07

Quando estou a caminho da entrada de nossa residência, logo no pátio principal sou recebida por vários olhares intrigantes, certamente os servos avisaram a papai que eu estava a caminho e com um desconhecido em meu cavalo. Papai, meus irmãos e o General Adrian saem a porta de entrada completamente aturdidos com o que veem. General Adrian levanta imediatamente sua espada a fim de me defender, ele é um grande amigo da família, me viu nascer e crescer é aceitável seu comportamento. Afinal além de eu estar carregando um homem, minha aparência também não é das melhores, meus cabelos estão despenteados, minhas roupas sujas de sangue. Uma cena bastante intrigante.

— Srta. Helena! Não se preocupe, não vamos permitir que esse homem lhe faça mal! — Adrian grita se colocando à frente desembainhando sua espada. Sinto vontade de rir, se a situação não fosse tão séria.

— Não, este cavalheiro não vai me fazer nenhum mal.

— Helena! — Papai grita meu nome desesperado com a situação e confuso.

Desço do cavalo num salto, e todos estão extremamente desconfiados do meu acompanhante, na verdade principalmente Eduard que está estarrecido olhando para mim e para o capitão e se manifesta imediatamente:

— O que você fez com ela seu maldito? — Meu irmão grita com a voz esganiçada.

Por mais que Eduard seja bem exigente ao meu respeito, sei o quanto tem apreço por mim, ele me ama, não esperava menos dele.

— Acalme-se, eu já disse, ele não me fez nenhum mal, fui eu quem o salvei!

Falo estendo a mão ajudando o capítao a descer do cavalo. Ele ainda se esforça e finalmente consegue espaço para falar:

— Sou Capitão James Winston, de Molavid.

Então ao se apresentar, o clima muda consideravelmente. 

— Papai, este homem estava a frente da tropa de resgate de Bernard! — falo num tom bastante animado ainda o ajudando. Afinal fazia semanas que não tínhamos nenhuma notícia.

— Ajudem-no ele está ferido! — eu ordeno, então Edgar e um servo se aproximam para o ajudar.

O restante ainda parece desconfiado.

Papai se aproxima me encarando com um semblante nada bom, suas sobrancelhas grossas e grisalhas estão levemente arqueadas.

— Helena, você perdeu o juízo? Esse homem pode estar mentindo!

— Não papai, eu tenho certeza de que o capitão diz a verdade.

Eduard se manifesta novamente:

— Helena, você não deveria estar com Lady Carllyne?

— Foi tudo uma desculpa, eu precisei ir ao encontro do capitão James, havia o deixado na colcheia, no lado norte, eu o encontrei ontem, desacordado, ferido e febril na praia.

Eduard respira fundo com indignação por minhas atitudes.

— Mas você é muito ingênua, Helena, você tem noção do perigo que correu?

James que está com seu corpo apoiado em um servo se ergue fazendo um nítido esforço para ficar de pé sozinho.

— Me desculpe por me intrometer, mas sua irmã, a senhorita Helena, sabe se cuidar muito bem. Ela lutou bravamente contra dois homens do exército de Naor. E acabou com os dois, sozinha.

Fico emudecida com o elogio do capitão James, talvez até um tanto rubra, acho até que ele esteja exagerando.

— Helena! — Papai fala num tom aliviado por me ver bem ao imaginar o grande risco que corri.

— Estou bem, papai. Agora escutem o capitão James, ele tem informações importantes sobre Bernard — grito em desespero.

Papai e meus irmãos se entreolham com uma esperança crescente de boas notícias. De alguma forma sei que confiam em mim.

— Levem-no o capitão, ordene que lhe providenciam alimento, banho e roupas limpas — papai ordena ao criado. — Sou Theodoro Lewis, Capitão — fala estendendo a mão a James.

— Prazer General, fui encarregado pelo Marechal Hector Carvalhães.

Noto nos olhos de meu pai o quanto está agradecido.

Suspiro aliviada que tudo tenha  terminado. Me sinto esperançosa que consigam encontrar a tripulação e assim teremos meu irmão de volta e o capitão James poderá voltar para sua cidade.

Enquanto as servas me ajudam com o banho, elas não param de me fazer perguntas sobre minha aventura, não me surpreendo pois já estou acostumada com os mexericos entre a criadagem. Ainda estou na banheira e a Sra. Benect me auxilia com os cabelos, outra serva não para de sorrir ao falar sobre o capitão de Molavid, todas sempre se animam com os visitantes. Confesso que já vi uma delas aos amassos com Bernard no celeiro, foi a primeira vez que vi um homem e uma mulher completamente nus. Quando contei a Catherine ela me disse que era isso que os casais faziam quando se casavam, apesar de estranho, achei um tanto curioso.

— A Senhorita perdeu o juízo. E se ele fosse um homem mau?— uma serva fala mesmo depois de tudo que relatei.

— Eu adoraria me encontrar com um homem mau, feito ele, forte e bonito! — outra exclama e logo a Sra. Benect lhe dá um tapa nos braços enquanto ela esfrega minhas costas.

Sorrio achando engraçado, embora não seja nada adequado.

— Se comporte, Anabele — Sra. Benect a repreende.

Conto detalhes sobre a luta com os dois homens e logo estão todas atentas sobre minha aventura.

Após meu banho me deito para descansar,  o capitão está em repouso e não desce para o jantar. Edgar foi junto de Adrian a cidade levar as informações aos superiores. Ele ficou bastante animado depois que soube notícias do nosso irmão.

Quando retorno do jantar seguindo para meus aposentos sigo pelo corredor principal da casa, próximo do meu quarto vejo um servo sair com uma bandeja do quarto em que o capitão está hospedado, noto que a porta está entreaberta e consigo avistar a figura masculina deitada confortavelmente em uma cama grande. Me sinto inquieta e desejo muito saber como ele está, me aproximo, dou leves batidas, e aguardo mais ansiosa do que deveria. Talvez porque sei o quanto não é nada adequado entrar no quarto de um cavalheiro desacompanhada.

Certamente acreditando se tratar de algum criado, a voz do capitão soa autorizando a entrada.

— Entre.

Abro a porta lentamente, o capitão não me olha no primeiro momento, mas logo se vira para mim, vejo que ele me analisa da cabeça aos pés, fico tímida com sua análise e olho para o chão disfarçando minha inquietação, então noto em seu tom de voz que ele está surpreso em me ver.

— Srta. Helena...?

— Oi. Queria saber como o senhor está  — pergunto timidamente.

Mesmo tentando não encará-lo, é quase impossível, e consigo percebe como ele parece outro homem depois dos cuidados, sua pele morena está limpa o deixando num tom mais bronzeado, diferente dos homens daqui, tão brancos e pálidos. Sua barba foi aparada e ele está com o maxilar completamente liso, destacando a boca de lábios grossos e vermelhos. Usa uma espécie de bata de linho em mangas longas, com amarrações no peito que o deixam bem vestido.

— Estou, bem. Muito bem, senhorita. Graças aos cuidados tão gentis de sua família.

Tento desviar o olhar novamente, ver ele assim, bem e tão apresentável faz com que minhas pernas paralisem, não consigo se quer sair do lugar feito uma tola.

Finalmente falo com minha voz absurdamente trêmula:

— Fi-co fe-liz.

Então, de repente nossos olhos se encontram, e ficam fixos um no outro por tempo demais, um momento curto mas que pareceu uma eternidade, vejo um brilho em suas íris levemente verdes. Há um silêncio torturante e quando penso que ele irá se recompor o capitão sorri, seus dentes brancos e perfeitos causam em mim um tremor. A forma que ele me analisa também me deixa perturbada, talvez ele apenas esteja grato eu por tê-lo salvado. 

Ouço um pigarro, então me viro e vejo Edgar parado a porta nos observando, noto que fui pega, meu rosto queima como se tivesse feito algo muito errado, entretanto, ao menos consigo voltar a me mover. Sinto alívio enorme me invadir por ser Edgar, se fosse papai ou Eduard eu estaria encrencada.

Mas como se meus temores se tornassem reais, de repente a voz de Eduard  também invade o quarto, fico mais tensa.

— Helena, o que você faz aqui?

Antes que eu diga qualquer palavra, Edgar me ajuda.

— Lena, está comigo. Estávamos indo... — ele se perde.

— ... Edgar estava me conduzindo aos meus aposentos — eu lhe ajudo.

Edgar completa:

— Sim, isto. E no caminho decidi ver como o capitão James estava.

Eduard se convence facilmente e eu respiro aliviada. Olho de canto para Edgar, agradecida.

Eduard entra no quarto e se aproxima da cama do capitão passando por mim.

— E como você está meu caro amigo, capitão James?

O capitão nos encara constrangido em meio a situação, como se também sentisse que estivesse feito algo muito errado, porém, apoia a mentira.

— Estou muito bem... Estava dizendo isso aos dois... que estou me sentindo bem melhor.

Edgar entrelaça seus braços nos meus me convidando para nos retirarmos.

— Então... Vamos, Helena?

Faço uma mesura cordial a todos e saio com meu irmão me esforçando para tirar os olhos do nosso hóspede na cama, logo estamos ao lado de fora, entretanto meu coração ainda insiste em me desobedecer quando me esforço para aquietá-lo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo