Não é nada fácil viajar com tão pouco espaço, ainda mais tendo seu corpo espremido e sacolejado por várias vezes. Uma fresta no baú, me ajuda a respirar, mesmo assim, me sinto com um enorme mal estar por várias vezes, além da angústia que carrego no peito por estar deixando minha vida para trás.Após algumas horas, paramos a viagem, acredito que chegamos à marina, noto por causa do cheiro de peixe e tabaco. Não consigo ouvir o que se passa ao lado de fora, são muitos sons ao mesmo tempo, mas acredito que estão fazendo o carregamento para o navio. Me ajeito um pouco mais, pelo menos consigo esticar as pernas, para acabar com o formigamento. Minhas costas também doem, mas sei que preciso me esforçar ao máximo, afinal suportei algumas horas, posso aguentar mais, quando tiver toda certeza de que já estamos em alto mar, e o compartimento de carga do navio estiver vazio, talvez eu saia. Provavelmente pelo excesso de calor e pouco oxigênio minha pressão cai e acabo cochilando, não sei ao ce
Helena Os olhares sobre mim são muitos na sala do convés para onde o capitão James me trouxe, há curiosos espiando pelas escotilhas, acham engraçado ver a filha do General viajando escondido e usando apenas trajes debaixo, confesso que estou morta de vergonha pelos meus modos, não é nada decoroso que tantos homens me vejam assim. Porém tenho assuntos mais importantes nesse momento. A Senhorita Harley me analisa, parece um tanto insatisfeita com minha presença, sua expressão é dura e pesada sobre mim, provavelmente por eu ter atrapalhado seu momento íntimo com o capitão. E quanto ao mesmo, capitão James? Ah, esse parece mais ter visto o diabo.— Você perdeu o juízo, Senhorita Helena? — ele grita enfurecido. — embarcar em um navio escondido, e sem estar vestida adequadamente, sua família deve estar em desespero!Ele fala caminhando por todo lado.Magnus e Melin também estão presentes, ficam parados analisando a situação pensativos. Melin é o único que parece contente com a minha presen
HelenaQuando desperto já é tarde. Ouço um som de música bastante animado. Me recordo do convite de Melin e me animo um pouco. Termino de me vestir ainda com as roupas que me trouxeram, faço uma trança no meio da cabeça, termino de ajeitar o restante dos cabelos que estão soltos, agora em tamanho menor, quase aos ombros. Saio do quarto e sigo o corredor iluminado por pequenas tochas e sigo o som animado que me guia, confesso que temo que não seja uma boa idéia ir até lá, mesmo assim desejo me arriscar, acho que será melhor do que ficar aqui sozinha. Quando me aproximo do grupo me sinto um tanto constrangida, todos me analisam como se eu não fosse real. Até mesmo o som da música cessa deixando o clima constrangedor.Rapidamente avisto o capitão James, Magnus e Melin juntos, o Capitão está sentado com seu grupo. Mesmo surpreso com minha presença e impactado com minha aparência, parece não gostar nadinha em me ver aqui, nem muito menos de eu estar sendo o centro das atenções mais uma ve
HelenaDez dias foram o suficiente para conhecer toda tripulação, os homens que papai contratou para vir são muito competentes, quanto aos soldados de James parece que os conheço a tempos. O clima entre mim e James também melhorou, ele não me trata mais como uma bonequinha que pode se quebrar. Não conversamos novamente a respeito da guerra contra o exército de Naor, estou evitando falar sobre isso, pretendo conquistar sua confiança aos poucos.Acabamos de avistar terra firme e fico satisfeita, não é nada agradável passar três semanas em alto mar. Já estava ansiosa para pisar em terra.Molavid de longe já parece ser tão bela quanto Melin havia me descrito. Como se trata de uma parte do vilarejo que é militar, a primeira coisa que avistamos é o forte, com suas muralhas enormes de pedra e alguns canhões, eu nunca tinha visto um antes, James havia falado sobre eles em um jantar certa vez, confesso que fiquei muito curiosa.— Viu como é grande, da forma que eu havia dito — a voz de James i
Já em meus aposentos, retiro a presilha do meu cabelo e a lanço ao chão com mais força do que deveria, ela cai ao chão tilintando num som delicado. Estou furiosa e desejaria muito dizer algumas verdades para James. Acabar com toda sua prepotência, e autoconfiança, mostrar-lhe o quanto está enganado pensando que eu não sou capaz de entrar em uma guerra, muito menos que não passo de uma donzela indefesa que não sabe se virar diante de homens com espadas. Há muitos sentimentos me atormentando, e sei que não conseguirei dormir hoje. Me sento na cama e apoio as duas mãos no rosto respirando loucamente numa avalanche de emoções que me atormentam, as lágrimas queimam meu rosto enquanto a mágoa me fere pelo fato de James ser tão intransigente.— Tanto esforço para nada!— bufo. — Não acredito que tudo acaba aqui, e assim volto para Village... Não eu não posso!— repito com amargura, mas sei que é inútil, pois o único que poderia mudar essa situação, está relutante e não há nada que o faça mudar
A noite se arrastou, fiquei com dificuldade em pegar no sono mais uma vez. Refleti o suficiente acerca de várias coisas, a rejeição de James me causou uma grande tormenta, seu gosto ainda parece cravado em meus lábios, o calor de seu toque está impregnado em mim, ainda o sinto tocando minha pele por debaixo do vestido causando uma inquietação angustiante, basta fechar os olhos e está tudo aqui novamente.Me sinto completamente confusa entre meus sentimentos, sei que tudo isso é uma loucura, não há futuro entre mim e James, ele já me desprezou o suficiente para que eu entenda isso. Talvez todos estejam certos, eu deveria partir de volta a Village e seguir os desígnios de papai pra mim, me casar, se tornar a senhora Trover, e ter muitos filhos com a expressão irritante de senhora Rosene. Suspiro com pesar.Meu café é entregue por um dos servos, achei que fosse o melhor me alimentar no quarto, não desejo ter que encarar o capitão. Me aproximo da mesinha de mogno bem ao lado da janela e
Escrevemos para papai, um mensageiro levou as cartas, se não houver imprevistos, certamente chegará em três semanas. Avisamos sobre minha estadia aqui em Molavid, contei sobre todo o apoio de Hector e como estou bem instalada. Sei que papai irá surtar ao saber que irei lutar numa guerra de verdade, mas saber o propósito maior que eu tenho em honrar a memória do meu irmão talvez amenize sua dor. Os treinos são bem puxados, três vezes ao dia. E confesso que estou aprimorado minhas habilidades. Já se passaram mais de um mês que estou em Molavid, tenho me dedicado bastante e superado os limites do meu próprio corpo. Breve deve chegar a resposta das cartas que o mensageiro levou a papai. Estou muito ansiosa por notícias de todos. Desejo saber se tenho um sobrinho ou sobrinha, Catherine certamente deu a luz. Os dias aqui correm depressa, talvez porque finalmente faço o que gosto, ao invés de passar horas me dedicando as notas eruditas, ou aprendendo novos pontos de bordados, passo a mai
Quando a carta de papai chegou, não me contive em alegria, me derramei em lágrimas ali mesmo, na frente de todos. Não somente por saudades de minha família, mas por saber que todos estão me apoiando, sim, na carta que recebi, papai, está me dando sua benção, ele diz que sempre acreditou em mim mesmo que não tenha demonstrado, entregou em minhas mãos a missão de fazer justiça pela vida de Bernard. Então me senti completamente preparada para o que vou enfrentar daqui duas semanas. Recebi a notícia de que Eduard e Catherine tiveram o Benjamin, e que meu sobrinho está crescendo forte e saudável. Mas não pude negar o quanto fiquei decepcionada ao saber que o meu casamento ainda irá acontecer, então papai pede que eu me cuide e volte, mas que preciso estar ciente de que preciso cumprir o meu papel quando retornar.Saber que minha família me apoia de alguma forma me deu mais força. Estava guardando pela resposta da carta, há tempos. Agora me sinto em paz. A guerra acabou me fortalecendo, pa