Um som de música clássica encheu o ambiente. Entre um arpejo e outro, duas flute de cristal bateram-se com leveza no ar. Melissa estava no escuro com as costas coladas na parede ao lado da porta da cozinha da cobertura em que Patrick morava, escutando atentamente o que acontecia na sala de jantar do seu noivo. Ela ouviu uma voz feminina dizer: - É lindo e cabe certinho em mim! Pep, seu doido! Um dia você vai acabar se enrolando e destruindo seu futuro casamento! - Ela vai ficar furiosa – disse Patrick, rindo-se debochadamente. - O que você vai dizer para ela? – disse a voz feminina. - Eu? Não vou dizer nada! Vou deixar ela se torturando por dias a fio, achando que perdeu a aliança – disse Patrick. - Se não é pela sua grana, eu não sei como ela ainda fica com você – disse a voz feminina, completando a frase com uma voz extremamente sensual –, seu monstro sujo! A loira não sabia dizer o que estava sentindo: trêmula da cabeça aos pés, na penumbra da cozinha, seus olhos vertiam lágri
O Cadillac vermelho seguiu na direção do Bar do Nick, que ficava no centro da cidade. Ethan guiou o veículo com muita prudência enquanto passavam pelas ruazinhas da cidade, que mais parecia uma cidade encantada saída direto de um livro de contos de fadas, com casinhas fofas feitas de biscoito e chocolate. O bar estava apinhado de gente do lado de fora quando os dois chegaram. Ethan estacionou o conversível barulhento e, logo, o casal começou a se misturar às pessoas na festa. O cowboy cumprimentava uma porção de gente no caminho e Melissa ficava sem graça, porque não lembrava de ninguém. E, por incrível que pareça, as pessoas lembravam-se dela. Ficou com medo de alguém mencionar a revista na qual saíra nua, mas, por sorte, todas as pessoas pareciam amigáveis e inofensivas. Até demais. Ao chegarem dentro do bar, os dois deram parabéns para Jack, o filho do velho Nick. A loira sentou-se na única cadeira disponível de uma mesa vazia, enquanto o cowboy ruivo seguiu na direção do bar, inf
Melissa estava ansiosa. Seus pés batiam freneticamente entre o Prada e o chão quadriculado de preto e branco dos corredores da Corte. Ela estava sentada numa cadeira ao lado de seu advogado, o doutor Felsberg, que folheava uma revista de advocacia em uma tranquilidade sem igual. O contraste entre os dois era nítido. A loira começou a pensar que talvez Patrick não chegasse, uma vez que ele estava atrasado para a audiência de conciliação. Talvez ele estivesse na Corte Penal trabalhando e não conseguiria chegar a tempo. Felsberg já tinha falado trezentas vezes para Melissa que, caso Patrick não aparecesse, simplesmente marcariam a audiência de instrução e julgamento, que aquela não era uma audiência muito essencial que as partes comparecessem caso não estivessem interessadas em fazer uma conciliação. E, realmente, se Patrick quisesse ferrar com a vida dela, ele não ia comparecer, afinal de contas, não devia estar interessada em conciliação alguma. Alguns minutos se arrastaram, que parec
- Por que não contou a eles? – questionou Melissa, séria. Eveline se adiantou para responder, quando Adam fez um gesto com a mão, pedindo gentilmente que ela não o fizesse. - Melissa – disse Adam, com a voz embargada. – Finalmente veio falar conosco. - Não enrole, Kernel – disse Melissa, irritada. – Você precisava informar essas pessoas de que elas passaram um perigo real. Por que não contou a eles? - Talvez você não tenha um entendimento igual ao que eu tenho, no momento que estou passando. Eu queria saber se eu tinha passado a doença para alguém. Eu não podia mais aguentar esse peso. Todos fizeram os testes e ficaram satisfeitos com o jantar, saíram felizes daqui achando que eu finalmente parei de organizar orgias e que vou começar uma nova família. O que há de errado nisso? Melissa percebeu que aquilo fazia algum sentido, mas, mesmo assim, não concordava. Porém, ficou em silêncio. Quando Eveline resolveu dizer: - Depois de tudo o que aconteceu, Melissa, hoje conseguimos provar
Todos estavam vestidos de preto em volta de um caixão que descia gentilmente marcando o fim de uma jornada. Chovia bem fininho e as pessoas estavam com guarda-chuvas pretos. Muitas mulheres estavam presentes no enterro de Adam. Várias pessoas fizeram discursos vazios e os poucos que realmente se preocupavam com o senhor Kernel ficaram em silêncio, mal conseguiam falar alguma coisa. Aos poucos, todos foram embora, menos esses poucos que realmente gostavam de Adam e do que o publicitário tinha representado na vida de todos eles. Murray abraçava Eveline, que estava com um outro sujeito alto e bonito perto dela, com a mão repousada por cima da barriga da moça. Ela estava completamente desolada, chorando com um lenço na mão, completamente sujo de maquiagem. - Ele não podia ter feito isso comigo – ela dizia, inconsolavelmente. – Eu não autorizei a eutanásia. Foi tudo muito rápido! Eu não autorizei! - Fique calma, Eveline. Tenho certeza de que os médicos fizeram o que eles foram ordenados
Aquela semana havia passado rápido. Melissa estava, finalmente, sentada na cadeira em frente ao juiz, que estava instruindo a audiência do processo que Patrick ajuizara contra ela, pedindo danos morais por não ter casado com ele com intuito de conseguir obriga-la a se casar com ele. Não exatamente por causa disso, segundo suas alegações, mas era isso que ele queria, no fim das contas, pois seu aniversário de quarenta anos era naquele final de semana e ele queria que ela desistisse e casasse com ele de qualquer maneira, para que ele pudesse preencher os requisitos e receber a herança de sua falecida mãe. Patrick parecia bem à vontade por ser advogado atuando em causa própria. Por orgulho, discrição e autoconfiança, não utilizara nenhum recurso do pessoal do escritório para processar Melissa. Fizera, sozinho, uma peça brilhante que encantaria todos os seus professores, porém, a peça de defesa de Felsberg era, também, de um brilhantismo sem igual. Juntara todos os documentos necessários
Melissa e seu advogado saíram da sala de audiência, exasperados. Ganharam os corredores e um monte de jornalistas começou a fazer um bocado de perguntas para Melissa. Do outro lado da sala, Patrick saiu pela porta da esquerda e foi simplesmente rendido pela imprensa. Ele tinha cinco minutos para livrar-se deles e, surtado, entrou no banheiro masculino, trancando-se. Melissa, por sua vez, já sabia lidar com a imprensa e deu algumas palavras gerais para eles, apenas para deixá-los satisfeitos por um tempo e irem embora. Depois que eles saíram, Murray e Ethan, ao lado do pai de Melissa, apareceram para conversar com a loira. O doutor Felsberg também estava lá, exasperado, e achou estranho a imprensa ter ido embora, dizendo: - O que aconteceu aqui? Enfim, consegui fazer o pedido ao juiz, a audiência vai prosseguir fechada ao público, mas você pode continuar aqui, senhor Sanders. - Não, eu acho que é minha hora de ir embora para casa – disse o senhor Sanders para o doutor Felsberg, dando
- Eu posso vender o apartamento para pagar a dívida e vou ficar com o resto da grana – disse Melissa para o doutor Felsberg, decidida. Ela sabia exatamente o que precisava fazer. - Certo. Assine essa procuração que resolverei tudo para você, inclusive as papeladas da venda. Já te deram o recibo dos meus honorários? - Sim – confirmou Melissa, feliz. – Obrigada por ter me ajudado, eu nunca conseguiria me livrar do Patrick sem você, doutor Felsberg. - Não precisa agradecer, este é o meu trabalho – disse Felsberg, sorrindo, satisfeito por ver sua cliente feliz. – Quando o cliente tem o Direito, tudo fica mais fácil. - Depois te mando uma garrafa de uísque – disse Melissa, sorrindo. - Ah! Nossa reunião com a Megan será que dia? – perguntou o doutor Felsberg, só para se certificar de que estava tudo ok. - Será mesmo em dois meses. Precisamos ajustar muitas coisas na empresa antes que eu possa transferir tudo para Megan – comentou Melissa. - Ela precisa de um sócio para ter pelo menos