05

Dou um salto da cama mesmo sabendo que ainda é muito cedo, não que eu acorde tarde todos os dias, mas desta vez o sol mal acabava de nascer. Preciso de tempo para pegar tudo que preciso e separar, antes que papai e meus irmãos me descubram.

Faço minha higiene rapidamente, me visto, e me penteio sozinha. Quando estou pronta saio do quarto muito ansiosa. Desço as escadas e sigo até a cozinha, os servos já estão organizando o café da manhã e um por um me encaram curiosos, são várias mesuras e cumprimentos. Respondo aos cumprimentos e noto ao redor que me encaram, certamente estão curiosos, nunca os donos da casa percorrem este caminho.

Percebo uma das servas cutucar outra que está de costas descascando alguns ovos. De repente a Sra. Benect surge repentinamente, fico surpresa com sua presença, certamente alguém lhe avisou que eu estava por ali, e como ela é minha aia, é de sua total responsabilidade cuidar de todos os meus interesses, então ela rapidamente vem em minha direção preocupada e se inclina nitidamente curiosa 

— Srta. Helena, a Srta. acordou cedo, está precisando de algo, está se sentindo bem? — sua voz soa quase em desespero.

Os criados estão sempre aos nossos serviços e não é comum serem dispensados como eu fiz ao me arrumar sozinha, além do mais também estou na cozinha, e isso é um despautério ao ver de todos.

Observo de esguelha a criadagem e noto mais alguns cochichos e olhares quase imperceptíveis sobre mim.

— Estou bem, Sra. Benect... — falo em tom mais alto que o necessário para que todos ouçam e parem com os burburinhos. — Eu havia me esquecido de pedir que preparassem uma cesta com algumas coisas bem gostosas, tenho o piquenique matinal com Lady Carllyne... Ah! E preciso também de uma sopa pode engarrafar por favor?

Quando falo sobre a sopa, logo percebo novamente os mesmos olhares curiosos, porém mais discretos. Afinal quem levaria uma sopa para um piquenique com a Lady Carllyne?

Pigarreio na tentativa de conseguir tempo para pensar em algo mais convincente.

— Acho que estou adoentado. Me sinto um pouco fraca, e uma sopa cairá bem.

A expressão da Sra. Benect não se ameniza pelo contrário ela fica mais preocupada.

— Mas, Srta. Helena, então não seria melhor que ficasse em repouso, assim eu preparo a sua sopa e levo para Srta. no quarto, além de algumas infusões de ervas?

Apesar de adorar a ideia das infusões de ervas, pois, também seria útil para tratar do desconhecido, porém, neste momento, preciso de algo para me livrar da Sra. Benect ou não conseguirei ir até cocheira hoje.

— Ah, Não precisa vou levar a sopa, tenho certeza que me fará bem. Mas ... Sra. Benect... Poderia engarrafar algumas infusões de ervas, talvez também sejam útil... — novamente pigarreio, estou muito nervosa, não tenho hábito de mentir assim.— … para mim é claro!

Mesmo não a convencendo e muito menos os curiosos em volta respiro fundo rezando em espírito para que não me delatem ao papai.

Caminho até a grande sala onde sei que estão guardado algumas faixas para cuidar de ferimentos, assim não precisarei rasgar outro vestido, seria difícil explicar como isso aconteceu duas vezes. Guardo tudo em um cesto entre meus pulsos e saio, quando passo pela sala principal fico agitada ao ver papai, Eduard e Edgar se direcionado para saída conversando sobre algo. Confesso que por um instante esqueço tudo que estou fazendo e concentro minhas energias em toda felicidade por ver Edgar em pé como há muito dias eu não via. Ele parece bem melhor, apesar da pele pálida.

Caminho em sua direção e me lanço em seus braços uma forma calorosa, ignorando os olhares confusos de papai e Eduard.

— Edgar, como é bom vê-lo de pé, novamente.

Sinto o cheiro do meu irmão invadir minhas narinas, ele me envolve tão carinhosamente quanto eu.

— Sim, estou bem melhor, Lena.

Só então noto que estou com a cesta e papai e Eduard me encaram. Rapidamente me recomponho.

— Helena, você está de pé tão cedo? — papai fala num tom desconfiado.

Me esforço para não gaguejar:

— Bom dia, papai, bom dia irmão — falo beijando a bochecha dele e de Eduard naturalmente. — Lady Carllyne me convidou para um piquenique matinal, então precisei acordar cedo, afinal não vou permitir que ela se gabe por ser tão perfeita, sempre chego atrasada... — bufo  como se estivesse frustrada. — desta vez quero ser pontual! — falo estufando o peito.

Logo vejo os olhos de papai e Eduard brilharem, acho que fui convincente.

— Isso é maravilhoso, filha, vejo que está se esforçando para se tornar uma boa dama.

— Ótimo, Lena. Papai tem uma surpresa pra você — Eduard diz com uma expressão alegre que não me agrada.

Por algum motivo fico apreensiva.

— Filha... Estou organizando outro jantar com Alexandre e todos os Trover, seu noivo deseja estar conosco amanhã, precisa se preparar.

Sorrio da forma mais convincente que consigo, apesar dos nervos insistirem em me incomodar.

— Claro...confesso que estou ansiosa para desfazer o ocorrido do primeiro dia.

Os dois me encaram convencidos e nitidamente aliviados. Sempre fui uma filha dedicada e obediente, e mesmo que fossem em outras circunstâncias não tenho como negar meu destino. Além do mais Alexandre parece ser uma boa pessoa.

— Filha, não haveria um melhor marido para você, Alexandre é um grande homem.

Assinto com um singelo e educado gesto de cabeça, e dentro de mim sinto um aperto no peito quase sufocante.

— Você será muito feliz, minha filha.

Edgar pigarreia, seus olhos vem ao encontro dos meus, é nítido que ele sabe que se trata de uma encenação de minha parte, por não ter outra opção.

— Acho melhor deixarmos a Lena cumprir seus compromissos, precisamos nos preparar para receber o General Adrian, ainda estamos em busca de notícias de Bernard.

Ouvi-lo falar o nome de Bernard, me faz recordar do meu compromisso com o desconhecido. Sei que não é correto mentir para minha família, mas sei que se trata de uma boa causa. Quando aquele homem despertar, talvez possa trazer notícias.

Depois que vejo papai e meus irmãos se instalarem na sala de reuniões, a Sra. Benect surge com meus pedidos em outra cesta, coloco tudo em apenas um dos cestos sob seu olhar extremamente de desconfiança, mas a ignoro.

— Menina, tenha juízo.

— O que haveria de mais em um piquenique, Sra. Benect? 

Pergunto de forma retórica, entretanto seu olhar de soslaio ainda está sobre mim enquanto saio apressadamente.

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