Lia
Queria eu que esse tormento acabasse, mas, pelo que conheço do meu avô, isso é só o começo. Infelizmente, ele só pensa em si mesmo, e não há nada nem ninguém que o faça mudar. Coitada da minha avó, que ainda tem esperanças — algo que eu já perdi há muito tempo. Uma coisa, porém, é certa: ela é a única pessoa que ele ainda escuta (às vezes). Talvez porque estejam casados há mais de 50 anos, e ela tenha aceitado a lavagem cerebral que ele impõe. Minha avó não ousa imaginar a vida sem ele, o mandatário Rubens. Um homem com a coragem de usar a própria neta como moeda de troca para quitar suas dívidas. Um calhorda. (Espero que ele nunca me ouça dizer isso.)
Quando criança, sempre sonhei com o meu casamento. Na minha mente, seria o dia mais feliz da minha vida, inesquecível. Mas meu avô tratou de apagar esse sonho da minha cabeça. Sempre tive uma imaginação fértil, até boba, como diz minha irmã. Eu me via como uma princesa aprisionada em um castelo sombrio, e meu avô era o bruxo da minha história. Ele é, sem dúvida, a pessoa mais detestável que já conheci. Mas, pelo que ele mesmo diz, ainda não sei nada sobre a vida, porque meu futuro marido é ainda pior que ele.
Por quê? Qual foi o meu pecado? Ter nascido nesta família?
No meio desse tormento, surgiu uma esperança: Miguel, o meu príncipe. Acredito veementemente que ele me resgatou uma vez e fará isso novamente. Ele me levará para bem longe daqui. Não sei como, mas tenho fé de que logo poderemos viver em paz. Nosso amor vencerá mais essa barreira, eu sei. Sou uma romântica incurável da minha própria história. Nem sei como consegui manter esse lado em uma vida tão cruel. Mas recuso-me a deixar que a escuridão que meu avô impõe apague a minha luz. Tenho esperança de que um dia serei feliz, bem longe dele. Só não sei como lidarei com a saudade da minha avó.
Não sou apenas inteligente; minha irmã me chama de nerd. Ela está certa. Espero usar essa inteligência para escapar do destino que meu avô escolheu para mim.
Estava deitada no meu quarto, na minha humilde cama, com um colchão tão duro que está acabando com as minhas costas. Ainda assim, dou graças por não estar dormindo no chão frio como antes. Enquanto escrevia em meu diário, minha irmã me pegou desprevenida e arrancou o caderninho da minha mão.
— Ei, que falta de educação. — Reclamei enquanto ela sorria e dava de ombros.
— Harãaaa! Tá aí mais uma vez escrevendo besteiras, Lia. — Ela sorriu ao me questionar.
Eu amo minha irmã. Ela é minha melhor e mais fiel amiga, além da Larissa, que vem aqui em casa de vez em quando (quando o meu avô permite). Mas minha irmã sempre foi seca quando o assunto é sentimentos. Sabe aquela mulher que nunca fala de amor? Essa é a Léa. Ela nunca me contou sobre qualquer amor que tenha vivido e insiste que não acredita em amor assim, do nada. Diz que isso é só paixão passageira e que o amor verdadeiro nasce da convivência, respeito e demonstração de carinho.
Entendo o ponto de vista dela, mas ela nunca me convence. Acho que só quer me confundir, especialmente porque tem certeza de que o noivado com Andrew foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Ela só pode estar louca! Às vezes, penso que ele deu azar e escolheu a irmã errada para esse bendito casamento, já que Léa provavelmente aceitaria de bom grado.
Minha irmã leu o que eu estava escrevendo e balançou a cabeça em negação. Ela tem sorte de eu confiar plenamente nela. Junto com a minha avó, ela é meu porto seguro, uma das pessoas que mais amo. Mas isso não significa que temos as mesmas opiniões — somos muito diferentes na forma de pensar.
Léa respirou fundo antes de falar:
— Lia, meu amor, minha irmã… Quando é que vai parar de bancar a princesa esperando pelo príncipe encantado, mana?
— Deixa-me sonhar, Léa. — Retruquei, cobrindo a cabeça com o travesseiro.
— Pelo amor de Deus, já cansei de te falar que a nossa vitória a gente busca, não espera dos outros. — Ela falou enquanto me entregava meu diário, que, na verdade, é só um caderno velho onde escrevo meus planos, sonhos e o meu dia a dia.
— Fala isso porque não é a sua vida que está nas mãos de um louco desconhecido. — Argumentei, pensativa. — Corri atrás do que queria e olha o meu olho como está. — Completei, mostrando meu rosto.
Léa se aproximou, ergueu meu rosto e fez uma careta ao perceber que meu olho ainda não estava completamente desinchado. Meu avô até inventou uma história para meu "noivo", dizendo que eu estava doente, apenas para esconder os hematomas que ele mesmo me deixou. Agora, mal saio de casa. Após o "resgate" do meu avô, virei prisioneira de vez. Segundo ele, não sairei de casa até me casar. Para reforçar isso, colocou seu fiel cão de guarda na porta do meu quarto. Ele sabe o quanto eu temo Bruno, meu primo, e também sabe que faço qualquer coisa para evitar lidar com ele. Bruno aprendeu a ser tão cruel quanto meu avô.
— Não é assim que se corre atrás do que quer, Lia. Sei que “ama” o Miguel. — Léa falou, fazendo aspas com os dedos. Isso me deixou confusa. Ela sabe que amo o Miguel e que faria tudo por ele, então por que essas aspas?
Ela continuou:
— Mas penso que ele não é a pessoa certa para você, e você sabe que penso assim desde sempre. Por mais que ele pareça gostar de você…
Seus comentários me deixaram ainda mais confusa sobre o que ela realmente pensa, mas não sobre o que eu sinto. Sei que Léa quer o meu bem, mas ela não esteve com Miguel nos momentos que vivemos juntos. Ela não sente o que eu sinto.
— Por que essa implicância? — Perguntei, tentando entender.
— Poxa, já fazem três dias que o vovô te tirou daquele casebre e nada daquele moleque tentar entrar em contato para saber o que aconteceu com você. Eles destruíram tudo na casinha de vocês, e ele nem apareceu aqui ou tentou falar para saber o que aconteceu. — Ela fala, me fazendo revirar os olhos. Não entendo por que minha irmã tem tanta implicância com Miguel. Penso que talvez seja porque eles estudaram juntos. Não sei onde ela quer chegar com isso.
— Sabe que não é fácil assim. O nosso empecilho não é só o nosso avô, os pais dele também são contra.
— Mesmo assim.
— Acha que devo aceitar de bom grado que o Senhor Rubens acabe com a minha vida, me casando forçadamente com um desconhecido? Belo jeito de "ir atrás do que quer", hein, Léa. — Respondo, irritada. Ela balança a cabeça em negativa.
— Sabe que não concordo com isso, Lia. Mas penso que você está lutando em vão, desperdiçando as suas energias com a pessoa errada. Por que não tenta falar com o seu noivo e dizer o quanto você se sente mal sendo forçada a se casar?
Dessa vez, não aguentei e gargalhei na cara da minha irmã. Ela acha mesmo que aquele homem me ouviria? Ele é tão escroto quanto o meu avô. Para ele, as pessoas são mercadorias, moedas de troca. Jamais me humilharia tentando falar com ele. Prefiro morrer antes desse maldito casamento. Seria melhor do que me casar com ele.
— Acha mesmo que ele se importaria?
— Tentar não faz mal.
— Léa, seja mais sensata. Ele não quer nada além da minha submissão. Quer me humilhar e acha que, assim, atingirá o nosso avô. Mal sabe ele que o vovô pouco se importa com o que sentimos. — Baixo a cabeça, frustrada. — Ele não quer saber o que sinto, muito menos o que penso, Léa. Se nem o nosso avô, que nos criou, se importa conosco, imagine um estranho.
— Não sei… mas não vejo ele assim como você vê. — Ela argumenta, pensativa. Será que minha irmã sente algo por aquele homem? É a única coisa que vem à minha cabeça.
— Que bom. Então convença ele a trocar eu por você e seja feliz sendo a submissa e escrava dele. — Respondo, voltando a escrever no meu diário.
— Você é muito inteligente, Lia, mas quando quer, sabe ser muito infantil. Estou tentando te ajudar. — Escuto sua voz carregada de frustração. Logo em seguida, ouço a voz da nossa avó.
— Meninas, não estão discutindo, não é mesmo? — Minha avó entra no quarto com a minha comida. Tenho evitado sair daqui para não dar de cara com Bruno.
Continuação...Minha avó entrou no quarto com o prato em mãos. Eu adoro sua comida, assim como adoro cozinhar. Foi ela quem nos ensinou a fazer de tudo em casa, desde limpar até preparar refeições. Dificilmente há algo que eu não saiba fazer, porque sempre foi meu passatempo quando não estava na faculdade. Agora, nem isso posso frequentar. Sinto-me decepcionada por estar privada desse esforço que tanto lutei para conquistar.Lembrando das minhas aventuras na cozinha, penso em Miguel. Durante nossa fuga, preparei alguns pratos para nós. Comidas simples, já que não tínhamos dinheiro para banquetes, mas ele adorou. Fez vários elogios, e posso dizer que sei realizar ótimos pratos graças à mulher à minha frente, que sempre foi tão dedicada a nós.Hoje, no entanto, algo estava diferente. Não me senti bem com o aroma da comida que tanto amo — arroz com strogonoff. Ao sentir o cheiro, meu estômago resmungou. Fiz uma careta e me virei de lado para evitar olhar.— Vovó, não quero. — Falei com j
Dias depois…LiaOs hematomas estão mais ausentes nos meus dias. Eu gostaria de pensar que isso é resultado de uma mudança de atitude do meu avô, que ele está menos rude e mais amigável. Mas, infelizmente, o verdadeiro motivo é que ele fez duas viagens a trabalho, o que me deu um breve fôlego. Quando está em casa, sua tranquilidade levanta suspeitas, principalmente para minha irmã. Ele anda muito… como posso dizer… muito calmo, e para quem está acostumado com seu gênio explosivo, é mesmo estranho.Não sou o tipo de pessoa que acredita em mudanças. Tenho aquela mentalidade de que pau que nasce torto não se endireita. Também desconfio das atitudes do meu avô, mas penso que ele está assim por saber que a data do casamento está se aproximando.Não contei a ninguém, nem mesmo à minha irmã, que é contra, mas minha amiga Larissa está tentando fazer uma ponte entre mim e Miguel. Tem sido difícil, já que nem ela sabe onde ele está. Ela perguntou a várias pessoas, mas todas dizem que não o veem
Minha avó entrou no quarto e fechou a porta após meu primo sair, para minha sorte Bruno ainda finge que respeita ela ou eu estaria perdida nessa casa, ele faz o que quer aqui, e quando meu avô não está ele se acha o homem da casa. Não sei o que é pior ele ou meu avô, pelo menos meu avô se dedica a manter-se longe do meu quarto e da Léa, já o Bruno faz questão de entrar e sair quando bem entende.Eu estava frustrada com a ligação ao Miguel, queria saber o que está acontecendo, e o porquê da sua mãe falar tudo isso, ela sabe de nós e sempre foi contra assim como o meu avô que soube no susto, mas a mãe dele… diria que ela me odeia, e faz questão de manter o Miguel bem longe de mim. Mas agora estou aflita com o que ouvi dela, só se passa em minha mente que o meu avô tem algo a ver com o sumiço dele, meu deus, será que meu avô pôde fazê-lo algum mal mesmo sabendo que a sua família tem muita influência na cidade? — O que foi Lia, por que está com essa carinha de preocupada? — Minha avó me
Quando descobri a suas infidelidades decidi que partiria, iria embora com o meu filho, estava disposta a criá-lo sozinha e tinha certeza que os meus pais me ajudariam, afinal eles nunca viraram as costas para mim mesmo eu sendo tão ingrata, mas foi aí que descobri o homem que me casei, o homem que fiz tudo para estar ao seu lado, que jurei amor eterno, ele não era quem eu imaginava, já ouviu que as aparências enganam? Descobri isso sozinha e senti na pele a sua fúria, Rubens não aceitou que eu partisse, ele dizia que me amava e que eu seria dele até o fim dos meus dias, mas nunca mais acreditei em seu amor, nem ao menos em suas palavras e penso que não era mesmo para acreditar. Foram longos anos de tortura e desilusão até que eu aprendesse que não adiantaria de nada fugir dele, pois, sim, eu fugi e não foi só uma vez, mas não adiantava, para onde quer que eu fosse ele sempre me encontrava e me trazia de volta a vida de cárcere. Na última vez entrou em conflito com os meus pais chegand
Assim que saí do quarto da Lia, o meu neto Bruno estava na porta bancando o guarda, não sei quando perdi a ligação com esse rapaz, eu jurei a mim mesma que ele seria um rapaz do bem, tranquilo, como o meu filho era, mas ele é totalmente ao contrário do que eu queria que fosse. Olhei para ele o repreendendo, ele já sabendo argumentou.— A senhora fica a passar a mão na cabeça dessa vadia e depois ela foge de casa sem pensar em você, te deixa para trás sem olhar para trás, pare de bancar a boba passando a mão na cabeça dessas cobras que você pensa que te amam. — ele fala como se fosse dono da verdade, Bruno ainda finge que me respeita, mas na maioria das vezes ele age como se eu não fosse nada dele, mas sou, eu o criei e sempre exigi respeito. Penso que ele de tanto ele observar o seu avô fazer o que quer ele pensa que tem o direito de fazer o mesmo.— Você olhe lá como fala, ela é considerada, sua irmã, não fale dela assim, tenha respeito por ela. — ele sorriu sem me dar moral, sempre
AndrewEstava no galpão após passar o dia na empresa preso aos novos contratos, mas enfim tive tempo para vir aqui depois de um tempo por fora, estava só monitorando de longe. Os nossos negócios andam muito bem e trazendo muito lucro, não negarei, isso me fascina, dar gosto em poder estar tão perto de armamentos de primeira e visando todo lucro que estamos tendo, estou no céu. Mas nem tudo está perfeito, o meu pai marcou uma reunião comigo para quando ele voltar de viagem e citou o advogado da família, espero que não tenhamos problemas, afinal respondo por um processo na justiça brasileira e penso que o motivo do contato com o advogado seja isso.Para o estresse do meu irmão o último carregamento está atrasado e ele faz questão de mostrar que nada passa desapercebido e deixa todos em choque com o seu modo de ser.— Não quero ouvir nenhuma merda de desculpa que sai da porra dá tua boca… quero saber porque estava deitado, em vez de descarregar a carga e ficar de olho na chegada da próx
— Você tinha 1 tonelada de armas, além da sua pessoal e não conseguiu se safar dos caras? — Marcus sorri argumentando. — Realmente se é tão despreparado não da para ficar a frente do nosso carregamento. Onde está seu neto? — ele argumenta e o velho enrijece a face, sou detalhista, ele tenta não demonstrar o quão insatisfeito está conosco, mas percebo.— Ele… está doente, por isso não veio esses dias. — E minha noiva? — pergunto querendo saber de Lia. — ela ainda está adoentada? Esteve no médico? — Pergunto e ele se nega.— Senhor, já estou pagando a carga, lhe dei a mão da minha neta, e penso que isso paga já que é o meu bem mais precioso, estou colocando meu tesouro em suas mãos para que meu erro seja perdoado. — ele ainda argumenta me fazendo perceber que só pondera estar na frente do caminhão de cargas, ainda finge ser carinhoso já que sei que não é, ainda continuo o ouvindo e percebendo que ele não respondeu meus questionamentos. — Seremos parentes, pode me dar mais uma oportunid
Marcus saiu pela porta me deixando sozinho para ver o encaminhamento dos negócios. Estava olhando para tela quando Lucca entrou pela porta, mas antes ele educadamente bateu nela.— Entre! — Avistei ele entrando, Lucca caminhou até a minha mesa, — Sente-se, como anda a vida? — pergunto a ele, Lucca é um amigo de anos, mantemos contato e agora ele faz parte dos nossos negócios.— Minha vida tá na mesma, UMA MERDA… — Ele sorri, — mas e a sua? Ansioso para o casório? — ele pergunta me fazendo sorrir.— Ainda não caiu a minha ficha, não estou nada ansioso e sim nervoso, mal sei o que esperar. — falo pensativo. — Mas sei que levarei a minha esposa para minha casa esse final de semana, sobre isso não há dúvidas.— Ta apaixonado cara? — ele pergunta olhando-me confuso, Lucca como o meu irmão também já quebrou a cara, mas ele quebrou a cara com a minha falecida irmã.— Não sei se é essa a palavra certa, na boa penso que é demais falar apaixonado, tô empolgado isso, sim, afinal nunca esperei ta