Helena— Rendam-se, não há mais como fugir!— um deles grita enquanto os outros nos cercam ainda mais, com suas armas.Vejo a aflição nos olhos de papai e meus irmãos, é inevitável não me sentir culpada, no fundo eu sempre soube que Arthur não havia morrido naquela noite, mas não imaginaria que ele viesse até Village.Abaixamos nossas armas em rendição, James é obrigado a me soltar, não há muito o que fazer.— O general Arthur vai gostar muito disso! — um deles fala olhando para mim.James imediatamente se coloca a frente na tentativa de me defender.— A deixe em paz!Pela primeira vez não me sinto irritada por ser defendida, afinal se trata do homem da minha vida tentando cuidar de mim. E logo penso em nosso filho, o mesmo que está dentro de mim. Meu coração se aperta, pois James nem ao menos sabe sobre ele.O soldado chuta James de forma covarde o levando a cair de joelhos, fico em desespero, entretanto Melin me impede de reagir.— Não, Helena! Mesmo brava com meu amigo, sei que ele
HelenaAs lágrimas descem com violência, sinto meu coração ser esmagado por perder Melin. Ele foi corajoso se colocando à frente da espada de Arthur entregando em prol da minha felicidade, um ato que jamais esquecerei.Nosso reforço invade a casa, são os soldados de Village. Vários deles entram na sala e os sobreviventes de Tronte são minoria, e estão encurralados. O general Adrian, amigo de papai, se aproxima para averiguar a situação. James e Eduard tentam retirar o corpo de Melin para que eu não continue sofrendo. Enxugo meu rosto. Aproveito que estão distraídos e pego minha espada, me ergo, ainda estou em choque, sinto minha cabeça rodopiar, mesmo assim saio andando devagar, apoio nas paredes de pedra tentando me manter de pé. Procuro por Magnus que estava com Arthur em mãos, mas não o vejo, procuro por todas as partes. Me esbarro em um servo que havia lutado bravamente.— Onde está Magnus com o General Arthur?— Ele o levou até a prisão de guerra. James ordenou que o prendessem
HelenaTento abrir meus olhos, mas tenho muita dificuldade, sinto um cansaço incomum. Não se trata de um cansaço causado por esforço físico, ao contrário, é como se meu corpo estivesse na mesma posição por um longo tempo. Praticamente não sinto nada, e isso é estranho, parece que estou presa dentro de mim. Depois de muito esforço finalmente consigo abrir os olhos, aos poucos percebo onde estou, parece ser o meu quarto, as janelas estão fechadas e as cortinas mantém a escuridão. Acho que é dia pois não vejo lamparinas acesas. Então, aos poucos sinto meus braços porém ainda com leve dormência, entretanto, é nítido que aos poucos vou recuperando os movimentos. Tento mover as pontinhas dos meus dedos dos pés, e obtenho sucesso. Como se uma onda de calor e vida me preenchesse, vejo a figura máscula e viril deitada em cima de mim, sobre minha barriga, começo a sentir todo seu peso. Era James, seu rosto perfeito entre os braços deitados confortavelmente, é inconfundível. Parecia exausto, dor
HelenaDepois que James avisou minha família que eu havia despertado, foi uma alegria só pela casa toda, ou o restante que tinha sobrado dela. James havia me contado que papai solicitou uma grande quantidade de trabalhadores para reconstruir nossa propriedade. Os Tronteanos haviam destruído quase tudo. Eu havia ficado duas semanas desacordada, Catherine relatou que papai chamou todos os magos e curandeiros da região, no entanto ninguém sabia o que fazer, acreditavam que eu estava como uma "morta viva" foi assim que disseram, pois nunca tinham presenciado algo assim. O padre Gerônimo havia se reunido com todo grupo da igreja e disse a papai que o meu caso se tratava de uma maldição, devido a gravidez fora do matrimônio e que um espírito mau me mantinha respirando, entretanto minha alma já tinha sido levada. Chegaram a cogitar a possibilidade de cortarem minha garganta para terminar de vez com meu estado, e que na ocasião, James acertou o padre com um soco, recebendo uma imensa lista d
Oito anos antes …James WinstonA viagem de volta a Molavid dura cerca de duas luas, é sempre exaustivo, somos tantos homens cansados das longas horas de batalhas, ansiosos em retornar para nossas casas, nos alimentarmos dignamente, repousar em nosso leito e rever nossas famílias.Entrei para o exército desde que atingi a idade suficiente, mas nunca estive tão ansioso com a volta. Como sub-oficial do exército cumpro todas as ordens do meu capitão Charles Ross, em dispensar a infantaria. Antes de me retirar, faço continência e observo o homem de cerca de quarenta anos, cabelos e barba longas e expressão endurecida, adentrar a residência oficial, sozinho e solitário. Nosso capitão é um homem de longa experiência militar, começou ainda rapazote, possuidor de grande sabedoria, o maior soldado que já conheci em batalha, dono de habilidades extraordinárias. Ao seu lado aprendi técnicas de domínio militar impecáveis e se existe um soldado mais completo que ele, desconheço.Já de costas pa
Aproximadamente Século XIVHelena LewisSinto o suor escorrer do meu rosto fazendo trilhas até chegar em meu pescoço em meio ao som da espada de Bernard em atrito com a minha. Estamos no imenso pátio da nossa residência, próximo ao gramado e da fonte, nossa casa ao fundo, se trata de uma enorme e bela construção de pedra, bem parecida com um castelo, localizada nas terras férteis de Village. Bernard, meu irmão é forte e resistente, sempre fora, por isso seguro com as duas mãos de forma firme a minha arma e vou-lhe empurrando com tudo enquanto vejo seu rosto se enrijecer e as veias saltarem de sua têmpora revelando o tamanho de seu esforço. Meu coque negro se desfaz deixando uma longa mexa cair em meus olhos, e ao contrário do que esperam, não permito que me tire a concentração, afasto as pernas mesmo com dificuldades por causa do vestido longo, além dos espartilhos que as vezes me apertam demais, lutar com essas roupas não é muito justo, entretanto a ideia de que uma mulher use calças
Helena LewisA noite logo chega, e preciso me preparar. As servas me ajudam com o banho e a me vestir como de costume. Por mais que eu me esforce, não compreendo o motivo pelo qual não posso me arrumar sozinha, a quantidade de servos que temos para isso chega ser absurda, quando na verdade eu poderia muito bem escolher o meu próprio vestido e me pentear da forma que eu bem decidir. Penso, enquanto uma serva termina de ajeitar o meu cabelo e outra aperta os espartilhos, já falei que eu odeio espartilhos? Respiro fundo quando sinto que elas estão o apertando mais um pouco. Outra criada tenta ajeitar o meu rosto com alguma pintura, embora prefira de forma natural. Mamãe sempre dizia que meus lábios grossos e meus cílios grandes valorizavam minha aparência. Suspiro ao me lembrar dela, uma dor angustiante me invade, como se meu coração estivesse sendo comprimido lentamente, é assim todas as vezes que me recordo dela, principalmente em noites como esta, na qual preciso me esforçar ao máximo
A semana passou de forma lenta. Edgar e Bernard estão de partida para a guerra, foram convocados novamente para as intensas batalhas no reino do Norte. Meus irmãos são soldados desde que se tornaram com idade suficiente, por este motivo, quase não ficam conosco, o que nos causa grande sofrimento, somos uma família bastante unida, e mesmo papai se mostrando firme, sei o quanto ele sofre em todas as vezes com a partida deles. Eduard é o único que largou a carreira militar, por se tratar do primogênito, tem responsabilidades para auxiliar papai com os negócios por aqui.Sinto o abraço aconchegante de Edgar e na sequência um beijo no topo da minha cabeça. Ele tem um leve cheiro de tinta, certamente esteve pintando. Ele me contou que estava trabalhando em um quadro, eu sempre soube quando ele estava se entregando a sua grande paixão, as telas. Desejaria muito que meu irmão pudesse viver do realmente gosta.— Na próxima vez serei eu quem a desafiarei, Lena!Reviro os olhos fingindo que ele