02

Andrew Hernandez

As notícias que recebi não são muito agradáveis. Minha noiva está doente, e o casamento teve que ser adiado por alguns dias. Não gostei da ideia, mas ainda tenho uma vida inteira para usufruir com ela… pelo menos é o que espero. Não que eu seja paciente, porque definitivamente não sou, ainda mais com essa história de oferecer um contrato (ideia idiota do meu amigo Rodolfo). Não sei se estou batendo bem da cabeça, mas, para evitar problemas maiores, decidi esperar até estarmos casados. Se estou certo ou não? Não faço ideia.

Caralho, pensa comigo: e se a danada resolver não permitir que eu me aproxime? Se ela decidir me evitar, o tempo passará e, no final, terei que deixá-la livre?

Não sou medroso... Mas porra, também não sou de ferro.

A impaciência tomou conta dos meus dias. Estou louco para ter minha princesa ao meu lado. Lia não sai da minha cabeça, e olha que ela nunca sequer falou comigo. Tudo que ela faz é me evitar, já que mal me conhece. Até penso que seja por medo, considerando que não sou exatamente "bem-visto" nos negócios — seu avô é meu subordinado, afinal. E, quanto a isso, sou obrigado a ser duro. Não há o que fazer.

Mas, honestamente, acho que ninguém avisou à mocinha que eu não sou nenhum bicho-papão.

No jantar de noivado, ela parecia séria, perdida em pensamentos. Passou a maior parte do tempo segurando firme a mão da irmã. E, pensando bem, nem sei o que me deixou tão fascinado por ela. É linda, sim, mas nunca fui ligado à beleza. Meu irmão gosta de dizer que foi porque ela parece ingênua. Talvez ele esteja certo, porque também me vejo preso nisso.

A verdade? Não sei se ela é realmente ingênua, mas aquele rostinho de menina e a aura angelical me pegaram de jeito. Não sei como, nem por quê, só sei que essa danada tomou conta dos meus pensamentos… sem nem ao menos saber. Parece que vou ter que me controlar para não bancar o idiota apaixonado.

— Pensando na morte da bezerra? — Marcus entrou pela porta, me pegando distraído. Meu irmão nunca perde o humor azedo, muito menos a carranca amarrada. Ele é assim. Tem um péssimo senso de humor, mas comigo é diferente. Somos melhores amigos desde sempre, então ele guarda o "lado mais humano" para mim. Com outras pessoas? É um verdadeiro bicho ruim.

Ao contrário de mim, que pelo menos tento não ser tão intragável. Mas, nos negócios, a história é outra. Lá, sou irreconhecível. Temido. É o preço de estar nesse ramo — ou você é o "bichão", ou é atropelado.

— Cadê a Iara? — perguntei, intrigado com sua entrada repentina. — Não tem secretária nessa porra? Aqui entra e sai quem quer agora? — Abri os braços, deixando claro o quanto isso estava me irritando.

— Sabe que ela não se atreve a me barrar. — Ele deu aquele sorriso maléfico que só ele tem. Juro que não entendo por que ele gosta tanto de assustar as pessoas. A secretária morre de medo dele.

— Tô ligado nisso. Mas, pelo menos, bata na porra da porta. Não sabe se eu tô na minha intimidade? — Brinquei, provocando.

— Isso é o que falta, né? Não tem lugar melhor, não? Vai apelar desse jeito? — Jogou uma pasta de documentos sobre a minha mesa.

— Chega de conversa fiada. Tem novidades?

— Tá aí, dá uma olhada.

— Tô perguntando da mina. — Marcus revirou os olhos. — Descobriu algo sobre o sumiço repentino da Lia, ou essa doença, sei lá que porra aconteceu? — perguntei, curioso. Eu havia pedido para ele investigar se minha noiva realmente estava doente. Não que eu desconfie totalmente do velho, o avô dela, mas o cara já demonstrou várias vezes que não é confiável. Minha criação me ensinou a sempre ter um pé atrás com todo mundo. As únicas pessoas em quem confio de verdade são meu pai, minha mãe e Marcus, meu irmão.

Marcus fez uma cara suspeita, sentou-se à minha frente e tirou um maço de cigarro do bolso.

— O velho te engambelou bonito. Sua noiva ficou fora de casa por duas semanas, mas agora voltou.

Bati as mãos na mesa, furioso. Eu sabia que aquele velho estava me enrolando, mas isso não vai ficar assim.

— Que porra é essa? Quem esse velho acha que é para tentar me enganar? — Observei enquanto Marcus acendia o cigarro com calma.

— Leva ele no molho, irmão. Vai por mim, o velho vai acabar se enforcando sozinho. Estamos de olho nele. Na hora certa, ele vai pagar por tudo, além de descobrirmos o que ele está escondendo.

— E quem me garante que não vou ser enganado de novo?

— O velho posa de bobo, mas não é burro o suficiente para brincar com a nossa cara duas vezes. Lucca disse que, há três dias, sua noiva não põe os pés para fora de casa. Agora, ela está sendo vigiada de perto, coisa que, para você, antes era desnecessário. Tá vendo o que dá confiar demais numa carinha bonita? — Ele falou, levantando meu alerta, já que não era comum. Até poucos dias atrás, Lia frequentava a faculdade.

— E a faculdade? — perguntei. Marcus balançou a cabeça negativamente.

— Pelo jeito, não está indo.

— Isso tá me cheirando mal. Tem coisa aí, vai por mim.

— Ela é encrenca, você quer dizer. Não sei de onde tirou a ideia de se amarrar logo na neta daquele velho que se acha o dono do mundo. Por mim, ele já estaria a sete palmos debaixo da terra. — Sorri, negando com a cabeça. Às vezes, meu irmão é tão contraditório que fico pensando se ele tem memória fraca.

— Foi você quem me deu a ideia de aceitar a proposta do velho e pegar a mina em casamento em troca da dívida. Esqueceu? Agora não reclame. Não retrocedo. Você sabe que odeio faltar com minha palavra. Ela será minha e ponto final.

Levantei-me e fui até a janela, olhando para baixo. Desde que aceitei essa loucura, fiquei ainda mais fascinado por Lia. Antes, eu só a achava bonita, com aquele ar angelical. Poucas vezes a vi, e quase sempre quando ela trazia a quentinha para o avô. Eu ficava observando de longe, do galpão, sem ser notado. Lia tinha sempre aquele semblante sério, entregava a comida e mal olhava para o velho ou para qualquer outra pessoa. Nem sei ao certo qual é o temperamento dela, e, às vezes, me pergunto se estou fazendo o certo.

Forçar uma jovem a se casar comigo por causa de uma dívida que o avô dela fez ao desviar minha carga… É justo? Se eu matasse o velho, talvez fosse pior. Pelo que sei, ele é o único que sustenta a família — e sustenta muito mal. A última vez que a vi, ela carregava chinelos arrebentados na mão. Penso que, se acabássemos com o velho, Lia, a avó e a irmã ficariam livres dele, mas também sem teto. Só a vida dele não bastaria para pagar o que ele me deve.

Não costumamos cobrar de terceiros, mas foi o próprio velho que ofereceu a neta.

Talvez eu devesse ter recusado a proposta dele. Poderia ter me aproximado de Lia com calma, usado meu charme irresistível. Sempre tive uma vida sexual agitada, não seria difícil conquistá-la.

Enquanto eu flertava com a janela à minha frente, Marcus resmungava:

— Fiz cagada. Já dei para trás nessa ideia. Pensei que a mina era de boa, tranquila, mas ela é só mais uma peça no quebra-cabeça do velho. Não é à toa que ele ofereceu as crias dele. Mas, para desencargo de consciência, vou ficar de olho nela e nele também. Vai que ela é traiçoeira igual ao avô.

Marcus é desconfiado de tudo e de todos, e a vida nos ensinou a ser assim. Já passamos por muitas tentativas de rasteiras e de eliminações.

Meu nome é Andrew Hernandez, sou CEO da empresa Take Cover Security, especializada em segurança particular e monitoramento eletrônico. Essa é a empresa que meu pai trouxe dos EUA. Apesar de ser mais novo que Marcus por três anos, fui escolhido para assumir o cargo de CEO após a saída do meu pai. Marcus, por outro lado, prefere os "negócios mais envolventes". Ele tem suas paixões, como trabalhar como detetive particular e no tráfico de armas.

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