Lia
Minha vida nem de longe se parece com um conto de fadas, mas estou prestes a mudar isso. Estou cansada de viver nesse circo de horrores em que o palhaço central e mandatário é meu avô. Por isso, decidi fugir.
Estava em um beco próximo à faculdade quando meu celular tocou. Ainda era o horário em que normalmente saio das aulas, mas hoje eu não fui. Burlei os seguranças do meu avô, mas tenho certeza de que, neste momento, eles já estão à minha procura, junto com aquele louco e tarado do meu primo, que insiste em agir como se fosse meu dono. Ele faz isso apenas na minha frente, já que o meu avô jamais aceitaria. Afinal, eu já estou noiva de um desconhecido. Sim, noiva de um homem que vi uma única vez na vida, no meu próprio noivado.
Meu celular tocou novamente, e vi o nome da minha irmã mais velha, Léa, no visor.
LIGAÇÃO
— Onde você está, Lia? Ficou louca? O Bruno já está atrás de você, e o vovô também! — Meu coração quase saiu pela boca de medo de ser encontrada antes que Miguel chegasse para me buscar.
— Não diga nada a ele, Léa. Por favor, por amor a mim, não diga nada. Eu vou viver o amor que escolhi, não vou me submeter a um casamento forçado, de jeito nenhum.
— Lia, o vovô vai te matar se descobrir onde você está, mana, pelo amor de Deus! Além disso, o Miguel já não disse que a mãe dele não aceitaria vocês juntos?
— Ele arrumou uma casa para morarmos, conseguiu um emprego, e logo eu também terei um. Vamos ficar bem e felizes, longe de tudo e todos.
— O vovô... Lia, se cuida. Me dê notícias... — Ela desligou a ligação de repente. Antes disso, consegui ouvir os gritos do meu avô ao fundo. Só espero que ele não desconte nela a raiva que eu estou provocando.
Não é fácil sair de casa e fugir da família, por mais que eu não veja aquele vínculo como algo familiar. Naquela casa, apenas minha irmã Léa me entende. Ela também discorda da ideia de eu viver um amor que todos consideram impossível. Minha avó até tenta nos proteger, mas com um homem tão cruel, até mesmo ela tem dificuldades. Essa é minha família: um avô louco, uma avó submissa, e Léa, a pessoa que mais amo no mundo. Mas Léa é como nossa avó, submetendo-se a uma vida de medo, sem voz diante do nosso avô. Para ele, mulher é muda, só fala “sim”. A palavra “não” simplesmente não existe.
Meus olhos lacrimejaram ao ver Miguel chegando na moto. Ele sorriu e me entregou o capacete.
— Vamos, amor. Vamos viver o nosso amor. — Sorri, sabendo que minha vida mudaria drasticamente dali em diante.
Miguel é meu amor da escola. Mantivemos contato, mas nunca ficamos juntos de verdade. Nutrimos sentimentos um pelo outro e decidimos fugir juntos depois que ele descobriu que, aos 16 anos, fui noiva de Andrew. Isso já faz dois anos, e agora que atingi o que mais temia, a maioridade, chegou o momento de casar.
Miguel foi meu primeiro amor. Ele também acha um absurdo eu ter que me casar forçada para salvar a família da miséria. Então, armamos um plano para fugirmos e vivermos o que queremos.
Chegamos a uma casa simples, mas com alguns móveis. Após ajeitarmos tudo e deixarmos o ambiente mais apresentável, tomei banho enquanto Miguel já me esperava na cama. Estava ansiosa, já que ainda sou virgem, mas feliz por saber que minha primeira vez será com alguém que realmente amo.
Saí do banho e me deitei ao lado dele na cama. Ele me olhou contente.
— Lar doce lar. Essa será nossa casa. Aqui viveremos nossos momentos felizes e tristes, amor. Eu amo você.
— Eu também amo você, Miguel. Ninguém irá nos separar. — Ele beijou meus lábios enquanto suas mãos começaram a me despir. Essa seria minha primeira vez. Ele seria o dono do meu corpo, mente e coração, para todo o sempre.
Duas semanas depois...
Estou ansiosa pela chegada de Miguel. Ele conseguiu um trabalho há três dias e, desde então, espero ansiosa todos os dias pela sua volta. Parece que, a cada noite, vivemos nossa primeira vez juntos.
Nosso romance não é aceito pelos pais dele, muito menos pelo meu avô. Por sorte, este último ainda não me encontrou. Eu e Miguel estamos sozinhos no mundo, apenas nós e todo o amor que sentimos um pelo outro. Meu nome é Lia. Recentemente, completei 18 anos, e há duas semanas estou vivendo com Miguel. Ele é um homem especial, que me fez enxergar o mundo de uma forma diferente.
Ouvi o portão abrir e corri ansiosa para vê-lo, mas a porta foi aberta bruscamente. Assustada, fui até a sala.
— Oi, priminha. Que bom te ver! — Bruno segurou meu braço e tentou me agarrar. Eu o empurrei.
— O que está fazendo aqui? Me deixe em paz! Me solta, seu covarde, me solta! — Empurrei-o com força.
— Deixou aquele safado te "comer"? Agora é a minha vez, sua vadia! Eu tenho direito a tudo que é meu. Você é minha, entendeu? — Ele colocou uma faca no meu pescoço. Antes que pudesse me levar para o quarto, meu avô apareceu. Não sei se devo pedir para morrer ou sentir alívio com sua presença, respeitada e cruel.
Ele fechou os punhos ao me ver. Tenho certeza de que queria me socar. Apavorada com seu olhar de ódio, ajoelhei em uma tentativa frustrada de evitar que ele me espancasse.
— Vovô, por favor, me deixa em paz. Eu te imploro, não me mate. — Ele puxou meus cabelos, levantando meu rosto para encarar sua expressão deformada de raiva.
— Menina, como eu queria...! — Ele respirou fundo e não terminou a frase. — Tem sorte de o Andrew não ter descoberto sua fuga e ainda insistir nesse casamento. Que ele continue não suspeitando, sua m*****a, ou você sabe o que farei com você.
— Vovô, por favor, eu não quero me casar. Essa não é a minha vontade. Ele vai descobrir que não sou mais virgem e vai me matar. — Tentei argumentar em vão, pois ele apenas sorriu. Bruno, ao lado, me encarava com fúria.
— Pensasse nisso antes, sua vadia. Leve-a, Bruno. Para sua sorte, não posso te esganar. Mas tente fugir novamente para ver se eu não enfio uma bala na sua testa. — Não sei se respiro aliviada ou se devo temer ainda mais as suas ameaças. Talvez fosse mais fácil morrer e acabar com isso de uma vez. Bruno me olhava com raiva. Ele também não quer que eu me case com Andrew. Para ele, eu sou uma propriedade, e sempre foi assim. Desde pequena, ele me tratava como algo que lhe pertencia, chegando até a me bater quando eu brincava com outros meninos. Para minha má sorte, eu, ele e Léa fomos criados juntos pelos meus avós, desde que nossos pais morreram em um acidente de helicóptero.
— Vovô, por favor, não! Eu nunca mais apareço na sua frente, mas me deixe ficar aqui. Eu amo o Miguel! — implorei mais uma vez, mas levei uma bofetada que me jogou no chão.
— Cale a boca! Você não sabe o que é amor. Entre nesse carro. Você sabe muito bem qual é o seu destino, e, se ele descobrir dessa sua fuga, você vai ter que lidar com alguém pior do que eu. Compreendeu, Lia? — Meu avô me jogou bruscamente para dentro do carro e bateu a porta. Eu chorava enquanto ele mandava o segurança dirigir.
Como ele mesmo disse, eu sei bem qual é o meu destino: um casamento forçado por ele.
Meu destino é ser esposa de Andrew Hernandez. O que posso esperar disso?
Andrew HernandezAs notícias que recebi não são muito agradáveis. Minha noiva está doente, e o casamento teve que ser adiado por alguns dias. Não gostei da ideia, mas ainda tenho uma vida inteira para usufruir com ela… pelo menos é o que espero. Não que eu seja paciente, porque definitivamente não sou, ainda mais com essa história de oferecer um contrato (ideia idiota do meu amigo Rodolfo). Não sei se estou batendo bem da cabeça, mas, para evitar problemas maiores, decidi esperar até estarmos casados. Se estou certo ou não? Não faço ideia.Caralho, pensa comigo: e se a danada resolver não permitir que eu me aproxime? Se ela decidir me evitar, o tempo passará e, no final, terei que deixá-la livre?Não sou medroso... Mas porra, também não sou de ferro.A impaciência tomou conta dos meus dias. Estou louco para ter minha princesa ao meu lado. Lia não sai da minha cabeça, e olha que ela nunca sequer falou comigo. Tudo que ela faz é me evitar, já que mal me conhece. Até penso que seja por m
Marcus ainda estava em minha frente, citando o casamento do Rodolfo, que começou com um contrato nupcial. Será que ele está tentando me animar? Não sou iludido e sei separar as coisas. Não é porque deu certo para o Rodolfo que dará certo para mim. Tenho isso em mente, afinal, a esposa dele não foi forçada a se casar pelo crápula do avô.— Acha que esse contrato de 2 anos vai ser uma boa? — pergunto, ainda cheio de dúvidas.— Sabe que não concordo. Se ela for traiçoeira, em dois anos você estará morto. Se eu fosse você, também casaria com separação total de bens. — Sorri. Meu irmão deve achar que sou trouxa, só pode.— Tenho treinamento. Não pense que uma mulher vai me derrubar assim. Sou louco por ela, mas não burro.— E treinamento contra um coração enganoso? Você tem, otário? — Ele fala debochando.— Você é negativo demais, caralho. Como pode isso? Falta de mulher? Não tem mais ânimo na vida, não?— Muita falta. Mas nem com mulher da vida eu me envolvo mais. A última foi suficiente.
LiaQueria eu que esse tormento acabasse, mas, pelo que conheço do meu avô, isso é só o começo. Infelizmente, ele só pensa em si mesmo, e não há nada nem ninguém que o faça mudar. Coitada da minha avó, que ainda tem esperanças — algo que eu já perdi há muito tempo. Uma coisa, porém, é certa: ela é a única pessoa que ele ainda escuta (às vezes). Talvez porque estejam casados há mais de 50 anos, e ela tenha aceitado a lavagem cerebral que ele impõe. Minha avó não ousa imaginar a vida sem ele, o mandatário Rubens. Um homem com a coragem de usar a própria neta como moeda de troca para quitar suas dívidas. Um calhorda. (Espero que ele nunca me ouça dizer isso.)Quando criança, sempre sonhei com o meu casamento. Na minha mente, seria o dia mais feliz da minha vida, inesquecível. Mas meu avô tratou de apagar esse sonho da minha cabeça. Sempre tive uma imaginação fértil, até boba, como diz minha irmã. Eu me via como uma princesa aprisionada em um castelo sombrio, e meu avô era o bruxo da minh
Continuação...Minha avó entrou no quarto com o prato em mãos. Eu adoro sua comida, assim como adoro cozinhar. Foi ela quem nos ensinou a fazer de tudo em casa, desde limpar até preparar refeições. Dificilmente há algo que eu não saiba fazer, porque sempre foi meu passatempo quando não estava na faculdade. Agora, nem isso posso frequentar. Sinto-me decepcionada por estar privada desse esforço que tanto lutei para conquistar.Lembrando das minhas aventuras na cozinha, penso em Miguel. Durante nossa fuga, preparei alguns pratos para nós. Comidas simples, já que não tínhamos dinheiro para banquetes, mas ele adorou. Fez vários elogios, e posso dizer que sei realizar ótimos pratos graças à mulher à minha frente, que sempre foi tão dedicada a nós.Hoje, no entanto, algo estava diferente. Não me senti bem com o aroma da comida que tanto amo — arroz com strogonoff. Ao sentir o cheiro, meu estômago resmungou. Fiz uma careta e me virei de lado para evitar olhar.— Vovó, não quero. — Falei com j
Dias depois…LiaOs hematomas estão mais ausentes nos meus dias. Eu gostaria de pensar que isso é resultado de uma mudança de atitude do meu avô, que ele está menos rude e mais amigável. Mas, infelizmente, o verdadeiro motivo é que ele fez duas viagens a trabalho, o que me deu um breve fôlego. Quando está em casa, sua tranquilidade levanta suspeitas, principalmente para minha irmã. Ele anda muito… como posso dizer… muito calmo, e para quem está acostumado com seu gênio explosivo, é mesmo estranho.Não sou o tipo de pessoa que acredita em mudanças. Tenho aquela mentalidade de que pau que nasce torto não se endireita. Também desconfio das atitudes do meu avô, mas penso que ele está assim por saber que a data do casamento está se aproximando.Não contei a ninguém, nem mesmo à minha irmã, que é contra, mas minha amiga Larissa está tentando fazer uma ponte entre mim e Miguel. Tem sido difícil, já que nem ela sabe onde ele está. Ela perguntou a várias pessoas, mas todas dizem que não o veem
Minha avó entrou no quarto e fechou a porta após meu primo sair, para minha sorte Bruno ainda finge que respeita ela ou eu estaria perdida nessa casa, ele faz o que quer aqui, e quando meu avô não está ele se acha o homem da casa. Não sei o que é pior ele ou meu avô, pelo menos meu avô se dedica a manter-se longe do meu quarto e da Léa, já o Bruno faz questão de entrar e sair quando bem entende.Eu estava frustrada com a ligação ao Miguel, queria saber o que está acontecendo, e o porquê da sua mãe falar tudo isso, ela sabe de nós e sempre foi contra assim como o meu avô que soube no susto, mas a mãe dele… diria que ela me odeia, e faz questão de manter o Miguel bem longe de mim. Mas agora estou aflita com o que ouvi dela, só se passa em minha mente que o meu avô tem algo a ver com o sumiço dele, meu deus, será que meu avô pôde fazê-lo algum mal mesmo sabendo que a sua família tem muita influência na cidade? — O que foi Lia, por que está com essa carinha de preocupada? — Minha avó me
Quando descobri a suas infidelidades decidi que partiria, iria embora com o meu filho, estava disposta a criá-lo sozinha e tinha certeza que os meus pais me ajudariam, afinal eles nunca viraram as costas para mim mesmo eu sendo tão ingrata, mas foi aí que descobri o homem que me casei, o homem que fiz tudo para estar ao seu lado, que jurei amor eterno, ele não era quem eu imaginava, já ouviu que as aparências enganam? Descobri isso sozinha e senti na pele a sua fúria, Rubens não aceitou que eu partisse, ele dizia que me amava e que eu seria dele até o fim dos meus dias, mas nunca mais acreditei em seu amor, nem ao menos em suas palavras e penso que não era mesmo para acreditar. Foram longos anos de tortura e desilusão até que eu aprendesse que não adiantaria de nada fugir dele, pois, sim, eu fugi e não foi só uma vez, mas não adiantava, para onde quer que eu fosse ele sempre me encontrava e me trazia de volta a vida de cárcere. Na última vez entrou em conflito com os meus pais chegand
Assim que saí do quarto da Lia, o meu neto Bruno estava na porta bancando o guarda, não sei quando perdi a ligação com esse rapaz, eu jurei a mim mesma que ele seria um rapaz do bem, tranquilo, como o meu filho era, mas ele é totalmente ao contrário do que eu queria que fosse. Olhei para ele o repreendendo, ele já sabendo argumentou.— A senhora fica a passar a mão na cabeça dessa vadia e depois ela foge de casa sem pensar em você, te deixa para trás sem olhar para trás, pare de bancar a boba passando a mão na cabeça dessas cobras que você pensa que te amam. — ele fala como se fosse dono da verdade, Bruno ainda finge que me respeita, mas na maioria das vezes ele age como se eu não fosse nada dele, mas sou, eu o criei e sempre exigi respeito. Penso que ele de tanto ele observar o seu avô fazer o que quer ele pensa que tem o direito de fazer o mesmo.— Você olhe lá como fala, ela é considerada, sua irmã, não fale dela assim, tenha respeito por ela. — ele sorriu sem me dar moral, sempre