UM CORAÇÃO VALENTE
UM CORAÇÃO VALENTE
Por: Josy Ribeiro
Prólogo

Oito anos antes …

James Winston

A viagem de volta a Molavid dura cerca de duas luas, é sempre exaustivo, somos tantos homens cansados das longas horas de batalhas, ansiosos em retornar para nossas casas, nos alimentarmos dignamente, repousar em nosso leito  e rever nossas famílias.

Entrei para o exército desde que atingi a idade suficiente, mas nunca estive tão ansioso com a volta. Como sub-oficial do exército cumpro todas as ordens do meu capitão Charles Ross, em dispensar a infantaria. 

Antes de me retirar, faço continência e observo o homem de cerca de quarenta anos, cabelos e  barba longas e expressão endurecida, adentrar a residência oficial, sozinho e solitário. Nosso capitão é um homem de longa experiência militar, começou ainda rapazote, possuidor de grande sabedoria, o maior soldado que já conheci em batalha, dono de habilidades extraordinárias. Ao seu lado aprendi técnicas de domínio militar impecáveis e se existe um soldado mais completo que ele, desconheço.

Já de costas para sair, ainda ansioso para o retorno ao meu lar, ouvimos de repente um som estridente já bem conhecido, se trata de um alarme soando para comunicar a todos que estamos sendo atacados. É inevitável não me preocupar, afinal estamos acabando de retornar de uma árdua batalha, nossos soldados não estão preparados para mais uma. Logo sons de gritos ecoam por toda parte, o capitão e eu saímos apressadamente e no caminho ele me dá ordens das quais acato imediatamente. Ao lado de fora, ficamos alarmados com o que assistimos, Molavid é incendiada e atacada por milhares de soldados inimigos. Toda nossa guarda-defesa não resiste, há pessoas desesperadas por todos os lados enquanto cavalos saltam carregando homens armados ferindo os nossos. Entro na luta, consigo abater alguns inimigos com bastante dificuldade, mas é nítido que estamos em menor quantidade, uma angústia me invade, temo que o pior aconteça e nossos inimigos alcancem os povoados. Meus olhos e os do capitão se encontram, ele está em uma árdua batalha entre espadas, socos e golpes. Ele reconhece minha aflição.

— Soldado, Winston, vá!

Ainda resisto por um instante, apesar dos meus temores, existe um juramento militar no qual eu fiz um dia, para lutar e proteger meu povo. 

— Não posso abandonar a batalha, Capitão!

Ainda ouvimos o tilintar das espadas entre gemidos de corpos sendo atravessados por lanças, flechas e espadas.

— Soldado James, é uma ordem, vá, não pode desobedecer uma ordem de seu superior!

Estou livre por um instante, e ainda consigo lhe auxiliar. Lutamos juntos, entretanto, somos cercados por mais barbaros, tudo fica ainda mais difícil, o capitão se lança a frente e vejo sobre seus os olhos negros e valentes, antes dele ser tomado por uma lança. Respiro fundo e sinto um golpe em minha retaguarda, me defendo e consigo pular caindo sobre a parte inferior do pátio. Me levanto ainda sentindo dores por toda parte do meu corpo pela queda. Golpeio um dos inimigo a postos de um cavalo bem a frente e tomo seu animal após combatê-lo. Subo e carvalgo na velocidade em que meu coração b**e, numa sensação angustiante.

Vejo o centro de Molavid ficar para trás, os corpos dos nossos soldados pela estrada, nosso capitão abatido e muitos moradores inocentes e suas famílias também mortos. Me apresso em galopar até chegar em casa, temendo que o pior possa ter acontecido. Noto que por aqui as coisas não são diferentes, as ruas estão desertas, mas há vestígios de que os inimigos passaram por aqui, tem animais soltos e sem direção por toda parte, restos de alimentos saqueados espalhados pela ruas, fogo e sangue, muito sangue.

Desço rapidamente do cavalo sentindo um aperto no peito como se algo o comprimisse, ainda fraco pelos temores entro em minha residência, a cena com a qual me deparo mexe completamente com minha estrutura. Tudo dentro da casa está fora do lugar, há muito sangue, minhas pernas fraquejam. O primeiro corpo que vejo é o da senhora Miller, ela cuidou de mim como seu filho após a morte de minha mãe. Sinto uma dor forte no peito. O corpo do senhor Miller está ao lado, é  nítido que ele tentou proteger a família. Saio apressadamente, entro nos quartos gritando por ela…

— Anne… 

Abro a porta de seu quarto e não consigo suportar… ela está alí, seu corpo delicado jogado ao chão frio… uma jovem tão bela e inocente… a pele antes rosada está pálida e gélida, seus traços tão delicados foram feridos de forma covarde e brutal. Havíamos feito um juramento de nos casarmos, nos amávamos, um amor inocente  e puro. Sinto que minha vida acabou neste exato momento. 

Me abaixo e seguro seu corpo em meus braços enquanto as lágrimas descem como uma enxurrada. Abraço sua pele que ainda está quente.

— Anne , meu amor…

 A é dor forte e cruel, uma sensação de impotência, fraqueza que jamais imaginei sentir.

— James! — a voz de de Hector, nosso General me invade. Ele está acompanhado de alguns soldados.

Ele ordena que os soldados façam uma varredura para conferir se tem algum perigo por perto.

— Sinto muito…

Ainda estou num transe doloroso.

— Charles foi abatido.

— Sim, eu estava com ele.

Dois soldados retornaram e cochicharam algo nos ouvidos de Hector.

O vejo engolir seco, seus olhos vem ao encontro do meu em desolação.

— James, eu sinto muito mesmo… mas… seu pai e seus irmãos também estão mortos.

São muitas emoções de uma vez. Desejo gritar, porém minha voz não sai, resta apenas o desespero e uma escuridão em minha alma que talvez me acompanhe para sempre pois foram muitas perdas em um só golpe

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