01

Lia

Minha vida nem de longe se parece com um conto de fadas, mas estou prestes a mudar isso. Estou cansada de viver nesse circo de horrores em que o palhaço central e mandatário é meu avô. Por isso, decidi fugir.

Estava em um beco próximo à faculdade quando meu celular tocou. Ainda era o horário em que normalmente saio das aulas, mas hoje eu não fui. Burlei os seguranças do meu avô, mas tenho certeza de que, neste momento, eles já estão à minha procura, junto com aquele louco e tarado do meu primo, que insiste em agir como se fosse meu dono. Ele faz isso apenas na minha frente, já que o meu avô jamais aceitaria. Afinal, eu já estou noiva de um desconhecido. Sim, noiva de um homem que vi uma única vez na vida, no meu próprio noivado.

Meu celular tocou novamente, e vi o nome da minha irmã mais velha, Léa, no visor.

LIGAÇÃO

— Onde você está, Lia? Ficou louca? O Bruno já está atrás de você, e o vovô também! — Meu coração quase saiu pela boca de medo de ser encontrada antes que Miguel chegasse para me buscar.

— Não diga nada a ele, Léa. Por favor, por amor a mim, não diga nada. Eu vou viver o amor que escolhi, não vou me submeter a um casamento forçado, de jeito nenhum.

— Lia, o vovô vai te matar se descobrir onde você está, mana, pelo amor de Deus! Além disso, o Miguel já não disse que a mãe dele não aceitaria vocês juntos?

— Ele arrumou uma casa para morarmos, conseguiu um emprego, e logo eu também terei um. Vamos ficar bem e felizes, longe de tudo e todos.

— O vovô... Lia, se cuida. Me dê notícias... — Ela desligou a ligação de repente. Antes disso, consegui ouvir os gritos do meu avô ao fundo. Só espero que ele não desconte nela a raiva que eu estou provocando.

Não é fácil sair de casa e fugir da família, por mais que eu não veja aquele vínculo como algo familiar. Naquela casa, apenas minha irmã Léa me entende. Ela também discorda da ideia de eu viver um amor que todos consideram impossível. Minha avó até tenta nos proteger, mas com um homem tão cruel, até mesmo ela tem dificuldades. Essa é minha família: um avô louco, uma avó submissa, e Léa, a pessoa que mais amo no mundo. Mas Léa é como nossa avó, submetendo-se a uma vida de medo, sem voz diante do nosso avô. Para ele, mulher é muda, só fala “sim”. A palavra “não” simplesmente não existe.

Meus olhos lacrimejaram ao ver Miguel chegando na moto. Ele sorriu e me entregou o capacete.

— Vamos, amor. Vamos viver o nosso amor. — Sorri, sabendo que minha vida mudaria drasticamente dali em diante.

Miguel é meu amor da escola. Mantivemos contato, mas nunca ficamos juntos de verdade. Nutrimos sentimentos um pelo outro e decidimos fugir juntos depois que ele descobriu que, aos 16 anos, fui noiva de Andrew. Isso já faz dois anos, e agora que atingi o que mais temia, a maioridade, chegou o momento de casar.

Miguel foi meu primeiro amor. Ele também acha um absurdo eu ter que me casar forçada para salvar a família da miséria. Então, armamos um plano para fugirmos e vivermos o que queremos.

Chegamos a uma casa simples, mas com alguns móveis. Após ajeitarmos tudo e deixarmos o ambiente mais apresentável, tomei banho enquanto Miguel já me esperava na cama. Estava ansiosa, já que ainda sou virgem, mas feliz por saber que minha primeira vez será com alguém que realmente amo.

Saí do banho e me deitei ao lado dele na cama. Ele me olhou contente.

— Lar doce lar. Essa será nossa casa. Aqui viveremos nossos momentos felizes e tristes, amor. Eu amo você.

— Eu também amo você, Miguel. Ninguém irá nos separar. — Ele beijou meus lábios enquanto suas mãos começaram a me despir. Essa seria minha primeira vez. Ele seria o dono do meu corpo, mente e coração, para todo o sempre.

Duas semanas depois...

Estou ansiosa pela chegada de Miguel. Ele conseguiu um trabalho há três dias e, desde então, espero ansiosa todos os dias pela sua volta. Parece que, a cada noite, vivemos nossa primeira vez juntos.

Nosso romance não é aceito pelos pais dele, muito menos pelo meu avô. Por sorte, este último ainda não me encontrou. Eu e Miguel estamos sozinhos no mundo, apenas nós e todo o amor que sentimos um pelo outro. Meu nome é Lia. Recentemente, completei 18 anos, e há duas semanas estou vivendo com Miguel. Ele é um homem especial, que me fez enxergar o mundo de uma forma diferente.

Ouvi o portão abrir e corri ansiosa para vê-lo, mas a porta foi aberta bruscamente. Assustada, fui até a sala.

— Oi, priminha. Que bom te ver! — Bruno segurou meu braço e tentou me agarrar. Eu o empurrei.

— O que está fazendo aqui? Me deixe em paz! Me solta, seu covarde, me solta! — Empurrei-o com força.

— Deixou aquele safado te "comer"? Agora é a minha vez, sua vadia! Eu tenho direito a tudo que é meu. Você é minha, entendeu? — Ele colocou uma faca no meu pescoço. Antes que pudesse me levar para o quarto, meu avô apareceu. Não sei se devo pedir para morrer ou sentir alívio com sua presença, respeitada e cruel.

Ele fechou os punhos ao me ver. Tenho certeza de que queria me socar. Apavorada com seu olhar de ódio, ajoelhei em uma tentativa frustrada de evitar que ele me espancasse.

— Vovô, por favor, me deixa em paz. Eu te imploro, não me mate. — Ele puxou meus cabelos, levantando meu rosto para encarar sua expressão deformada de raiva.

— Menina, como eu queria...! — Ele respirou fundo e não terminou a frase. — Tem sorte de o Andrew não ter descoberto sua fuga e ainda insistir nesse casamento. Que ele continue não suspeitando, sua m*****a, ou você sabe o que farei com você.

— Vovô, por favor, eu não quero me casar. Essa não é a minha vontade. Ele vai descobrir que não sou mais virgem e vai me matar. — Tentei argumentar em vão, pois ele apenas sorriu. Bruno, ao lado, me encarava com fúria.

— Pensasse nisso antes, sua vadia. Leve-a, Bruno. Para sua sorte, não posso te esganar. Mas tente fugir novamente para ver se eu não enfio uma bala na sua testa. — Não sei se respiro aliviada ou se devo temer ainda mais as suas ameaças. Talvez fosse mais fácil morrer e acabar com isso de uma vez. Bruno me olhava com raiva. Ele também não quer que eu me case com Andrew. Para ele, eu sou uma propriedade, e sempre foi assim. Desde pequena, ele me tratava como algo que lhe pertencia, chegando até a me bater quando eu brincava com outros meninos. Para minha má sorte, eu, ele e Léa fomos criados juntos pelos meus avós, desde que nossos pais morreram em um acidente de helicóptero.

— Vovô, por favor, não! Eu nunca mais apareço na sua frente, mas me deixe ficar aqui. Eu amo o Miguel! — implorei mais uma vez, mas levei uma bofetada que me jogou no chão.

— Cale a boca! Você não sabe o que é amor. Entre nesse carro. Você sabe muito bem qual é o seu destino, e, se ele descobrir dessa sua fuga, você vai ter que lidar com alguém pior do que eu. Compreendeu, Lia? — Meu avô me jogou bruscamente para dentro do carro e bateu a porta. Eu chorava enquanto ele mandava o segurança dirigir.

Como ele mesmo disse, eu sei bem qual é o meu destino: um casamento forçado por ele.

Meu destino é ser esposa de Andrew Hernandez. O que posso esperar disso?

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