Corri para fora de casa com a calça mais confortável que encontrei, sabia que se demorasse um pouco mais os rapazes deixariam-me para trás.
Fomos acordados muito cedo pela minha mãe, que mantinha na mente dela que atrasos não são toleráveis ainda mais quando o caso é saúde. É mesmo isso, mamã, é por causa disso que chego no lugar combinado uma hora antes do combinado e a pessoa chega lá uma hora depois do combinado. — Si... — o Kaine abriu os braços assim que viu-me a chegar, aproximei-me dele e abracei-o com toda a força que eu poderia usar. Ele esteve longe daqui por uns tempos, decidiu ir acampar com os amigos e ficou lá por duas semanas, incontactável. — Duas semanas sem a tua confusão e a minha mente está limpa — apoiou-se no carro e sorriu, o sorriso desafiador de sempre, puro joguinho dele. Kaine era o irmão mais velho de Edward, sendo o meu irmão mais velho também desde o dia em que eu adotei o Edward, quando tinhamos oito anos, a tia Monique dizia que ele era o meu animal de estimação porque desde que eu o adotei nunca mais nos largamos.Eles dois tinham uma diferença não tão grande, apenas o cabelo deles e a idade, o cabelo do Edward era mais claro, em um tom de castanho muito claro enquanto que o do Kaine é preto, dois anos era uma diferença de idade meio indiferente para os dois.
— A minha confusão é o que mais tens de precioso — estava convencida porque sabia daquilo, ninguém podia dizer o contrário. Juntei as minhas mãos e fiz uma vênia desajeitada, com gargalhadas no meio dela. — Eu tive saudades tuas, mas voltaria na primeira oportunidade — fechou os olhos e sorriu ainda mais, como se estivesse a apreciar alguma memória. — E pelos vistos estas duas semanas fora não te fizeram mudar de visual, essas calças são de vestir ou de decorar o quarto?Era sempre assim, gozavam com as minhas roupas coloridas e repletas de desenhos como a calça que estava no meu corpo, que tinha montes de borboletas de cores e estilos diferentes, com as barras laterais da calça em lilás, a parte da frente em rosa e a traseira em laranja. Se eu estivesse com uma calça colorida era motivo de troça e quando estava com calças simples, apenas jeans sem desenhos nem detalhes, perguntavam se eu estava louca ou não tinha nada mais para comprar. Bando de desmiolados e indecisos. — Eu tive saudades tuas, não da tua cabeça sem miolos, disso não — estiquei-me e dei um beijo no lado esquerdo da cabeça dele. — Kayline, ainda bem que vêm connosco, não vejo a hora de livrar-me desses médicos — a tia Monique, a mãe de Edward, era a única que tratava-me pelo segundo nome com muita frequência, as outras pessoas tinham muita dificuldade ao falar o nome e ele foi ignorado, desilusão. O cabelo castanho claro, como o do Edward, estava preso com um gancho enorme em forma folha, com brilho e pedras brilhantes, falsas ainda assim, pedras brilhantes. Só faltava os lábios rasgarem até as orelhas de tanto que ela sorria, apenas atentos saberiam que ela estava preocupada. Eu ouvi a voz do Kaine, baixinho quase um sussurro, a dizer para a mãe que tudo iria ficar bem e ela não precisaria ficar preocupada. Entramos todos para o carro, o Kaine no lugar do motorista, o carro era dele afinal de contas, o que sobrou do pai para ele, tia Monique estava sentada no banco ao lado, e nós os quatro, apertados e a tentar estar o mais confortáveis possível na parte de trás. — Desse jeito vamos chegar ao hospital com uma dor de matar — o carro não era grande, tinha um espaço para três pessoas na parte de trás, éramos quatro. — Nem é para tanto — o Kaine ajustou o retrovisor central e ligou o rádio sem mesmo colocar o carro para andar. — Até vou escolher uma música aqui para não ser obrigado a ouvir a vossa voz. Connection dos OneRepublic começou a tocar na rádio e ecoou pelo carro todo sendo abafada pela nossa voz, um grupo de cantores desafinados que sabiam a letra, mas só dava vontade de tapar os ouvidos. — Vocês são tão barulhentos — a tia Monique reclamava e mexia o corpo ao ritmo da música, as gargalhadas soaram muito alto e continuamos a cantar. Não levou muito tempo para chegarmos ao hospital. O letreiro com “ Hospital Marigold” escrito em ponto grande, estava logo a frente e tão visível. O carro parou e descemos em direção a entrada do hospital. Estávamos todos na sala de espera a aguardar que o Edward fosse chamado. A sobrancelha esquerda dele começou a tremer e batia o pé direito, freneticamente, no chão, sinais claros que ele estava ansioso. — Vai ficar tudo bem — apoiei os meus cotovelos nas pernas dele e olhei nos olhos castanhos dele, que refletiam preocupação e talvez medo. — Não sabemos isso, nenhum médico pede para fazer exames agressivos se não desconfia de algo — não entendi o que ele quis dizer com aquilo, não fazia ideia de como funcionava os exames que ele fez. — Eu investiguei, a biópsia, que foi o exame que eu fiz é para ter certeza de uma suspeita de cancro, algo que o raio-x pode não detetar com tanta precisão, ele só precisa da confirmação. — Ei, ei, ei, nada de pessimismo, somos os reis das soluções mal formuladas e que funcionam sempre — um título que nunca iria existir, mas que para nós fazia a maior diferença. — Vamos dar um jeito, seja qual for o resultado — tentava não pensar na possibilidade “ cancro” e manter-me aberta a outros resultados, não que ter outra doença fosse uma hipótese. Ele pousou a mão na minha cabeça e balançou ligeiramente abanando a minha cabeça para frente e para trás. — O que eu faria sem ti, resmungona? — Dormirias tranquilamente sem eu pular em ti, comerias em paz porque os meus dedos pequeninos e colheres não estariam a mexer toda hora no teu prato, serias um cozinheiro maravilhoso — o Arthur olhou para mim com os olhos arregalados e o nariz inclinado para o lado, eu não sabia como ele conseguia fazer aquilo, quando eu tentava não funcionava. — Não precisarias saber nada sobre menstruação, namorados, rapazes assediadores, batons de diferentes cores e texturas, sutiãs, melhores cuecas para cada ocasião, primeira vez, braids malucas... queres mesmo que eu continue a enumerar as coisas inúteis que aprendemos até agora por termos uma Siana? — Não era tão mal conviver comigo, apenas gostava de contar as coisas para os meus amigos, não tive a oportunidade de ter uma amiga, quando tentava criar uma amizade com raparigas, um deles namorava com ela e depois que terminavam, a amizade também desaparecia, como se nunca tivesse existido.
— Nem precisas, já sei dessas coisas — olharam um para o outro e caíram na gargalhada.
— Assim vocês já sabem como as vossas esposas irão funcionar e vão saber como agir, o que fazer e o que não fazer, meus bebês — joguei o meu corpo para trás até sentir a cadeira contra as minhas costas, cruzei as pernas o máximo que consegui e dei o meu melhor sorriso, o perfeito para uma cena de novela. — Não agradeçam muito. — Edward Cross. — Nós... — o Pierce levantou mais depressa que qualquer um e gritou, como se estivesse em algum espaço aberto e seguro para gritos, depois que o nome do Edward foi dito. — Michel — a bolsa verde que estava na mão da tia Monique foi parar ao ombro esquerdo do Pierce e tudo o que ouvimos depois foi o grito de dor dele. — Sim, doutor. Michel era o seu último nome, perto da tia Monique nos controlamos para tratar o Pierce pelo sobrenome porque o nome do pai do Edward era o mesmo e quando falamos o nome dele perto dela as lágrimas dão a graça da sua existência, as pernas ficam trêmulas e quase desmaia. Ele pediu desculpas baixinho e todos seguimos o médico para a sala, que ficou espantado pela quantidade de pessoas e quando pediu para alguns ficarem de fora recebeu uma palestra sobre família dada por nada mais nada menos que o Pierce. — Edward, senta-te aqui, os outros podem aconchegar-se do jeito que preferirem — o médico indicou a cama hospitalar para ele, estava coberta com um papel branco que cobria todos os espaços. Sentei na mesma cama, mas perto dos pés dele, a tia Monique na única cadeira para além da do médico e os outros ficaram em pé. — Primeiro, eu gostaria de saber como estás? Tiveste algum efeito colateral depois que fizemos o exame? — Se tivesse algum efeito colateral teria vindo para cá antes — depois de olhares intimidadores vindos de ninguém mais que a mãe, suspirou e respondeu as perguntas que foram feitas. — Eu estou bem e não, não tive nenhum efeito colateral. — Bom, acho que agora posso seguir — aproximou-se de Edward com a prancheta castanha nas mãos, ajeitou os óculos invisíveis e olhou para as outras pessoas na sala. — Preciso que escutem com atenção e cuidado. — Fala logo que aqui todos somos um bando de ansiosos, vamos ter um ataque — a incoveniência e o Pierce, melhores amigos para toda a vida e inimigos dos olhares de repreensão. — Eu nã... — Calados — a única voz que alguém ali obedecia tomou as rédeas da situação. A tia Monique tinha o maior dos problemas naquele momento, impaciência. — Pode continuar, doutor. — Os exames que eu fiz foram para confirmar uma das suspeitas que eu tinha sobre os problemas que o Edward vem a ter e esses resultados, infelizmente, deram positivo para a minha suspeita. — E qual é essa suspeita que foi confir... — Michel — o Pierce interrompeu o médico para ser repreendido pela tia Monique como era sempre, a única que não o repreendia era a mãe dele, mas isso é porque ela faz a mesma coisa. — Edward, lamento dizer que... — abraçou a prancheta com o braço esquerdo, olhou para o Edward, que estava com a cabeça no apoio da cama e com o olhar distante, suspirou, os ombros despencaram, a boca ficou entreaberta e finalmente falou. — ...tens cancro nos pulmões. E aconteceu o que ele achava que iria acontecer, a confirmação do cancro, como aquilo poderia ser possível? Eu tentei ser otimista e fazer ele apagar aquela opção da cabeça, e em nada resultou. Peguei a mão dele e apertei, ele precisava saber que eu estaria aqui para tudo e que ele ficaria melhor, não curado porque eu não tinha como fazer aquilo, mas ainda assim, bem. — O cancro está em um estágio não muito avançado e por isso precisamos começar o tratamento o quanto antes, para impedir que avance, claro que vai depender de vocês — largou a bomba e ainda espera que algum de nós reaja. O Pierce estava com as costas apoiadas na parede e olhava fixamente para a janela que estava a frente, o Kaine tinha as sobrancelhas enrugadas e o lábio contraído, estava mais tenso que nunca, o Arthur olhava para as costas do médico a fazer caretas esquisitas e a tia Monique, ela estava... apagada. A cabeça baixa, a bolsa que foi parar ao chão continuava lá, parte do cabelo cobriu o seu rosto e uma das mãos estava na cintura, a pressionar como se quisesse esconder alguma coisa. — Que tipo de tratamentos seriam esses? — O Kaine tomou o controle de tudo e questionou o médico sobre o que ele disse. — Em uma primeira fase, uma cirurgia, para a remoção de tecidos cancerígenos — senti a minha mão a ser apertada e olhei para Edward, virou a cabeça para a parede cinza e com a mão livre, que era a direita, tapou o ouvido esquerdo. — Em uma primeira fase? Quantas fases há? — A pergunta que não queria calar, quantas fases seriam. — As fases dependem muito de como o paciente irá reagir, em uma parte dos casos a cirurgia costuma ser o suficiente para prolongar a vida dos pacientes. — Ficaria melhor se tivesse dito na maior parte dos casos — o nervosismo do Pierce se notava pela voz trêmula e por ele não ter falado alto. — Vou deixar-vos sozinhos, volto dentro de alguns minutos para saber qual foi a vossa decisão — ele saiu levando junto a sua tão amada parceira de trabalho, a prancheta. O que eu temia de verdade era o Edward não aceitar o tratamento. Desde que o pai morreu em uma mesa de cirurgia que o Edward tem medo de passar por uma, tem medo que corra tudo mal e a vida dele acabe aí, sem ninguém que conhece do lado dele. — Mãe, eu não quero a cirurgia — as lágrimas desciam do rosto dele desesperadamente, não sabia o que ele sentia, com certeza deveria ser difícil ser diagnosticado com cancro e ainda ter que passar por um tratamento que já te deixou traumatizado. — Ai, meu amor, vai ter que ser — ela aproximou-se muito rápido e sentou bem ao lado de Edward e segurou a mão que antes era eu a segurar. Saímos da sala e deixamos a tia Monique com o Edward, apenas os dois, para conversarem sobre o que iria acontecer dali para frente. — Cancro — as nossas cabeças estavam em posições tão diferentes e todos pareciamos partilhar da mesma incredulidade. — É, parece muito real — foi tudo o que o Arthur conseguiu responder antes de vermos mãe e filho a passarem pela porta, seguidos de um médico que tornou o dia difícil de suportar. — Levantem, vamos embora — os rostos vermelhos dos dois deixavam bem claro que seria melhor obedecer que fazer perguntas sobre a decisão deles. O Edward agarrou a minha camisola para manter-me perto dele e caminhamos juntos pelo hospital, ele com uma mão a agarrar a minha camisola por trás e a outra a agarrar a minha mão. O silêncio dentro do carro era retirado somente quando algum carro passava pelo nosso. Ninguém queria falar sobre nada, nem música queríamos ouvir e o Pierce engoliu a incoveniência por momentos. Chegamos em casa tão rápido que nem reparei. — Podes dormir comigo hoje? Não quero ficar sozinho — a cara chorona do Edward era o suficiente para convencer-me a dormir na casa dele, ele não precisava pedir duas vezes para eu aceitar. — Vou só avisar a mamã — ele assentiu e eu segui para a minha casa. Entrei para a minha casa a correr e procurei a minha mãe por todos os lados. A casa não era tão grande e morávamos as duas lá, o meu pai desapareceu muito antes de eu nascer segundo a minha mãe. — Vou dormir na casa da tia Monique hoje... — o bom de ter uma amizade que até os pais conhecem-se é que podemos dormir na casa do outro sem muito problema. — Tudo bem, mas Siana, como foi a consulta? O que o médico disse? — Dona Helen limpou as mãos no avental verde lima que estava no seu corpo e virou-se para mim. — Ele tem cancro, cancro nos pulmões, é isso que ele tem — a minha mãe arregalou os olhous, pressionou os lábios e pôs a mão direita na cabeça. Estava espantada, mas adivinha só... quem não ficou espantado? — Meu Deus! Como está a Monique com isso? — A mão que estava na cabeça foi parar ao peito e a respiração dela acelerou.— Desolada, deprimida, as opções não são tão bonitas — eu tentei sorrir, mas acabou que saiu uma careta ao invés de um sorriso
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— Vai, apoio é o que ele mais precisa agora — dei-lhe um beijo na bochecha e um abraço para agradecer por ela se importar. O meu otimismo foi pela descarga abaixo a uma velocidade de 500km/s, tentava ter pensamentos positivos e acreditar que tudo ficaria bem,as coisas não poderiam piorar do dia para a noite.— Sabe, eu não sinto o meu corpo fraco, sinto que o que enfraqueceu foi a minha emoção — eu estava do lado do Edward, sentada no tapete cor vinho que estava na sala, com a cabeça apoiada no sofá a ouvir tudo o que ele tinha para dizer. Ele chorava e agarrava a minha mão com mais força, os joelhos estavam dobrados perto do peito, onde estava apoiado um dos braços dele. A camisola azul bebê do pijama estava molhada com as lágrimas e tudo o que consegui fazer foi aproximar-me mais e o abraçar. O choro intensificou, a cabeça dele apoiada no meu ombro esquerdo a esconder parte da cara no meu pescoço, a vontade de chorar junto com ele não faltava. Acariciava as costas dele devagar, ele não estava sozinho ali e podia contar comigo para chorar. — A pior parte é que nem a mentira de que tudo vai ficar bem funciona
Uma língua que eu gostaria de aprender a falar é a língua do trio fantástico. Eles parecem ser aliens a conversar porque eu não pego nada, mesmo depois de tantos anos a tentar ser a fofoqueira perfeita, sem efeito, eram tão eficazes a entenderem-se que nem davam espaço para eu descobrir umas coisas, que maus. — A tentar entender o que eles estão a falar? — O Edward sussurou no meu ouvido e riu, sabia qual seria a minha resposta. — É assim tão óbvio? A noite de cinema foi planeada pela tia Monique, era a quinta sessão de quimioterapia do Edward e ela queria que ele não se sentisse doente, quase ordenou que fossêmos todos passar o dia na casa dela e ela mudou-se para a minha casa, só por esta noite. — Não, eu sei que tentas entender o que eles fa
Acordar cedo sempre foi um problema para mim, ainda mais quando estive de férias por tanto tempo e de um momento para outro as aulas começam. Parece que tudo está coordenado, quando as férias estão a melhorar, as aulas começam. Desgraça.Mais um dia de aulas e aqui estou eu a preparar-me para ir para a escola, com toda a preguiça a tomar conta do meu querido corpo. O engraçado é que ficava super ansiosa para ter férias e depois não fazia nada de jeito, e o pior é que mesmo sem ter ido para escola já perguntava quando viriam outras férias.Desço a escada a correr, que não possui tantos degraus assim, se contar tem apenas 25 degraus, nem sei porquê que contei, dirijo-me a cozinha para comer alguma coisa e ir para a escola, era próximo da minha casa, portanto eu podia facilmente ir a pé para lá.Eu andava até lá juntamente com o Pierce, o Arthur e o Edward, mas pelo estado em que ele está e o quanto os tratamentos o consumiram, ele
Perder alguém importante é algo dificil para todo mundo, uma pessoa com quem compartilhamos tantos momentos e que ganhou o nosso coração, o nosso amor e o nosso tempo.Quando era mais nova, acreditava que podia impedir que os meus amigos morressem ou que eu fosse morrer antes deles, era mais fácil deixá-los a sofrer do que eu sofrer. Nunca pensei que teria que passar por uma coisa tão desconcertante. A respiração pesada fez o espelho ficar embaçado, cansaço não era uma palavra para me definir, parecia mais um caco.Eu só pensava nele, em todos os momentos, olhava para todos os cantos da minha casa e ele era tudo que eu via, passava tudo pela minha mente como um flashback doloroso. As memórias seriam umas assassinas maravilhosas, dividir a minha mente e o meu coração em pedacinhos era o joguinho perfeito para elas. Aqueles quatro dias foram os piores da minha vida, os colegas diziam que lamentavam imenso a minha perd
Duas semanas.Duas malditas semanas sem o meu melhor amigo, em que fiquei chorar até tarde por olhar para alguma fotografia. Flashbacks passavam pela minha cabeça a todo o momento. Crianças a correr de mãos dadas, a cair e rir depois, a ficarem borradas de comida por diversão, a fórmula perfeita para as lágrimas que agora dançavam por todo o meu rosto.— E agora? O que eu faço? — O espelho refletia a versão mais desagradável que eu alguma vez já vi de mim.— Ergues essa cabeça e continuas com a tua vida — a voz calma foi ouvida pelos quatro cantos do quarto.— Como é que isso se faz? — Cabisbaixa, a minha mãe aproximou-se de mim e segurou os meus braços.— Vai ser difícil, mas vais conseguir — usou um lenço para limpar algumas lágrimas que estavam penduradas nos meus olhos e sorriu. — Tudo que precisas é sair desse quarto, sair desta casa, andar por aí sem rumo, é fim-de-semana.— N
A curiosidade definitivamente matou o gato, por um enfarte isso sim, eu queria tanto abrir aquela caixa assim que acordei, mas estava atrasada então tive que correr e deixar a caixa ali, quietinha a espere que eu volte para casa e a rasgue toda, fui para a escola e a única coisa em que eu estava a pensar era aquela caixa.O que há dentro dela? Será que é uma bomba de tinta? Comida? Que estava fora de questão, seria uma loucura colocar comida em uma caixa e deixar lá por duas semanas. Desenhos? Poemas? Rabiscos?— Siana — eu estava tão distraída que só percebi que o Arthur estava a chamar por mim quando fui balançada. Olhei para ele e ele mandou o seu melhor olhar ciníco. — Estás muito distraída, nós estávamos a falar sobre fazermos álbuns com fotos do Edward, entregarmos para o Kaine e separar alguns para nós,
O frasco na secretária permanecia ali como se estivesse a espera que eu fosse até ele, a espera que eu cumprisse a promessa e retirasse um dos papéis. Calafrios passavam por mim sempre que pensava no que poderia estar dentro dele. Papéis podem até ser inofensivos, mas palavras não. Tinha outra opção? Tinha, queria mudar a minha escolha? Claro que não.Ele se importava tanto comigo que perdeu minutos preciosos da vida dele para escrever aqueles desafios para mim, não os cumprir seria como quebrar um marco histórico depois de o ter vandalizado e matar a memória que eu mantinha guardada comigo.Não sei o que virá, sequer sei o que está escrito, mas mais valia ter ele por míseros momentos, presente naqueles desafios, ter um pedaço de algo em que ele pôs todo o seu esforço. Era muito mais importante que deixar ele desaparecer.<
Acordo cedo mesmo sendo domingo, precisava relaxar o meu corpo e acordar cedo para tentar fazer pilates era a melhor coisa, mas como sempre e infelizmente, foi apenas tentar mesmo porque depois de 10 minutos fiquei cansada e voltei para a cama sem ao menos ter tomado banho. Queria relaxar com meditação e o corpo não colaborava, ele não queria largar a cama que estava tão confortável.Eu via as minhas redes sociais, estagnadas como numca estiveram antes, não havia nada recente nelas nem mesmo alguma publicação sem sentido.Levanto-me contra a minha vontade e vou tomar banho porque seria a melhor coisa a fazer naquele momento e porque precisava saber qual seria o desafio de hoje, mesmo que o primeiro desafio tenha sido estranho.Na minha cabeça rondavam dúvidas sobre o objetivo dos desafios, ele até pode ter revelado, mas foi tão vago que não consegui ente