Odeio o garoto da aula de artes. Na verdade, eu odeio tudo o que envolve artes. Desde a professora baixinha de vestido florido até os desenhos de árvores para o Dia da Árvore.
Faço desenhos péssimos e tenho total consciência sobre isso. Só em uma aula eu consigo gastar uma quantidade absurda de papel e, a cada traço que erro, rasgo a folha e a amasso. Acumulando tudo em cima da mesa.
“Angus, não é amassando papel que fará um bom desenho,” dizia a professora com a mão no meu ombro junto a uma voz limpa e suave como de toda professora de artes.
Também odeio pintar. Nossa... casam terrivelmente a mão. Casam mais que bater uma punheta — e olha que geralmente uso as duas. Mas bem, nada na aula de artes consegue ser pior que Jack. Nada. Fico muito feliz de ser a única aula que temos juntos. No entanto, é a pior aula de todo o dia.
Jack senta atrás de mim, ele é o favorito dos professores, ou de uma boa parte ou só de um. Não tenho certeza, mas é principalmente o favorito da baixinha que se acha alta. Ele também é baixinho, talvez isso tenha a ver. Além de baixinho é mestiço, de pele marrom, cabelos castanhos, olhos escuros e grandes com lábios finos. A irmã gêmea dele, Kira, é perfeitamente semelhante com ele que chega até a fazer meu ódio por ele ser transferido para ela.
A maioria dos outros alunos e professores, costumam chamá-lo de encantador, divertido e empenhado. Empenhado? Ele nem sabe ler! Não sabe fazer conta e pronuncia diversas palavras errado. É francês? Mas ele não é de Quebec pelo o que sei.
Algumas fofocas o chamam de possível predador. “Pre-da-dor.” Predador de mosquitos com aquele bafo que acabou de acordar. Droga! Pelo amor, só eu que vejo o quanto imbecil é ele? Se fosse para eu descrevê-lo rapidamente eu o descreveria como um idiota para não parecer que temos muitas ligações pessoais. Só que na minha cabeça ele é muito pior. Talvez um assediador-obcecado-desgraçado-idiota-cretino-maldito seja o nome adequado.
Beijei Jack de língua dentro da cabine do banheiro no oitavo ano. Foi bem úmido, ele precisou sentar na tampa da privada enquanto eu fazia um belo trabalho de mostrar a ele como era um bom beijo. Quando terminei, ele parecia ter saído de dentro da sauna. Os lábios estavam vermelhos, os braços e as pernas tremendo e as pálpebras dilatadas.
Após isso, Jack começou a fazer piadas nojentas ou me incomodar achando que iria conseguir mais alguma coisa de mim. De raiva, não dei outro beijo nele, não falei mais com ele e comecei a tratar ele como um idiota chato. Ele percebeu, e ficou mais frustrado e absurdamente mais perverso.
Terceiro ano do fundamental, quinta sala do internato infantil, no segundo andar. Entrei, Jack sorriu da primeira cadeira e me ofereceu chicletes. Quinto ano do fundamental, Jack fechou a porta do banheiro com apenas a gente dentro e desligou as luzes para ficar fazendo barulho de monstro. No sexto ano ele deu um beijo na minha bochecha, a professora brigou com ele, depois comigo, depois chamou todos os outros alunos e fez a gente pedir desculpas na frente da lousa.
Heather havia dito que ele poderia ser “talvez gay”, “por estar sempre em cima de você” e “nunca estar em cima de qualquer garota” . Bem, nunca vi ele em cima de qualquer garota em cinco anos, e se esteve, foi Kira.
— Eu realmente não entendo qual o maldito motivo da senhora Jufey me mandar fazer dois trabalhos da importância do esporte sendo que eu faço tudo! — Heather larga o garfo, cruza os braços, olha ao redor do refeitório frustrada e dá uma bufada. — Sabe o que é pior, eu sou uma das únicas que trata essa cadela bem. Devia tratar igual todo mundo trata.
Apenas balanço a cabeça enquanto enfio um pedaço de maçã dentro da guela. Ouvir as amarguras de Heather sobre a senhora Jufey já tinha feito eu ficar com mais dor de cabeça do que a raiva de Heather pelos trabalhos que terá que fazer.
Ela continua falando. Em certo momento esfrego o rosto com uma das mãos, estico os braços para cima, bocejo, apoio o rosto na palma da mão e espeto outro pedaço de maçã.
— Certo, Heather. Eu entendi que você terá que fazer alguns trabalhos — Ela para de falar, mas tenta logo em seguida adicionar mais alguma coisa, só que a interrompi balançando a cabeça em negativo.
— Ok, vamos falar de outra coisa… — os olhos de Heather mudam de direção. Ela dá um suspiro e se levanta com a bandeja.
— Para onde você vai?
— Aula agora — no mesmo segundo que ela fala, Jack entra na minha frente. Ela desaparece do refeitório com um sorrisinho no rosto como uma mensagem clara para eu me virar.
— O que você quer em?
— Nada de especial, por enquanto… — aproxima-se lentamente. — Mas sabe Angus… — começa Jack com os lábios perto do meu ouvido —, você poderia me chupar no banheiro. Seria bom e rápido. Ninguém saberia. Talvez até deixe você engolir o leite.
Faço a maior cara de nojo que consigo. “Engolir o leite”, quem diz esse tipo de merda? Decorou de um pornô? E quem consegue alguma coisa sendo desse jeito?
Estamos no final do intervalo e o pátio se encontra quase vazio. Estou em pé, perto da porta do banheiro, e Jack está com uma mão na parede, brecando a minha passagem. Mas o mais inacreditavelmente que hoje, dia de prova, ele decidiu encher meu saco três vezes mais do que das outras vezes.
Heather disse para eu ignorar que logo ele iria embora, no entanto, como sempre, ela estava errada. Bem, não vou poder dizer isso, pois ela já foi para a aula dando um sorrisinho debochado.
Jack arrisca a colocar uma perna entre as minhas, piorando ainda mais minha situação de ir embora. É, Jack está parecendo mais atrevido e eu mais sem atitude. Até entendo, estou confortável em parecer uma ameba e tá tudo bem.
Minha mãe me disse que quando um cara a assediava muito, ela apenas dava alguns beijos nele, deixava-o completamente bêbado e depois limpava sua carteira. A regra é clara, não precisa ceder completamente, só o suficiente para foder eles sem que percebam.
“Eu acredito que você goste do que Jack faz com você, se fosse eu, eu já teria tomado alguma atitude,” Heather comentou alguma vez no corredor, após Jack ter passado e sussurrado no meu ouvido que tava sonhando em “deixar esperma em mim”.
Com certeza ela não estava certa, eu não tenho atitude quando estou humilhado. Não é sempre que tem um idiota dizendo que vai “deixar esperma mim”.
“Então faça alguma coisa Angus!” Heather insistiu.
— Sabe Jack, você deveria se foder — eu o empurro com força, fazendo que ele patine três passos para trás.
— Começou a tomar atitude, Wesler? — diz com um risinho.
— Para de ser idiota — caminho o mais rápido na direção das escadas.
— Pensei que você estava quase aceitando minha proposta.
— Para de ser idiota! — repito, sentindo formigamentos se espalhar pela minha testa até o pescoço. — Já estou cansando disso, Jack. Não tem como você parar?
Subi alguns degraus, mas acabei parando para amarrar o cadarço. Na aula de artes, mais cedo, ele tinha conseguido que a professora chamasse minha atenção três vezes e depois tinha tentado lamber meu pescoço, mas eu consegui impedir me esquivando igual uma cobra e dando um chute na perna dele. Pois é, minha vida já é tão horrorosa e ser infernizado por ele é realmente de foder.
Termino de amarrar o tênis e continuo subindo, com ele ainda atrás de mim. Alguns degraus depois, parei de súbito fazendo com que ele quase colida comigo.
— Não vai parar de me seguir, não? — ele ergue os olhos e um sorriso convencido aparece.
— Um pouco difícil. Meu andar é no andar debaixo do seu — que maravilha, terei que aguentar ele até o quinto andar.
Voltamos a subir, desta vez, em silêncio. Já era difícil aguentar ele toda a aula de artes e todo o intervalo, não precisava ter de suportá-lo por mais um tempo.
— Ei! — ouço ele chamar, porém não paro.
— Que é?
— Sabia que olhando daqui você tem uma bundinha gostosa?
Esse comentário foi a gota d'água. Viro-me abruptamente fazendo com que a gente trombe.
— Jack... eu simplesmente não aguento você — ele ri. — Eu só quero que você se foda muito e me deixe em paz. Ok? — volto a subir.
Subindo um andar atrás do outro, suponho que tenha conseguido me livrar dele. Pelo menos. Talvez tivesse seguido pelo outro lado da escadaria, isso já poderia ser considerado uma vitória?
Quando chego perto do terceiro andar, apoio-me no corrimão desbotado de tinta e respiro, preparando-me para continuar se estendendo por mais um agrupamento de degraus.
Deveria ser crime não colocarem um elevador. Como podiam ter dinheiro para rechear os corredores de câmeras, mas não para um elevador? Além de atrapalharem meus encontros noturnos, ainda me fazem subir por todos esses andares.
Ergo um pé e subo mais um degrau preguiçosamente. O peso da mochila desliza pelo meu ombro e faz eu voltar um degrau ao invés de avançar.
— Angus, espere!
— Ah, não! — direciono o rosto para olhá-lo. De novo, mas agora ele não está debochado ou sorrindo feito um otário.
— Cara, eu realmente tô fazendo de tudo por você! É sério — o tom é sincero.
Mordo o lábio inferior e, por um breve momento, compreendo o que ele está se referindo, mas na verdade senti uma necessidade absurda de rir.
— Do que está falando?
— Você sabe do que estou falando.
Separei os lábios com a intenção de dizer algo, entretanto, não digo por longos segundos.
— Porque você é um idiota escroto de merda — as palavras saem mais raivosas do que um latido. — Sempre me provoca e me… me… Faz aquelas merdas na aula de artes e no intervalo. Estava esperando o que com isso? Um boquete? Bem, adivinha? Ninguém vai querer chupar sua fimose, otário — desço três degraus. Estou me sentindo com mais atitude do que nunca, preciso humilhar ele. Oh, como eu preciso! Cara, eu realmente preciso!
Jack continua parado poucos degraus abaixo e sua testa está brilhando de suor. Devia ter subido as escadas correndo.
— Eu não sei se esse é o seu jeito ou sei lá o que seja isso — respiro e inspiro. — Mas quero que você fique longe. Longe de mim. Não quero você por perto — quando decido que acabou para ir embora, Jack sobe os degraus restantes rapidamente e agarra meu braço.
— Me solte! — puxo o braço e o empurro, Jack se desequilibra um pouco.
— Sério? Eu quero falar isso. Demorei, mas quero.
— Quer o quê?
— Eu quero você! — ele aperta meu braço com os olhos escuros completamente fixos em mim.
— Não! — digo, passando a olhar a curva do topo da escadaria para ter certeza de que ninguém está vindo.
— Tudo bem, você nem é tudo isso — ele começa a se desaproximar. — Mas sabe o seu professor? O de literatura... — pausa a fala por um momento. No mesmo instante movo os olhos para ele e o vejo abrir um sorriso —, é bem mais gostoso. Talvez deixe ele me chupar já que você não quer.
— O quê?! — agora estou totalmente focado e sem reação.
— Sim, o professor que anda te fodendo. Ou achava que era o único? — tento puxar meu braço de volta, porém, ele continua pressionado com um pouco mais de força.
— Você é horrível — deveria cuspir na cara dele e tentar correr, mas existe um problema, estou completamente distraído com o que ele acabou de falar do que com a aula que estou perdendo. — Como você sabe?
Jack libera uma gargalhada odiosa como se eu tivesse feito uma piada. Ele volta a aproximar o rosto, puxando meu braço e me obriga a descer dois degraus. Agora ele está perto o bastante. Extremamente perto. Com o rosto frente a frente, com a respiração excitante e os lábios brilhantes pela própria saliva.
— Eu só precisei fazer algumas perguntas. Vocês não são tão discretos, principalmente o professor — ele chega mais perto com o rosto e passa a sussurrar. — Não sou muito de estragar relacionamentos, mas seu professor fode você e mais um aluno. Talvez ele foda com vários. Já pensou? Uma foda por dia. Incrível! Quem seria o idiota escroto de merda agora?
— Está mentindo — puxo meu braço outra vez com mais intensidade, enquanto tento empurrá-lo com a outra mão. Porém, Jack me traz para mais perto fazendo eu quase escorregar nos degraus.
Cuspo no rosto dele com toda a saliva que estava acumulada. A saliva acaba escorrendo pela testa, passa ao lado do nariz e chega ao canto de sua boca.
— Se não acredita, pergunta para a Alice Kayler, do segundo ano — ele passa a língua pela minha saliva e envolve uma das mãos na minha cintura. Lentamente chega com os lábios e tenta me beijar, mas desvio o rosto, esforçando-me para afastá-lo. No entanto, Jack não para de me pressionar ao corpo enquanto somente com uma mão segura meu rosto e exige que eu o vire.
Ele consegue o que quer e seus lábios, infelizmente, juntam-se aos meus. O beijo é razoavelmente lento e sem pressa e, de certa forma, meloso e excêntrico. Deixo de empurrá-lo e começo a tocar seu rosto com as mãos. Sentindo os poucos pelos da barba fornicarem a palma da minha mão. Ele fixa os dedos mais firmemente na minha cintura, começando a conduzir os lábios um pouco mais aguçadamente.
Nossas testas se encostam e o suor gruda e se espalha. Sinto a transpiração e os formigamentos nas costas. E o pior de tudo, é que estou transpirando e formigando pelo Jack. Essa poderia ser minha maior loucura — se não estivesse transando com o professor.
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É errado. Eu sei! Mas não posso recusar. Além do mais, nem sei quando poderei transar outra vez e ainda preciso de um lugar para dormir até o ônibus da manhã de sábado ficar disponível.
Angus segura meu pau, começando a me guiar pelo corredor como se eu fosse seu mascote. É incrivelmente excitante, e Angus sabe como fazer isso. E como ele sabe fazer isso?Espera, quem é esse garoto? Eu sei quem é esse garoto, mas não sei que lado é esse. Nunca havia visto esse lado nas aulas. Angus sempre foi gentil e calmo, até mesmo excessivamente calado e tímido. Então, quem é esse garoto?
Começo a identificar uma dor superficial na perna. Penso que não falta muito para chegarmos ao dormitório, entretanto, minha perna já começa a estremecer. Não paro de acompanhá-lo e tento seguir no mesmo ritmo pelo corredor, só que a cada passo, a dor aumenta e desejo chegar logo ao seu dormitório.
“Falta muito, Wesler?” Questiono, tentando me auto distrair da dor. Queria soltar um gemido pela agonia, mas prefiro apertar os lábios com força.Os ossos da perna direita, exatamente no joelho, parecem estar se esfregando ou se debatendo. Eu ouço o som de algum jeito. É como um martelo, um martelo batendo em um pedaço de ferro, só que um som menor e persistente, que se segue apenas na minha cabeça.“Não muito. Sabia que você é mais gostoso com o pau de fora?” Brinca, dando um pequeno aperto no meu pau quando paramos em frente a uma das diversas portas.
A boca de Jack tem gosto de suco de laranja, pão com queijo e talvez gelatina de limão? Ou tem gosto de suco de limão, pão com laranja e gelatina de queijo?— Me solte! — demando. Aos poucos vou me livrando das mãos dele com certa dificuldade.. Antes de me libertar por completo, Jack me dá um selinho no queixo. Sinto as gotas de suor escorrendo pela testa, as limpo com o braço e me elevo alguns degraus. — Então, como a gente fica? — pergunta, também subindo alguns degraus.— Não existe "a gente". Ficamos como antes, de preferência, você sentado em outro lugar na aula de artes. — Você tá brincando? Acabamos de nos beijar, cara.— Não. Você me beijou e me forçou ainda. Não vai rolar nada entre a gente — meu peito para de transpirar e finalmente volto a subir as escadas. Jack se apressa e vem ficar ombro a ombro comigo.— Você cuspiu em mim. Eca — ele passa as costas da mão no rosto e depois j**a a saliva para longe. — Você lambeu, por que está com nojo agora?— Cala a boca!Seguimos
Às 2 da tarde lembrei do trabalho que tinha com Ezra e Riky na biblioteca. Tínhamos combinado na semana passada depois deles ficarem esperando até às 6 da tarde por mim e eu não aparecer porque Kira decidiu ficar presa no banheiro do próprio dormitório. “Você tem que se ferrar sozinho e não levar a gente junto,” Riky disse durante a aula de matemática quando pedi o caderno emprestado. “Marcamos de novo na semana que vem. Espero que venha,” Ezra forçou um sorriso e deu um tapa no meu ombro. A visto eles juntos na mesa central da biblioteca com dois livros. Estão rindo de alguma coisa, mas param de rir assim que chego. — Jack, é verdade que não sabe ler? — Riky olha rapidamente para Ezra e continua: — Ouvimos o professor de literatura comentar durante a aula.Balanço a cabeça. — É, tenho TDAH. — Ah… então é por isso que suas notas são ruins em literatura? — Ezra fecha o livro para prestar atenção. — Não, isso é porque não chupo o pau dele. Riky e Ezra fi
— Não fiquem com medo, não vão levar bronca. Podem se sentar — o psicólogo Torry indica os lugares mostrando um sorriso.Jack olha desconfiado para ele, mas só decide se sentar quando eu me sento. A sala tem uma decoração bem minimalista construída em cima do cinza e do branco. Possui alguns vasos com plantas verde-escuras pelas mesas, quadros de diplomas e fotos de pássaros em preto e branco. — Soube que vocês estão tendo um relacionamento homoafetivo — o psicólogo sorri. — Foi o merda do seu professor — Jack diz em alto e bom som. — Mas a culpa foi sua — retruco. — Enfim, não importa quem é o culpado. Fico feliz por vocês dois — ele pega duas pastas e as abre. Coloca os óculos, lê por alguns segundos e depois coloca os óculos de volta na parte de cima da cabeça. — Ambos têm transtornos psicológicos. Angus tem bipolaridade tipo 2 e você, Jack, TDAH. Os dois tomam os remédios corretamente? — Eu tomo. Você sabe que Kira me dá todos os dias. — Sim, ela anota no ca
Teve momentos que Jack acariciava meu rosto com a mão sempre que eu chegava na sala. Isso com certeza é uma das coisas mais estranhas que ele já fez. E tinha também vezes que sussurrava idiotices perversas no meu ouvido. Bem, não eram apenas “idiotices perversas”, pois em alguns momentos soavam bem reais. No dia, ele tava enchendo meu saco para eu fazer uma pose para poder me desenhar. Neguei até onde consegui, mas acabei cedendo no terceiro pedido. Me sentei na pia do banheiro com os braços para trás, os pés separados e balançando no ar. Jack se agachou com o seu caderninho e o colocou apoiado em cima do joelho. Era noite já, as luzes do banheiro estavam apagadas e a única iluminação era a do poste do lado de fora. Uma luz que atravessava as janelas deixando meu corpo listrado de laranja e escuro. “Tiraria o uniforme para mim?” Jack perguntou com um sorrisinho. Não levantou os olhos do caderninho, deslizava o lápis cuidadosamente tentando deixar tudo perfeito. “E você, m
— Tá atrasado — Jack diz antes de abrir a porta. — Só dois minutos — entro assim que abre. Jack b**e à porta e dá um grande sorriso. — Me beija?— Estou sem tempo e bem enjoado depois do que vi.— Pensei que não vinha mais, por que demorou?.Meus joelhos ainda estão doendo, não o respondo e ando no sentido da pia para aliviá-los com água. Ligo a torneira, começando a esfregar cada um dos joelhos enquanto ouço Jack falar um monte de coisas sexuais sobre a minha demora. “Sim, Jack, eu estava chupando Hector, por isso estou com os joelhos doendo.” Mais fácil dizer isso para ele do que contar que descobri como Eltery se tornou líder do time de baseball. É incrível como Eltery chupando a professora de educação física consegue tantos privilégios, enquanto eu tirando todo o leite de Hector não consigo nem um “+” nas provas de literatura. Bem, ele pode não me dar notas altas, mas pelo menos me traz comidas de fora do internato e roupas. Às vezes me traz a bíblia também, junto vem uma
Misturei tanto remédio com o Ice Wine que o açúcar inseparável da bebida ficou com gosto amargo. Quase de xixi misturado com analgésicos. Viro outro gole para acabar de uma vez com essa porcaria que tinha feito.A casa está uma verdadeira paz desde o dia que tinha arrumado o barulho insuportável do aquecedor, mas por outro lado, o silêncio me causava ainda mais traumas. O simples pulo do gato do chão para a bancada já me deixava em alerta por vários minutos ou a voz dos vizinhos da casa ao lado, mesmo que bem baixa, conseguia me aterrorizar.Despejo o resto da bebida no ralo da cozinha, como o último pedaço de queijo e dou o último alimento do dia para o gato. Aproveito para varrer o carpete da cozinha e passar um pano no balcão. Não muito tarde começo a trancar todas as janelas e portas da casa. Mesmo morando no bairro mais seguro da cidade e a cidade não tendo mais que catorze mil habitantes, jamais conseguiria me sentir seguro.Pego o livro de cima da poltrona do quarto e me dirijo
Retorno ao dormitório e acabo encontrando Feller acordado. Ele está na nossa mesinha perto da janela, iluminado pelo abajur enquanto escreve alguma coisa.— Onde estava? — questiona ele, sem se virar para olhar.— Estava com Jack — respondo enquanto tiro os sapatos e deixo próximo a porta. — Você não vivia dizendo que não gostava dele?— Bem… — olho para o teto —, talvez ele não seja tão ruim — é sim. Guardo a escova e a pasta dentro da gaveta e me dirijo para a cama. — Tão ruim? Heather falou que ele vive em cima de você — a cabeleira loira de Feller balança quando se vira.— É, ele fica. Mas ele só tá tentando amizade.— Certeza?— Aham… não é da sua conta.— Idiota.Solto um risinho e ele volta a fazer o que estava fazendo. Deito-me na cama, puxando o edredom até o pescoço e cobrindo em seguida o rosto. Enquanto tento dormir, penso se Hector acredita na mentira de que eu e Jack somos apenas amigos. Ele sabe que beijei Jack algumas vezes, mas poderia inventar que somos apenas am
— De novo atrasado, Angus? — indaga Hector, no momento que entro na sala. Ele solta a caneta em cima dos papéis e ergue-se da cadeira. Todo mundo está me encarando e, alguns poucos, fingem estar com a atenção na lousa, mas com certeza estão esperando ansiosos pela minha advertência.— Desculpa — digo. Hector vem caminhando na minha direção. Seus cabelos ruivos estão em cachos perfeitos, ele transpira um perfume agoniantemente provocante e as sardas nas bochechas estão ainda mais nítidas que antes. Sua face está assustadora, ou eu estou assustado demais?Maldito Jack, se não tivesse ficado conversando com ele na escadaria não estaria acontecendo isso.— Continuem fazendo as atividades, vou falar com o sr. Wesler e volto em breve — declara e coloca a mão no meu ombro, guiando-me para fora da sala. Quando fecha a porta, continua a me mover, mas dessa vez pelo corredor até entrarmos em uma das salas de aula desocupadas. Ele não deveria me levar para a diretoria? Sinto um ligeiro arrepio n