Andrew Hernandez
As notícias que recebi não são muito agradáveis. Minha noiva está doente, e o casamento teve que ser adiado por alguns dias. Não gostei da ideia, mas ainda tenho uma vida inteira para usufruir com ela… pelo menos é o que espero. Não que eu seja paciente, porque definitivamente não sou, ainda mais com essa história de oferecer um contrato (ideia idiota do meu amigo Rodolfo). Não sei se estou batendo bem da cabeça, mas, para evitar problemas maiores, decidi esperar até estarmos casados. Se estou certo ou não? Não faço ideia.
Caralho, pensa comigo: e se a danada resolver não permitir que eu me aproxime? Se ela decidir me evitar, o tempo passará e, no final, terei que deixá-la livre?
Não sou medroso... Mas porra, também não sou de ferro.
A impaciência tomou conta dos meus dias. Estou louco para ter minha princesa ao meu lado. Lia não sai da minha cabeça, e olha que ela nunca sequer falou comigo. Tudo que ela faz é me evitar, já que mal me conhece. Até penso que seja por medo, considerando que não sou exatamente "bem-visto" nos negócios — seu avô é meu subordinado, afinal. E, quanto a isso, sou obrigado a ser duro. Não há o que fazer.
Mas, honestamente, acho que ninguém avisou à mocinha que eu não sou nenhum bicho-papão.
No jantar de noivado, ela parecia séria, perdida em pensamentos. Passou a maior parte do tempo segurando firme a mão da irmã. E, pensando bem, nem sei o que me deixou tão fascinado por ela. É linda, sim, mas nunca fui ligado à beleza. Meu irmão gosta de dizer que foi porque ela parece ingênua. Talvez ele esteja certo, porque também me vejo preso nisso.
A verdade? Não sei se ela é realmente ingênua, mas aquele rostinho de menina e a aura angelical me pegaram de jeito. Não sei como, nem por quê, só sei que essa danada tomou conta dos meus pensamentos… sem nem ao menos saber. Parece que vou ter que me controlar para não bancar o idiota apaixonado.
— Pensando na morte da bezerra? — Marcus entrou pela porta, me pegando distraído. Meu irmão nunca perde o humor azedo, muito menos a carranca amarrada. Ele é assim. Tem um péssimo senso de humor, mas comigo é diferente. Somos melhores amigos desde sempre, então ele guarda o "lado mais humano" para mim. Com outras pessoas? É um verdadeiro bicho ruim.
Ao contrário de mim, que pelo menos tento não ser tão intragável. Mas, nos negócios, a história é outra. Lá, sou irreconhecível. Temido. É o preço de estar nesse ramo — ou você é o "bichão", ou é atropelado.
— Cadê a Iara? — perguntei, intrigado com sua entrada repentina. — Não tem secretária nessa porra? Aqui entra e sai quem quer agora? — Abri os braços, deixando claro o quanto isso estava me irritando.
— Sabe que ela não se atreve a me barrar. — Ele deu aquele sorriso maléfico que só ele tem. Juro que não entendo por que ele gosta tanto de assustar as pessoas. A secretária morre de medo dele.
— Tô ligado nisso. Mas, pelo menos, bata na porra da porta. Não sabe se eu tô na minha intimidade? — Brinquei, provocando.
— Isso é o que falta, né? Não tem lugar melhor, não? Vai apelar desse jeito? — Jogou uma pasta de documentos sobre a minha mesa.
— Chega de conversa fiada. Tem novidades?
— Tá aí, dá uma olhada.
— Tô perguntando da mina. — Marcus revirou os olhos. — Descobriu algo sobre o sumiço repentino da Lia, ou essa doença, sei lá que porra aconteceu? — perguntei, curioso. Eu havia pedido para ele investigar se minha noiva realmente estava doente. Não que eu desconfie totalmente do velho, o avô dela, mas o cara já demonstrou várias vezes que não é confiável. Minha criação me ensinou a sempre ter um pé atrás com todo mundo. As únicas pessoas em quem confio de verdade são meu pai, minha mãe e Marcus, meu irmão.
Marcus fez uma cara suspeita, sentou-se à minha frente e tirou um maço de cigarro do bolso.
— O velho te engambelou bonito. Sua noiva ficou fora de casa por duas semanas, mas agora voltou.
Bati as mãos na mesa, furioso. Eu sabia que aquele velho estava me enrolando, mas isso não vai ficar assim.
— Que porra é essa? Quem esse velho acha que é para tentar me enganar? — Observei enquanto Marcus acendia o cigarro com calma.
— Leva ele no molho, irmão. Vai por mim, o velho vai acabar se enforcando sozinho. Estamos de olho nele. Na hora certa, ele vai pagar por tudo, além de descobrirmos o que ele está escondendo.
— E quem me garante que não vou ser enganado de novo?
— O velho posa de bobo, mas não é burro o suficiente para brincar com a nossa cara duas vezes. Lucca disse que, há três dias, sua noiva não põe os pés para fora de casa. Agora, ela está sendo vigiada de perto, coisa que, para você, antes era desnecessário. Tá vendo o que dá confiar demais numa carinha bonita? — Ele falou, levantando meu alerta, já que não era comum. Até poucos dias atrás, Lia frequentava a faculdade.
— E a faculdade? — perguntei. Marcus balançou a cabeça negativamente.
— Pelo jeito, não está indo.
— Isso tá me cheirando mal. Tem coisa aí, vai por mim.
— Ela é encrenca, você quer dizer. Não sei de onde tirou a ideia de se amarrar logo na neta daquele velho que se acha o dono do mundo. Por mim, ele já estaria a sete palmos debaixo da terra. — Sorri, negando com a cabeça. Às vezes, meu irmão é tão contraditório que fico pensando se ele tem memória fraca.
— Foi você quem me deu a ideia de aceitar a proposta do velho e pegar a mina em casamento em troca da dívida. Esqueceu? Agora não reclame. Não retrocedo. Você sabe que odeio faltar com minha palavra. Ela será minha e ponto final.
Levantei-me e fui até a janela, olhando para baixo. Desde que aceitei essa loucura, fiquei ainda mais fascinado por Lia. Antes, eu só a achava bonita, com aquele ar angelical. Poucas vezes a vi, e quase sempre quando ela trazia a quentinha para o avô. Eu ficava observando de longe, do galpão, sem ser notado. Lia tinha sempre aquele semblante sério, entregava a comida e mal olhava para o velho ou para qualquer outra pessoa. Nem sei ao certo qual é o temperamento dela, e, às vezes, me pergunto se estou fazendo o certo.
Forçar uma jovem a se casar comigo por causa de uma dívida que o avô dela fez ao desviar minha carga… É justo? Se eu matasse o velho, talvez fosse pior. Pelo que sei, ele é o único que sustenta a família — e sustenta muito mal. A última vez que a vi, ela carregava chinelos arrebentados na mão. Penso que, se acabássemos com o velho, Lia, a avó e a irmã ficariam livres dele, mas também sem teto. Só a vida dele não bastaria para pagar o que ele me deve.
Não costumamos cobrar de terceiros, mas foi o próprio velho que ofereceu a neta.
Talvez eu devesse ter recusado a proposta dele. Poderia ter me aproximado de Lia com calma, usado meu charme irresistível. Sempre tive uma vida sexual agitada, não seria difícil conquistá-la.
Enquanto eu flertava com a janela à minha frente, Marcus resmungava:
— Fiz cagada. Já dei para trás nessa ideia. Pensei que a mina era de boa, tranquila, mas ela é só mais uma peça no quebra-cabeça do velho. Não é à toa que ele ofereceu as crias dele. Mas, para desencargo de consciência, vou ficar de olho nela e nele também. Vai que ela é traiçoeira igual ao avô.
Marcus é desconfiado de tudo e de todos, e a vida nos ensinou a ser assim. Já passamos por muitas tentativas de rasteiras e de eliminações.
Meu nome é Andrew Hernandez, sou CEO da empresa Take Cover Security, especializada em segurança particular e monitoramento eletrônico. Essa é a empresa que meu pai trouxe dos EUA. Apesar de ser mais novo que Marcus por três anos, fui escolhido para assumir o cargo de CEO após a saída do meu pai. Marcus, por outro lado, prefere os "negócios mais envolventes". Ele tem suas paixões, como trabalhar como detetive particular e no tráfico de armas.
Marcus ainda estava em minha frente, citando o casamento do Rodolfo, que começou com um contrato nupcial. Será que ele está tentando me animar? Não sou iludido e sei separar as coisas. Não é porque deu certo para o Rodolfo que dará certo para mim. Tenho isso em mente, afinal, a esposa dele não foi forçada a se casar pelo crápula do avô.— Acha que esse contrato de 2 anos vai ser uma boa? — pergunto, ainda cheio de dúvidas.— Sabe que não concordo. Se ela for traiçoeira, em dois anos você estará morto. Se eu fosse você, também casaria com separação total de bens. — Sorri. Meu irmão deve achar que sou trouxa, só pode.— Tenho treinamento. Não pense que uma mulher vai me derrubar assim. Sou louco por ela, mas não burro.— E treinamento contra um coração enganoso? Você tem, otário? — Ele fala debochando.— Você é negativo demais, caralho. Como pode isso? Falta de mulher? Não tem mais ânimo na vida, não?— Muita falta. Mas nem com mulher da vida eu me envolvo mais. A última foi suficiente.
LiaQueria eu que esse tormento acabasse, mas, pelo que conheço do meu avô, isso é só o começo. Infelizmente, ele só pensa em si mesmo, e não há nada nem ninguém que o faça mudar. Coitada da minha avó, que ainda tem esperanças — algo que eu já perdi há muito tempo. Uma coisa, porém, é certa: ela é a única pessoa que ele ainda escuta (às vezes). Talvez porque estejam casados há mais de 50 anos, e ela tenha aceitado a lavagem cerebral que ele impõe. Minha avó não ousa imaginar a vida sem ele, o mandatário Rubens. Um homem com a coragem de usar a própria neta como moeda de troca para quitar suas dívidas. Um calhorda. (Espero que ele nunca me ouça dizer isso.)Quando criança, sempre sonhei com o meu casamento. Na minha mente, seria o dia mais feliz da minha vida, inesquecível. Mas meu avô tratou de apagar esse sonho da minha cabeça. Sempre tive uma imaginação fértil, até boba, como diz minha irmã. Eu me via como uma princesa aprisionada em um castelo sombrio, e meu avô era o bruxo da minh
Continuação...Minha avó entrou no quarto com o prato em mãos. Eu adoro sua comida, assim como adoro cozinhar. Foi ela quem nos ensinou a fazer de tudo em casa, desde limpar até preparar refeições. Dificilmente há algo que eu não saiba fazer, porque sempre foi meu passatempo quando não estava na faculdade. Agora, nem isso posso frequentar. Sinto-me decepcionada por estar privada desse esforço que tanto lutei para conquistar.Lembrando das minhas aventuras na cozinha, penso em Miguel. Durante nossa fuga, preparei alguns pratos para nós. Comidas simples, já que não tínhamos dinheiro para banquetes, mas ele adorou. Fez vários elogios, e posso dizer que sei realizar ótimos pratos graças à mulher à minha frente, que sempre foi tão dedicada a nós.Hoje, no entanto, algo estava diferente. Não me senti bem com o aroma da comida que tanto amo — arroz com strogonoff. Ao sentir o cheiro, meu estômago resmungou. Fiz uma careta e me virei de lado para evitar olhar.— Vovó, não quero. — Falei com j
Dias depois…LiaOs hematomas estão mais ausentes nos meus dias. Eu gostaria de pensar que isso é resultado de uma mudança de atitude do meu avô, que ele está menos rude e mais amigável. Mas, infelizmente, o verdadeiro motivo é que ele fez duas viagens a trabalho, o que me deu um breve fôlego. Quando está em casa, sua tranquilidade levanta suspeitas, principalmente para minha irmã. Ele anda muito… como posso dizer… muito calmo, e para quem está acostumado com seu gênio explosivo, é mesmo estranho.Não sou o tipo de pessoa que acredita em mudanças. Tenho aquela mentalidade de que pau que nasce torto não se endireita. Também desconfio das atitudes do meu avô, mas penso que ele está assim por saber que a data do casamento está se aproximando.Não contei a ninguém, nem mesmo à minha irmã, que é contra, mas minha amiga Larissa está tentando fazer uma ponte entre mim e Miguel. Tem sido difícil, já que nem ela sabe onde ele está. Ela perguntou a várias pessoas, mas todas dizem que não o veem
Minha avó entrou no quarto e fechou a porta após meu primo sair, para minha sorte Bruno ainda finge que respeita ela ou eu estaria perdida nessa casa, ele faz o que quer aqui, e quando meu avô não está ele se acha o homem da casa. Não sei o que é pior ele ou meu avô, pelo menos meu avô se dedica a manter-se longe do meu quarto e da Léa, já o Bruno faz questão de entrar e sair quando bem entende.Eu estava frustrada com a ligação ao Miguel, queria saber o que está acontecendo, e o porquê da sua mãe falar tudo isso, ela sabe de nós e sempre foi contra assim como o meu avô que soube no susto, mas a mãe dele… diria que ela me odeia, e faz questão de manter o Miguel bem longe de mim. Mas agora estou aflita com o que ouvi dela, só se passa em minha mente que o meu avô tem algo a ver com o sumiço dele, meu deus, será que meu avô pôde fazê-lo algum mal mesmo sabendo que a sua família tem muita influência na cidade? — O que foi Lia, por que está com essa carinha de preocupada? — Minha avó me
Quando descobri a suas infidelidades decidi que partiria, iria embora com o meu filho, estava disposta a criá-lo sozinha e tinha certeza que os meus pais me ajudariam, afinal eles nunca viraram as costas para mim mesmo eu sendo tão ingrata, mas foi aí que descobri o homem que me casei, o homem que fiz tudo para estar ao seu lado, que jurei amor eterno, ele não era quem eu imaginava, já ouviu que as aparências enganam? Descobri isso sozinha e senti na pele a sua fúria, Rubens não aceitou que eu partisse, ele dizia que me amava e que eu seria dele até o fim dos meus dias, mas nunca mais acreditei em seu amor, nem ao menos em suas palavras e penso que não era mesmo para acreditar. Foram longos anos de tortura e desilusão até que eu aprendesse que não adiantaria de nada fugir dele, pois, sim, eu fugi e não foi só uma vez, mas não adiantava, para onde quer que eu fosse ele sempre me encontrava e me trazia de volta a vida de cárcere. Na última vez entrou em conflito com os meus pais chegand
Assim que saí do quarto da Lia, o meu neto Bruno estava na porta bancando o guarda, não sei quando perdi a ligação com esse rapaz, eu jurei a mim mesma que ele seria um rapaz do bem, tranquilo, como o meu filho era, mas ele é totalmente ao contrário do que eu queria que fosse. Olhei para ele o repreendendo, ele já sabendo argumentou.— A senhora fica a passar a mão na cabeça dessa vadia e depois ela foge de casa sem pensar em você, te deixa para trás sem olhar para trás, pare de bancar a boba passando a mão na cabeça dessas cobras que você pensa que te amam. — ele fala como se fosse dono da verdade, Bruno ainda finge que me respeita, mas na maioria das vezes ele age como se eu não fosse nada dele, mas sou, eu o criei e sempre exigi respeito. Penso que ele de tanto ele observar o seu avô fazer o que quer ele pensa que tem o direito de fazer o mesmo.— Você olhe lá como fala, ela é considerada, sua irmã, não fale dela assim, tenha respeito por ela. — ele sorriu sem me dar moral, sempre
AndrewEstava no galpão após passar o dia na empresa preso aos novos contratos, mas enfim tive tempo para vir aqui depois de um tempo por fora, estava só monitorando de longe. Os nossos negócios andam muito bem e trazendo muito lucro, não negarei, isso me fascina, dar gosto em poder estar tão perto de armamentos de primeira e visando todo lucro que estamos tendo, estou no céu. Mas nem tudo está perfeito, o meu pai marcou uma reunião comigo para quando ele voltar de viagem e citou o advogado da família, espero que não tenhamos problemas, afinal respondo por um processo na justiça brasileira e penso que o motivo do contato com o advogado seja isso.Para o estresse do meu irmão o último carregamento está atrasado e ele faz questão de mostrar que nada passa desapercebido e deixa todos em choque com o seu modo de ser.— Não quero ouvir nenhuma merda de desculpa que sai da porra dá tua boca… quero saber porque estava deitado, em vez de descarregar a carga e ficar de olho na chegada da próx