Melissa olhava para o nada. Sentada num Café em Manhattan, puxava a cordinha do saquinho de chá submerso em água quente. O movimento rítmico e vagaroso da mão da loira era vago e não significava nada. Não pensava, também, em nada. Olhando o nada, movimentando nada e pensando em nada. O Café estava vazio devido à chuva que caía lá fora levemente, pintando uma Nova York triste e alagada num fim de tarde. Poético. Ela não sabia ao certo se tinha sido demitida ou se pedira demissão da Kernel Publicidade. A realidade é que Melissa estava desempregada há algumas semanas e não voltara mais na agência. Entretanto, a beleza distinta e o corpo escultural garantiram à loira o pagamento de todas as dívidas que tinha e ainda sobrara alguma grana para viver por vários meses. Recebera várias propostas de emprego – a maior parte como secretária de diversos CEOs pervertidos de empresas importantes – e convites para eventos que lhe garantiram mais uma boa grana, além de ficar conhecendo algumas celebri
Melissa e Kate pegaram suas coisas rapidamente, pagaram a conta e saíram do Café, esbaforidas. Estavam preocupadas com Kernel e não queriam arriscar: se aquilo fosse um pedido de ajuda de verdade por parte de Eveline, elas não queriam se arrepender por terem ignorado a mensagem da morena. Entraram no Uber rapidamente, mas o caminho parecia não terminar nunca. As duas releram a mensagem de Kate várias vezes, examinando os fatos. Melissa ligou para Murray. - Mel? – disse uma voz masculina, jovial e afável do outro lado da linha. - Mattew, você recebeu uma mensagem da Eveline? – disse Melissa, em tom de urgência. - Não, eu não recebi nada. O que houve? – perguntou, preocupado. - Ah, não... não houve nada – mentiu Melissa. - Senhorita Sanders...! – disse Murray, desconfiando. - Te ligo depois – disse a loira, desligando na cara do ruivo. - O que houve? – perguntou Kate, curiosa sobre a ligação. - O Murray não sabe de nada. O que é bem estranho. E porque recebemos a mesma mensagem?
Depois de ir ao hospital visitar Kernel, Melissa, que estudava à noite, não conseguiu ir para as aulas na NYU. Foi direto para casa. Estava assustada e desequilibrada, roeu suas unhas e, tomada pelo cansaço, jogou-se na cama e desatou a chorar. Ela não aguentava mais chorar por causa de Kernel, mas, ainda assim, com a nova situação de Adam estar doente no hospital, ela ainda tinha lágrimas o suficiente para derramar por ele. Exausta, Melissa dormiu chorando, inconsolavelmente. No dia seguinte, o despertador de Melissa tocou nas primeiras horas da manhã. Mesmo não tendo mais que ir trabalhar cedo, ela não desativou o alarme. Não fazia muito tempo que o maior medo de Melissa era perder seu emprego na Kernel Publicidade e, agora que ela não trabalhava mais lá, estava com a vida um pouco vazia – apesar dos bolsos bem cheios de grana. Com calma, a loira levantou de sua cama e resolveu fazer um ritual de beleza para dar um up em seu ânimo. Tomou um belo banho, maquiou-se, vestiu-se com seu
Eveline estava aguardando na entrada do aeroporto, toda vestida de preto, com cara de poucos amigos, o Les Oiseaux Libérés lhe ornando o pescoço. Eles desceram do carro para ajudá-la com as malas. - Vocês demoraram – disse ela, irritada, soltando as malas no chão e caminhando em direção ao carro. - Desculpe – disse Murray, tentando manter a civilidade e pegando as malas de Eveline no chão. Melissa tentou se aproximar da esposa de Kernel, que passava em sua frente com o nariz em pé. - Sei como você deve estar se sentindo mal, mas estamos aqui para ajudar – disse Melissa. Eveline parou e olhou para trás. - Engraçado você dizer isso... você não faz ideia do que estou passando – completou, voltando-se na direção de Melissa e se aproximando, com uma das mãos na barriga. – Aliás, você não faz ideia de nada, não é? - O... o que quer dizer com isso? – perguntou Melissa, surpresa. - Você não fazia ideia do que estava na gaveta do Adam, aquela gaveta com trinco? Como você pôde? Nunca per
Já eram três horas da manhã e Melissa não conseguia parar de andar de um lado para o outro na sala de seu apartamento em Nova York. A loira trajava seu pijama preto de seda com temas orientais e seu cabelo longo e liso estava preso em um coque no topo da cabeça. Não estava conseguindo dormir por causa daquele médico idiota que tinha colocado uma pulga atrás da orelha de Melissa: aquela história do coquetel. “- Você não vai querer tomar coquetel pro resto da vida, se é que me entende” – lembrou Melissa, a frase que o médico tinha dito. Fingira de desentendida quando o sujeito falara aquilo e o fizera sair de perto dela o mais rápido possível, porém, entendera muito bem o que ele estava insinuando. Só se fez de besta porque achou que aquela informação era extremamente sensível e não deveria ficar sendo passada nos corredores por aí, sem nenhum controle. Seria possível que Kernel estivesse doente? Será que ele era soropositivo? A cabeça de Melissa dava voltas e mais voltas, enlouquecid
Melissa acordou. Abriu os olhos claros e mexeu no cabelo loiro, espreguiçando-se. Por alguns breves momentos, esquecera completamente da bagunça que sua vida estava. Olhou para o lado. De um salto, caiu da cama e deu um grito: - Ahhhhh!!! - Ahhhhh!!! – ouviu um grito, masculino, de volta. – Melissa? Era Murray. A loira se assustou com o ruivo que estava ao seu lado na cama quando acordou naquela manhã. Murray era simplesmente maravilhoso quando acordava. Os olhos verdes estavam sonolentos e o longo cabelo vermelho encaracolado estava um pouco mais volumoso do que de costume. Completamente nu, ele tinha apenas o lençol branco da cama de Melissa lhe escondendo o baixo-ventre. Murray era menos musculoso do que o senhor Kernel, porém, ainda assim seu torso não deixava de ser menos atrativo para deitar em cima. O ruivo levantou-se e caminhou até Melissa, que caíra da cama diretamente no chão do quarto. O cabelo da loira estava completamente bagunçado. O coque que fizera prendendo-o par
O relógio de Melissa apitou, quebrando o silêncio em que os dois estavam. Os dedos da loira e do ruivo puxaram as fitas de resultado. - Uma linha no C – disse Murray, sorrindo. E o seu? Ele olhou para a loira, que estava atônita, olhando para a própria fita de resultado. As mãos trêmulas. - O que significa isso? – perguntou Melissa, com a voz embargada. – O que significa isso!? – exclamou, tensa. O desespero tomou conta de Melissa e ela não conseguiu raciocinar direito. Achou que ia desmaiar. Murray olhou a fita do resultado na mão de Melissa e viu que havia uma linha no T, sem nenhuma linha no C. A mão de Melissa começou a tremer mais ainda com o resultado. Ainda bem que Murray estava mais calmo: pegou a bula que estava em seu colo e olhou-a com urgência. - Aqui diz que se a linha do C não aparecer, o teste é inconclusivo. - Como assim inconclusivo? – disse Melissa, desesperada, arrancando a bula da mão do ruivo. Entretanto, ela não conseguiu ler o que a bula informava. Não con
- Eu... talvez eu tenha usado uma agulha... contaminada... – disse Adam, encerrando sua fala com uma lágrima que correu pelo belo rosto dele. Melissa estava completamente sem chão naquele momento. Murray surpreendeu-se com a revelação do amigo. Eveline só conseguiu olhar para baixo, encabulada. A loira queria morrer. Tinha transado com um sujeito que estava com suspeita de ser aidético. Mesmo tendo usado preservativo, ela ficou completamente devastada pela notícia. - E agora, como é que eu fico? – disse Melissa, exasperada, porém, ainda tentando falar baixo para evitar chamar mais a atenção das pessoas que estavam na recepção da clínica. – Você parou pra pensar em mim quando estava enfiando droga no seu braço? - É impressionante como você é egoísta e só pensa em si mesma – disse Eveline, exaltando-se. Parecia querer dizer aquilo na cara de Melissa há mil anos. - O que disse? – perguntou Melissa, achando aquilo um absurdo. Adam e Mattew trocaram um breve olhar e cada um foi abraça