grampos que restavam, colocando o chapéu para disfarçar um pouco.
O homem estava de pé a encarando e tão logo ela terminou de se vestir ele se aproximou:
— A senhorita está bem?
Eloise se virou e o encarou e fez uma leve reverência:
— Eu peço desculpas senhor pelo inconveniente e agradeço por ter nos resgatado.
O estranho deu um sorriso encantador para ela, retribuindo a reverência.
— Arthur Fonseca ao seu dispor.
Por mais que quisesse continuar a conversa, Eloise precisava mesmo ir para sua casa, antes que ficasse noite.
— Senhor Fonseca me perdoe, mas eu preciso mesmo ir para casa, como pode ver, não demora anoitecer.
— Eu posso acompanhar a senhorita.
— Eu lhe agradeço, mas não será necessário e também não seria conveniente uma dama ser vista sozinha na companhia de um cavalheiro.
Ele sorriu novamente para ela. Aquele sorriso era capaz de derreter todas as calotas polares da Antártida.
— Imagino que também não seja conveniente uma dama ser vista em roupas de baixo.
Eloise corou. Ele estava brincando com ela. E ela apenas se meteu naquela situação para salvar Erasto, poderia estar arruinada se alguém soubesse.
Arthur gostou muito de ter feito Eloise corar. Ele nunca havia conhecido uma mulher como ela, além de bonita, era corajosa e destemida.
— O senhor tem razão, mas a situação não permitia pensar nisso, era preciso agir rapidamente. Pretende comentar com alguém sobre o que viu?
O homem parecia se divertir com o medo de Eloise, mas resolveu não brincar mais com ela por mais tentador que fosse.
— Não seria muito cavalheirismo de minha parte fazer tal coisa com uma dama que coloca sua vida e honra em risco para salvar uma criança.
E quando Eloise achou que não poderia ficar pior, ele acrescentou:
— Guardarei as imagens apenas para mim.
Eloise virou as costas e começou a caminhar para longe de Arthur, embora ele fosse um homem muito bonito, ela o estava achando meio presunçoso e precisava se afastar rápido.
Um dos homens da aldeia, Nilo, havia retornado para casa e observava a distância a conversa. Assim que viu Eloise se afastar, se aproximou dela:
— A senhorita está bem?
— Estou sim Nilo, eu só preciso voltar logo para casa.
Nilo era casado com Dandara e pai de Kwame e Dina. Ele tinha um apresso muito grande pela jovem, graças a ela eles podiam morar naquele pedaço de terra e seus filhos tinham estudo e o que comer. Então ele faria de tudo para protegê-la.
Arthur seguiu Eloise e parou quando Nilo ficou na frente se colocando entre eles.
— Acho que está na hora do senhor ir embora. Nós agradecemos por ter salvo Erasto e a senhorita, mas ela deve partir sozinha.
Arthur encarou Nilo surpreso, jamais vira tal devoção de um ex escravo a uma pessoa branca e imaginou que a jovem deveria ter feito por merecer, o que o deixou ainda mais curioso sobre ela.
— Tens razão, não quero ser inconveniente, apenas queria saber o nome da senhorita.
Ela voltou sua atenção para ele, mas não lhe diria um nome, seria melhor se proteger enquanto pudesse.
— Nos vemos por ai senhor Fonseca.
Então virou e foi embora. Nilo permaneceu na frente de Arthur para que ele não a seguisse, este por sua vez ficou admirando a jovem indo embora.
— Espero que a veja logo…
Nilo o encarou percebendo o interesse na moça, então acrescentou:
— Ela é uma moça muito boa e estimada por todos aqui, tenho certeza que falo por todos quando digo que se alguém a fizesse mal, teria que se ver com todos nós.
Saindo do seu torpor, Arthur encara Nilo e pode ver que o homem falava sério, ele realmente gosta da moça misteriosa e está disposto a protege-la. Isso faz com que Arthur admire o protetor.
— Me chamo Arthur Fonseca, meu pai tem uma fazenda no outro lado do rio, se estiverem em busca de trabalho podem nos procurar, o salário é bom.
Nilo olha para o homem tentando decifrá-lo, imaginando se sua oferta é realmente legitima ou tem a ver com o fato dele querer se aproximar ainda mais de Eloise, no entanto ele não pode se dar ao luxo de não aceitar, sua família depende dele e no momento só tem conseguido alguns bicos que não pagam muito bem.
— Obrigado Senhor Fonseca, se precisar de algo, eu o procurarei.
Arthur olha em volta tentando identificar de quem são aquelas terras:
— De quem são essas terras?”
Nilo quase caiu na dele, mas se deu conta a tempo de responder:
— Acredito que o senhor descobrirá mais cedo ou mais tarde, mas espero que entenda que não serei eu a contar
Arthur sorri para ele:
— Compreendo. Preciso ir
Ele olha para o rio visivelmente incomodado ao concluir que terá que atravessar para o outro lado nas águas geladas. Como se pudesse ouvir seus pensamentos, Nilo o orienta:
— Andando mais abaixo tem uma parte mais rasa composta por pedras, será mais fácil o senhor atravessar por lá.
Após agradecer, Arthur sai andando em direção ao local indicado. Mais à frente conforme orientado, ele encontra um local mais raso, com algumas pedras, que facilitou a passagem. Caminhou até suas botas e casaco, os vestiu, pegou seu cavalo e cavalgou de volta para casa com um único pensamento: precisava saber quem era a moça misteriosa.
Enquanto isso Eloise caminhava apressada para casa, não pôde deixar de pensar no homem que a ajudou no rio, mas isso não era adequado e ela precisava esquecê-lo. O único problema é que não sabia se seria capaz.
Assim que chegou em casa, Eloise entrou pela porta dos fundos novamente e pediu a Ignácia que preparasse um banho quente para ela e correu para seu quarto antes que alguém pudesse vê-la. Assim que chegou em seu quarto começou se despir, primeiramente retirando o chapéu e os grampos do cabelo os deixando em frente a uma penteadeira.O quarto dela continha um guarda-roupas de madeira, uma cama de madeira com lençóis brancos de linho que estavam bem espichados. Continham também duas janelas com vista para o horizonte, que estavam cobertas com cortinas num tom creme, um baú que ficava aos pés da cama, além da penteadeira e uma cadeira.Não demorou e Ignácia, com ajuda de outra empregada apareceram com uma banheira móvel a colocando no quarto. Em seguida trouxeram toalhas e água quente.— A senhorita precisa de ajuda?— Obrigada Ignácia, m
Eloise e sua mãe caminharam até a sala de visitas, onde se encontravam os homens bebendo e conversando. Assim que elas chegaram, todos se levantaram e fizeram uma leve reverência. Carmélia caminhou até seu marido, ficando ao lado dele. O senhor Queiroz então falou:— Vamos a sala de jantar, que logo será servido.Estevam se aproximou de Eloise e ofereceu seu braço, o qual ela aceitou.— Permita-me dizer que a senhorita está muito bonita essa noite.Ela deu uma breve olhada para ele ao responder:— Obrigada senhor Barros.Ele sorriu para ela. Não um sorriso genuíno, mas algo malicioso e acrescentou:— Já que vou cortejar a senhorita, acredito que possamos nos tratar pelo primeiro nome.Eloise se sentiu frustrada, mas não cedeu:— Por hora prefiro continuar lhe chamando formalmente.— Como a
Arthur chegou em casa e foi direto procurar o pai na biblioteca. Estava curioso para saber sobre as terras do outro lado do rio, mais especificamente sobre a moça que havia conhecido.Fazia pouco mais de uma semana que ele havia retornado da Europa, onde havia ido estudar. Ainda não tinha frequentado nenhum baile e nem conhecido nenhuma dama no seu retorno. Mas não se enganem ao pensarem que ele era casto, pois aproveitou muito sua estadia na Europa, se divertindo com amigos.O fato era que conhecer Eloise mexeu com ele e nem o próprio sabia explicar porquê. Queria saber mais sobre ela, conversar, a conhecer melhor, saber sua comida e sua cor preferida, céus o que estava acontecendo com ele?A família de Arthur era muito rica, seu pai era um renomado fazendeiro de café. Após a libertação dos escravos, eles conseguiram manter todos que desejassem trabalhando para eles recebendo um sal&aac
Arthur deu um sorriso quando reconheceu a moça que havia acabado de salvar e não pôde deixar de implicar com ela:— Não sabia que já estávamos nos tratando pelos primeiros nomes!Ela rapidamente se levantou, ajeitando seu vestido.— Eu peço desculpas senhor Fonseca, me precipitei devido ao susto.Arthur a ficou encarando, ele havia gostado muito de ouvir ela lhe chamando pelo primeiro nome e imaginou como seria na intimidade. Aquele pensamento o deixou um pouco transtornado, mas ele conseguiu disfarçar.— Temos que parar de nos encontrarmos assim, se não vou achar que gosta de estar em meus braços.Eloise corou. Nenhum homem jamais havia falado daquela forma com ela. Um calor começou a invadir todo seu corpo ao imaginar-se nos braços dele. Então ela espantou aqueles pensamentos, afinal não eram adequados.— O senhor
Os dias passaram rapidamente e já era sábado. Eloise se arrumou para o baile com a ajuda de Firmina. O vestido havia ficado impecável e o cabelo foi trançado e preso no alto da cabeça com mechas que caiam em formato de cascata.— A senhorita está muito bonita.— Obrigada Firmina.Seus pais já estavam prontos e logo os três saíram na carruagem da família rumo ao baile. Eloise estava ansiosa, pois sabia que ia encontrar Arthur e tinha prometido uma dança a ele.Assim que chegaram a casa dos Barbosa, o cocheiro parou em frente a entrada da casa. Álvaro desceu e ajudou a esposa e a filha a descerem. Então se dirigiram ao hall de entrada, enquanto o cocheiro estacionava a carruagem junto às demais.O local já estava cheio, com diversas famílias aristocráticas da região. Os músicos tocavam uma melodia suave e tod
Após o episódio na biblioteca, Eloise e Arthur se separaram, indo cada um para um lado. Ele logo foi abordado por algumas mães e foi dançar com uma moça.Enquanto caminhava de volta ao salão, Eloise pensava no que acabara de acontecer. Não era o certo, mas ela havia gostado mesmo assim. Agora precisaria conversar com os pais a respeito. Tão logo sua mãe a avistou, seguiu em sua direção.— Querida onde estava? Seu noivo estava te procurando.Sem entender sobre o que a mãe estava falando, ela o olhou surpresa.— Noivo?A mãe a fitou com um olhar de incredulidade por ela não lembrar.— O senhor Barros, meu amor!— Ainda não somos noivos!!!!Eloise precisava resolver aquela situação o quanto antes. Mas antes de fazer menção a qualquer coisa para sua mãe, Estevam se aprox
No domingo de manhã Arthur levantou cedo, lavou seu rosto, se vestiu e foi para a sala tomar café com os pais. Ele sempre teve o hábito de levantar cedo e já começar organizar o dia para trabalhar. Enquanto esteve fora, estudou arquitetura, depois que voltou começou fazer algumas melhorias na fazenda, especialmente no alojamento dos empregados, deixando-os mais confortáveis e habitáveis.Naquela manhã ia com o pai inspecionar a serralheria da família. O ano passado começaram investir em madeira, tirando proveito do bosque que tinham na propriedade. Contrataram um homem que entendia tudo sobre as melhores espécies de árvores a serem plantadas, para criarem uma mata própria, enquanto isso, tiravam a madeira que já tinham.Quando chegou à sala, os pais já estavam sentados à mesa desfrutando do desjejum. A mãe de Arthur, Isabel era uma mulher
Eloise acordou mais tarde do que de costume na segunda-feira. Logo Firmina bateu a porta, entrando logo após ser solicitado. Ela parecia ansiosa.— O que aconteceu, Firmina ?Ela foi logo ajudar Eloise a terminar de prender os cabelos e a encarou através do espelho:— O homem que a senhorita encontrou outro dia, está aqui.Eloise a olhou assustada:— Arthur? Que horas são?Firmina seguiu puxando os cabelos da jovem com a escova num penteado no alto da cabeça:— Quase onze horas.Realmente Eloise havia dormido muito. O domingo havia sido como qualquer outro. Ela ficou em casa junto com os pais, não receberam nenhuma visita. Então ela foi para o quarto cedo, mas ficou lendo até tarde.— Eu preciso me apressar. Onde ele está?Firmina sabia que se referia a Arthur.— Na biblioteca com seu pai.— Faz t