- Por que não contou a eles? – questionou Melissa, séria. Eveline se adiantou para responder, quando Adam fez um gesto com a mão, pedindo gentilmente que ela não o fizesse. - Melissa – disse Adam, com a voz embargada. – Finalmente veio falar conosco. - Não enrole, Kernel – disse Melissa, irritada. – Você precisava informar essas pessoas de que elas passaram um perigo real. Por que não contou a eles? - Talvez você não tenha um entendimento igual ao que eu tenho, no momento que estou passando. Eu queria saber se eu tinha passado a doença para alguém. Eu não podia mais aguentar esse peso. Todos fizeram os testes e ficaram satisfeitos com o jantar, saíram felizes daqui achando que eu finalmente parei de organizar orgias e que vou começar uma nova família. O que há de errado nisso? Melissa percebeu que aquilo fazia algum sentido, mas, mesmo assim, não concordava. Porém, ficou em silêncio. Quando Eveline resolveu dizer: - Depois de tudo o que aconteceu, Melissa, hoje conseguimos provar
Todos estavam vestidos de preto em volta de um caixão que descia gentilmente marcando o fim de uma jornada. Chovia bem fininho e as pessoas estavam com guarda-chuvas pretos. Muitas mulheres estavam presentes no enterro de Adam. Várias pessoas fizeram discursos vazios e os poucos que realmente se preocupavam com o senhor Kernel ficaram em silêncio, mal conseguiam falar alguma coisa. Aos poucos, todos foram embora, menos esses poucos que realmente gostavam de Adam e do que o publicitário tinha representado na vida de todos eles. Murray abraçava Eveline, que estava com um outro sujeito alto e bonito perto dela, com a mão repousada por cima da barriga da moça. Ela estava completamente desolada, chorando com um lenço na mão, completamente sujo de maquiagem. - Ele não podia ter feito isso comigo – ela dizia, inconsolavelmente. – Eu não autorizei a eutanásia. Foi tudo muito rápido! Eu não autorizei! - Fique calma, Eveline. Tenho certeza de que os médicos fizeram o que eles foram ordenados
Aquela semana havia passado rápido. Melissa estava, finalmente, sentada na cadeira em frente ao juiz, que estava instruindo a audiência do processo que Patrick ajuizara contra ela, pedindo danos morais por não ter casado com ele com intuito de conseguir obriga-la a se casar com ele. Não exatamente por causa disso, segundo suas alegações, mas era isso que ele queria, no fim das contas, pois seu aniversário de quarenta anos era naquele final de semana e ele queria que ela desistisse e casasse com ele de qualquer maneira, para que ele pudesse preencher os requisitos e receber a herança de sua falecida mãe. Patrick parecia bem à vontade por ser advogado atuando em causa própria. Por orgulho, discrição e autoconfiança, não utilizara nenhum recurso do pessoal do escritório para processar Melissa. Fizera, sozinho, uma peça brilhante que encantaria todos os seus professores, porém, a peça de defesa de Felsberg era, também, de um brilhantismo sem igual. Juntara todos os documentos necessários
Melissa e seu advogado saíram da sala de audiência, exasperados. Ganharam os corredores e um monte de jornalistas começou a fazer um bocado de perguntas para Melissa. Do outro lado da sala, Patrick saiu pela porta da esquerda e foi simplesmente rendido pela imprensa. Ele tinha cinco minutos para livrar-se deles e, surtado, entrou no banheiro masculino, trancando-se. Melissa, por sua vez, já sabia lidar com a imprensa e deu algumas palavras gerais para eles, apenas para deixá-los satisfeitos por um tempo e irem embora. Depois que eles saíram, Murray e Ethan, ao lado do pai de Melissa, apareceram para conversar com a loira. O doutor Felsberg também estava lá, exasperado, e achou estranho a imprensa ter ido embora, dizendo: - O que aconteceu aqui? Enfim, consegui fazer o pedido ao juiz, a audiência vai prosseguir fechada ao público, mas você pode continuar aqui, senhor Sanders. - Não, eu acho que é minha hora de ir embora para casa – disse o senhor Sanders para o doutor Felsberg, dando
- Eu posso vender o apartamento para pagar a dívida e vou ficar com o resto da grana – disse Melissa para o doutor Felsberg, decidida. Ela sabia exatamente o que precisava fazer. - Certo. Assine essa procuração que resolverei tudo para você, inclusive as papeladas da venda. Já te deram o recibo dos meus honorários? - Sim – confirmou Melissa, feliz. – Obrigada por ter me ajudado, eu nunca conseguiria me livrar do Patrick sem você, doutor Felsberg. - Não precisa agradecer, este é o meu trabalho – disse Felsberg, sorrindo, satisfeito por ver sua cliente feliz. – Quando o cliente tem o Direito, tudo fica mais fácil. - Depois te mando uma garrafa de uísque – disse Melissa, sorrindo. - Ah! Nossa reunião com a Megan será que dia? – perguntou o doutor Felsberg, só para se certificar de que estava tudo ok. - Será mesmo em dois meses. Precisamos ajustar muitas coisas na empresa antes que eu possa transferir tudo para Megan – comentou Melissa. - Ela precisa de um sócio para ter pelo menos
- Sempre fui uma menina normal. Quer dizer, quando eu era mais nova, eu gostava de brincar de barbie. Nessas histórias de barbie, eu sempre tinha um namorado, noivo ou marido, o Ken. Ele sempre foi um gentleman. Carinhoso, amoroso, fiel. Fiel... é. Fiel... fiel de verdade – disse Melissa, deitada no divã, com os longos cabelos cor de ouro espalhados por todo ele. – A vida era fácil. Era uma eterna lua de mel. Mas tem uma hora que a história muda. A eterna lua de mel acaba. Eu tinha mil barbies. E, hora ou outra, uma delas também se casava com o Ken para ter outra eterna lua de mel, até que perdia a graça... - E você acha que isso pode ser aplicado a você? Digo, hoje em dia... – disse a psicóloga. - Não. Quer dizer, acho que talvez. Ou não? – pensou em voz alta. – Quem sabe... - Só você saberá... E você tinha quantos Ken? - Um só. - E era o mesmo Ken que se casava com todas as barbies. - Era. - Isso não foi uma pergunta de minha parte. É algo para você pensar... – a doutora respi
Aquela manhã foi um típico exemplo de que, quando dormimos, nos desligamos completamente de qualquer coisa. Nos desligamos do que somos, do que comemos e de quem comemos. Melissa sentiu seu corpo desconfortável como se estivesse com a cabeça deitada em cima de um tijolo duro e malfeito. Ao abrir os olhos claros, fitou o teto branco da sala, rebaixado, com a luz acesa. Como diabos esquecera a bendita luz acesa na hora de dormir? Pelo menos as lâmpadas de LED não geram tanto impacto na conta de luz, como naquele dia em que deixara a geladeira aberta por acidente ao sair de casa: nunca antes tivera tanto impacto no valor de uma conta de luz. A geladeira também queimou e, além da conta cara, ainda por cima tivera que comprar uma geladeira nova. Afinal... “Porque acordei na sala?” – pensou. Foi quando Melissa sentiu um peso esquisito sobre suas pernas. Assustou-se, deu um giro e praticamente pulou no chão, cravando as unhas no carpete vinho como um gato arisco. Seu chefe estava dormindo
Adam pegou a caixa das coisas de Patrick, abriu a porta e cumprimentou o amigo. - E aí, fera? – disse Kernel, mas não houve resposta do amigo. Patrick, com os olhos verdes e cabelo castanho, que estava de terno e muito bem alinhado, perdeu o controle ao ver, de passagem, o que estava acontecendo no sofá do amigo. Empurrou Kernel para o lado. Queria participar. - Está fazendo uma festinha? – disse Patrick, mas, para seu pavor, entrou na mansão e terminou visualizar o que estava vendo pela metade através da porta entreaberta, deu de cara com a cena de Kate lambendo os seios de Melissa. - Que merda é essa!? – gritou Patrick, e as duas garotas se assustaram, olhando para ele. No susto, Kate pulou para o canto oposto do sofá. Os olhos verdes de Patrick encontraram os azuis de Melissa e ela não pôde esconder um leve sorriso triunfal. - O que está acontecendo aqui? – perguntou Patrick, arfando de ira enquanto se aproximava de Melissa e olhava-a de cima, puto de ódio. Mel, por sua vez,