2 | Seu querido Professor

Odeio o garoto da aula de artes. Na verdade, eu odeio tudo o que envolve artes. Desde a professora baixinha de vestido florido até os desenhos de árvores para o Dia da Árvore. 

Faço desenhos péssimos e tenho total consciência sobre isso. Só em uma aula eu consigo gastar uma quantidade absurda de papel e, a cada traço que erro, rasgo a folha e a amasso. Acumulando tudo em cima da mesa. 

“Angus, não é amassando papel que fará um bom desenho,” dizia a professora com a mão no meu ombro junto a uma voz limpa e suave como de toda professora de artes.

Também odeio pintar. Nossa... casam terrivelmente a mão. Casam mais que bater uma punheta — e olha que geralmente uso as duas. Mas bem, nada na aula de artes consegue ser pior que Jack. Nada. Fico muito feliz de ser a única aula que temos juntos. No entanto, é a pior aula de todo o dia.

Jack senta atrás de mim, ele é o favorito dos professores, ou de uma boa parte ou só de um. Não tenho certeza, mas é principalmente o favorito da baixinha que se acha alta. Ele também é baixinho, talvez isso tenha a ver. Além de baixinho é mestiço, de pele marrom, cabelos castanhos, olhos escuros e grandes com lábios finos. A irmã gêmea dele, Kira, é perfeitamente semelhante com ele que chega até a fazer meu ódio por ele ser transferido para ela.

A maioria dos outros alunos e professores, costumam chamá-lo de encantador, divertido e empenhado. Empenhado? Ele nem sabe ler! Não sabe fazer conta e pronuncia diversas palavras errado. É francês? Mas ele não é de Quebec pelo o que sei. 

Algumas fofocas o chamam de possível predador. “Pre-da-dor.” Predador de mosquitos com aquele bafo que acabou de acordar. Droga! Pelo amor, só eu que vejo o quanto imbecil é ele? Se fosse para eu descrevê-lo rapidamente eu o descreveria como um idiota para não parecer que temos muitas ligações pessoais. Só que na minha cabeça ele é muito pior. Talvez um assediador-obcecado-desgraçado-idiota-cretino-maldito seja o nome adequado.

Beijei Jack de língua dentro da cabine do banheiro no oitavo ano. Foi bem úmido, ele precisou sentar na tampa da privada enquanto eu fazia um belo trabalho de mostrar a ele como era um bom beijo. Quando terminei, ele parecia ter saído de dentro da sauna. Os lábios estavam vermelhos, os braços e as pernas tremendo e as pálpebras dilatadas.

Após isso, Jack começou a fazer piadas nojentas ou me incomodar achando que iria conseguir mais alguma coisa de mim. De raiva, não dei outro beijo nele, não falei mais com ele e comecei a tratar ele como um idiota chato. Ele percebeu, e ficou mais frustrado e absurdamente mais perverso.

Terceiro ano do fundamental, quinta sala do internato infantil, no segundo andar. Entrei, Jack sorriu da primeira cadeira e me ofereceu chicletes. Quinto ano do fundamental, Jack fechou a porta do banheiro com apenas a gente dentro e desligou as luzes para ficar fazendo barulho de monstro. No sexto ano ele deu um beijo na minha bochecha, a professora brigou com ele, depois comigo, depois chamou todos os outros alunos e fez a gente pedir desculpas na frente da lousa. 

Heather havia dito que ele poderia ser “talvez gay”, “por estar sempre em cima de você” e “nunca estar em cima de qualquer garota” . Bem, nunca vi ele em cima de qualquer garota em cinco anos, e se esteve, foi Kira.

— Eu realmente não entendo qual o maldito motivo da senhora Jufey me mandar fazer dois trabalhos da importância do esporte sendo que eu faço tudo! — Heather larga o garfo, cruza os braços, olha ao redor do refeitório frustrada e dá uma bufada. — Sabe o que é pior, eu sou uma das únicas que trata essa cadela bem. Devia tratar igual todo mundo trata. 

Apenas balanço a cabeça enquanto enfio um pedaço de maçã dentro da guela. Ouvir as amarguras de Heather sobre a senhora Jufey já tinha feito eu ficar com mais dor de cabeça do que a raiva de Heather pelos trabalhos que terá que fazer.

Ela continua falando. Em certo momento esfrego o rosto com uma das mãos, estico os braços para cima, bocejo, apoio o rosto na palma da mão e espeto outro pedaço de maçã. 

— Certo, Heather. Eu entendi que você terá que fazer alguns trabalhos — Ela para de falar, mas tenta logo em seguida adicionar mais alguma coisa, só que a interrompi balançando a cabeça em negativo.

— Ok, vamos falar de outra coisa… — os olhos de Heather mudam de direção. Ela dá um suspiro e se levanta com a bandeja. 

— Para onde você vai?

— Aula agora — no mesmo segundo que ela fala, Jack entra na minha frente. Ela desaparece do refeitório com um sorrisinho no rosto como uma mensagem clara para eu me virar.

— O que você quer em?

— Nada de especial, por enquanto… — aproxima-se lentamente. — Mas sabe Angus… — começa Jack com os lábios perto do meu ouvido —, você poderia me chupar no banheiro. Seria bom e rápido. Ninguém saberia. Talvez até deixe você engolir o leite.

Faço a maior cara de nojo que consigo. “Engolir o leite”, quem diz esse tipo de merda? Decorou de um pornô? E quem consegue alguma coisa sendo desse jeito?

Estamos no final do intervalo e o pátio se encontra quase vazio. Estou em pé, perto da porta do banheiro, e Jack está com uma mão na parede, brecando a minha passagem. Mas o mais inacreditavelmente que hoje, dia de prova, ele decidiu encher meu saco três vezes mais do que das outras vezes. 

Heather disse para eu ignorar que logo ele iria embora, no entanto, como sempre, ela estava errada. Bem, não vou poder dizer isso, pois ela já foi para a aula dando um sorrisinho debochado.

Jack arrisca a colocar uma perna entre as minhas, piorando ainda mais minha situação de ir embora. É, Jack está parecendo mais atrevido e eu mais sem atitude. Até entendo, estou confortável em parecer uma ameba e tá tudo bem.

Minha mãe me disse que quando um cara a assediava muito, ela apenas dava alguns beijos nele, deixava-o completamente bêbado e depois limpava sua carteira. A regra é clara, não precisa ceder completamente, só o suficiente para foder eles sem que percebam.

“Eu acredito que você goste do que Jack faz com você, se fosse eu, eu já teria tomado alguma atitude,” Heather comentou alguma vez no corredor, após Jack ter passado e sussurrado no meu ouvido que tava sonhando em “deixar esperma em mim”. 

Com certeza ela não estava certa, eu não tenho atitude quando estou humilhado. Não é sempre que tem um idiota dizendo que vai “deixar esperma mim”.

“Então faça alguma coisa Angus!” Heather insistiu.

— Sabe Jack, você deveria se foder — eu o empurro com força, fazendo que ele patine três passos para trás. 

— Começou a tomar atitude, Wesler? — diz com um risinho. 

— Para de ser idiota — caminho o mais rápido na direção das escadas. 

— Pensei que você estava quase aceitando minha proposta.

— Para de ser idiota! — repito, sentindo formigamentos se espalhar pela minha testa até o pescoço. — Já estou cansando disso, Jack. Não tem como você parar?

Subi alguns degraus, mas acabei parando para amarrar o cadarço. Na aula de artes, mais cedo, ele tinha conseguido que a professora chamasse minha atenção três vezes e depois tinha tentado lamber meu pescoço, mas eu consegui impedir me esquivando igual uma cobra e dando um chute na perna dele. Pois é, minha vida já é tão horrorosa e ser infernizado por ele é realmente de foder.

Termino de amarrar o tênis e continuo subindo, com ele ainda atrás de mim. Alguns degraus depois, parei de súbito fazendo com que ele quase colida comigo. 

 — Não vai parar de me seguir, não? — ele ergue os olhos e um sorriso convencido aparece.

—  Um pouco difícil. Meu andar é no andar debaixo do seu — que maravilha, terei que aguentar ele até o quinto andar. 

Voltamos a subir, desta vez, em silêncio. Já era difícil aguentar ele toda a aula de artes e todo o intervalo, não precisava ter de suportá-lo por mais um tempo. 

— Ei! — ouço ele chamar, porém não paro. 

— Que é?

— Sabia que olhando daqui você tem uma bundinha gostosa? 

Esse comentário foi a gota d'água. Viro-me abruptamente fazendo com que a gente trombe. 

— Jack... eu simplesmente não aguento você — ele ri. — Eu só quero que você se foda muito e me deixe em paz. Ok? — volto a subir. 

Subindo um andar atrás do outro, suponho que tenha conseguido me livrar dele. Pelo menos. Talvez tivesse seguido pelo outro lado da escadaria, isso já poderia ser considerado uma vitória? 

Quando chego perto do terceiro andar, apoio-me no corrimão desbotado de tinta e respiro, preparando-me para continuar se estendendo por mais um agrupamento de degraus. 

Deveria ser crime não colocarem um elevador. Como podiam ter dinheiro para rechear os corredores de câmeras, mas não para um elevador? Além de atrapalharem meus encontros noturnos, ainda me fazem subir por todos esses andares. 

Ergo um pé e subo mais um degrau preguiçosamente. O peso da mochila desliza pelo meu ombro e faz eu voltar um degrau ao invés de avançar.

— Angus, espere! 

— Ah, não! — direciono o rosto para olhá-lo. De novo, mas agora ele não está debochado ou sorrindo feito um otário. 

— Cara, eu realmente tô fazendo de tudo por você! É sério — o tom é sincero. 

Mordo o lábio inferior e, por um breve momento, compreendo o que ele está se referindo, mas na verdade senti uma necessidade absurda de rir.

— Do que está falando? 

— Você sabe do que estou falando. 

Separei os lábios com a intenção de dizer algo, entretanto, não digo por longos segundos.

— Porque você é um idiota escroto de merda — as palavras saem mais raivosas do que um latido. — Sempre me provoca e me… me… Faz aquelas merdas na aula de artes e no intervalo. Estava esperando o que com isso? Um boquete? Bem, adivinha? Ninguém vai querer chupar sua fimose, otário — desço três degraus. Estou me sentindo com mais atitude do que nunca, preciso humilhar ele. Oh, como eu preciso! Cara, eu realmente preciso!

Jack continua parado poucos degraus abaixo e sua testa está brilhando de suor. Devia ter subido as escadas correndo. 

— Eu não sei se esse é o seu jeito ou sei lá o que seja isso — respiro e inspiro. — Mas quero que você fique longe. Longe de mim. Não quero você por perto — quando decido que acabou para ir embora, Jack sobe os degraus restantes rapidamente e agarra meu braço. 

— Me solte! — puxo o braço e o empurro, Jack se desequilibra um pouco. 

— Sério? Eu quero falar isso. Demorei, mas quero.

— Quer o quê? 

— Eu quero você! — ele aperta meu braço com os olhos escuros completamente fixos em mim.

— Não! — digo, passando a olhar a curva do topo da escadaria para ter certeza de que ninguém está vindo.

— Tudo bem, você nem é tudo isso — ele começa a se desaproximar. — Mas sabe o seu professor? O de literatura... — pausa a fala por um momento. No mesmo instante movo os olhos para ele e o vejo abrir um sorriso —,  é bem mais gostoso. Talvez deixe ele me chupar já que você não quer.

— O quê?! — agora estou totalmente focado e sem reação.

— Sim, o professor que anda te fodendo. Ou achava que era o único? — tento puxar meu braço de volta, porém, ele continua pressionado com um pouco mais de força.

— Você é horrível — deveria cuspir na cara dele e tentar correr, mas existe um problema, estou completamente distraído com o que ele acabou de falar do que com a aula que estou perdendo. — Como você sabe?

Jack libera uma gargalhada odiosa como se eu tivesse feito uma piada. Ele volta a aproximar o rosto, puxando meu braço e me obriga a descer dois degraus. Agora ele está perto o bastante. Extremamente perto. Com o rosto frente a frente, com a respiração excitante e os lábios brilhantes pela própria saliva.

— Eu só precisei fazer algumas perguntas. Vocês não são tão discretos, principalmente o professor — ele chega mais perto com o rosto e passa a sussurrar. — Não sou muito de estragar relacionamentos, mas seu professor fode você e mais um aluno. Talvez ele foda com vários. Já pensou? Uma foda por dia. Incrível! Quem seria o idiota escroto de merda agora? 

— Está mentindo — puxo meu braço outra vez com mais intensidade, enquanto tento empurrá-lo com a outra mão. Porém, Jack me traz para mais perto fazendo eu quase escorregar nos degraus. 

Cuspo no rosto dele com toda a saliva que estava acumulada. A saliva acaba escorrendo pela testa, passa ao lado do nariz e chega ao canto de sua boca.

— Se não acredita, pergunta para a Alice Kayler, do segundo ano — ele passa a língua pela minha saliva e envolve uma das mãos na minha cintura. Lentamente chega com os lábios e tenta me beijar, mas desvio o rosto, esforçando-me para afastá-lo. No entanto, Jack não para de me pressionar ao corpo enquanto somente com uma mão segura meu rosto e exige que eu o vire. 

Ele consegue o que quer e seus lábios, infelizmente, juntam-se aos meus. O beijo é razoavelmente lento e sem pressa e, de certa forma, meloso e excêntrico. Deixo de empurrá-lo e começo a tocar seu rosto com as mãos. Sentindo os poucos pelos da barba fornicarem a palma da minha mão. Ele fixa os dedos mais firmemente na minha cintura, começando a conduzir os lábios um pouco mais aguçadamente. 

Nossas testas se encostam e o suor gruda e se espalha. Sinto a transpiração e os formigamentos nas costas. E o pior de tudo, é que estou transpirando e formigando pelo Jack. Essa poderia ser minha maior loucura — se não estivesse  transando com o professor.

_____∞_____

É errado. Eu sei! Mas não posso recusar. Além do mais, nem sei quando poderei transar outra vez e ainda preciso de um lugar para dormir até o ônibus da manhã de sábado ficar disponível. 

Angus segura meu pau, começando a me guiar pelo corredor como se eu fosse seu mascote. É incrivelmente excitante, e Angus sabe como fazer isso. E como ele sabe fazer isso? 

Espera, quem é esse garoto? Eu sei quem é esse garoto, mas não sei que lado é esse. Nunca havia visto esse lado nas aulas. Angus sempre foi gentil e calmo, até mesmo excessivamente calado e tímido. Então, quem é esse garoto? 

Começo a identificar uma dor superficial na perna. Penso que não falta muito para chegarmos ao dormitório, entretanto, minha perna já começa a estremecer. Não paro de acompanhá-lo e tento seguir no mesmo ritmo pelo corredor, só que a cada passo, a dor aumenta e desejo chegar logo ao seu dormitório.

“Falta muito, Wesler?” Questiono, tentando me auto distrair da dor. Queria soltar um gemido pela agonia, mas prefiro apertar os lábios com força.

Os ossos da perna direita, exatamente no joelho, parecem estar se esfregando ou se debatendo. Eu ouço o som de algum jeito. É como um martelo, um martelo batendo em um pedaço de ferro, só que um som menor e persistente, que se segue apenas na minha cabeça.

“Não muito. Sabia que você é mais gostoso com o pau de fora?” Brinca, dando um pequeno aperto no meu pau quando paramos em frente a uma das diversas portas.

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