03

Marcus ainda estava em minha frente, citando o casamento do Rodolfo, que começou com um contrato nupcial. Será que ele está tentando me animar? Não sou iludido e sei separar as coisas. Não é porque deu certo para o Rodolfo que dará certo para mim. Tenho isso em mente, afinal, a esposa dele não foi forçada a se casar pelo crápula do avô.

— Acha que esse contrato de 2 anos vai ser uma boa? — pergunto, ainda cheio de dúvidas.

— Sabe que não concordo. Se ela for traiçoeira, em dois anos você estará morto. Se eu fosse você, também casaria com separação total de bens. — Sorri. Meu irmão deve achar que sou trouxa, só pode.

— Tenho treinamento. Não pense que uma mulher vai me derrubar assim. Sou louco por ela, mas não burro.

— E treinamento contra um coração enganoso? Você tem, otário? — Ele fala debochando.

— Você é negativo demais, caralho. Como pode isso? Falta de mulher? Não tem mais ânimo na vida, não?

— Muita falta. Mas nem com mulher da vida eu me envolvo mais. A última foi suficiente. — Ele sorriu, achando graça. A última mulher por quem ele se apaixonou foi uma garota de programa. Isso mesmo, o babaca se apaixonou por uma prostituta. Penso que o cérebro que ele usou na época só podia estar na cabeça de baixo. Como alguém se apaixona assim?

— Por que não chama a Iara para sair? Olha ela aí, dando sopa. — falo, e ele sorri, esfregando o queixo enquanto olha para ela através da porta aberta.

— Aquela ali não aguenta nem uma sessão, além de só ter olhos para você. E você sabe disso. Sua fiel admiradora terá concorrência de peso. — Ele comenta, já que Iara vive me fazendo elogios. Nunca tivemos nada, até porque não sou de me envolver com pessoas no trabalho. Acho isso embaraçoso demais.

— Tô na vantagem ou não tô? — Brinco, me gabando.

Iara é uma moça simples, mas de um coração enorme. Gosto de tê-la aqui, embora saiba que Ludy logo voltará. Duvido que ela queira reassumir o cargo agora que está casada com um milionário. Iara está há dois anos substituindo minha prima, que se mudou para Miami após o casamento. Encontramos uma substituta à altura, já que Iara é competente e muito mais séria que Ludy.

Recebi uma ligação da avó da minha noiva. A senhora Louise é bem tranquila, nem parece que é casada com aquele traste. Ela é o tipo de vovó que dá vontade de visitar todas as tardes para comer um bolinho feito na hora. 

A avó de Lia me propôs um jantar duas noites antes do casamento. Não vejo isso com maus olhos. Será uma boa oportunidade para ter um momento a sós com minha noiva. Quem sabe eu quebro o gelo e ganho uma sobremesa antes do casório? Parece que Louise está tentando aliviar o peso desse casamento forçado para a neta.

Comentei com Marcus, que riu da minha cara.

— Você acha mesmo que ela vai te dar alguma chance assim, do nada? Tá perdendo seu tempo pensando assim, Andrew.

— Já falei, não sou de ferro. E outra, tô sendo levado em banho-maria, mas vou deixar claro para minha noiva que, dessa próxima data, não passa. Se for preciso, trago minha mulher na marra, sem casamento mesmo. — Respondi a ele.

— Ela vai se assustar com a sua mudança, não acha? Afinal, no noivado, você parecia um franguinho, e agora tá todo no porte bruto. — Ele disse, me fazendo lembrar do meu noivado.

Caramba, que fiasco para mim! Minha noiva mal olhou na minha cara naquele evento. Saí de lá com raiva e, por pura ignorância, acabei pegando minha prima logo depois. Ainda assim, fiquei fascinado pela beleza da Lia. Ela parece um anjo. Minha vontade é fazer aquela menina me olhar, seduzi-la. É isso que eu mais quero.

— A mudança foi benéfica. Que mulher não se amarra em um homem sarado? E se ela não gostar, vai ter que aceitar assim mesmo. Não vou ficar fazendo gracinha, não. É aceitar ou aceitar.

— Quero ver falar assim com ela. — Me sentei e dei de ombros. — Juro que não te entendo. Tem horas que tem uma paciência que chega a ser burra, quer esperar o mundo por essa menina, e tem horas que não quer esperar nem um segundo.

— Caralho, quero acabar com essa tensão logo. Não nego, tô envolvido. E o perigo maior é que estou envolvido sozinho. Não gosto nada disso. — Argumento, refletindo sobre minha situação. Sei que não sou paciente, e isso é o que mais me preocupa.

— Nunca precisou conquistar uma mulher. Mesmo frangote era pegador. Mas agora cê tá numa furada sem tamanho. — Marcus gargalha da minha cara.

— Valeu pela força, vacilão. Bora falar dos negócios. E o pai, temos novidades? — Pergunto, mudando de assunto. Nosso pai é americano, e nossa mãe, brasileira. Ele teve outro filho fora do casamento, mas não nos damos nada bem. Eu e Marcus apenas toleramos Ângelo porque compartilhamos o mesmo pai. Durante a separação dos nossos pais, veio esse moleque mimado, que se acha o bichão, mas sabe muito bem que só é tolerado até certo ponto. Também tínhamos uma irmã, adotada ainda bebê. Angélica... Porra, não gosto de tocar nesse assunto. Ela se foi, mas ainda mora, e sempre vai morar, no meu coração.

Passei minha infância nos Estados Unidos, e desde cedo desenvolvi uma paixão por armas. Pequenas, médias, de grande porte — amo todas. Essa paixão também veio do meu pai, que sempre teve um arsenal em casa. Aprender a manusear foi fácil. Meu pai sempre foi precavido, nunca gostou da ideia de não ensinar "de tudo um pouco" para os filhos.

Quando nos mudamos para o Brasil, eu tinha 16 anos. Era um moleque franzino, sem muita massa muscular, mas já chamava a atenção das meninas da escola. Não sei se era pelo meu sotaque norte-americano ou pelo charme, mas elas olhavam.

Depois de terminar a escola, achei que teria vida boa: curtindo e virando empresário, já que meu pai é dono de uma rede de empresas de segurança. A sede fica em Santa Catarina, para onde nos mudamos. Mas, claro, as coisas não foram tão fáceis. Meu pai nunca deu nada de mão beijada para os filhos. Vou dizer: esse foi o maior aprendizado que tive na vida.

Meu primeiro emprego foi como segurança do Rodolfo. Tinha 19 anos e não conseguia coisa melhor, já que no Brasil não se pode andar armado. Com ele, aprendi muito sobre empresas. Fui seu segurança particular, e acabamos nos tornando amigos. Trabalhei com ele por três anos, até sair para assumir a empresa do meu pai.

Hoje estou há três anos como CEO da empresa da família.

Meu pai nos teve já velho, quando não queria mais trabalhar. Testou a mim e a Marcus na empresa, mas Marcus não deu atenção nenhuma. Foi assim que meu pai foi obrigado a entregar a gestão nas minhas mãos. Aproveitei para colocar em prática o que já sabia e o que aprendi com Rodolfo.

Foi então que me veio a ideia: por que não trabalhar com armas? Apresentei a ideia para Marcus, e juntos abrimos nosso próprio negócio, às margens da lei brasileira. Com alguns contatos, firmamos nossa posição e passamos a alimentar o mercado ilícito de armas no Brasil. Importamos, exportamos, e há três anos fazemos isso. Posso dizer que, aos 25 anos, vivi bem.

Hoje sou CEO da empresa do meu pai, mas isso é apenas uma fachada para minha verdadeira paixão: as armas.

E em breve, serei um homem casado com meu anjo, minha Lia.

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