Dou um salto da cama mesmo sabendo que ainda é muito cedo, não que eu acorde tarde todos os dias, mas desta vez o sol mal acabava de nascer. Preciso de tempo para pegar tudo que preciso e separar, antes que papai e meus irmãos me descubram.
Faço minha higiene rapidamente, me visto, e me penteio sozinha. Quando estou pronta saio do quarto muito ansiosa. Desço as escadas e sigo até a cozinha, os servos já estão organizando o café da manhã e um por um me encaram curiosos, são várias mesuras e cumprimentos. Respondo aos cumprimentos e noto ao redor que me encaram, certamente estão curiosos, nunca os donos da casa percorrem este caminho. Percebo uma das servas cutucar outra que está de costas descascando alguns ovos. De repente a Sra. Benect surge repentinamente, fico surpresa com sua presença, certamente alguém lhe avisou que eu estava por ali, e como ela é minha aia, é de sua total responsabilidade cuidar de todos os meus interesses, então ela rapidamente vem em minha direção preocupada e se inclina nitidamente curiosa — Srta. Helena, a Srta. acordou cedo, está precisando de algo, está se sentindo bem? — sua voz soa quase em desespero. Os criados estão sempre aos nossos serviços e não é comum serem dispensados como eu fiz ao me arrumar sozinha, além do mais também estou na cozinha, e isso é um despautério ao ver de todos. Observo de esguelha a criadagem e noto mais alguns cochichos e olhares quase imperceptíveis sobre mim. — Estou bem, Sra. Benect... — falo em tom mais alto que o necessário para que todos ouçam e parem com os burburinhos. — Eu havia me esquecido de pedir que preparassem uma cesta com algumas coisas bem gostosas, tenho o piquenique matinal com Lady Carllyne... Ah! E preciso também de uma sopa pode engarrafar por favor? Quando falo sobre a sopa, logo percebo novamente os mesmos olhares curiosos, porém mais discretos. Afinal quem levaria uma sopa para um piquenique com a Lady Carllyne? Pigarreio na tentativa de conseguir tempo para pensar em algo mais convincente. — Acho que estou adoentado. Me sinto um pouco fraca, e uma sopa cairá bem. A expressão da Sra. Benect não se ameniza pelo contrário ela fica mais preocupada. — Mas, Srta. Helena, então não seria melhor que ficasse em repouso, assim eu preparo a sua sopa e levo para Srta. no quarto, além de algumas infusões de ervas? Apesar de adorar a ideia das infusões de ervas, pois, também seria útil para tratar do desconhecido, porém, neste momento, preciso de algo para me livrar da Sra. Benect ou não conseguirei ir até cocheira hoje. — Ah, Não precisa vou levar a sopa, tenho certeza que me fará bem. Mas ... Sra. Benect... Poderia engarrafar algumas infusões de ervas, talvez também sejam útil... — novamente pigarreio, estou muito nervosa, não tenho hábito de mentir assim.— … para mim é claro! Mesmo não a convencendo e muito menos os curiosos em volta respiro fundo rezando em espírito para que não me delatem ao papai. Caminho até a grande sala onde sei que estão guardado algumas faixas para cuidar de ferimentos, assim não precisarei rasgar outro vestido, seria difícil explicar como isso aconteceu duas vezes. Guardo tudo em um cesto entre meus pulsos e saio, quando passo pela sala principal fico agitada ao ver papai, Eduard e Edgar se direcionado para saída conversando sobre algo. Confesso que por um instante esqueço tudo que estou fazendo e concentro minhas energias em toda felicidade por ver Edgar em pé como há muito dias eu não via. Ele parece bem melhor, apesar da pele pálida. Caminho em sua direção e me lanço em seus braços uma forma calorosa, ignorando os olhares confusos de papai e Eduard. — Edgar, como é bom vê-lo de pé, novamente. Sinto o cheiro do meu irmão invadir minhas narinas, ele me envolve tão carinhosamente quanto eu. — Sim, estou bem melhor, Lena. Só então noto que estou com a cesta e papai e Eduard me encaram. Rapidamente me recomponho. — Helena, você está de pé tão cedo? — papai fala num tom desconfiado. Me esforço para não gaguejar: — Bom dia, papai, bom dia irmão — falo beijando a bochecha dele e de Eduard naturalmente. — Lady Carllyne me convidou para um piquenique matinal, então precisei acordar cedo, afinal não vou permitir que ela se gabe por ser tão perfeita, sempre chego atrasada... — bufo como se estivesse frustrada. — desta vez quero ser pontual! — falo estufando o peito. Logo vejo os olhos de papai e Eduard brilharem, acho que fui convincente. — Isso é maravilhoso, filha, vejo que está se esforçando para se tornar uma boa dama. — Ótimo, Lena. Papai tem uma surpresa pra você — Eduard diz com uma expressão alegre que não me agrada. Por algum motivo fico apreensiva. — Filha... Estou organizando outro jantar com Alexandre e todos os Trover, seu noivo deseja estar conosco amanhã, precisa se preparar. Sorrio da forma mais convincente que consigo, apesar dos nervos insistirem em me incomodar. — Claro...confesso que estou ansiosa para desfazer o ocorrido do primeiro dia. Os dois me encaram convencidos e nitidamente aliviados. Sempre fui uma filha dedicada e obediente, e mesmo que fossem em outras circunstâncias não tenho como negar meu destino. Além do mais Alexandre parece ser uma boa pessoa. — Filha, não haveria um melhor marido para você, Alexandre é um grande homem. Assinto com um singelo e educado gesto de cabeça, e dentro de mim sinto um aperto no peito quase sufocante. — Você será muito feliz, minha filha. Edgar pigarreia, seus olhos vem ao encontro dos meus, é nítido que ele sabe que se trata de uma encenação de minha parte, por não ter outra opção. — Acho melhor deixarmos a Lena cumprir seus compromissos, precisamos nos preparar para receber o General Adrian, ainda estamos em busca de notícias de Bernard. Ouvi-lo falar o nome de Bernard, me faz recordar do meu compromisso com o desconhecido. Sei que não é correto mentir para minha família, mas sei que se trata de uma boa causa. Quando aquele homem despertar, talvez possa trazer notícias. Depois que vejo papai e meus irmãos se instalarem na sala de reuniões, a Sra. Benect surge com meus pedidos em outra cesta, coloco tudo em apenas um dos cestos sob seu olhar extremamente de desconfiança, mas a ignoro. — Menina, tenha juízo. — O que haveria de mais em um piquenique, Sra. Benect? Pergunto de forma retórica, entretanto seu olhar de soslaio ainda está sobre mim enquanto saio apressadamente.Cavalgo no ritmo do meu coração, rápido e intensamente, sinto tanta pressa em vê-lo novamente, o desconhecido, e saber se está bem, pois deixá-lo naquele estado me perturbou a noite inteira inquietando meu sono, além do anseio que tenho em saber notícias de Bernard. Meu sentidos não me enganam, ele sabe de algo, talvez seja apenas este o motivo de tanta agitação. Ao me aproximar da construção abandonada, deixo Eros no mesmo lugar de sempre, sobre a sombra de uma árvore. Abro a porta bem devagar, e me surpreendo ao ver que a colcheia está vazia. Retiro minhas luvas de montaria e coloco a cesta no chão, quando tento desvendar o desaparecimento do homem, de repente sinto que não estou só, todo meu corpo se agita, minha respiração se descontrola, e sei que ele está bem atrás, e pelo som de sua respiração sobre mim, ele não está nada amigável, acho que irá me atacar. Me abaixo e giro meu corpo rapidamente, consigo me colocar por trás dele num golpe que fui bem treinada, ele é muito alto
Quando estou a caminho da entrada de nossa residência, logo no pátio principal sou recebida por vários olhares intrigantes, certamente os servos avisaram a papai que eu estava a caminho e com um desconhecido em meu cavalo. Papai, meus irmãos e o General Adrian saem a porta de entrada completamente aturdidos com o que veem. General Adrian levanta imediatamente sua espada a fim de me defender, ele é um grande amigo da família, me viu nascer e crescer é aceitável seu comportamento. Afinal além de eu estar carregando um homem, minha aparência também não é das melhores, meus cabelos estão despenteados, minhas roupas sujas de sangue. Uma cena bastante intrigante.— Srta. Helena! Não se preocupe, não vamos permitir que esse homem lhe faça mal! — Adrian grita se colocando à frente desembainhando sua espada. Sinto vontade de rir, se a situação não fosse tão séria.— Não, este cavalheiro não vai me fazer nenhum mal.— Helena! — Papai grita meu nome desesperado com a situação e confuso.Desço do
Depois da minha ida ao quarto do capitão na noite de ontem, não o vi mais. Há uma grande correria pela casa devido ao jantar que papai está organizando para Alexandre e todos os Trover. Infelizmente não tenho mais como fugir desse compromisso.Sra. Benect e as outras servas terminam meu penteado, confesso que está deslumbrante. Fizeram uma trança e a rodearam como se fosse uma tiara deixando o restante solto, e colocaram flores em tons azuis e brancas como meu vestido. Desta vez Catherine surge na porta, para certificar que não irão apertar exageradamente o espartilho novamente, ela havia prometido a papai que ajudaria com isso. As meninas terminam de fechar o vestido de mangas levemente bufantes nos ombros e o restante longas. Minha cunhada aprova o que vê e sorri ao me entregar as jóias para usá-las.Quando chego ao alto da escada, tudo se repete como no último jantar, lá embaixo, todos os olhares se voltam para mim. Papai vem ao meu encontro e faz uma mesura, na sequência beija o
Enquanto o capitão James me leva para fora, observo o quanto estamos ainda próximos, é estranho, o carinho que há entre nós, é como se o capitão pertencesse a minha família, e mesmo sabendo que não é nada certo estar assim com ele, de alguma forma o capitão consegue me acalentar.Quando chegamos a entrada da casa, percebo que aquelas pessoas ainda estão lá, só então me recordo que fazem parte do grupo do capitão James. Quando o veem, eles se aproximam animados.O capitão James fala se direcionado a mim:— Gostaria que conhecesse meus soldados — fala com certa alegria, e compreendo, pois seu pessoal está vivo, e ainda trouxeram o corpo de Bernard de volta.Fungo e seco o rosto.— Sim, eu adoraria.Dois deles vem a frente, um loiro de cabelos longos e alto, e um mais baixo de cabelos cacheados também claros, parece ter minha idade.Todos fazem uma continência militar para o Capitão.— Capitão James! — o loiro e alto se manifesta — fizemos o que conseguimos, mas infelizmente, o soldado
— Capitão James?Mas que diabos ele tinha que vir até mim?Quando Eros já está quase parado, o capitão se aproxima me alcançando, temendo meus próprios sentimentos, evito encará-lo. Desço do meu cavalo e o deixo bem ali, seguindo para próximo da mata indo em direção a cachoeira e ouvindo o som da água se quebrando veementemente contra as rochas.— Srta. Helena! — ele me chama novamente.O ignoro adentrando a mata seguindo uma familiar trilha. Ele segue-me.— Vá embora! — Ordeno.Passo por debaixo de um galho baixo e logo estou na entrada da queda d'água, no mesmo lugar onde estávamos treinando com o arco dias antes.Quando noto que ele ainda está atrás de mim, suspiro aborrecida.Dou alguns passos para trás, mas estou perto demais da cachoeira, então paro. Minha respiração está rápida, e na medida que ele chega perto, meu coração quase para.— Está tudo bem com a Senhorita? Vi você sair apressada, fiquei preocupado.— O senhor não devia ter vindo — falo quase em lágrimas.— Me perdoe,
Todos os acontecimentos até aqui, narrados pela versão do James.James WinstonDepois que cai ao mar precisei nadar por longas horas, apesar da dor física causada pelo ferimento de espada consegui finalmente chegar a orla da praia, mas confesso que todo meu esforço físico me deixou exausto e acabei perdendo os sentidos, já era dia quando tive alguns relances em minha mente, vi a imagem de um anjo bem diante dos meus olhos, eu nunca tinha visto um ser celestial antes, talvez seja um sinal de que esteja morrendo. Não consigo me mover, estou fraco e tudo dói. Entretanto a paz que sinto ao lado deste ser é incrivelmente tranquilizadora. Apago novamente guardando os traços femininos e perfeitos em minha memória, se estou morrendo é uma imagem perfeita pra se guardar.Acordo sentindo um conforto, o ambiente está aquecido, abro os olhos devagar e vejo que estou deitado em uma espécie de colcheia abandonada. A luz de uma fogueira ilumina o ambiente. Levo a mão ao meu ferimento e noto um tecid
Helena Lewis — General Theodoro e toda sua família, quero agradecê-los, pela hospedagem — ouço o capitão James falar a papai à mesa durante o jantar.Depois do acontecido na cachoeira ele tem me desprezado completamente, não me olha, nem se quer fala comigo. Talvez seja melhor assim, isto só prova que realmente o nosso beijo não significou nada para ele.— Somos nós quem agradecemos, Capitão James, afinal você e seu grupo me permitiram enterrar meu filho — papai fala com emoção em sua voz.Minha família está toda à mesa, além dos soldados do capitão. É impossível não ficarmos entristecidos quando falamos de Bernard.O capitão James continua:— A guerra não acabou. Ainda teremos um confronto com os Trontianos. Quando chegarmos em Molavid, eu garanto que organizarei uma tropa e invadiremos Tronte, prometo vingar a morte de seu filho, General. Será com minhas próprias mãos que enfiarei uma espada no peito do general Arthur Saint, foi ele quem lançou a espada sobre Bernard. Com a espada
Depois de lavar o rosto várias vezes na tentativa fracassada de me livrar do contato do capitão James, ainda sinto seu cheiro cravado em minha pele, algo semelhante a almíscar, o que demonstra o quanto errado isso é, ao mesmo tempo inebriante, envolvente e enlouquecedor. Me visto preparando-me para dormir urgentemente, desejando me aquietar em repouso. Entretanto, é completamente inútil, estou aturdida demais e o sono desaparece, além do mais, a ideia de fugir e tentar embarcar escondido está fervilhando em minha mente, sei que parece algo insano, porém, não tenho outras alternativas, esta é minha única chance.São tantas emoções com tudo o que está acontecendo em minha vida que fico completamente perturbada. Me levanto da cama jogando os lençóis para o canto e caminho pelo quarto de um lado para o outro refletindo sobre o fato de uma possível fuga, analiso todas as possibilidades de sucesso e fracasso, caso eu seja descoberta acabarei tendo que passar muito tempo ao lado do capitão J